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As frequentes lamentações, em documentos pontifícios e nos artigos periodísticos, acerca das imperfeições que se constatavam nas edições dos jornais católicos constituíam um tema recorrente bem evidente nas preocupações dos redatores religiosos das primeiras décadas do século XX. Fica clara a noção de que a pastoral exercida pelos agentes eclesiásticos não poderia dispensar de modo algum o papel divulgador da imprensa. Não havia, por conseguinte, verdadeiro apostolado sem recurso ao jornal.

“Contribuir para a Boa Imprensa não é a realização de um preceito vulgar: é um dos grandes deveres da hora presente. Não é bom católico quem não contribui para a boa imprensa, quem lhe nega o apoio do seu dinheiro. A Boa Imprensa é a imprensa de Deus, é a que espalha a Palavra de Cristo, a que apregoa e defende os grandes princípios morais do Evangelho. Nesses princípios morais reside a felicidade dos povos. Sem religião não pode haver felicidade porque sem ela não há paz, nem vida social possível” (A Crença, “A Boa Imprensa”, 24 de Junho de 1923, n. 358, p. 3).

Nesta conformidade, quem se escusasse a contribuir com o seu auxílio para as despesas decorrentes desta grande causa da Igreja açoriana, nas primeiras décadas do século XX, era considerado um “mau católico” e, em concomitância, alguém desajustado dos valores da nação portuguesa, como poderemos observar no excerto que reproduzimos de A Crença: “portanto o que recusa à Boa Imprensa o seu auxílio pecuniário é também um mau patriota, além de ser um mau católico” (A Crença, “A Boa Imprensa”, 24 de Junho de 1923, n. 358, p. 3). O próprio Vigário Geral da Diocese que tantas vezes substituiu a vacatura da sede epsicopal de Angra do Heroísmo, ao escrever para toda a diocese sobre a Boa Imprensa,

15 Encíclica aos Bispos de Itália, de 15 de Outubro de 1890, in Leão XIII (1951), Excertos dos Documentos Pontifícios sobre a Imprensa, Petrópolis, Rio de Janeiro, São Paulo: Editora Vozes, 15

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deixava bem claro que as leituras dos jornais não confessionais pelos católicos poderia ser um espelho para uma boa catalogação de personalidades e de maneiras de ser: «o antigo provérbio – “diz-me com quem andas” … pode ser hoje substituído com muita verdade por este outro – “diz-me que jornal assinas ou lês e dir-te-ei quais são os teus sentimentos» (A

Actualidade, “Dia da Imprensa católica”, 1 de Junho de 1922, n. 111, p. 2).

A falta de meios económicos é, neste sentido, um dos motivos evocados com maior frequência para justificar a apática existência de muitos diários confessionais no panorama açoriano. O objetivo das dioceses seria tentar passar os periódicos eclesiásticos de uma situação comatosa, ao nível da sua sustentabilidade, para jornais capazes de ter outro fôlego por influência das esmolas dos fiéis.

“Socorramos a Boa Imprensa; demos-lhe o auxílio do nosso dinheiro tantas vezes gasto em ninharias ou na satisfação de vícios que degradam a alma e o corpo.

Ao menos uma vez no ano lembremo-nos de que existe a Imprensa de Deus, que vive desprotegida e cheia de dificuldades e que se os católicos a não socorrerem não podem queixar-se no futuro dos maus dias que atravessarem. Auxiliemos a Boa Imprensa! Como bons católicos e bons açorianos!” (A Crença, “A Boa Imprensa”, 24 de Junho de 1923, n. 358, p. 3).

Esta “dependência esmoleira” levou a que alguns autores classificassem os órgãos de imprensa católicos como “periódicos mendigos”, sujeitos àquilo que a generosidade dos fiéis católicos ditasse (Domínguez, 2009: 41). Esta situação de dependência da mão benfazeja da Igreja, não obstante as muitas tentativas para deslocar o periódico católico do patamar de “mendigo” – por depender das esmolas da Igreja –, para uma posição de autossustentabilidade nem sempre foi bem acolhida. Ou seja, a edificação de um jornal que autonomizasse a sua existência pela procura nas bancas e pelas assinaturas que era capaz de angariar nem sempre foi aceite pelo episcopado da Igreja que, dessa maneira, poderia manter o seu dirigismo sobre a grelha redatorial de cada órgão da imprensa diocesana. Assim, algumas das formas de divulgação propostas pela Igreja poderiam ser classificadas de um voluntarismo amador, pouco consentâneo com aquilo que deveria realmente constituir um bom jornal – um grupo redatorial dedicado a tempo inteiro que não vivesse apenas do voluntariado eclesial. Damo-nos conta, a partir da perícope abaixo citado, que os principais intentos inerentes à tiragem de um jornal estavam no facto de ele se poder encontrar nos espaços públicos de qualquer forma, passando-se, assim, por cima da importância dos próprios conteúdos. O que interessava era que o jornal fosse encontrado nos espaços

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públicos, que a sua presença ficasse assinalada, suprimindo-se assim a atratibilidade dos seus conteúdos, o quanto isto era fundamental. Este dado leva-nos à asserção de que mais importante que o conteúdo era conseguir-se a sua presença nos espaços públicos, como se poderá deduzir do recorte que reproduzimos do Sinos d’Aldeia:

“Não basta que o jornal católico seja enviado ao assinante ou ao cooperador, à biblioteca ou ao gabinete de leitura, ao escritório ou à oficina – é necessário que apareça em toda a parte, acolhido com interesse ou olhado com desprazer, amarrotado e levado pelo vento das ruas ou fragmentado e varrido diante das vassouras que limpam os café e as tabernas. O essencial é que apareça, é que se lhe veja o título, é que se lhe relanceie um olhar de curiosidade. Na Inglaterra, na América do Norte, na Espanha, na Suíça, na Holanda, e quiçá em outros países, há brigadas de meninas e de rapazes católicos, alistados na sociedade londrina The Catholic Guild, que recolhem pelos escritórios e domicílios particulares os jornais já lidos, indo deixá-los nas mesas dos cafés, nos escritórios das agências marítimas, no convés dos navios, nos bancos dos jardins, nos salões dos teatros e em suma em toda a parte aonde possam servir aos altos interesses da moral, da religião, da disciplina e da ordem social” (Sinos d’Aldeia, “29 de Junho. Dia da Imprensa”, 30 de Junho de 1924, p. 1).

O dado mais decisivo, nas edições periodísticas da Igreja católica, era, pode assim dizer-se, que a Igreja fosse capaz de se libertar rapidamente do mutismo atávico que a ancorou a um lugar secundário nas sociedades de então, paralisando-a na esfera pública durante largas décadas.

“As trincheiras de silêncio que a sectária sistematicamente cava em torno dos esplendores da fé; as sortidas inimigas que a cada momento se esboçam nos domínios da crença; os ataques que a cada instante se desenvolvem contra a difusão das verdades eternas; a propaganda ostensiva e audaciosa dos princípios subversivos da anarquia moral e civil e o trabalho solapado da difusão de leituras morais e corruptoras – só podem ser neutralizados pela intensa e larga divulgação dos bons jornais, espalhados a esmo, levados a toda a parte, deixados em todos os lugares onde possa aparecer um espírito que lhes consagre um minuto de curiosidade se não de interesse.” (Sinos d’Aldeia, “29 de Junho. Dia da Imprensa”, 30 de Junho de 1924, p. 1).

Ora as muitas declarações a favor de uma imprensa variada, amena, e de estrutura empresarial foram sempre neutralizadas por considerações de ordem moral do Magistério, evidenciando, assim, o peso da obediência a que a Igreja estava obrigada. A imprensa católica em muitos dos seus órgãos consegue, no entanto, resistir graças ao voluntarismo e aos esforços dos membros do episcopado, apesar de não compreenderem a impotência de recursos de que era portadora face ao desenvolvimento galopante da imprensa liberal, aliás muito mais forte ao nível das assinaturas e também nas bancas.

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A gritante necessidade de a Igreja possuir uma estrutura financeira sólida para a gestão competente da sua imprensa verificava-se no facto de as audiências não se conseguirem expandir, havendo uma clara cristalização em muitos jornais derivado à incapacidade da Igreja para conseguir novos investimentos.

O controlo editorial era algo muito apertado, não querendo o episcopado, como já vimos, conceder maior autonomia aos órgãos de imprensa derivado ao medo de o controlo editorial ficar desregulado. Assim, foi criado ao nível da Santa Sé o dia da Boa Imprensa, no dia 29 de Junho de 1920, solenidade do apóstolo São Paulo.

“Para uma tal divulgação é claro que são necessários capitais, não bastando o recurso das assinaturas e dos anúncios. Como obtê-los? Por meio da colecta do Dia da Imprensa Católica. Sabendo os católicos da necessidade de manter os seus jornais e de lhes a maior divulgação possível, falta porventura quem se dê à tarefa de conjugar todas as boas vontades, concretizando-as num expoente de apoio eficaz à imprensa. Demovamo- nos de relutâncias e vamos. Aproveitemo-nos das graças que a Santa Igreja benignamente concede aos seus filhos que secundarem esta obra, oremos com fervor para que o Senhor fecunde e desperte em nossas almas as mais santas disposições e com as bênçãos do Divino Hóspede que neste dia recebemos, consagremos com ardente zelo e acrisolada caridade o Dia da Imprensa Católica, proporcionando aos nossos jornais os indispensáveis elementos de vida. Trabalhar pela Imprensa Católica é trabalhar pela causa de Deus e pela Pátria.” (Sinos d’Aldeia, “29 de Junho. Dia da Imprensa”, 30 de Junho de 1924, p. 1).

Neste dia litúrgico, a Igreja celebra o apóstolo que foi o paladino da evangelização ad

gentes, o judeu convertido que conseguiu conferir uma verdadeira dimensão de catolicidade

à fé cristã, tornando-a universal. O jornal A Actualidade, na sua edição do dia 1 de Junho de 1922, ousa afirmar que, se acaso houvesse imprensa ao tempo das viagens missionárias efetuadas por Paulo de Tarso, elas ter-se-iam, quase de certeza, servido da capacidade divulgadora da imprensa. Precisamente devido à capacidade que São Paulo teve de levar o cristianismo aos sítios mais improváveis, a Igreja ao tempo do Papa Bento XV, confiou o Dia da Boa Imprensa ao apóstolo São Paulo:

“Ficou célebre a frase de um escritor, afirmando que, São Paulo, o grande apóstolo das gentes, vivesse na época actual, se faria jornalista, tal a importância da imprensa na nobre cruzada de recristianização da sociedade.

Apesar desta verdade se impor com uma evidência irrefragável, com quantas dificuldades lutam os jornais católicos!” (A Actualidade, “Dia da Imprensa católica”, 1 de Junho de 1922, n. 111, p. 2).

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O projeto do Dia da Boa Imprensa foi algo que surgiu tardiamente na diocese de Angra, atendendo ao facto do Bispo que esteve na diocese, de 1915 a 1922, D. Manuel Damasceno da Costa, ter falecido prematuramente como fez eco desse facto o jornal A

Actualidade:

“Tencionava o sr. D. Manuel Damasceno da Costa chamar a atenção do ilustre e zeloso clero açoriano para este assunto e designar o dia 29 de Junho, consagrado aos apóstolos São Pedro e São Paulo, para em todas as igrejas da Diocese se fazer uma colecta em favor da boa imprensa. A morte veio arrebatar este egrégio Prelado aos seus trabalhos pastorais e ao carinho dos seus diocesanos, inibindo-o de por em prática o seu levantado projecto. Executou-o, porém, agora o ilustre deão o sr. Dr. José dos Reis Fisher que, dirigindo mais uma vez, como Vigário Capitular, com a sua inteligência e a sua experiência, a Igreja Açoriana, publicou o Boletim Eclesiástico do mês findo um interessante documento, cuja parte principal gostosamente desejamos fique arquivada nas colunas de A Actualidade: “o jornal entrando periodicamente, muitas vezes diariamente numa casa, sem ruído, sem mesmo se fazer anunciar, dizendo, repetindo, insistindo, ontem, hoje, amanhã, vai instilando gota a gota nas pessoas que o lêem ou ouvem ler, e são todas as pessoas da família, até as próprias crianças, a doutrina boa ou má de que é pregoeiro. O seu poder de sugestão é tão grande que raríssimos são os que podem resistir-lhe, acabando quase todos por pensar como pensa o jornal.” (A Actualidade, “Dia da Imprensa católica”, 1 de Junho de 1922, n. 111, p. 2).

Não só surgiu tardiamente, como também só em 1920 é que se começa a celebrar no arquipélago, como demonstra o fragmento transcrito do jornal da ilha do Pico, o Sinos

d’Aldeia. De notar que este órgão de imprensa foi o único a seguir o pedido do Papa Bento

XV. Embora tivesse celebrado o Dia da Boa Imprensa de forma tímida, foi seguido de imediato por outro periódico da ilha de São Jorge, no grupo central das ilhas açorianas – O

Dever:

“Pela primeira vez se vai realizar o Dia da Imprensa Católica, com carácter mundial e a expressa bênção de S.S. Bento XV, que em data de 19 de Agosto de 1920 se dignou estender a todo o mundo a indulgência plenária que em 1916 concedera aos católicos espanhóis. Em 1920 o Sinos d’Aldeia promoveu a comemoração do Dia da Boa Imprensa pela forma modesta que julgou adequada às circunstâncias locais da sede da sua publicação, procurando, nos limites do possível, obtemperar às indicações do seu Venerando Prelado e ao apelo da Obra Internacional da Imprensa Católica. A singularidade e a novidade do facto, isolaram-no, como prevíramos. No corrente ano coube a vez a O Dever. Este ardoroso combatente da ilha de São Jorge, delineou e deve ter levado a efeito a sua Festa da Boa Imprensa, que prometia revestir-se de piedade e de boas obras religiosas e sociais.” (Sinos d’Aldeia, “29 de Junho. Dia da Imprensa”, 30 de Junho de 1924, p. 1).

A dificuldade de os periódicos do arquipélago promoverem esta festa junto das comunidades cristãs, a partir da realidade das paróquias, foi algo que não brotou

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espontaneamente, até porque o Dia da Boa Imprensa nos Açores, ao contrário do que se poderia pensar, não foi suscitado numa das ilhas-capitais de distrito, mas numa ilha do central – o Pico, por meio de um periódico surgido numa das pequenas freguesias da ilha, as Bandeiras:

“Confiamos, no entanto, que as exigências de vida da imprensa católica hão-de generalizar no arquipélago uma comemoração tão educativa e proveitosa, além de que o seu incremento está particularmente confiada à secção da Imprensa da Comissão diocesana das Obras Sociais, que com certeza não demorará os seus trabalhos tão oportunos e necessários à glória de Deus e ao bem da sociedade. E os Açores hão-de ocupar o lugar que lhe compete na celebração mundial do Dia da Imprensa Católica. Deus está connosco! Estamos com a Santa Sé. Estamos com o sr. Bispo.” (Sinos d’Aldeia, “A cruzada da Boa Imprensa”, 1 de Agosto de 1921, p. 1)

Também o jornal A Crença fez eco da necessidade de se homenagear o “apóstolo dos gentios”, o patrono do dia e da causa da Boa Imprensa, pela capacidade que teve em expandir e em divulgar a fé cristã pelo mundo conhecido de então:

“É o dia vinte e nove de Junho, em que a Igreja celebra a festa de São Pedro e comemora São Paulo, os dois grandes apóstolos, consagrado à “boa imprensa”, isto é, destinado para os filhos concorrerem com as suas ofertas para auxiliarem os jornais que trabalham pela causa de Deus e da salvação das almas.” (A Crença, “A Boa Imprensa”, 24 de Junho de 1923, n. 358, p. 3).

O Dia da Boa Imprensa foi lançado por vontade do magistério da Igreja, ao tempo do pontificado de Bento XV. Se, em 1916, este Papa concedeu indulgências plenárias à Igreja de Espanha se acaso celebrasse o Dia da Boa Imprensa; em 19 de Agosto de 1920, foi de novo concedido este beneplácito, mas agora a todos os cristãos do orbe católico desde que a sua comemoração se realizasse com os critérios delineados pelo Magistério, que mais adiante iremos ver. Todavia, nos Açores, a entrada desta celebração foi lenta iniciando-se não no centro do arquipélago mas em duas ilhas adjacentes. A sensação de o pioneiro desta celebração – Sinos d’Aldeia – se sentir isolado aquando destas comemorações era a prova de que nem todos os órgãos da imprensa açoriana acataram de forma empática este desiderato da Santa Sé. Realçamos que em 1920, como no ano de 1921, precisamente a data do excerto que abaixo reproduzimos, existiam cinco periódicos afetos à Igreja católica: Sinos

d’Aldeia (ilha do Pico), O Dever (ilha de São Jorge), A Crença (ilha de São Miguel), A Actualidade (ilha de São Miguel) e A Verdade (ilha Terceira), o que ilustra que menos da

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metade dos periódicos é que decidiu celebrar o dia de angariação de fundos para os jornais diocesanos, apesar de esta decisão não ser apenas do foro diocesano mas uma intenção pontifícia:

“Pela primeira vez se vai realizar o Dia da Imprensa Católica, com carácter mundial e a expressa bênção de S.S. Bento XV, que em data de 19 de Agosto de 1920 se dignou estender a todo o mundo a indulgência plenária que em 1916 concedera aos católicos espanhóis.” (Sinos d’Aldeia, “A cruzada da Boa Imprensa”, 1 de Agosto de 1921, p. 1).

O facto de o Sinos d’Aldeia ter sido o precursor desta iniciativa ilustra bem o quão atualizada estava a equipa que coordenava este jornal.

“Em 1920 o Sinos d’Aldeia promoveu a comemoração do Dia da Boa Imprensa pela forma modesta que julgou adequada às circunstâncias locais da sede da sua publicação, procurando, nos limites do possível, obtemperar às indicações do seu Venerando Prelado e ao apelo da Obra Internacional da Imprensa Católica. A singularidade e a novidade do facto isolaram-no, como prevíramos. No corrente ano coube a vez a O Dever. Este ardoroso combatente da ilha de São Jorge delineou e deve ter levado a efeito a sua Festa da Boa Imprensa, que prometia revestir-se de piedade e de boas obras religiosas e sociais.” (Sinos d’Aldeia, “A cruzada da Boa Imprensa”, 1 de Agosto de 1921, p. 1).

O facto de a diocese ainda não celebrar em todas as ilhas a solenidade de São Paulo, associada ao Dia da Boa Imprensa, fica a dever-se, na nossa ótica, ao facto de o Bispo D. Manuel Damasceno da Costa ter falecido subitamente, adiando aquilo que seria para se estender às nove ilhas. O Vigário Capitular que o sucedeu não teria, certamente, a autoridade episcopal necessária apara levar em diante esta grande empresa da Igreja universal:

“Tencionava o sr. D. Manuel Damasceno da Costa, cuja memória perdurará nos anais desta diocese como um dos seus bispos que mais trabalharam, publicar uma provisão ordenando que no dia de São Pedro e São Paulo se procedesse em todas as igrejas e capelas a uma colecta a favor da Imprensa católica, como é uso fazer-se em muitas dioceses. A morte impediu que o saudoso prelado executasse o seu projecto.” (A Crença, “ Dia da Imprensa católica”, 28 de Maio de 1922, n. 304, p. 2-3)

Estamos em crer que a ação do padre Nunes da Rosa, diretor do Sinos d’Aldeia, por quem Vitorino Nemésio nutria uma grande admiração, afirmando-o “escritor maior” dos Açores (Tomás, 2010: 62), foi certamente decisiva para esta iniciativa se ter propagado a toda a imprensa católica açoriana. Aliás o Sinos d’Aldeia são um caso merecedor do nosso

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estudo por terem cultivado um estilo ímpar, a partir de uma das mais pequenas freguesias da ilha do Pico, as Bandeiras.

Passámos também a saber que a organização e a sedimentação desta efeméride, nas comunidades paroquiais açorianas, competia à Comissão Diocesana das Obras Sociais. A estreita obediência ao Bispo da diocese bem como ao Magistério da Igreja fica bem clara nesta passagem de o Sinos d’Aldeia.

É também em o Sinos d’Aldeia que ficámos a saber, como no ponto seguinte desta dissertação analisaremos, da existência de um cuidadoso programa alusivo ao dia 29 de Junho.