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4.2. O decálogo editorial da imprensa católica açoriana

4.2.2. Editoriais de âmbito religioso

A Igreja assume a sua presença na imprensa, na ótica de Tengarrinha (2013: 757), como o último reduto dos valores da sociedade tradicional. Constata-se nos conteúdos da imprensa católica açoriana um carácter de cruzada, realidade esta que perpassa a monarquia constitucional e a Primeira República. Foram os jornalistas da causa da Boa Imprensa apelidados, pelo semanário O Dever, de “cavaleiros do resgate”, em editorial titulado “A nova cruzada”, 7 de Janeiro de 1922, ou seja, os artífices de uma nova sociedade, capazes de conformar o mundo às determinações da Igreja:

“A Igreja, o padre e o jornal, – o jornal, reparem bem – têm por missão especial cristianizar a sociedade contemporânea, para que ela estabeleça o reinado de Jesus Cristo na terra. Por isso, não basta combater a má imprensa é preciso substituir-lhe a boa. Para auxiliar e tornar mais extensa a ação do clero; para chegar até às almas que não vêem a Igreja e reconduzi-las a esta; para continuar a escola cristã e para a salvaguardar, a imprensa católica é um meio poderoso e indispensável. No que me cessassem, não só faltaríamos ao gravíssimo dever de consciência, como atrairíamos sobre nós a justa maldição de Deus.”(O Dever, “Um grande dever”, 1 de Fevereiro de 1919, n. 88, p. 1).

Ora, nos assuntos religiosos, sublinham-se algumas temáticas prevalecentes: a ligação entre a Igreja e o Estado como base indispensável para o equilíbrio social, o papel indissociável da Igreja na construção da identidade nacional, as campanhas de beneficência (ibid.: 761). De novo recorrendo ao Papa Leão XIII, que abraçou a imprensa como uma causa pastoral e que a considerou como uma imprescindível extensão evangelizadora da

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Igreja, dever-se-iam por aos periódicos ímpios outros de altíssima qualidade, como apontou na sua encíclica Etsi nos (Domínguez, 2009: 45). As matérias de foro religioso que os jornais deveriam conter eram publicadas mediante um estilo que o próprio pontífice se encarregou de explanar com precisão em sete pontos. Algo que, como iremos aprofundar, nem sempre conseguido nas edições jornalísticas.

As indicações expostas pelo Papa acerca da missão do periodista católico, enquanto produtor noticioso, são resumidas da seguinte maneira: em primeiro lugar, o obreiro da imprensa católica deveria primar pela variedade e elegância de estilo; em segundo lugar, escrever com exatidão o relato dos acontecimentos; em terceiro lugar, deveria manifestar segurança e superioridade no conhecimento das matérias religiosas; em quarto lugar, deveria conferir veracidade às afirmações por ele proferidas; em sexto lugar, deveria optar por um estilo grave e ao mesmo tempo temperado; finalmente deveria estar inteiramente alinhado com a doutrina e os mandamentos da Igreja.

Ao debruçarmo-nos sobre os principais periodistas católicos do arquipélago açoriano, observamos que o seu papel na imprensa estava, de facto, modelado pela religião. Na parte subsequente da nossa dissertação, iremos dar a conhecer os principais nomes que caracterizaram imprensa católica das ilhas, comprovando-se que as personalidades que mais se destacaram nos títulos eclesiais eram oriundos, na sua quase totalidade, do clero diocesano de Angra do Heroísmo. Este facto, muito naturalmente, conduz-nos à confirmação de que a dimensão religiosa tingia inexoravelmente o pensamento e a escrita dos jornalistas açorianos. Neste sentido, o sentido confessional plasmou desta forma a identidade do jornalista, colocando-o acima da sua formação e das suas motivações ideológicas. Prevalece em sequência disto, consubstanciados na consulta efetuada aos editoriais religiosos, uma perícia doutrinadora sobre a informativa. O desiderato eclesial de conseguir abranger toda a sociedade fica bem claro na transcrição que fazemos do diário A Verdade:

“Esperamos firmemente que a Religião Católica ganhará a pouco e pouco em extensão e profundidade. Oficialmente somos uma minoria desprezível. Mas se acção religiosa se propaga e populariza, seremos uma minoria influente e operosa, a caminho do triunfo final. E, indo mais longe ainda, queremos já entrever o dia, em que Deus reinando sobre as leis e instituições de Portugal, como na Colômbia, a restauração cristã do nosso país será uma realidade bendita. Esperanças quiméricas, dirão. Que importa, se esta esperança nos consola nas tristezas presentes, e nos dá coragem de prosseguirmos na luta começada?! Há sonhos sem ideal, que absorvem todas as forças impedindo o trabalho. Os grandes conquistadores foram grandes sonhadores. E a mesma Igreja o que faz, no seu labor secular, senão trabalhar por um sonho? Um só rebanho e um só pastor

121 foi a divina aspiração de Jesus, que a Santa Igreja, continuadora da sua missão no mundo, ainda agora renova cada dia. Ela não dará por terminada a sua obra, senão no dia em que todos os povos, de olhos postos no Calvário, exclamarem: “Eu te saúdo, ó Cruz, nossa única esperança!”. Mas chegaremos nós a ver a sua realização? Certamente que não. Mas para estimular o nosso zelo, não nos é vedado supor a obra cumprida, e de nos representar a sociedade futura formada e regenerada por Jesus Cristo.” (A Verdade, “Formosas ilusões?”, 30 de Maio de 1916, n. 782, p. 1).

A forma como os editoriais de religiosos eram construídos revela-nos que contrariava uma realidade que então fermentava por toda a imprensa: o emergir de um novo jornalismo, desde a segunda metade do século XIX, o designado jornalismo informativo (Traquina, 1993: 167-168). Caracterizava-se, essencialmente, pela separação entre “factos” e “opiniões”, algo que não se ajustou ao estilo dos editoriais religiosos analisados. Esta interpretação jornalística marca a primeira mudança histórica do jornalismo. Do que inferimos, a objetividade nem sempre foi uma tónica essencial no processo de criação jornalística ao nível diocesano.

Se a primeira das funções do periodista católico passava por um desempenho essencialmente evangelizador, não será de estranhar a formação requerida pelo Magistério da Igreja: o conhecimento dos documentos do magistério e a submissão à autoridade eclesial. Nos editoriais que tivemos a oportunidade de classificar como religiosos, salvaguardando algumas exceções, estes princípios não ficaram salvaguardados, uma vez que não se caracterizavam por um estilo claro e incisivo junto dos seus leitores. A produção jornalística dos periódicos católicos açorianos contrariava, assim, as determinações emanadas da

Pastoral Colectiva dos Bispos de 1911. Os Bispos portugueses tinham a clara consciência

da desnecessária perda de esforços em querelas suprareligiosas que não salvaguardavam os objetivos da causa da Boa Imprensa, além de que nunca deixaram de admitir a disparidade de recursos entre a imprensa católica e a imprensa não confessional: “dever-se-á evitar polémicas irritantes, principalmente entre jornais católicos, é obrigação formal, e é atualmente interesse e necessidade inolvidável” (Episcopado Português, 1911: 34). O papel do jornalista católico também estava definido neste importante documento, que foi uma resposta dos prelados portugueses à drástica Lei da Separação imposta pelo Governo republicano à Igreja:

“Informar, esclarecer, persuadir são os ofícios do jornalista. Para o jornal católico entre nós, informar é mais difícil, em vista da exiguidade dos nossos recursos; ao menos, importa que o valor positivo da informação contrabalance os recursos mais ricos dos

122 adversários. Não se esqueça também que o ridículo é também uma arma perigosa. O muito criticar denota inferioridade mental, e prejudica em vez de aproveitar. Quem deseja que o respeitem, tem de respeitar outros. Basta a discussão leal e levantada. Se o inimigo insulta, não se baixe a essa indignidade o escritor católico.” (Episcopado Português, 1911: 35).

O jornalismo católico açoriano destoava, no entanto, das preocupações dos bispos portugueses, na medida em que a sua atividade editorialista se caracterizava, na maior parte das vezes, por abundantes intervenções evangelizadoras, sendo que algumas delas enfermavam de um belicismo editorialista desnecessário. Inclusive, as baterias das suas contundentes críticas estavam apontadas para a realidade interna da própria Igreja, como abaixo transcrevemos do semanário San Miguel:

“Uma das notas mais lamentáveis a notar na classe eclesiástica de hoje é a sua desunião, a ausência do espírito de solidariedade. E, contudo, já por ser uma recomendação do Evangelho, já por ser uma necessidade dos tempos actuais, nenhuma classe tinha mais necessidade de se conservar unida e concorde, do que a eclesiástica.” (San Miguel. Semanário Católico, “Solidariedade Eclesiástica”, 18 de Julho de 1908, n. 161, p. 1).

O que acontecia nos jornais de âmbito não confessional quanto à atualização de procedimentos não aconteceu com os órgãos da imprensa católica. Os periódicos católicos nem sempre foram capazes de criar pontes com o mundo, pois a irredutível orientação religiosa a que o Magistério lhes obrigava não permitia opiniões divergentes ou uma posição harmonizada com o mundo. Foi somente com o crescimento da publicidade no século XIX, realidade muito insignificante na imprensa católica, com a exceção da imprensa diarista açoriana (A Verdade, A União, Correio dos Açores), que os periódicos foram capazes de se autonomizarem da dependência das forças políticas e religiosas a que estavam ancorados. Ora se, segundo Starr (2004: 385), a capacidade dos media terem força por si próprios dependeu em muito da sua autonomia, da sua independência comercial, emancipação que na imprensa católica das primeiras décadas do século XX não aconteceu, ora pela dependência económica eclesial, ora pela fidelidade que ela devotada ao Magistério eclesial. A dependência das instâncias diocesanas, como, aliás, já vimos em anterior capítulo, não foi conseguida na medida em que a imprensa diocesana não conseguia sobreviver sem a comparticipação de benfeitores particulares bem como do papel imprescindível das coletas ocorridas nos dias litúrgicos dedicados à Causa da Boa Imprensa, como podemos inferir da passagem de A Actualidade que se segue.

123 “Resolveu a Comissão da Boa Imprensa, há pouco nomeada por sua Ex.a o Sr. Vigário Capitular, subsidiar A Actualidade com toda a colecta da Boa Imprensa, nesta diocese, obtida no ano findo, cuja importância é de 1.000$00 insulanos. A redacção de A Actualidade muito reconhecida e muito sensibilizada à excelentíssima comissão o valiosíssimo auxílio que vem minorar, muito sensivelmente, dificuldades com que temos lutado. Sentimos bastante as deficiências de toda a espécie que pesam sobre o nosso jornal, e que o obrigam a ficar muito aquém do mínimo a que tem direito o órgão da Causa Católica em Ponta Delgada. Anima-nos, porém, a certeza de que, não obstante tamanhos defeitos, frutificará sementeira que fazemos, porque a doutrina da Igreja frutifica sempre, por mais inábeis que sejam os seus semeadores.” (A Actualidade, “Agradecimento”, 27 de Junho de 1923, n. 187, p. 1).

O primeiro passo seguido nos editoriais religiosos consistia em desmascarar o inimigo, ou seja, evidenciar ante os seus leitores os erros do liberalismo filosófico e político. Existiram vários precedentes em toda a Europa de uma expressiva aconfessionalidade que também se alastrou ao arquipélago açoriano: o precedente revolucionário francês, o

Kulturkampf alemão, a sublevação italiana contra os Estados Pontifícios foram razões

suficientes (e contundentes) para os periodistas tentarem contrariar, através da sua escrita apologética, a propagação de correntes antirreligiosas em Portugal. Contrariando este espírito antirreligioso, os jornais católicos não permaneceram amordaçados ante as contrariedades manifestando com veemência o seu desagrado, como verificamos na passagem infra do diário A Verdade, num editorial respeitante à proibição que pesou sobre o clero que o impossibilitava de celebrar publicamente celebrações exequiais, na cidade de Angra de Heroísmo:

“Baixinha e reles como todas as coisas deste género, apareceu aí em letra redonda uma denúncia contra o pároco da Sé de Angra, porque se atreveu a recitar em casas particulares orações de encomendação de defuntos. Como se o facto fosse novo e não uma prática geral em todos os países civilizados e não civilizados! Quereriam que os ilustres críticos que a República portuguesa tivesse a triste lembrança de proibir o que até a Turquia respeita?!” (A Verdade, “Uma denúncia”, 3 de Fevereiro de 1912, n.º 7, p. 2).

Os esforços das diversas encíclicas para fazer do periodismo católico um periodismo moderno não surtem grande efeito, na medida em que os títulos confessionais continuam a produzir textos fatigantes, distantes de uma informação ampla quanto seria de desejar. Subscreve-se, a este respeito, a qualificação que Clemente (2012: 482) faz do catolicismo português: mais do que os outros da Europa meridional, e certamente muito mais do que o

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nórdico ou o norte-americano, “tinha dificuldade em articular-se com o pensamento moderno, tal como este se fora desenvolvendo e vulgarizando desde quinhentos ou setecentos”. Segundo D. Manuel Clemente (ibid.), a modernidade desenvolveu os campos do saber e da experiência, distinguiu e aperfeiçoou os respetivos métodos, ocupou-se mais com o temporal do que com o eterno, e, com o iluminismo primeiro e o romantismo depois, “acantonou a religião na dedução mental, depois no sentimento individual, racional e abstrato uma, estético e subjetivo outro”. Quer por um lado, quer pelo outro, percebemos que se foi estreitando o campo da presença pública e institucional da Igreja, como rejeitada foi a sua função legitimadora do saber, do poder ou do fazer. O episcopado, o clero e o laicado não ajudavam nesta implantação ao nível continental e insular, como podermos ver no protesto feito de forma muito corajosa, em jeito de quase “carta aberta” à Igreja portuguesa, por parte do semanário San Miguel:

“A Igreja portuguesa carece ao presente não só de bons bispos, mas de grandes bispos. Essa necessidade, porém, a respeito dos Açores, é muito maior, por motivos fáceis de compreender. É neste momento que ao clero açoriano cumpria o alto dever de olhar pela sua situação futura, reclamando a nomeação de um prelado cujo saber, energia e valor fossem a garantia de um futuro melhor. Este negócio é talvez de maiores responsabilidades e perigos que alguns imaginam.” (San Miguel. Semanário católico, “Para pensar”, 15 de Outubro d 1910, n. 276, p. 1).

Os jornais açorianos tentaram combater esta tentativa de afastamento do catolicismo no espaço público de então, através de ações culturais e caritativas, como podemos depreender da passagem do semanário A Ordem que abaixo reproduzimos. As iniciativas de apoio às vítimas das catástrofes, não somente a nível regional, moveram os periódicos em campanhas de angariação de fundos em que se conseguiu aliar a cultura às iniciativas caritativas, transportando, assim, a ação da Igreja para o espaço público local:

«No programa respeitante à récita de caridade a favor dos sinistrados do sismo havido em Itália, o Grupo Recreio Picoense, promoveu um sarau literário teatral recheado de declamações poéticas, pela representação do drama em um acto “Nobreza do artista”, pela entoação das operetas “O Reino da Bolha” e a “Os Sinos de Corneville” e pela comédia “A ordem é ressonar”» (A Ordem, “Recita de Caridade”, 13 de Fevereiro de 1909, n. 91, p. 2).

Os editoriais estudados indicam-nos que o catolicismo português não foi capaz de intervir no debate cultural e religioso com a quantidade e a qualidade requeridas. Eram muito

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poucos os que realmente marcavam a diferença pela acutilância da sua escrita e do seu saber, ao nível do laicado e do clero, num “panorama católico de pouca consistência doutrinal e muita ambiguidade prática” (ibid.), como podermos verificar do excerto do semanário O

Dever:

“O nosso espírito católico deixa muito a desejar. As causas são múltiplas, e a maior de todas é a incúria e o desleixo na obra divina da educação e da reeducação cristã das famílias pelos pais e pelo clero. É raro quando nos encontramos em face de noções verdadeiras, repassadas de sobrenatural, acerca de Deus, dos sacramentos, da Igreja católica, apostolado religioso, etc., etc. A educação no lar doméstico e na catequese tem sido nula ou deficientíssima e daí a dúvida e o indiferentismo – o pior dos nossos inimigos. Não é tanto a coragem das próprias convicções que falta, são essas convicções que rareiam. Um católico verdadeiro não pactua com a descrença, não apoia a mentira sistemática acerca de tudo com que a religião se prenda, não acamarada com os inimigos encobertos ou ostensivos à fé e não obstante, isto é uma coisa muito vulgar em meios portugueses. Um católico que não assista à santa missa, que não recebe a comunhão sagrada ao menos uma vez cada ano, que desconhece a linguagem sublime da oração, está infelizmente muito afastado do espírito católico do cristianismo. Quantos há que esqueceram o padre-nosso e o modo de fazer bem o sinal da cruz!” (O Dever, “O espírito Católico”, 18 de Agosto de 1917, n. 12, p. 1).

No campo da produção editorialista religiosa regional, surgem ainda temas como a caridade, a resignação, o poder da oração, a vida e a obra de santos, a morte, a salvação. Não poucas vezes, os seus redatores oferecem um estilo quase homilético, sermões em vez de notícias de interesse e de atualidade. O pendor doutrinário imperava na construção dos editoriais, asserção, aliás, que nunca foi escondida nas razões que fundamentavam a existência dos periódicos, como poderemos confirmar no excerto de A Actualidade:

“A acção de A Actualidade continuará a ser essencialmente doutrinária. São as ideias e os sentimentos que transformam os costumes e renovam as sociedades. Na base de todas as questões sociais, ou seja na política, ou seja na economia, ou na vida da família, há ideias e sentimentos orientando e impulsionando a conduta do homem…É ali que tem o seu ponto de apoio as forças que o orientam pelo caminho dos bons ou dos maus costumes, da disciplina ou da anarquia. Continuemos, pois, a afirmar os princípios eternamente salutares da doutrina católica, recordando que são indispensáveis ao verdadeiro progresso e ressurgimento da nossa terra.” (A Actualidade, “Continuando”, 2 de Setembro de 1922, n. 123, p. 1).

Ora as características editorialistas, situadas no campo restrito da eclesialidade, suscitaram em alguns setores do catolicismo uma apatia ante os produtos saídos das suas próprias redações. A crítica ao indiferentismo interno no catolicismo das ilhas, que tantas vezes fez editorial pelos periódicos insulares, esvaziou em parte o triunfo da causa da Boa

126 Imprensa, pois confinou-a a um reduzido circuito de agentes jornalísticos ligados à diocese

de Angra, como bem traduzem as lamentações do diário A Verdade que abaixo reproduzimos:

“Quantos são os católicos portugueses que acreditam no Santo Padre, como o supremo representante de Deus na terra, e Vigário de Jesus Cristo? Onde estão os católicos que consideram os bispos como os únicos mentores de toda a vida religiosa, interna e externa das dioceses? Onde moram esses católicos, para quem o padre e, não somente uma boa pessoa que se apresenta, fala ou escreve bem, mas o melhor elemento de paz, moralidade e educação das almas? Se são católicos muitos católicos, porque não são escrupulosos em ouvir missas aos domingos e dias santificados? Porque envergonham muitas vezes de entrar num templo e descobrirem-se ao passar-lhe pela frente? Se são católicos, certos católicos porque não reconhecem a suprema realeza de Jesus Cristo tanto na família como na vida social? Sem que eles apareçam não digamos que os católicos em Portugal são cinco milhões. O mais que podemos afirmar com verdade é que eles são…alguns milhares. E é com tais soldados, que queremos organizar um vigoroso exército? É com estes crentes que havemos de formar o Portugal de amanhã?” (A Verdade, “Portugal Católico”, 2 de Março de 1916, n. 712, p. 1)