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Metodologia de História Oral e sua Aplicação no Universo das Lutas: um

No documento Dojô: espaço de educação (páginas 38-47)

2 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.2 Metodologia de História Oral e sua Aplicação no Universo das Lutas: um

Estudos, como o de Franchini e Correia (2010), apontam que, embora com notório crescimento, as pesquisas científicas com a temática “Lutas” ainda são escassas no Brasil. Além disso, a maioria das pesquisas (monografias, artigos, dissertações e teses) está concentrada na área da Saúde (no campo do Treinamento Esportivo; Avaliação e testes de Aptidão física e na área da fisiologia humana). Estudos compreendidos nas áreas das Ciências Humanas ainda são minoria nesta referida temática e se concentram mais em setores como os da Educação Física Escolar.

No intento de melhorar a organização e sistematização das ideias, buscamos mapear quais as principais Teses e Dissertações existentes no Brasil, e que tivessem como objeto de pesquisa as Lutas, analisadas no viés da educação e que, preferencialmente, tivessem sido realizadas através do método de história oral.

Foram realizadas buscas no portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), na Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo (USP), Biblioteca Digital da

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e ainda no Portal de Teses e Dissertações do Domínio Público. Foram encontradas importantes obras defendidas em vários estados do Brasil, conforme podemos verificar no quadro abaixo (Quadro 1).

Quadro 1 – Teses e Dissertações encontradas Continua

Nº Titulo Tipo Autor Instituição Ano

1

Civilização e educação de artistas marciais: os

saberes através da prática do Judô (1970 – 1980). Tese Marcio Eustáquio Lopes Cavalcante. UFPE 2014 2 Educação e Capoeira: figurações emocionais na cidade do Recife- Pernambuco-Brasil. Tese Henrique Gerson Kohl UFPE 2012 3 A influência da imigração japonesa no desenvolvimento do judô

brasileiro: uma genealogia

dos atletas brasileiros medalhistas em Jogos Olímpicos e campeonatos mundiais.

Tese Alexandre Velly Nunes

USP 2011

4

A memória das lutas ou o lugar do “DO”: as artes

marciais e a construção de um caminho oriental para a cultura corporal na cidade de São Paulo

Tese Felipe Eduardo Ferreira Marta

PUC-SP 2009

5

O Judô; Do modelo artesanal ao modelo científico: um estudo sobre

as lutas, formação profissional e a construção do Habitus Tese Alexandre JanottaDrigo UNICAMP 2007 6

O pulo do gato preto:

estudo de três dimensões educacionais das artes- caminhos marciais em uma linhagem de capoeira angola

Tese Fábio José Cardias Gomes

USP 2012

7

Caminhando para uma nova (?) consciência: uma

experiência de introdução da Arte Marcial na Educação.

Tese Luzia Mara Silva Lima UNICAMP 1999 8 Do conceito do BUN BU RYU DO à atividade esportiva: a racionalidade

moderna nas lutas marciais tradicionais

Dissertação. Marcel Farias de Sousa

UFG 2010

Quadro 1 – Teses e Dissertações encontradas Conclusão

Nº Titulo Tipo Autor Instituição Ano

9

Uma história do Karate-dô no Rio Grande do Sul: de

arte marcial à prática esportiva

Dissertação Tiago Oviedo Frosi.

UFRGS 2012

10

Capoeiras e valentões na história de São Paulo (1830 a 1930) Dissertação Pedro Figueiredo Alves da Cunha USP 2011 11 A inserção do Kung Fu no Brasil na perspectiva dos mestres pioneiros. Dissertação Fernando Dandoro Castilho Ferreira UFPR 2013 12 Princípios e valorização do judô na vida cotidiana de mestres da região de Mogi das Cruzes

Dissertação Gilmar Barbosa de Souza

USP 2010

13

Artes Marciais Chinesas:

histórias de vida de mestres brasileiros e as tensões entre a tradição e o modelo esportivo

Dissertação Márcio Antônio Tralci Filho

USP 2014

14

No caminho das artes marciais: a relação Mestre e

Discípulo como educação sensível.

Dissertação Luiz Arthur Nunes da Silva

UFRN 2014

15

O caminho dos pés e das

mãos: Taekwondo, arte

marcial, esportee a colônia Coreana em São Paulo (1970 a 2000)

Dissertação Felipe Eduardo Ferreira Marta

PUC-SP 2004

16

Artes Marciais e Jovens:

violência ou valores educacionais? Um estudo de caso de um estilo de Kung Fu

Dissertação Rafael Carvalho da Silva Mocarzel UNIVERSO- RJ 2011 17

Shaolin à brasileira: estudo

sobre a presença e a transformação de elementos religiosos orientais no Kung- Fu praticado no Brasil

Dissertação Rodrigo Wolff Apolloni.

PUC- SP 2004

Fonte: o autor (2017)

Diante das 17 obras encontradas e listadas no Quadro 1, podemos inferir que a produção científica acadêmica em nível de pós graduação (mestrado e doutorado) no Brasil tende a aumentar, dada a relevância temática (lutas) já defendida anteriormente na introdução desta pesquisa, como também, devido a consolidação da história oral no meio científico. Entretanto, é sabido que quando falamos de artes marciais e lutas existe um processo cultural vigente, tradicionalista

e específico no que concerne à transmissão de conhecimentos. A passagem muitas vezes se dá de forma artesanal (de mestre a pupilo) e não sofre registros para preservação, desta forma, a decisão por entrevistar mestres/senseis pioneiros (através do método de história oral) torna-se importante do ponto de vista da preservação, como também, pela construção de uma historicidade (FERREIRA; MARCHI JÚNIOR; CAPRARO, 2014).

Dentre as sete teses e dez dissertações identificadas como estado da arte nesta temática, tivemos a decisão de adotar três teses (3), selecionadas como base para o presente estudo, justificando-se por esta decisão, baseados nas aproximações que as mesmas possuem com nosso estudo. Logo abaixo realizamos análise referente às três teses selecionadas por onde buscamos discutir a interface que as mesmas apresentam com a nossa pesquisa.

Importante atentarmos para a relação direta presente nas três obras escolhidas, visto que as mesmas se utilizam tecnicamente de métodos semelhantes (história oral associada à investigação em arquivos e materiais históricos impressos [fontes documentais], e a pesquisa bibliográfica). Além de que, os autores debatem acerca de algumas modalidades de lutas em suas respectivas memórias e dentro de determinados marcos temporais.

No estudo do Marta (2009) percebe-se uma obra de cunho mais histórico, visto que o autor visa questionar como o Brasil (o estudo foi centrado na cidade de São Paulo-SP), um país tão distante, geográfica e, talvez, mais ainda culturalmente, dos países do chamado extremo oriente, acolheu as práticas corporais oriundas daquela região? O autor busca entender como procedeu o processo migratório dos orientais no pré e pós II Guerra Mundial, buscando identificar as nuances da relação entre estabelecer-se no país e a busca por trabalho. Neste sentido, iremos utilizar a referida obra no tocante à semelhança do contexto central investigado. Para este estudo, foi de relevante importância o entendimento e a compreensão de como instalaram-se os primeiros mestres de Judô na cidade do Recife-PE, e ainda compreender como estes iniciaram seus trabalhos com a modalidade, vencendo as possíveis adversidades de choques culturais.

Sabe-se que os primeiros mestres japoneses (criadores da modalidade Judô) entraram pela cidade de São Paulo e de lá foram dispersando-se por todo o Brasil. Frente a isso, buscamos investigar como se deu este processo de difusão até a chegada à Recife. Neste cenário, foi objetivo de nossa investigação buscar

compreender o processo de instalação destes mestres e a respectiva receptividade por parte da sociedade recifense. Estes e outros questionamentos são inevitáveis quando se pretende investigar e reconstruir (e/ou reconstituir) esta história.

Outro ponto relevante encontra-se no fato de que o autor supracitado buscou fundamentar seus argumentos a partir de importantes teóricos, nos quais, também foram utilizados em nossa pesquisa, como por exemplo, o Norbert Elias (Teoria do processo civilizatório). Para a metodologia, utilizaram-se do Paul Thompson (Método de história oral) embasando através deste a sua opção metodológica. Refletindo através do objeto de estudo do Marta (2009) nos perguntamos: Como e quanto poderemos extrair das histórias de vidas dos mestres de Judô em Recife? Qual a relação com o espaço, tempo e cultura no âmbito do processo de implantação desta modalidade na cidade? E ainda, qual processo de ensino e disciplina era perpetuado nestes ambientes (academias/ clubes) e em que ponto influenciou na formação/educação dos cidadãos e cidadãs de nossa cidade? Aqui, vale ressaltarmos que o ensino através das artes marciais caracteriza-se conceitualmente como modelo de educação não formal, conceito este que, de acordo com a Gohn (2010), defende-se enquanto processo de produção de sujeitos autônomos e emancipados, cuja formação cidadã aparece como pressuposto fundamental.

Ainda sobre o método aplicado à tese de Marta (2009), percebe-se claramente a intencionalidade do autor em valorizar a história a partir de critérios estabelecidos para tornar a pesquisa mais original e, para isso, o autor determinou entrevistar apenas mestres oriundos do Japão, China e Coréia do Sul, justamente por perceber que eram destes países as artes marciais mais praticadas na cidade de São Paulo (SP).

Outro ponto relevante da obra deve-se ao fato do pesquisador se questionar quanto à gênese destas lutas na cidade de São Paulo. Quanto a este quesito, o autor conclui que as artes marciais sofreram adaptações culturais próprias da ocidentalização, onde, a partir disso, foi possível ganhar maior amplitude de consumo por parte dos brasileiros. Neste quesito, fica claro que o autor busca identificar um caráter de interdependência onde a modalidade influenciou, porém também fora influenciada pela cultura vigente. Sabe-se que neste rito não existe imparcialidade, ou seja, há de existir um processo natural de influencias recíprocas. Este fato deve-se principalmente ao que o autor chama de esportivização das artes marciais, processo pelo qual, muitas vezes, as mesmas sofrem “alterações” ou

“exclusões” de gestos técnicos (compreendidos como mais violentos) visando uma maior aprovação e/ou aceitação em sociedades que compreendem as artes marciais enquanto favorecedoras do aumento da violência social. Para isso, o autor da tese buscou entender este fenômeno à luz da teoria do processo civilizatório preconizado pelo sociólogo Elias (1994a,b), compreendendo, assim, que a esportivização teria um papel como parte do processo civilizatório ocidental, em especial no que se refere ao controle das emoções, por consequência da violência.

Esta passagem, particularmente, nos ofertou reflexão crítica e de relevante interesse, por entender que os componentes das lutas e artes marciais têm sua gênese (pré-história) relacionada à sobrevivência, e que, a partir do momento em que ressignifica-se mediante cada cultura de seus países, as lutas partem, então, para um processo contemporâneo de estabelecimento de regras próprias que estão intimamente relacionadas às regras sociais de convivências estabelecidas entre os indivíduos na sociedade. A partir disso, devemos entender que os conceitos de boa convivência, valorizados no meio esportivo ocidental, tais como o “fair play” (ou jogo limpo) estão intimamente relacionados ao processo civilizatório (ELIAS, 1994a,b) por onde os indivíduos foram desenvolvendo suas próprias regras e normas de convivência. Neste sentido, Marta (2009) impulsionou para que pudéssemos debater mais amplamente sobre os conceitos de tradição e modernidade relacionados a esta cronologia temporal, em que as lutas refletem a partir de sua relocação cultural, como também, para situar estas intervenções educacionais tradicionalistas e não formais de ensino em seu devido contexto histórico e educacional vigente, e no período específico em que se pretendeu investigar.

Outro estudo significativo para a pesquisa é o do Nunes (2011). Nele, o pesquisador buscou compreender como procedeu a possível genealogia do judô brasileiro a partir de seus medalhistas olímpicos e mundiais. Apesar do caráter competitivo por trás do objeto de estudo desta investigação, percebe-se que a obra traça o debate a partir da importância do resgate e da valorização de todos os antigos mestres (genearcas da modalidade) que residem ou residiram no país e que foram responsáveis pela formação desta geração de grandes atletas nacionais do judô (heróis olímpicos e mundiais). Aqui, vale ressaltarmos a ênfase com que o autor solicita que esta rica memória do esporte nacional não seja perdida ou esquecida, pois os protagonistas destas histórias devem ser catalogados e terem suas histórias de vida reveladas.

O trabalho ressalta, ainda, que existiu marcos temporais relevantes quanto ao desenvolvimento da modalidade no Brasil. Podemos citar, por exemplo, a chegada do navio Kasato Maru no porto de Santos-SP, em 1908 (considerado o marco zero da imigração japonesa no Brasil), destaca-se também o período antes da segunda guerra mundial, onde o judô estava instalando-se como foco em um judô de base, ou seja, um ensino de judô mais voltado à formação do cidadão (Judô tido como de caráter mais educacional) e que, após o período de guerra, começou a desenvolver-se rumo ao viés de esportivização e, consequentemente, de competições (olimpíadas e mundiais), dando cara a um novo judô de caráter mais competitivo e com propósitos mais comerciais, pensados para uma sociedade cada vez mais capitalista. Quanto a estas modificações pós-guerra, e relacionadas à esportivização, podemos perceber que os argumentos do Nunes (2011) relacionam- se aos do Marta (2009) pelo qual destacamos anteriormente neste presente texto.

Quanto à tese do Prof. Nunes (2011), identificamos que não possuía um princípio teórico norteador bem definido, apesar do mesmo utilizar-se de conceitos do sociólogo jamaicano, Stuart Hall. No entanto, fica claro que o mesmo utiliza-se, predominantemente, das obras de sua orientadora, a professora doutora Katia Rúbio31 (Pesquisadora da Escola de Educação Física e Esportes - USP), pois é notório que a mesma possui vasta experiência em pesquisa na linha da história dos esportes Olímpicos no Brasil e por onde o mesmo, enquanto participante em seu grupo de estudos, pôde desenvolver esta pesquisa específica com a modalidade Judô.

É interessante perceber que a obra foi de grande abrangência, visto que o pesquisador passou por estados de todas as regiões do Brasil (inclusive Recife, onde o mesmo esteve com o sensei Tadao Nagai – pelo qual também o entrevistamos aqui nesta pesquisa) dando continuidade a uma saga investigativa que objetivava dar voz ao passado através de seus protagonistas de várias gerações. Em relação à abordagem metodológica, percebe-se que o autor, ao utilizar-se da análise das histórias de vida, baseou-se em autores como Poirier et. al. (1999) para justificar o método e, na intenção de complementar, também buscou documentos do judô nacional (impressos) em arquivos públicos e bibliotecas.

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Em relação ao trabalho desenvolvido por Nunes (2011), encontramos suporte relacionado não só ao método utilizado como também aos achados, pois, o pesquisador supracitado, encontrou diferenciações entre mestres com características de reconhecimento diferenciadas, uns mais pedagógicos e formativos e outros com o viés mais competitivo e voltado à formação de atletas. Quanto a este quesito, também encontramos evidências semelhantes, visto que existiam indícios (matérias de jornais da época e entrevistas registradas – acervo pessoal) de que o Judô tenha se estabelecido em Recife-PE a partir de confrontações e desafios (a exemplo das competições de vale-tudo por onde estes mestres envolviam-se para suas próprias promoções) e que, na época, eram publicamente divulgados por eles mesmos em veículos de informação (como rádio e jornais da época), algo que constatamos ao longo das entrevistas realizadas durante esta pesquisa, identificando, assim, quais estilos e características docentes são mais presentes e pertinentes dentre estes antigos mestres.

Sempre acreditamos que traçar os genearcas do judô recifense representaria não apenas a importância desde dado para a memória do judô estadual, municipal e até regional, mas principalmente, enquanto expressão de uma filosofia de vida e de educação, que se apresentara de suma importância ao cenário educacional esportivo de nossa cidade. Por já possuirmos alguns importantes arquivos documentais e termos mapeado boa parte da estratégia metodológica quanto aos critérios da seleção dos possíveis mestres a serem entrevistados, percebemos que a pesquisa tornar-se-á não só possível e viável, mas que, após ler a tese do Nunes (2011, grifo nosso) pudemos refletir criticamente e perceber o quanto poderia ser importante escrever a história destes nossos genearcas32, que possuem um valor inestimável perante a sociedade, enquanto importantes agentes/educadores sociais de seus meios e métodos de educação não formal (GOHN, 2010) e, ao que tudo indicava (mesmo que ainda fosse apenas uma hipótese), confirmou-se como de relevante importância social na formação complementar de cidadãos (ãs) recifenses de várias gerações.

Durante a leitura da obra do Kohl (2012), tese de doutoramento defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE (PPGE-UFPE), na linha de

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Grifo nosso em intenção de ressaltar significativa emoção em relação a importância de tal pesquisa e enquanto função de pesquisador engajado em um proposta de estudo que sonhava realizar desde 2006, ao terminar a graduação em Educação física.

pesquisa em Teoria e História da Educação, pudemos nos apropriar melhor de um tratamento metodológico e científico que investigasse uma modalidade de lutas em nossa própria cidade (Recife), neste caso, o autor em questão debateu acerca da capoeira. Aproveitamos satisfatoriamente desta referida obra, visto que o autor busca compreender e elucidar as figurações emocionais envolvidas na relação entre a Educação e a Capoeira, próprias da implantação e evolução desta cultura corporal (capoeira) no âmbito local do Recife-PE no período que compreendeu as décadas de 80 e 90 do século XX.

Na obra do Kohl (2012), segundo o próprio autor, trabalhou-se com a hipótese de que houve mudanças no processo de formação do capoeira, geradas por processos educativos norteados por relações interdependentes e materializadas entre figurações da capoeira da cidade de Recife e doutras figurações. Delimitou-se o seguinte problema de pesquisa: enquanto fenômeno educativo não formal, como a capoeira desenvolveu-se na cidade de Recife entre as décadas de 80 e 90 do século XX? O objetivo foi identificar e analisar o processo civilizatório existente na capoeira desenvolvida por algumas de suas referências na cidade do Recife entre as décadas de 80 e 90 do século XX. Ao longo de toda tese, o autor deixa claro a opção por ter desenvolvido sua pesquisa a partir do sociólogo Elias (1994a,b) e uma de suas principais teorias, o processo civilizatório, principalmente quanto ao aspecto do controle das emoções. Quanto ao teórico norteador para a metodologia, Kohl busca amparar-se em Thompsom (1992) e Montenegro (2007) na intencionalidade de justificar, embasadamente, o método de história oral em seu trabalho.

Em relação à obra do Kohl (2012), ressaltamos que a mesma traça um desenho metodológico de pesquisa pelo qual tivemos semelhante intencionalidade de realização em nosso estudo. O autor busca elucidar a memória da capoeira recifense a partir dos relatos de história oral de seus principais protagonistas e, a partir disso, relacionar com uma construção temporal/cronológica de como se implantou e expandiu-se a capoeira na cidade. Ressalta-se aqui a opção pelo processo civilizatório (ELIAS, 1994a,b) como base para justificar a implantação da capoeira na cidade e por onde ocorriam as relações que envolviam emoções e tensões próprias de uma sociedade em que se ajustava, dinamicamente, na intenção de uma boa relação de convívio e harmonia entre os pares. No que compete aos saberes educacionais da capoeira, o autor busca o conhecimento acerca da educação não formal como centro teórico de discussão dos modelos e

sistemas educacionais específicos da capoeira. Fica claro que o percurso utilizado por Kohl (2012) possui grandes aproximações metodológicas com a nossa pesquisa, sendo que, no caso dele, o objeto de estudo foi a capoeira, e o nosso será delimitado aos primórdios do Judô local (Recife).

Neste sentido, a obra apresentou-se de grande relevância para a nossa pesquisa, pois também tínhamos o intento de analisar o início do judô a partir deste mesmo teórico (ELIAS, 1994a,b) e de sua respectiva abordagem (processo civilizatório) como sendo o principal teórico norteador da pesquisa. Também tivemos a intencionalidade e perspectiva de abordar a educação através da interface com o judô a partir do processo não formal de ensino a que foi estabelecido ao longo da história da modalidade e protagonizado por seus antigos mestres.

Ressalta-se, nas três obras selecionadas, o rigor metodológico desenvolvido pelos autores, além de que, por tratar-se de teses defendidas em programas de Pós- Graduação com reconhecidos níveis de excelência e de importantes Instituições Nacionais (PUC; UFPE e USP), acreditamos que as mesmas se constituíam como importantes fontes de pesquisa para nortear-nos ao longo da dissertação.

No próximo tópico da dissertação descreveremos detalhadamente como procedemos quanto aos critérios para definição dos mestres, como também, quanto ao processo da técnica de entrevistas e coleta dos dados (fontes orais).

2.3 Definindo os Mestres a serem Entrevistados, o Processo de Técnica e Coleta de

No documento Dojô: espaço de educação (páginas 38-47)