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Dojô: espaço de educação

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

DENIS FOSTER GONDIM

DOJÔ: espaço de educação

Recife 2017

(2)

DENIS FOSTER GONDIM

DOJÔ: espaço de educação

Dissertação apresentada ao Núcleo de Teoria e História do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito para a obtenção do título de mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Vilde Gomes de Menezes Coorientador: Prof. Dr. Henrique Gerson Kohl

Recife 2017

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Kátia Tavares, CRB-4/1431

G637d Gondim, Denis Foster.

Dojô: espaço de educação / Denis Foster Gondim. – Recife, 2017. 180 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Vilde Gomes de Menezes.

Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Pernambuco, CE. Programa de Pós-graduação em Educação, 2017. Inclui Referências.

1. Educação não-formal. 2. Dojô. 3. Judô. 4. UFPE - Pós-graduação. I. Menezes, Vilde Gomes de. II. Título.

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DENIS FOSTER GONDIM

DOJÔ: espaço de educação

Dissertação apresentada ao Núcleo de Teoria e História do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito para a obtenção do título de mestre em Educação.

Aprovada em: 26/05/2017.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Vilde Gomes de Menezes (Orientador)

Universidade Federal de Pernambuco

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Edilson Fernandes de Souza (Examinador Interno)

Universidade Federal de Pernambuco

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Henrique Gerson Kohl (Examinador Externo)

Universidade Federal de Pernambuco

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcos André Nunes Costa (Examinador Externo)

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Dedico esta obra (in memorian) ao meu tio, George William Foster, que, dentre vários lições, nos ensinou que a sabedoria vem através das experiências de vida. E mesmo sem ser um judoca de fato (era na essência!), com ele aprendi o real significado do princípio judoístico Jita Kyoei (Prosperidade e Benefícios Mútuos).

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AGRADECIMENTOS

Todos sabem que uma pesquisa nunca é realizada por uma só mão. Sou muito grato a todos que, direta ou indiretamente, passaram por minha vida positivamente, de forma a contribuir para a realização desta importante etapa em minha vida. Peço-lhes sinceras desculpas se por ventura não mencionar alguns dos tantos nomes que gostaria de expor neste momento.

Primeiramente, agradeço a Deus, enquanto fonte de energia positiva que me permite ter saúde física e mental para batalhar todos os dias rumo as minhas escolhas de vida.

Agradeço imensamente à minha família (Foster’s e Gondim’s), especialmente à minha esposa (Tathiana) por ter tido sabedoria e paciência em momentos difíceis de isolamento produtivo. Aos meus pais (Dorimar e Doris) e irmãos (Daniela e Danilo) que são alicerces fundamentais de minha personalidade.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Vilde Gomes de Menezes, pela confiança depositada na parceria e pela autonomia produtiva delegada. Ao Dr. e coorientador, Henrique Gerson Kohl, pelas pontuais orientações e as parcerias firmadas junto ao estudo das lutas, artes marciais, esportes de combate e a capoeira.

A todos os meus amigos do universo judoístico (Não me arriscarei mencioná-los, uma vez que são muitos) e também de outras práticas marciais e/ou de combate.

Aos meus senseis, que compuseram meu DNA no judô (em ordem cronológica: senseis Claudemir Bezerra, Diógenes Moraes, Carlson Moraes e Marco Aurélio Lauriano). Agradeço-os imensamente pela minha inserção e imersão no campo teórico e prático do caminho suave.

A todos os notórios mestres entrevistados nesta pesquisa (Byung Kuk Lee; Diógenes Moraes; Hayashi Kawamura, Marco Aurélio Lauriano e Tadao Nagai). Incluo minhas homenagens póstumas aos senseis William Arruda (também um dos pioneiros do judô na cidade de Recife) e ao sensei Márcio Eustáquio (por todo seu legado e luta por um judô mais acadêmico).

Especial agradecimento ao amigo e sensei Haroldo Bezerra, pelo apoio técnico junto às transcrições das entrevistas.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro institucional enquanto bolsista.

(7)

Aos amigos de formação na ESEF-UPE, assim como, a todos os mestres e doutores do DEF-UFPE e do PPGE-UFPE (em especial ao Prof. Pós-doutor Edilson Souza e ao Prof. Dr. José Luís Simões) que sempre reconheceram meu incansável engajamento frente à concretização desta pesquisa,

A todos os membros de minha banca (Dr. Vilde Gomes de Menezes, Dr. Henrique Gerson Kohl, Dr. Marcos André Nunes, e os suplentes, Dr. Leandro Mazzei e o Dr. José Luís Simões), que ofertaram ampliação dos horizontes da pesquisa a partir de todas as considerações e críticas lançadas à melhoria da mesma (tanto na qualificação quanto na defesa).

Ao amigo e Prof. Dr. Luciano Leonídio, pela contribuição à gênese deste trabalho, em meados de 2005.

Aos amigos da ACCEL, por toda paciência e apoio ao longo desta jornada acadêmica, como também, a todos os meus alunos que, igualmente, sempre tiveram muita paciência e sabedoria para entender todo o sacrifício envolvido durante meu período de estudos.

Ao Colégio Eminente e a todos (as) os meus judocas que me ensinaram a ser uma pessoa melhor.

Aos meus amigos e revisores técnicos, Gilson Reis e Sandra Santiago, por todo apoio e profissionalismo.

Aos amigos do Laboratório de Gestão do Esporte e Políticas Públicas (LABGESPP-UFPE) e do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Lutas, Artes Marciais, Esportes de Combate e Capoeira (NEPEX – L/AM/MEC/Cap. - UFPE).

A todos os professores/pesquisadores envolvidos em produzir ciência na área das Lutas, Artes Marciais e Esportes de Combate e que me influenciaram na paixão por esta nobre área de investigação científica. Um especial agradecimento ao Emerson Franchini, Fabrício Del Vecchio, Bianca Miarka, Maurí de Carvalho, Saray Giovana, Victor Coswig, Gustavo Oliveira, Leandro Paiva, Rafael Mocarzel, Felipe Marta e tantos outros importantes pesquisadores.

Por fim, agradeço ao Shihan1 Jigoro Kano por ter idealizado tão nobre arte encantadora e completo método educacional.

       1

Shihan “é um termo em japonês que pode ser traduzido para o português como MESTRE” (SOARES, 2007, p. 201).

(8)

Educação

Não há nada maior no mundo.

A educação moral de uma pessoa se estende a dez mil pessoas. A educação de uma geração se expande por uma centena de gerações. Educação

Não há nada mais agradável no mundo. Cultivando o talento e melhorando o mundo,

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RESUMO

O presente estudo foi desenvolvido no âmbito da história da educação com o propósito de analisar os dojôs (espaços específicos ao ensino do Judô) do Recife-PE, através de uma perspectiva sócio-histórica e educacional, situada no recorte temporal entre 1952 e 1972, por meio do olhar de alguns antigos senseis (professores de Judô), principais protagonistas da pesquisa. Trabalhamos com a hipótese de que estes dojôs possibilitaram educação de seus praticantes, em ambientes não formais de ensino, cumprindo importante função como ferramenta educativa. Quanto ao problema de pesquisa, intencionamos compreender como, a partir das experiências vividas por alguns de seus antigos senseis, uma teia de interdependência foi estabelecida e articulada nos mais diversos contextos (social, educacional, histórico e econômico), proporcionando uma configuração social específica (judoística) que culminou com o desenvolvimento do Judô na cidade. O objetivo foi investigar a história do Judô recifense, visando compreender as relações e reconstruções entre o ensino do Judô no ambiente do dojô e sua dimensão educacional. Os objetivos específicos foram: a) identificar a gênese do Judô em Recife no marco temporal entre os anos de 1952-1972; b) desvelar o processo educativo proporcionado pela prática do judô no dojô, como ambiente não formal de ensino; c) registrar as características específicas relacionadas à cultura judoística, facilitando a compreensão de pontos como a disciplina, a hierarquia, o tradicionalismo e o processo de esportivização do Judô; d) investigar a relação entre prática marcial (do Judô) e a violência, do ponto de vista do processo civilizatório; e) registrar o legado de alguns antigos senseis e pontuar as heranças significativas de suas memórias à comunidade judoística do Recife. Adotamos o viés metodológico da história oral associada à técnica de análise de conteúdo com suporte do software NVivo® (versão 11 Pro for Windows®). À guisa de conclusão, tem-se uma dissertação com relevância educacional, evidenciando que a história do Judô do Recife ocorreu de forma processual, à luz da teoria eliasiana do processo civilizatório, contudo, ressalta-se que existiram pontos positivos e negativos em seu percurso, pelo qual o Judô seguiu seu fluxo natural enquanto ferramenta educacional, reconhecendo-se, em seus espaços efetivos de ensino (dojôs), o seu caráter genuíno, do ponto de vista da sua legitimidade facilitadora da educação não formal.

(10)

Palavras-chave: Dojô. Judô. Educação Não Formal. Recife. Cultura. Processo Civilizatório.

(11)

ABSTRACT

The present study was developed within the history of education with the purpose of analyzing the dojôs (spaces specific to the teaching of Judo) of Recife-PE, through a socio-historical and educational perspective, situated in the temporal cut between 1952 and 1972, through the eyes of some old senseis (teachers of Judo), main protagonists of the research. We work with the hypothesis that these dojôs enabled the education of their practitioners in non-formal teaching environments, fulfilling an important function as an educational tool. As for the research problem, we intend to understand how, from the experiences lived by some of its old senseis, a web of interdependence was established and articulated in the most diverse contexts (social, educational, historical and economic), providing a specific social configuration (about Judo) that culminated in the development of Judo in the city. The objective was to investigate the history of Judo in Recife, aiming to understand the relationships and reconstructions between the teaching of Judo in the environment of the dojô and its educational dimension. The specific objectives were: a) to identify the genesis of Judo in Recife in the time frame between the years 1952-1972; b) to unveil the educational process provided by judo practice in dojo, as a non-formal teaching environment; c) to register the specific characteristics related to the judo culture, facilitating the understanding of points such as discipline, hierarchy, traditionalism and the process of sportifying Judo; d) investigate the relationship between martial practice (Judo) and violence, from the point of view of the civilizing process; e) to register the legacy of some old senseis and to punctuate the significant legacies of their memories to the Judo community of Recife. We adopted the methodological bias of oral history associated with the content analysis technique supported by NVivo® software (version 11 Pro for Windows®). As a conclusion, there is a dissertation with educational relevance, evidencing that the history of Judo Recife had occurred in a procedural way, in the light of the Eliasian theory of the civilizing process, however, it is emphasized that there were positive and negative points in its course, whereby Judo followed its natural flow as an educational tool, recognizing, in its effective teaching spaces (dojôs), its genuine character, from the point of view of its legitimacy as facilitator of non-formal education.

(12)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Teses e Dissertações encontradas ……… 38

Quadro 2 – Entrevistas realizadas ... 59

Figura 1 – Interligação entre categorias e fontes (Processo de codificação via software NVivo®) ... 76

Figura 2 – Macro percurso metodológico da pesquisa ... 78

Figura 3 – Influências Orientais e Ocidentais da origem do Judô... 86

Figura 4 – Princípios filosóficos/educativos do Judô e as influências orientais e ocidentais ... 88

Figura 5 – Modelo sistêmico de pensamento de Jigoro Kano ao formular o método educativo denominado judô ... 91

Figura 6 – Categorias e subcategorias de Análise ... 101

Fotografia 1 – Sensei Byung Kuk Lee ... 102

Fotografia 2 – Sensei Lee de Judogui ... 104

Fotografia 3 – Sensei Diógenes Cavalcanti de Moraes ... 104

Fotografia 4 – Diógenes e família ... 107

Fotografia 5 – Sensei Hayashi Kawamura ... 107

Fotografia 6 – Prof. Kawamura (ao centro) e seus alunos no Clube Astrea em João Pessoa-PB em 1964 ... 111

Fotografia 7 – Sensei Marco Aurélio Lauriano de Oliveira ... 111

Fotografia 8 – Sensei Tadao Nagai ... 114

Fotografia 9 – Família Nagai ... 117

Figura 7 – Categoria 1: Gênese do Judô no Recife-PE ... 120

Figura 8 – Influências e principais referências dos senseis entrevistados ... 121

Figura 9 – Cronologia do Judô recifense a partir dos protagonistas entrevistados ... 122

Figura 10 – Professor William Arruda ... 124

Figura 11 – Registro documental de trabalho do Prof. William Arruda com o judô (1949-1964) ... 124

Figura 12 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Lições educativas do judô) ... 125

(13)

Figura 13 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Princípios filosóficos e

suas aplicabilidades práticas) ... 127 Figura 14 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Complementação à

formação educacional) ... 128 Figura 15 – Categoria 2: Educação pelo Judô (Judô nas Escolas) ... 129 Figura 16 – Categoria 3: Cultura Judoística (Disciplina e Hierarquia).. 131 Figura 17 – Categoria 3: Cultura Judoística (Esportivização do Judô).. 133 Figura 18 – Categoria 3: Cultura Judoística (Tradicionalismo no Judô) 135 Figura 19 – Categoria 4: Sociedade e Violência (aspectos

civilizatórios do Judô) ... 137 Figura 20 – Categoria 5: Expectativas para futuro do Judô

(Mensagem dos mestres à comunidade judoística) ... 142 Figura 21 – Categoria 5: Expectativas para futuro do Judô

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABHO Associação Brasileira de História Oral

ABNT Associação Brasileira de Normas e Técnicas

A.M. Artes Marciais

ACJR Associação Cultural Japonesa do Recife ASCES Associação Caruaruense de Ensino Superior Cap. Capoeira

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CAV Centro Acadêmico de Vitória CBJ Confederação Brasileira de Judô CBK Confederação Brasileira de Karatê

CD Compact Disc

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONFEF Conselho Federal de Educação Física DEF Departamento de Educação Física EEFE Escola de Educação Física e Esporte

ENAMEC Encontro Nacional de Artes Marciais e Esportes de Combate ESEF Escola Superior de Educação Física

ETC Escola Técnica de Contabilidade EUA Estados Unidos da América FASNE Faculdade Salesiana do Nordeste

FESP Fundação de Ensino Superior de Pernambuco FPJU Federação Pernambucana de Judô

FPK Federação Pernambucana de Karatê

FPK Federação Pernambucana de Karatê e Goshin Jutsu Kawamura

HD Hard Disc

IAS Instituto Ayrton Senna IBC Instituto Brasileiro do Café IES Instituição de Ensino Superior

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IFPE Instituto Federal de Pernambuco

JKMISI Jigoro Kano Memorial International Sports Institute L. Lutas

LABGESPP Laboratório de Gestão do Esporte e Políticas Públicas LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LIPEJU Liga Pernambucana de Judô

LNJ Liga Nacional de Judô

MEC Ministério da Educação e Cultura MEC Modalidade Esportiva de Combate

NEPEX Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão PA Pará

PE Pernambuco PB Paraíba

PPGE Programa de Pós-Graduação em Educação PSA Projeto Santo Amaro

PT Partido dos Trabalhadores PUC Pontifícia Universidade Católica QDAS Qualitative Data Analysis Software

SP São Paulo

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFG Universidade de Goiás

UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

UNESP Universidade Estadual Paulista UNICAMP Universidade Estadual de Campinas UNIVERSO Universidade Salgado de Oliveira UPE Universidade de Pernambuco

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USP Universidade de São Paulo

(17)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 18

1.1 Motivações que Originaram a Pesquisa ... 18

1.2 Contextualizando o Judô ... 22

1.3 Por que Pesquisar a Gênese do Judô no Recife-PE? ... 27

1.4 Justificando o Recorte Temporal ... 28

1.5 Problema, Objetivos e Hipótese ... 30

2 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 32

2.1 Tipo de Pesquisa, Abordagem e a Opção pela Metodologia de História Oral ... 32

2.2 Metodologia de História Oral e sua Aplicação no Universo das Lutas: um Estado da Arte ... 37

2.3 Definindo os Mestres a serem Entrevistados, o Processo de Técnica e Coleta de Dados ... 46

2.4 Técnica de Análise de Conteúdo com Complementação por Pesquisa Documental ... 59

2.5 Sistemas Informatizados em Tratamento de Dados Qualitativos: opção pela Utilização do NVIVO®... 70

3 EDUCAÇÃO E JUDÔ: análise e Compreensões Acerca desta Relação ... 79

3.1 Educação: uma Visão Macro ……… 80

3.2 Judô Contextualizado na Contemporaneidade ... 81

3.3 Do Japão Feudal dos Samurais ao Japão da Era Meiji e do Judô de Jigoro Kano ... 82

3.4 A Visão Ampliada de Kano e suas Bases Educacionais e Filosóficas ... 85

3.5 Pontos Relevantes quanto à Proposta Educacional de Kano ... 91

3.6 Compreendendo o Processo Civilizatório nas Artes Marciais/Judô ... 92

3.7 Judô enquanto Modelo de Ensino não Formal ... 97

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 101

4.1 Quem são os nossos Mestres Selecionados para a Pesquisa? Uma Breve Apresentação ... 102

(18)

4.1.2 Sensei Diógenes Cavalcanti de Moraes ... 104

4.1.3 Sensei Hayashi Kawamura ... 107

4.1.4 Sensei Marco Aurélio Lauriano de Oliveira ... 111

4.1.5 Sensei Tadao Nagai ... 114

4.2 Gênese do Judô no Recife ... 117

4.3 Educação pelo Judô ……… 125

4.4 Cultura Judoística ... 131

4.5 Sociedade e Violência (Aspectos Civilizatórios do Judô) ... 136

4.6 Expectativas para o Futuro do Judô ... 142

5 RELAÇÕES E (RE)CONSTRUÇÕES DO JUDÔ RECIFENSE: o que Aprendemos com o Ontem e que poderemos Revolucionar no Cenário Judoístico do Amanhã? ... 145

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ………... 148

REFERÊNCIAS ... 155

APÊNDICE A – Roteiro da Entrevista ………... 165

APÊNDICE B – Termo de Consentimento e Livre Esclarecimento (TCLE) ... 167

APÊNDICE C – TCLE do professor Byung Kuk Lee ... 169

APÊNDICE D – TCLE do professor Diógenes Cavalcanti de Moraes ... 170

APÊNDICE E – TCLE do professor Hayashi Kawamura ... 171

APÊNDICE F – TCLE do professor Marco Aurélio Lauriano de Oliveira ... 172

APÊNDICE G – TCLE do professor Tadao Nagai ... 173

APÊNDICE H – Cessão de Direitos de Uso e Divulgação de Imagens ... 174

APÊNDICE I – Cessão de Direitos de Uso e Divulgação de Imagens do professor Byung Kuk Lee ... 175

APÊNDICE J – Cessão de Direitos de Uso e Divulgação de Imagens do professor Diógenes Cavalcanti de Moraes ... 176

APÊNDICE K – Cessão de Direitos de Uso e Divulgação de Imagens do professor Hayashi Kawamura ... 177

APÊNDICE L – Cessão de Direitos de Uso e Divulgação de Imagens do professor Marco Aurélio Lauriano de Oliveira ... 178

APÊNDICE M – Cessão de Direitos de Uso e Divulgação de Imagens do professor Tadao Nagai ... 179

(19)

1 INTRODUÇÃO

Como forma de introduzir o leitor, buscaremos, a seguir, esclarecer nossas motivações pessoais com a pesquisa, como também, contextualizar um pouco da identidade da mesma diante do cenário em que se pretendeu investigar à luz da ciência e de forma à facilitar a plena compreensão da obra, situando assim os interessados, através de informações pertinentes e relevantes ao entendimento central da pesquisa.

1.1 Motivações que Originaram a Pesquisa

A presente pesquisa parte de minha motivação no sentido da busca incessante por histórias que explicassem os fatos que envolviam a gênese do judô em Recife-PE. Praticante na modalidade desde muito cedo2e tendo uma formação judoística3 oriunda de importantes senseis4, sempre tive alta criticidade relacionada às questões históricas que me foram repassadas e que se ampliou ainda mais quando, no ano de 2002, entrei na Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade de Pernambuco (UPE) para cursar licenciatura plena, ampliando meus conceitos sobre o judô, do ponto de vista da ciência e analisando-o à luz do viés acadêmico. Dentro deste cenário, conheci o professor mestre Marco Aurélio Lauriano5, a quem devo boa parte de minha inspiração para rumar em direção a esta dissertação de mestrado.

       2

Iniciei no judô através do professor (sensei) Claudemir Bezerra, aos quatro anos de idade (em 1986) na Escola Peralta, localizada na Estrada do Arraial no bairro de Casa Amarela, pertencente à zona norte do Recife.

3

Termo comumente utilizado no Brasil para referir-se ao universo do judô, inclusive já existem produções científicas nacionais que utilizaram o verbete em seus títulos. Contudo, a palavra deriva de origem da língua italiana e que significa relacionado a algo “do Judô”. Pode ser verificado através do dicionário online italiano que consta link para o site: https://www.infopedia.pt/dicionarios/italiano-portugues/judoistico.

4

Sensei: palavra que em japonês é traduzida como mestre ou professor (SOARES, 2007, p. 197). Em minha trajetória no judô, tive três senseis: como primeiro Professor (sensei) tive o Prof. Claudemir Bezerra e, ao longo de minha vida no judô, ainda tive importantes professores, tais como o Prof. Diógenes Moraes e seu filho Carlson Moraes, posteriormente recebi orientações do sensei Marco Aurélio, enquanto estudava na ESEF-UPE. Aos 17 anos de idade, já lecionava no Colégio Eminente (localizado no bairro do Parnamirim, na zona norte do Recife) onde, atualmente, ainda me encontro trabalhando.

5

O professor Marco Aurélio também foi meu orientador na graduação, onde realizei um trabalho de conclusão de curso (TCC) reconhecidamente significativo para a área do Judô Infantil. Na ocasião, a temática da monografia foi: “Aspectos metodológicos aplicados ao ensino do judô para crianças”, defendido em 2006.

(20)

Para que possamos compreender esta pesquisa dentro do viés educacional, é necessário frisarmos que o judô apresenta-se como importante veículo de transformação social através de suas particularidades educativas, as quais trataremos mais adiante. Devido esta possibilidade transformadora, enquanto esporte educacional6, nos motivamos a pesquisar a importância que estes antigos mestres possuem enquanto agentes ativos de educação frente à sociedade na formação de seus cidadãos(ãs).

Quando tratamos de pesquisas que objetivam a identificação de marcos históricos, a linha que divide o imaginário do real é sempre tênue e complexa. Baseados nesta problemática, podemos perceber que o conhecimento acerca da introdução do Judô no Brasil ainda sofre alterações constantes, oriundas de novas descobertas. Por exemplo, em sua maioria, existem linhas que pontuam a chegada do Judô no Brasil pela região norte, através do Mitsuyo Maeda7, aluno direto do Jigoro Kano - criador do Judô (VIRGÍLIO, 2002a), contudo,também existem correntes que fortalecem a ideia da chegada inicial através da imigração japonesa na região Sudeste-São Paulo, conforme podemos conferir em Nunes (2011).

No âmbito da cidade do Recife-PE, este marco histórico dos protagonistas é confuso e baseia-se nos relatos de antigos professores que foram passando aos seus alunos uma “provável” história, porém bastante recortada, da origem do judô na cidade. Logicamente, alguns destes relatos correm risco de serem tendenciosos e/ou carregados de interesses pessoais, e que algumas vezes são apenas relatos parciais de uma história macro.

Quando tratamos de memória, pensamos em algo que é ativado voluntariamente a partir da intencionalidade de cada indivíduo. A memória, quando intencionalmente resgatada através de técnica de entrevista, é passiva de falhas no que concerne à realidade concreta e não manipulada daquilo que se quer extrair do entrevistado. Sobre este teor de veracidade podemos entender que a memória é um retorno transferido e transitório, pelo qual o pesquisador sanará as nuances de

       6

Em nossa pesquisa, adotamos a concepção de esporte educacional enquanto aquele que têm um propósito bem definido quanto ao direcionamento voltado ao fim educativo e a utilização do esporte como ferramenta para tal. Exclui-se então, por exemplo, esportes com objetivos principais voltados ao alto rendimento competitivo ou até mesmo com objetivos voltados ao fitness (finalidades estéticas). 

7

Mitsuyo Maeda ou Conde Koma, como também é conhecido, foi enviado por Jigoro Kano para divulgar o Judô na América do Sul. É citado por vários autores como por exemplo: Virgílio (2002a,b) e Gracie (2008) dentre vários outros como o pai do Jiu-Jitsu brasileiro devido ao seu encontro junto a lendária Família Gracie no Norte do Brasil (Belém-PA).

(21)

distanciamento entre as narrativas a partir de técnicas apropriadas durante a fase de tratamento dos dados coletados. Frente a este cenário, faz-se necessário um registro sistemático e criterioso destes relatos históricos por parte dos antigos mestres para que possamos elucidar como se constituiu a história do Judô no Recife e, mais importante ainda, entender a relação destes mestres em seus atos de docência e a significativa relevância desta formação através do judô (prática não formal de ensino), realizando interface interdependente com o processo educacional formal (escolar), e buscando construir uma compreensão de como o judô poderia ser reconhecido enquanto significativa ferramenta de finalidades educativas daqueles que o praticam.

A presente pesquisa deu seus primeiros passos em meados de 2008, quando eu e o então estudante Luciano Flávio Leonídio (atualmente, doutor em Educação pela UFPE), devidamente orientados pelo professor mestre Marco Aurélio Lauriano, iniciamos a coleta de dados por intermédio de algumas entrevistas com protagonistas ícones do judô pernambucano - alguns já falecidos, como é o caso do saudoso sensei Jurandir Moura8– e, ainda hoje mantemos estes documentos não tratados em arquivo pessoal (todos salvos em mídia de Compact Disc-CD e Hard Disc-HD externo), com intenção de, no presente momento, utilizá-los em uma pesquisa científica de cunho histórico, que sempre foi nosso maior alvo de inquietação.Contudo, ao longo desta pesquisa, percebemos que o material coletado no passado não responderia ao objeto desta presente pesquisa9, sendo assim, ao detectarmos esta incompatibilidade, partimos para a realização de uma coleta mais condizente com o que pretendíamos investigar na atualidade. Detalharemos este novo caminho da pesquisa na seção dois que versa sobre a metodologia da pesquisa.

Outro agente motivador para esta pesquisa foi a conclusão recente da tese de doutorado em Educação de autoria de Cavalcante (2014), porém ainda não publicada). Nossa intenção é buscar a ampliação desta discussão fornecida por esta

       8

Importante referência do Jiu-jitsu pernambucano e de expressão nacional (Faixa coral – 8º grau). Também se consolidou na divulgação da antiga luta-livre na cidade do Recife-PE. Faleceu em 28/01/2010.

9

Apenas durante o processo de transcrições das antigas entrevistas que fora realizado durante o processo de realização desta dissertação é que pudemos perceber que as respostas proferidas pelos mestres naquele período de tempo e ocasião, não mais, responderiam satisfatoriamente ao objeto de pesquisa deste presente estudo. Muitas das perguntas e respostas remetiam aos fatos históricos relacionados aos componentes técnicos e competitivos do judô, o que não é alvo de nossa investigação.

(22)

tese, porém através de um novo viés de pesquisa. Percebemos claramente que, recentemente, as lutas tem sido alvo de interesse de pesquisas dentro do programa de Pós-Graduação do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tanto em níveis de mestrado quanto de doutorado. Dentre elas podemos citar importantes obras como Kohl (2007, 2012). Em âmbito nacional, podemos relacionar algumas outras pesquisas relevantes de cunho histórico com o judô, tais como Nunes (2011); Nunes e Rubio (2012); Drigo (2014); Farias (2012); Figueiredo (2012) e Marta (2010). Isso nos mostra que existe espaço para o tratamento e a discussão acadêmica deste elemento da cultura corporal10 (Lutas – por onde inclui-se o Judô). A relevância desta determinada área do conhecimento é reforçada por órgãos internacionais importantes como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)11 onde a reconhece enquanto Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Dentro desta macro área (Lutas), inclui-se o nosso objeto de pesquisa, que é o Judô e a sua respectiva historicidade12 na cidade do Recife-PE.

       10

Concordamos com o conceito de Cultura Corporal, enaltecido por Souza Júnior et al. (2011) que defendem que a cultura corporal se configura dimensão constituinte da produção cultural humana, condicionada histórica e socialmente. Ainda segundo os mesmos, “Nos jogos, lutas, ginástica, dança [...] o homem também se constitui homem e constrói sua realidade pessoal e social” (SOUZA JÚNIOR et al., 2011, p. 408).

11

Baseado na leitura do documento oficial da UNESCO (2012) compreendemos que esta entidade internacional não reconhece nenhum seguimento social/cultural isolado como patrimônio. Porém existem atividades que para dada cultura, conservam aspectos culturais e/ou sociais históricos para gerações futuras, estes, são reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial (ou intangível) da Humanidade. A roda capoeira, por exemplo, é uma manifestação brasileira que foi reconhecida em 2014, mas não é a única luta, já que também são reconhecidas, a Luta Tradicional Turca –

Kirkpinar (onde os combatentes são besuntados em azeite) aceita em 2010 e também a luta

Koreana chamada Taekkyeonaceita em 2011). Diante do exposto podemos afirmar que as Lutas são patrimônio Cultural da Humanidade, mas nem todas (ainda) são reconhecidas como tal pela UNESCO.

12

Entende-se aqui por historicidade aquilo que queremos colocar em perspectiva temporal e/ou cronológica as ações humanas que podem ser compreendidas a partir da análise dos documentos. De acordo com Athayde (2014, p. 98), “o conceito de historicidade pretende ser útil para colocar em perspectiva a dinâmica temporal e espacial das ações e experiências dos humanos”. Ainda segundo o mesmo autor, “Pode-se dizer que no vocábulo historicidade o sufixo -idade deve ser percebido como a intervenção de um indício do que se encontra em análise, gerando um deslocamento com relação a história. Historicidade teria então como foco os efeitos de sentido” (ATHAYDE, 2014, p. 99). No caso do judô e de seus antigos mestres, é o que queremos trazer a tona enquanto nosso objeto de estudo.

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De acordo com a ementa13 de nossa linha de pesquisa (Teoria e História da Educação), publicada no site14 do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGE-UFPE), podemos defender a justificativa de que o objeto de estudo em questão está devidamente contextualizado a partir da leitura de que o Judô e a Educação sempre caminharam muito próximos, seja no viés social, educacional, sociológico ou filosófico. É intuito deste estudo, facilitar a análise e compreensão desta aproximação teórica entre as duas partes (Judô e a Educação), assim como, fazendo interface com a nossa ementa institucional, entendendo a fundamental importância da contextualização deste cenário de debate e as contribuições advindas deste ponto de discussão que poderão proporcionar avanços no debate educacional, não só ao âmbito direto da prática (como em escolas de judô), como também dentro do ensino superior, por exemplo, em cursos de Graduação em Educação Física, no que concerne ao âmbito das disciplinas acadêmicas, como a de Judô, capoeira ou a de Lutas, que são obrigatórias nestes cursos. Para tal, poderemos ver de forma mais aprofundada na seção três de nossa obra.

O debate científico proporcionado a partir deste estudo ofertará legados importantes à Educação Física, ao judô, aos projetos sociais esportivos e à discussão da educação através do esporte.

1.2 Contextualizando o Judô

Para melhor definirmos o significado da expressão “JUDÔ”, vamos buscar embasamento na sua literatura clássica e,para isso, utilizaremos a obra KODOKAN JUDO escrita pelo próprio Jigoro Kano (criador do judô) e publicada pela primeira vez em 1956, porém apenas traduzida para o português em 2008 pela editora Cultrix. Kano (2008b) ressalta que a expressão JU= suave e DÔ15= caminho,

       13

EMENTA: As pesquisas da linha têm como referência as teorias da Educação e da História da Educação que visam a ampliar os limites da compreensão tradicional da Ciência, possibilitando maior aproximação entre a investigação e seu objeto. Abrange estudos teóricos e empíricos relacionados a temáticas e aspectos da História da Educação (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2017).

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Para conhecer mais ver Universidade Federal de Pernambuco (2017). 15

O Judô, assim como outras artes marciais japonesas, tais como Karatê-Dô, Kendô, Aikidô, dentre outras, pertencem ao conceito do BUDÔ, que em tradução literal significa “Caminho marcial” ou “caminho do guerreiro”, estas artes marciais possuem como características principais, uma ligação forte com a cultura e sociedade japonesa, e principalmente aquela relacionada ao guerreiros do

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poderia ser melhor compreendido como o “caminho suave ou da suavidade” e, para isso, buscou nortear seu método através de dois eixos filosóficos primordiais: Seiryoku-Zenyo(princípio da máxima eficiência/eficácia) e Jita Kyoei (prosperidade e benefícios mútuos). Kano (2008b) acreditava que a prática desenvolvida através destes dois princípios seria capaz de trabalhar a mente e o corpo integrados, e que isso favoreceria a educação e a formação moral, social e psicológica de seus praticantes. Sobre estes aspectos, e também realizando um debate em interface do judô com a educação, pretendemos expandir esta discussão na seção três desta pesquisa.

Buscando contextualizar os âmbitos por onde o Judô é reconhecido e, de acordo com Gondim (2006), podemos afirmar que o Judô pode tomar diversas vertentes, atuar em diversos âmbitos e apresentar várias finalidades. São exemplos:

perspectiva educacional (escolas); competitiva (clubes, academias e associações); saúde (para melhora da aptidão física); reabilitação (idosos e crianças); prática mental e filosófica; projetos sociais (massificação do Judô preconizado por Kano); Universidades (currículo acadêmico de Educação Física); e esporte adaptado à deficientes (especialmente aos cegos e pessoas com síndrome de down) (GONDIM,2006, p. 4).

Desta forma, compreende-se que o judô ocorre de forma diversificada, contextualizado nas mais diversas possibilidades enquanto prática. Este lastro de intervenções pelo qual o judô ocorre relaciona-se com a forma pela qual o mesmo é compreendido terminologicamente. Assim, segundo o autor supracitado, tratando-se de sua conceituação terminológica:

Há bastante controvérsia quanto ao que realmente é o Judô. Entre as diversas opiniões de autores, encontramos: arte marcial; desporto de combate ou contato; sistema de luta; filosofia; esporte. Frente a estas diversificadas opiniões, acreditamos que ele possa conter um pouco de cada conceito destes, pois isso irá depender da leitura, da forma de trabalho e da contextualização em que se dará sua prática (GONDIM, 2006, p. 4).

Ainda buscando-se discutir a conceituação acerca do judô, é sabido, segundo Franchini e Del Vecchio (2012), que as artes marciais, lutas e esportes de combate16 possuem suas próprias estratégias metodológicas de ensino. Através

       passado, os chamados samurais. No Budô, entende-se que todo praticante deverá assimilar a prática a partir de princípios morais e filosóficos que irão reger a mente e o corpo dos praticantes. 16

Segundo os autores Franchini e Del Vecchio (2012), o que difere basicamente as três terminologias (Lutas/artes marciais/ Modalidade esportivas de combate) é praticamente a forma como os praticantes utilizam-se destes elementos corporais e culturais. Sendo que entende-se que LUTAS é

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destas metodologias, são estabelecidos os princípios sociais, culturais e de civilidade, objetivando uma cultura de ordem marcial com seus próprios códigos de conduta. Em qualquer país, as normas do Judô são regidas por influência direta do sistema educacional de origem, ou seja, o sistema japonês (oriental) de educação. Frente a esse contexto, inquieta saber até que ponto a chegada destes mestres japoneses em nosso estado (via processo imigratório) influenciou a nossa cultura educacional vigente (no que tange ao nicho específico das artes marciais)e por esta também foi influenciada e,por consequência, tenha delineado,por exemplo, o estilo ou forma de ensinar judô no Recife?

Atualmente, é notório que o Judô chegou ao âmbito escolar institucionalizado com certo respeito, tendo em vista que diversas áreas profissionais (Educadores/as Físicos, pediatras, psicólogos/as e pedagogos/as) o indicam para crianças, pois dependendo da forma como for trabalhado por ‘’senseis” capacitados – (academicamente e também quanto à formação em graus superiores – ‘’dans’’)17, do ponto de vista socioafetivo, motor e cognitivo, será uma importante ferramenta educacional para as crianças (DELIBERADOR, 1990; VILLAMÓN, 1999 apud GONDIM, 2006).

Um estudo realizado por Gomes e Avelar-Rosa (2012) comparou a presença de práticas e incentivo institucional de modalidades de lutas em cursos superiores de formação em Educação Física de quatro países (Brasil, França, Portugal e Espanha) e detectou que a modalidade Judô é o esporte mais influente nestes quatro países.

No Brasil, o Judô como disciplina/componente curricular sempre esteve presente no currículo dos cursos superiores de Educação Física de todo país, tendo ganhado maiores valorizações advindas de berços militaristas e principalmente no auge da chamada Educação Física Militarista (1930-1945). Com a reformulação

       um termo mais genérico, dado a situação de confrontos que remeta a oposição entre dois ou mais oponentes. Já o termo ARTE MARCIAL, está mais relacionado à praticas que possui um cunho mais espiritual, religioso e/ou filosófico em suas praticas e por fim, MODALIDADE ESPORTIVA DE COMBATE, está relacionada aquelas praticas que sofreram o processo de esportivização com o passar do tempo, e que hoje são plenamente institucionalizadas por órgãos que gerenciam seus

rankings, regras, exames de faixas, competições etc. Neste sentido, o Judô atual se encaixa

melhor enquanto MEC (modalidade esportiva de combate) do que como arte marcial como em outrora.

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“Dans” – representam graduações superiores a partir da faixa preta (que vão do 1º ao 10º no judô) e que são promovidas a depender do tempo de judô, história do mestre e mediante aprovação por alguns testes e/ou provas teórico-práticas. Quanto mais dans se têm, mais maestria se espera por parte dos senseis. A partir do 6ºdan geralmente os mestres também são chamados pelo termo “Shihan” (mestre).

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curricular de várias universidades públicas e privadas e, também, devido à separação18 em licenciatura e bacharelado nos cursos de formação superior em Educação Física, o judô (componente/disciplina curricular) atualmente ainda encontra-se presente em vários cursos, inclusive como obrigatória (como por exemplo, na Universidade de São Paulo)19 e como disciplina eletiva/optativa, inclusive com abordagens de tópicos avançados como Judô II (como na Universidade de São Paulo (USP), onde o docente titular é o Prof. Dr. Emerson Franchini.20

Em Pernambuco, nas duas mais antigas universidades públicas21, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade de Pernambuco (UPE) (antiga Fundação de Ensino Superior de Pernambuco (FESP) a disciplina Judô sempre foi ministrada (enquanto única representante dos esportes de combate), e apenas recentemente (em média na última década), depois na revisão curricular de ambas, os dois cursos nestas duas instituições passaram a possuir a disciplina Lutas22 enquanto componente obrigatório (apesar de em suas ementas constar um bom direcionamento também para o Judô). Vale ressaltar que na UFPE se tem o acréscimo da disciplina Capoeira23 (obrigatória para o bacharelado e eletiva a

       18

De acordo com o site do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), para a intervenção profissional em Educação Física no país, a legislação atual (marcos legais) possibilita duas vertentes de formação: LICENCIATURA E BACHARELADO, instituídas pelo CNE através da Resolução 1, de 18 de fevereiro de 2002 e Resolução 7, de 31 de março de 2004. Para conhecer mais sobre, acesse o artigo do Steinhilber (2006) na página: http://www.confef.org.br/extra/revistaef/show.asp?id=3613.

19

Código da disciplina obrigatória: EFE0119-Judo 1 – 60h – 04 créditos (Curso de graduação em Bacharelado em Esporte na Universidade de São Paulo).

20

De acordo com Peset et al. (2013), o Prof. Dr. Emerson Franchini é atualmente considerado como um dos maiores pesquisadores científicos mundiais sobre a temática Judô.

21

Aqui, vale ressaltarmos, que posteriormente surgiram cursos de Educação Física nas seguintes e importantes Universidades Públicas de Pernambuco: Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE (ano de 2010), no Centro Acadêmico de Vitória-PE – UFPE/CAV (ano de 2010) e, também, na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) com campus na cidade de Petrolina-PE (no ano de 2009).

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Na ESEF-UPE nos cursos de licenciatura e bacharelado, temos as disciplinas obrigatórias, Fundamentos teórico-metodológicos das Lutas (UM03212/ 54hs/ 03créditos) ministradas pelo prof. Ms. Marco Aurélio. Já no curso de bacharelado do Departamento de Educação Física da UFPE, a disciplina denomina-se como, Modalidade do esporte individual – lutas (EDF0017/60HS/03creditos), atualmente ministrada por professores substitutos. No entanto, no curso de licenciatura, a disciplina é denominada como Metodologia do ensino das Lutas (45hs/02creditos) e também é ministrada atualmente por professores substitutos.

23

No bacharelado: Disciplina (EDF0010/60hs/03creditos): Modalidade do esporte individual – capoeira e na licenciatura (EDFxxxx/60hs/03creditos), ambas ministradas pelo prof. Dr. Henrique Gerson Kohl.

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licenciatura) e, na UPE, ainda temos a presença da disciplina judô enquanto optativa para o curso do bacharelado.24

Quanto à presença do Judô nas universidades, podemos dizer que esta determinada área de conhecimento aparece bem representada naquela que chamamos de tríade acadêmica, pela qual espera-se que o conhecimento ocupe seu espaço, representando-se nos três eixos: o do ensino, da pesquisa e da extensão. Evidencias nos mostram que no campo da pesquisa, o judô tem crescido vertiginosamente no que compete ao grande aumento de publicações científicas em níveis de graduação (Trabalhos de Conclusão de Curso - TCCs) e de pós-graduação (Dissertações e Teses). Dentro deste contexto, ainda temos estudos que mostram que o judô possui expressivo grau de interesse científico enquanto objeto de pesquisa no mundo inteiro (PESET et al., 2013).

Recentemente, tivemos um importante salto em âmbito estadual (Pernambuco) no que concerne às possibilidades de avanços com pesquisas que envolvam a área de conhecimento pertinente as Lutas (incluindo o Judô), pois, em 2015, foi criado, através de iniciativa do Prof. Dr. Henrique Gerson Kohl, o primeiro grupo de pesquisa25 especifico nesta área do conhecimento, filiado ao Departamento de Educação Física da UFPE.

Ainda debatendo a representatividade do judô nas universidades, no que diz respeito à extensão, observamos que diversos projetos, de caráter social, estimulam a prática da modalidade em diversas universidades. A exemplo disso podemos citar o Projeto Santo Amaro (PSA) (presente na Universidade de Pernambuco em parceria com a Escola Superior de Educação Física), um “case” de sucesso, pois possui vários casos de participantes da modalidade Judô do PSA que tiveram suas vidas modificadas positivamente a partir do contato e da experiência com este projeto.26

       24

Na ESEF-UPE, temos a presença das disciplinas optativas (no curso de Bacharelado): Judô (DO05224/ 72hs/ 04creditos), ministrada pelo Prof. Ms. Marco Aurélio e também da disciplina Capoeira (DO05228/72hs/04créditos) ministrada pela Profa. Ms. Isabel Cordeiro.

25

Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão de Artes Marciais, Modalidades Esportivas de Combate, Lutas e Capoeira (NEPEX) (AM|MEC|L|CAP), que deste 2015 esta devidamente registrado nos Diretórios de Grupos de Pesquisa Nacional do CNPQ. Apesar do pouco tempo de existência, o referido grupo já captou importante evento nacional denominado de Encontro Nacional de Artes Marciais e Esportes de Combate (ENAMEC), que foi realizado em cinco de novembro de dois mil e dezesseis (05/11/2016) na cidade do Recife-PE.

26

Criado em 1986, o Projeto Santo Amaro (PSA) se consolidou por muitos anos como um dos maiores projetos sociais esportivos da cidade do Recife-PE, mantido por muito tempo por fortes parcerias institucionais como, por exemplo, o Instituto Ayrton Senna (IAS) – AUDI, teve como

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Estas aproximações entre o judô e o meio acadêmico fortalecem ainda mais a compreensão deste enquanto pertencente ao meio educacional, relacionando-o à sua ação direta em busca de um comprometimento com a formação social, educacional e moral do(a) cidadão(ã), seja através do estudo e/ou da prática do mesmo.

1.3 Por que Pesquisar a Gênese do Judô no Recife-PE?

Visando nortear este mapeamento histórico judoístico, o presente estudo possui também o intento de compreender as influências orientais na construção da identidade educacional e cultural desta modalidade na cidade do Recife.

Devido a modalidade ser de origem japonesa, de acordo com o estudo de Nagai, Silvana e Nagai, Sérgio (1998), acredita-seque estes protagonistas imigrantes e/ou descendentes possam ter gerado uma espécie de “revolução pedagógica” na forma de ensinar o Judô ao aportarem no estado de Pernambuco, e que, consequentemente, tenham gerado ajustes significativos (ou não) ao cenário local. Para tal, as entrevistas com os senseis Tadao Nagai e Hayashi Kawamura (o primeiro, filho de japonês e, o segundo, veio do Japão para o Recife) serão importantes para esta identificação cultural quanto à forma de atuação docente de ambos e a sua contextualização em uma outra cultura (no caso a brasileira). Dentre os senseis “estrangeiros”, também entendemos a importância da adição de entrevistas com o sensei Byung Kuk Lee, que, apesar de ser coreano, e não japonês, teve grande importância na cena judoística da cidade do Recife, além de ter ministrado aulas na disciplina Judô (enquanto componente curricular) no Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)27, onde se aposentou e definitivamente afastou-se do ensino superior em 2010.

       intenção inicial, estabelecer relação de integração entre a comunidade local e a escola Superior de Educação Física (ESEF-UPE) através do esporte e lazer como principal elo de ligação. Sobre o Judô do projeto Santo Amaro, vários atletas de nível nacional foram formados além de casos de pessoas (estudantes de Educação Física) que hoje são professores de clubes ou docentes universitários, inclusive alguns da disciplina Judô (Flávio Miguel Archanjo, Rodolfo Pio, Vânialucia Barros, Hamilton Sena, Luciano Flávio Leonídio dentre outros) e pelo qual foram iniciados na modalidade a partir do contato com este projeto transformador.

27

O sensei Byung Kuk Lee começou na UFPE em 1975, quando foi aprovado via concurso, e aposentou-se em 1996 (pelo IFPE), contudo seguiu atuando na docência do Ensino Superior ministrando a disciplina Judô oficialmente até 2000 e seguiu até 2010 sendo professor substituto a cada dois anos.

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Através de seus achados, acreditamos que este estudo facilitará a aquisição de novas informações que fortaleçam os materiais didático-pedagógicos institucionais, tais como, apostilas, manuais e/ou cartilhas, podendo assim, por exemplo, auxiliar como mais um componente informacional na formação dos(as) professores(as) durante cursos de capacitação de faixas-preta e graus superiores das entidades esportivas reguladoras e específicas, tais como, a Federação Pernambucana de Judô (fundada em 1972) e a Liga Pernambucana de Judô (fundada em 2003). Contribuições estas no âmbito teórico da história do judô da cidade (Recife) e do estado de Pernambuco e, também, da ampliação da compreensão histórica, cultural e educacional do ensino do Judô. Também se estende a importância desta pesquisa para o âmbito das disciplinas acadêmicas de Lutas (pertencentes ao currículo dos cursos de Educação Física, tanto da licenciatura quanto do bacharelado), visto que poderão ser levantadas novas abordagens históricas e pedagógicas, possibilitando uma análise mais crítica e embasada a partir dos achados encontrados nesta pesquisa.

Em interface com a educação, pretende-se favorecer análises e compreensões acerca dos processos envolvidos quanto às diferenças culturais educacionais entre Brasil e Japão (ocidente e oriente), assim como, compreender o importante viés educacional próprio do Judô, pelo qual é mundialmente reconhecido (principalmente em países desenvolvidos como França e Espanha) conforme visto em Gomes e Avelar-Rosa (2012). Por fim, queremos propor uma reflexão onde possamos compreender a gênese do judô na cidade do Recife-PE, a partir da atuação de seus antigos mestres (senseis), compreendendo que os seus locais de atuação prática (Dojôs)28 eram espaços educacionais significativos e interligados à própria história de vida de cada mestre formador.

1.4 Justificando o Recorte Temporal

De acordo com Barros (2015, p. 41), “uma delimitação adequada do período histórico que será examinado é, naturalmente, questão de primeira ordem para qualquer historiador”. Aqui, vale ressaltarmos que apesar do autor citar o termo

       28

Segundo Kano (2008b, p. 30), “a palavra Dojô deriva de um termo budista que faz referência ao ‘local de iluminação’. Como um monastério, o dojô é um local sagrado que as pessoas procuram para aperfeiçoar seu corpo e sua mente”.

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“historiador”, mesmo que não sejamos historiadores de formação, compreendemos que sua afirmação se estende naturalmente a qualquer pesquisador, ainda mais se estiver investigando uma pesquisa de cunho histórico como esta. Contudo, sobre a questão da delimitação temporal, o mesmo teórico afirma que a escolha de um recorte qualquer de tempo historiográfico não deve, por outro lado, ser gratuita.

É o problema que define o recorte, e as problematizações da pesquisa é que irão conduzir a um recorte ou outro que lhe seja mais adequado, frente a isso, “[...] pensar os limites de um recorte em termos de viabilidade para a pesquisa e de adequação ao problema é sempre a postura mais equilibrada” (BARROS, 2015, p. 44-46). Sobre este aspecto, podemos perceber que existe um alinhamento quanto ao período selecionado e o problema central da pesquisa, que abordamos detalhadamente no tópico 1.5.

Sobre o recorte temporal, e ainda de acordo com o autor supracitado, é importante que analisemos critérios quanto à viabilidade, ou seja, propostas exequíveis relacionadas ao tempo real disponível à execução da pesquisa em si. Sobre este aspecto, todo esforço prévio à pesquisa (desejo antigo de realização por parte do pesquisador), realizado para a ampliação substancial do acervo físico documental, fora de relevante importância no que tange à relação tempo-execução da mesma.

Em nossa pesquisa optamos pelo recorte temporal do período entre os anos de 1952 e 1972. A escolha por este período está relacionada aos escassos achados históricos que nos mostram que por volta dos anos 50, alguns japoneses envolvidos com Judô passaram pelo Recife na intenção de divulgação, e por volta dos anos 70 chegaram alguns orientais que advogam ter influenciado a prática pedagógica do ensino do judô no estado (NAGAI, Silvana; NAGAI, Sérgio, 1998). Sendo que, até 1975 acredita-se ter sido o auge de um “novo” judô, já estabelecido no estado e proporcionado pela chegada, em 1971, e fixação de um japonês, especificadamente, o prof. Tadao Nagai.

Ainda sobre o período escolhido para a investigação da pesquisa, sabe-se que existe a necessidade de um levantamento de fontes documentais relacionadas ao histórico do judô pernambucano, pois pesquisas prévias (CAVALCANTE, 2014; NAGAI, Silvana; NAGAI, Sérgio, 1998; VIRGÍLIO, 2002b) identificaram que o que se tem melhor documentado (do ponto de vista historiográfico), está mais atrelado à

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fase posterior à fundação da Federação Pernambucana de Judô, em 1972. Tal informação fortaleceu a necessidade de realização da presente pesquisa.

Importante ressaltar que os cinco (05) senseis entrevistados para este trabalho “vivenciaram” mais fortemente o judô na época selecionada como marco temporal para este estudo, e por isso, são importantes referências testemunhais ao nosso registro histórico.

Complementarmente, fazem-se necessários questionamentos frente às lacunas históricas ainda não documentadas e/ou registradas. Como procedeu-se a vinda destes mestres orientais que atuaram (ou ainda atuam) com o judô no Recife? Qual o impacto quanto à atuação destes senseis no processo de ensino do judô neste determinado período histórico?

1.5 Problema, Objetivos e Hipótese

Em nossa pesquisa, procuramos manter-se fiel à investigação historiográfica a partir da história oral dos mestres de judô da cidade do Recife-PE enquanto principal fonte a ser analisada.

Investigou-se o processo histórico envolvido no surgimento, implantação e consolidação do Judô, no período de 1952 a 1972, relacionando-o aos sistemas educacionais vigentes da época e sua ligação com os modelos educacionais e condições próprias do sistema tradicional/clássico de ensino do judô.

A presente pesquisa tem como problema central a inquietude relacionada à busca pela identificação, análise e compreensão da dinâmica processual com que uma teia de interdependência foi estabelecida diante do contexto social, educacional, histórico e econômico em que os primeiros mestres se estabeleceram na cidade e desenvolveram seus próprios métodos de ensino partindo para a construção histórica do judô na cidade do Recife-PE (aqui, compreendida enquanto uma configuração social específica a ser analisada pela pesquisa).

Respostas a estes questionamentos nos levaram à possibilidade de identificação de como estes senseis puderam, ou não, contribuir com a formação marcial e também educacional daqueles que vivenciaram seus ensinamentos naquela época.

Enquanto objetivo geral da pesquisa, vislumbramos investigar a história do Judô recifense, partindo de seus antigos senseis (pioneiros na introdução e

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sistematização do judô em Recife-PE), visando compreender as relações e (re)construções entre o ensino do judô no ambiente do Dojô e sua dimensão educacional.

Os objetivos específicos estabelecidos são os seguintes:

a) identificar a gênese do judô em Recife no marco temporal entre os anos de 1952-1972;

b) desvelar o processo educativo proporcionado pela prática do judô no dojô, como ambiente não formal de ensino;

c) registrar as características específicas relacionadas à cultura judoística, facilitando a compreensão de pontos como, a disciplina, a hierarquia, o tradicionalismo e o processo de esportivização do Judô;

d) investigar a relação entre prática marcial e a violência do ponto de vista do processo civilizatório29 e;

e) registrar o legado de alguns antigos senseis e pontuar as heranças significativas de suas memórias à comunidade judoística do Recife.

Enquanto hipótese para nossa pesquisa, acreditamos na possibilidade de que os referidos espaços (Dojôs) analisados, associados às praticas pedagógicas dos antigos mestres participantes da pesquisa, possibilitaram educação de seus praticantes em um ambiente não formal de ensino e associado à educação formal (institucionalizada), e que o judô, é sim, uma importante ferramenta educativa quando bem intencionada. É sabido que no intento de elucidar/evidenciar a história e o desenvolvimento do judô da cidade e suas respectivas nuances, temos que partir da busca por compreender todo o contexto macro de sua gênese.

       29

De acordo com Dunning (2014), é dito como alerta pelo autor (através de relato pessoal a sua orientanda e organizadora da obra no Brasil, a Profa. Dra. Heloisa Helena Baldy do Reis – (UNICAMP-SP) que existe um equívoco quanto a tradução brasileira da palavra civilising como civilizador e civilising process como processo civilizador, o mesmo ainda afirma que esta tradução errônea contribuía para a má compreensão da teoria de Elias, e que seu “velho mestre” sempre utilizava o termo civilizador entre aspas. Para Dunning (2014), a tradução correta de civilising

process para o português é processe civilizatório. Desta forma a partir deste conhecimento,

decidimos fazer a adoção recomendada pelo termo civizatório, exceto no caso de citação em referência a obra já publicada no Brasil com título Processo Civilizador ou em citações diretas que possuam o termo civilizador.

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2 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Visando facilitar a compreensão dos caminhos adotados para a nossa pesquisa, detalharemos na presente seção, todo o nosso percurso metodológico, assim como as nossas filiações teóricas ao que se refere aos métodos e técnicas adotados por nossa pesquisa.

2.1 Tipo de Pesquisa, Abordagem e a Opção pela Metodologia de História Oral

Etimologicamente, metodologia significa o estudo dos caminhos, dos instrumentos para fazer uma pesquisa ou estudo científico. Interessados no detalhamento para a validação do caminho traçado por esta pesquisa, buscaremos, no decorrer desta seção, explicitar nossas adesões metodológicas, bem como, as técnicas e os instrumentos selecionados.

Caracterizando a pesquisa quanto ao tipo, optamos pela abordagem qualitativa, preocupando-se, assim, com os aspectos da realidade, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. De acordo com Minayo (2001, p. 22), a pesquisa qualitativa “[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Compreendemos que este estudo encontra-se norteado nesta abordagem de pesquisa, já que a mesma enfatiza aspectos sociopsicológicos, tais como opiniões abertas, motivações e questões subjetivas, próprias conceitualmente deste tipo de pesquisa.

Quanto à classificação da pesquisa, com base nos objetivos, reafirmamos adesão conceitual à pesquisa do tipo exploratória. Sobre esta, Gil (2008, p. 27), afirma que “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Ainda de acordo com o mesmo autor, a maior parte destas pesquisas envolve um levantamento bibliográfico e documental, além de entrevistas com pessoas que tiveram experimentações práticas com o problema pesquisado. Em nossa pesquisa, utilizaremos tanto o levantamento bibliográfico e documental, como também, as entrevistas semiestruturadas.

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Como metodologia de nossa pesquisa, optamos pela história oral, onde a mesma apresentou-se como de fundamental importância, pois conforme identificada por pesquisa de temática semelhante e realizada no estado de Pernambuco por Cavalcante (2014), são previstas algumas dificuldades no que diz respeito à organização do acervo bibliográfico que contemple semelhante objeto deste tipo de pesquisa no Estado de Pernambuco, o que fortalece a ideia de que são necessários esforços para que se construam novos documentos a partir dos depoimentos dos antigos mestres de judô de nossa cidade. A partir dos relatos obtidos (entrevistas realizadas), foram empregadas as técnicas desenvolvidas por Alberti (2005), bem como por Montenegro (2013) e Thompson (1992), a fim de filtrar as informações e selecionar novas fontes de pesquisa advindas dos relatos dos entrevistados que experimentaram, intensamente, acontecimentos, situações e suas consequências para compor, juntamente com as outras fontes enunciadas, o arcabouço teórico do trabalho de pesquisa.

Diversos autores conceituam a história oral das formas mais variadas possíveis, contudo, para o nosso estudo, adotamos algumas fontes mais clássicas como, por exemplo, a que se faz presente na Associação Brasileira de História Oral, entidade devidamente reconhecida nesta área do conhecimento, fundada em 1994, e que, de acordo com o seu estatuto traz a seguinte definição: “Por história oral se entende o trabalho de pesquisa que utiliza fontes orais em diferentes modalidades, independentemente da área de conhecimento na qual essa metodologia é utilizada” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HISTÓRIA ORAL, 1998, artigo 1, parágrafo 1º, p. 14).

Para fins de contextualização contemporânea acerca da história oral, Meihy e Holanda (2014, p. 63) ressaltam que devido à globalização “a história oral chama a atenção por ser um recurso crescente, prático, persuasivo e, para muitos, respeitável”. Ainda de acordo com o mesmo, para ser compreendida enquanto metodologia, a história oral deverá formular suas entrevistas como o epicentro da pesquisa. Não diferente disso, temos as entrevistas em nosso trabalho como fonte principal de produção de conhecimento, mesmo que ainda e, para isso, também necessitem de fortalecimento teórico a partir da pesquisa documental.

Thompson (1992, p. 44), outro autor clássico no que concerne a metodologia da história oral, afirma que a “a história oral é uma história construída em torno de pessoas [...] leva a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro

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da comunidade”. Desta forma, entendemos que exista uma nítida troca social na construção deste conhecimento advindo da oralidade. Ainda segundo o mesmo autor, “a história oral devolve a história às pessoas em suas próprias palavras. E ao lhe dar um passado, ajuda-as também a caminhar para um futuro construído por elas mesmas” (THOMPSON, 1992, p. 337), acreditamos que isso garante não apenas importância social, enquanto metodologia, mas principalmente a garantia de valorização daqueles sujeitos que se colocam à disposição da ciência através de suas memórias.

Alberti (2004, p. 27) relata que “a metodologia da história oral é bastante adequada para o estudo da história de memórias, isto é, de representações do passado”. Diante da justificativa proposta por esta autora (somada à outras importantes filiações teóricas optadas e nossa pesquisa), entendemos que a metodologia de história oral mostrou-se viável e adequada à utilização por parte do presente estudo.

Entendemos que as representações do passado constituem a base para o estudo da história de memórias e que a criação de fontes históricas advém da realização de pesquisas que envolvam a metodologia de história oral. Ante o exposto, delimitamos que o nosso objeto de pesquisa é atendido por esta metodologia científica, uma vez que visamos contemplar nossos protagonistas como base para construção destas fontes históricas.

De certo, segundo Meihy e Holanda (2014, p.22), “[...] a história oral não se faz sem a participação humana direta, sem o contato pessoal”. Nesse sentido, tratando-se de metodologia da história oral, entendemos que através da oralidade de mestres de judô podemos elucidar de forma documental uma história que muitas vezes poderia ser perdida no tempo devido à falta de oportunidades que as fizessem serem registradas e validadas no tempo presente. Bossi (2003, p.15) afirma que a “memória dos velhos pode ser trabalhada como um mediador entre a nossa geração e as testemunhas do passado”, por isso, entendemos que a sapiência de nossos protagonistas deva ser socializada como conhecimento para explicar o nosso presente. Ainda sobre a importância de trazermos à tona esta memória enquanto transformação e ressignificação histórica, a mesma autora supracitada reafirma que em se tratando da história recente, “feliz o pesquisador que se pode amparar em testemunhos vivos e reconstituir comportamentos e sensibilidades de uma época!” (BOSSI, 2003, p. 16-17). Fazemos plena adesão a estas reconstituições de

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comportamentos e de sensibilidades ressaltadas pela pesquisadora, visto que, em nossa pesquisa vivenciamos esta sensação de passado no presente através de cada memória registrada. Nosso entendimento corrobora com uma importante citação do filósofo polonês Bauman (2003, p. 7), ao afirmar que “as palavras têm significado: alguma delas, porém, guardam sensações”.

Um fator importante de delimitação metodológica neste trabalho é o de caracterização quanto ao tipo de história oral que decidimos trabalhar. De acordo com Meihy e Holanda (2014) existem três tipos de história oral, são elas: História oral de vida, História oral temática e tradição oral. No nosso caso, optamos pela história oral temática, já que, de acordo com este autor, ela delimita um tema e se propõe a organizar a entrevista em torno deste tema alvo relacionado ao problema e objetos da pesquisa, neste sentido, delimitamos que queremos, através de nossas fontes orais, construir documentos que debatam em torno da relação do judô e da educação a partir do conhecimento vivido pelos antigos mestres.

Ainda de acordo com o autor supracitado, em relação à temática envolvida no tipo de história oral, a escolha dos entrevistados nesse ramo de história oral é fundamental. Quanto ao recorte do tema, o mesmo afirma que “deve ficar explícito de tal maneira que conste nas perguntas a serem feitas ao colaborador” (MEIHY; HOLANDA, 2014, p. 39). De acordo com a literatura vigente, pretendemos, ao longo de nossa pesquisa, explicitar detalhadamente todo o procedimento quanto à escolha dos colaboradores, como também, o processo de montagem de nossas perguntas aos mesmos, sempre primando por contemplar o contexto temático no que se refere ao tipo de história oral no qual aderimos. No tocante às entrevistas faz-se necessário esclarecer que quando a história oral é aceita como metodologia da pesquisa possibilita-se que as mesmas sejam consideradas o epicentro da pesquisa (MEIHY; HOLANDA, 2014).

É importante ressaltar que nessa pesquisa também faremos adesão teórica ao conceito de história oral hibrida, preconizada por Meihy e Holanda (2014). De acordo com estes, trata-se do fato de as entrevistas dialogarem com outros tipos de fontes e/ou documentos. Neste sentido, “preza-se o poder de ‘conversa’, contatos ou diálogos com outros documentos, sejam iconográficos ou escritos, como: historiográficos, filosóficos ou literários” (MEIHY; HOLANDA, 2014, p. 129). Ademais, queremos dizer que transcenderemos as entrevistas como fonte de pesquisa, como veremos ao longo desta seção sobre a metodologia.

Referências

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