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4.2 ANÁLISE TEXTUAL E TEMÁTICA

4.2.2 Análise das dissertações

4.2.2.3 Documento D8

Na sequência, o último texto do grupo das dissertações a ser examinado foi o D8, intitulado O trivium como método propedêutico para o ensino de filosofia no Ensino Médio (2011). Nesse texto busca-se resgatar um método de ensino que remonta à Idade Média, conhecido como o trivium, tentando aproveitá-lo nas aulas de filosofia, como uma “técnica

didática” (p. 61) para aprendizagem filosófica11 .

D8 inicia apresentando dados preocupantes relativos aos exames realizados pelo MEC e pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, sigla para Programme for International Student Assessment)12, da educação básica. Os dados revelam o baixo rendimento dos alunos e, em D8 explica-se esses resultados como reflexo de uma clara dificuldade de leitura e escrita. Sem esse problema sanado, o ensino de filosofia também se torna inviável. Uma vez que esta disciplina está presente nos currículos nacionais de forma obrigatória, temos que realizar esse debate de como é possível o seu ensino e a partir de onde. Em D8 afirma que a utilização de uma didática técnica como a do trivium pode contribuir não

11

O Trivium consistia num programa de estudos da cristandade medieval, que juntamente com o quadrivium

(aritmética, música, geometria e astronomia), compunham a divisão formal das chamadas artes liberais e que preparavam para os estudos superiores de Teologia, Direito e Medicina. Composto pelos estudos da Lógica, da Gramática e da Retórica, o trivium continha as disciplinas necessárias para o serviço da Igreja e para a administração secular, pois desenvolvia o domínio da língua, capacidade de argumentação e o uso do discurso (LOYN, 1990).

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O PISA é uma iniciativa internacional de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. O programa é desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O objetivo do Pisa é produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes, de modo a subsidiar políticas de melhoria do ensino básico. As avaliações do Pisa acontecem a cada três anos e abrangem três áreas do conhecimento – Leitura, Matemática e Ciências – havendo, a cada edição do programa, maior ênfase em cada uma dessas áreas. Além de observar as competências dos estudantes em Leitura, Matemática e Ciências, o PISA coleta informações para a elaboração de indicadores contextuais, os quais possibilitam relacionar o desempenho dos alunos a variáveis demográficas, socioeconômicas e educacionais. Essas informações são coletadas por meio da aplicação de questionários específicos para os alunos e para as escolas (cf. http://portal.inep.gov.br/. Acesso em: 10 de dez. 2013.).

apenas o ensino da filosofia, como também para o desenvolvido das capacidades de escrita e leitura dos nossos alunos.

Para a análise do texto, escolhemos uma unidade de leitura para estudar. Esta se refere

ao “trivium como propedêutica para o ensino de filosofia”.

Em D8 o ensino de filosofia demanda a utilização de um método e busca exemplos na filosofia grega para confirmar sua ideia:

“Sócrates e os filósofos peripatéticos, que estão na raiz de toda cultura e ciência universal, usavam a

argumentação dialógica e o estudo da literatura, através da retórica, lógica, oratória ou mesmo da gramática, como ferramentas básicas de construção do conhecimento. Sócrates demonstrava o valor

que atribuía a essas artes, também chamadas de “liberais”, e seu domínio completo, através da sua

metodologia que mesclava ironia com maiêutica.

Complementa-se com a afirmação de que “a filosofia não traz em si a maneira de sua transmissão, não é tão simples assim. Requer indubitavelmente uma Techné didaktiké” . Em D8, para o ensino de filosofia se fazem necessárias à didática e à pedagogia. Como técnica didática, o autor propõe o uso do trivium. Mas, complementa ao dizer que uma didática

filosófica precisa “ligar a filosofia com o mundo da vida, para que ela não seja como uma “história de ficção” que vem sendo recontada por mais de vinte e cinco séculos. (...) uma didática da filosofia só pode ser construída imanente ao processo do filosofar”. Contudo, o

documento chama atenção para a necessidade do uso de métodos: “a filosofia deve, sobretudo, proporcionar a educação formal e o exercício do pensar; só conseguirá mediante a determinidade dos conceitos e de um procedimento consequente metódico”. Continua o documento:

“A experiência é fundamental, mas sem a técnica, ela versará somente sobre o particular e não sobre o

universal, ora, a arte (techné) surge quando, de muitas noções fornecidas pela experiência, se produz em nós um juízo universal a respeito de uma classe de objetos [...] Se não dermos aos estudantes os instrumentos corretos do filosofar, não podemos esperar deles outra coisa que não mera opiniões de senso comum quando lhes fazemos uma pergunta genuinamente filosófica. [...] Isto significa que para ensinar a filosofar é preciso ensina a ler os textos filosóficos ativa e filosoficamente. (continua...)

(continuação...) A leitura ativa dos textos dos filósofos caracteriza-se por não ter como fim a mera

compreensão das ideias dos filósofos. Ao invés, o objetivo, algo escandaloso para o partidário do cientificismo, é saber se o filósofo tem razão ou não e porquê” (grifo nosso).

No trecho acima o documento expressa claramente sua defesa do método ou do uso de um método para o ensino de filosofia, ainda que este também se configure como exercício do

pensamento. Todavia, uma filosofia “genuína” não se confunde como a mera opinião, mas

antes começa pela leitura ativa dos textos dos filósofos, procurando conhecer as razões por trás das afirmações filosóficas, saber se posicionar diante delas e ser capaz de justificar seu próprio posicionamento.