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Educação pelo Judô

No documento Dojô: espaço de educação (páginas 126-132)

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.3 Educação pelo Judô

Nesta segunda categoria temática de análise de nossa pesquisa, nos preocupamos em compreender a interrelação existente entre a educação e o judô através do entendimento dos antigos mestres da cidade do Recife. Desta forma, os mesmos foram motivados a opinarem baseando-se em quatro eixos temáticos norteadores (que também podem ser denominados como sub-nós ou subcategorias): 1. Lições educativas do judô; 2. Princípios Filosóficos e sua aplicabilidade prática; 3. Complementação à formação educacional; 4. Judô nas escolas.

Sobre as lições educativas vivenciadas através da prática do judô, obtemos os seguintes dados de acordo com a figura 12.

Figura 12 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Lições educativas do judô)

Fonte: o autor (2017)

Mediante os dados coletados, e de acordo com a imagem acima, constatou- se que palavras tais como: CONTRIBUIR, REGRAS, ENFRENTAR, FORMAÇÃO, SENTIMENTO, ESPORTE, JIGORO, IMPORTANTE, dentre outras, tiveram maior predominância de aparecimento nas falas dos senseis. Desta forma, inferimos que

os mestres percebem que o judô é importante ferramenta educacional e que possibilita a aprendizagem de algumas lições educativas.

Dentre estas lições, os mestres mencionaram que o praticante de judô aprende a enfrentar obstáculos da vida através da formação constituída por regras (sejam normas de etiqueta dentro do dojô, ou ainda, no ambiente extra dojô) e pela ética e moral esperada de uma judoca frente à sociedade.

Também ressalta-se a percepção dos senseis de que Jigoro Kano destacou- se ao formular um sistema de cunho educacional e que, através do mesmo, os seus praticantes seriam capazes de buscar um emancipação que permitisse enfrentar a vida com maior fluidez e sabedoria.

Em relação aos princípios filosóficos e a sua respectiva aplicabilidade prática, de acordo com a figura 13, foi possível obtermos os seguintes termos como prevalentes: PRINCÍPIO, FILOSOFIA, ALUNO, CRIANÇA, IMPORTANTE, COMPREENSÃO, dentre outros que nos fizeram criticamente compreender que, de acordo com atores desta pesquisa (senseis), é possível entendermos que os dois princípios filosóficos do judô (melhor uso da energia e também o de prosperidade e benefícios mútuos) são de suma importância como fio condutor para uma postura íntegra e humana perante a sociedade. Contudo, com a modernidade e os costumes contemporâneos, de certa forma mais liberais no que diz respeito a criação dos filhos, os senseis convergem para um entendimento de que esta filosofia só funcionaria na prática e no cotidiano a partir dos ideais defendidos pelo sensei que conduz o seu dojô, ou seja, a depender daquele que fará bom uso deste conhecimento. Quanto a esta questão, existem estudos como o de Santos (2006) e Santos et al. (1990) que ratificam a ideia de que os princípios judoísticos parecem estar enfraquecidos nos dias atuais, principalmente em decorrência de um desvirtuamento dos propósitos preconizados por Kano, e que parecem ter sucumbido ao universo do judô competição. Os autores em questão constataram, inclusive, que faixas pretas muitas vezes desconhecem os princípios filosóficos existentes.

Ainda de acordo com os mestres entrevistados, os mesmos reforçaram a ideia de que o judô possa ser conduzido, preferencialmente, desde a infância, para que possa ser empreendido um ensinamento consistente e progressivo do ponto de vista do entendimento da filosofia. Um outro ponto interessante ressaltado é a conexão entre os princípios filosóficos e o código moral do judô (descrito na página

89). Por fim, sugere-se que para que se tenha o máximo proveito dos princípios filosóficos norteadores da prática judoística, são necessários esforços para que sejam explorados os conceitos da forma mais didática possível e que, assim, colaborem para a compreensão plena por parte do alunado e de acordo com a capacidade de cada faixa etária.

Figura 13 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Princípios filosóficos e suas aplicabilidades práticas)

Fonte: o autor (2017)

Mediante o resultado obtido através da representação gráfica apresentada acima, podemos compreender que os mestres entrevistados percebem que os princípios filosóficos específicos da modalidade são pilares importantes a serem apreendidos e compreendidos pelos praticantes, de modo a possibilitar que desde muito cedo (crianças) possam dominar suas energias (também um princípio Eliasiano do processo civilizador) e conduzir um estilo de vida alicerçado por estes princípios.

O terceiro passo na categoria de análise refere-se à educação pelo judô, nele buscamos entender como se dá a possível complementação à formação

educacional a partir da prática do judô. Quanto a este ponto, podemos verificar os dados contidos na figura 14.

Figura 14 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Complementação à formação educacional)

Fonte: o autor (2017)

Através da imagem acima referenciada, é possível percebermos uma evidência maior aos termos: ALUNO, FILOSOFIA, ESCOLA, CRIANÇA, COLÉGIO, COMPREENSÃO, ESTUDO e PERSPECTIVA. Desta forma, percebe-se que os senseis compreendem que o judô é importante ferramenta educativa a partir do momento em que o mesmo possibilita a complementação educacional dos praticantes (educação não formal ou não institucionalizada) associadamente ao papel da escola (educação formal) e também à educação do lar (geralmente conduzida pelos pais). Também ficou subentendido que o judô ocupa forte função na educação comportamental e disciplinar, já que a prática têm sido fortemente indicada por médicos, terapeutas etc. Todos os senseis entrevistados se enxergavam reconhecidamente importantes nesta função auxiliar enquanto educadores.

Ainda em análise a esta categoria, cabe uma reflexão crítica para que possamos compreender que o judô sozinho não consegue e nunca conseguirá dar conta da educação de qualquer indivíduo. Apesar de cumprir com uma função

importante (e auxiliar), é sabido que esta complexidade do ato de educar só se fará qualitativamente presente a partir do entendimento da tríade educacional composta pela relação Judô-Pais-Escola que, em sincronismo ideológico, gerarão perspectivas mais exitosas de facilitar a educação. Aqui cabe uma ressalva, pois o judô tem sido largamente “vendido” como o “esporte que educa porque tem filosofia”, ou o judô “disciplina as crianças”, dentre outras expressões que escutamos com frequência. Contudo, é pertinente reforçar a ideia de que o que faz do judô uma importante ferramenta de potencial educativo é o equilíbrio em sua volta, e que permite que o mesmo favoreça a este fim.

Por fim, enquanto última análise em questão nesta macro categoria, (Educação pelo Judô) buscamos favorecer a reflexão dos mestres a partir do questionamento quanto ao olhar dos mesmos no que se refere à importância, ou não, da presença do judô dentro das escolas (instituições formais de ensino). A figura 15 abaixo, representa os dados pertencentes a esta análise.

Figura 15 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Judô nas Escolas)

Fonte: o autor (2017)

Dentre os termos/palavras mais constantes, pudemos constatar os seguintes: ESCOLAS, COLÉGIO, CAPOEIRA, FORMA, TRATADA, IMPORTANTE, NECESSÁRIO e CAMINHO. Enquanto análise, depreendemos que os mestres

imprimem importantes reflexões através de suas informações, declaradas ou subliminares, contidas em suas falas. Uma delas refere-se ao reconhecimento de que, dentre as modalidades de lutas existentes no ambiente escolar, o judô71 têm sido uma das mais difundidas, e que, atualmente, estes mesmos mestres já percebem e reconhecem a chegada e importância da capoeira neste contexto escolar. Os senseis destacam que no cerne da importância de tais práticas dentro da escola foca-se a formação dos indivíduos, e que o judô possui reconhecido valor neste ambiente devido ao reconhecimento social enquanto ferramenta de cunho educacional.

Todos os senseis entrevistados mostraram-se otimistas quando ao aumento expressivo do judô dentro das escolas do Recife. Este olhar deve-se também ao histórico destes senseis, pois conforme vimos (no breve histórico descrito nesta pesquisa) muitos destes atuaram em escolas importantes de nossa cidade e tiveram papel fundamental nesta massificação e maior permeabilidade da modalidade no ambiente escolar. Um outro fator relevante quanto à presença do judô nas escolas deve-se à sua histórica relação com IES (Instituições de Ensino Superior), principalmente em cursos de graduação em Educação Física, segmento formativo que ainda possui forte ligação com o judô, através de projetos de extensão, disciplinas curriculares e/ou núcleos específicos de pesquisa, e que, consequentemente, impulsiona um maior número de pesquisas científicas sobre a modalidade, fortalecendo a aproximação e o reconhecimento por parte da instituição escola.

Por fim, enquanto fechamento de análise desta categoria (educação pelo Judô), concluímos que, reforçados por todo debate construído na seção 3 de nossa pesquisa (que detalhou a relação entre o judô e a educação), juntamente com as falas dos relevantes mestres por nós entrevistados, não é possível dissociar o judô da educação, visto que seu próprio criador lutou desde a gênese para que o seu sistema possuísse abrangência educativa. Logicamente, deduzimos que um sensei humanista e bem formado pelos pilares filosóficos da modalidade fomentará a otimização prática deste mencionado contexto.

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Lembramos que a palavra JUDÔ não consta no gráfico devido aos critérios estabelecidos (e já esclarecidos) para a nossa análise. Contudo, ao liberarmos palavras a partir de quatro caracteres, constatamos que de fato foi a palavra mais repetida por todos e em quase todos os gráficos deste trabalho. Para que não ficasse cansativo à análise, deixamos claro que a palavra JUDÔ sempre estivera presente repetidamente nas falas de todos os senseis, o que enquanto analistas dos dados, naturalmente já esperávamos por isso.

No documento Dojô: espaço de educação (páginas 126-132)