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Tipo de Pesquisa, Abordagem e a Opção pela Metodologia de História

No documento Dojô: espaço de educação (páginas 33-38)

2 FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 Tipo de Pesquisa, Abordagem e a Opção pela Metodologia de História

Etimologicamente, metodologia significa o estudo dos caminhos, dos instrumentos para fazer uma pesquisa ou estudo científico. Interessados no detalhamento para a validação do caminho traçado por esta pesquisa, buscaremos, no decorrer desta seção, explicitar nossas adesões metodológicas, bem como, as técnicas e os instrumentos selecionados.

Caracterizando a pesquisa quanto ao tipo, optamos pela abordagem qualitativa, preocupando-se, assim, com os aspectos da realidade, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. De acordo com Minayo (2001, p. 22), a pesquisa qualitativa “[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Compreendemos que este estudo encontra-se norteado nesta abordagem de pesquisa, já que a mesma enfatiza aspectos sociopsicológicos, tais como opiniões abertas, motivações e questões subjetivas, próprias conceitualmente deste tipo de pesquisa.

Quanto à classificação da pesquisa, com base nos objetivos, reafirmamos adesão conceitual à pesquisa do tipo exploratória. Sobre esta, Gil (2008, p. 27), afirma que “tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Ainda de acordo com o mesmo autor, a maior parte destas pesquisas envolve um levantamento bibliográfico e documental, além de entrevistas com pessoas que tiveram experimentações práticas com o problema pesquisado. Em nossa pesquisa, utilizaremos tanto o levantamento bibliográfico e documental, como também, as entrevistas semiestruturadas.

Como metodologia de nossa pesquisa, optamos pela história oral, onde a mesma apresentou-se como de fundamental importância, pois conforme identificada por pesquisa de temática semelhante e realizada no estado de Pernambuco por Cavalcante (2014), são previstas algumas dificuldades no que diz respeito à organização do acervo bibliográfico que contemple semelhante objeto deste tipo de pesquisa no Estado de Pernambuco, o que fortalece a ideia de que são necessários esforços para que se construam novos documentos a partir dos depoimentos dos antigos mestres de judô de nossa cidade. A partir dos relatos obtidos (entrevistas realizadas), foram empregadas as técnicas desenvolvidas por Alberti (2005), bem como por Montenegro (2013) e Thompson (1992), a fim de filtrar as informações e selecionar novas fontes de pesquisa advindas dos relatos dos entrevistados que experimentaram, intensamente, acontecimentos, situações e suas consequências para compor, juntamente com as outras fontes enunciadas, o arcabouço teórico do trabalho de pesquisa.

Diversos autores conceituam a história oral das formas mais variadas possíveis, contudo, para o nosso estudo, adotamos algumas fontes mais clássicas como, por exemplo, a que se faz presente na Associação Brasileira de História Oral, entidade devidamente reconhecida nesta área do conhecimento, fundada em 1994, e que, de acordo com o seu estatuto traz a seguinte definição: “Por história oral se entende o trabalho de pesquisa que utiliza fontes orais em diferentes modalidades, independentemente da área de conhecimento na qual essa metodologia é utilizada” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HISTÓRIA ORAL, 1998, artigo 1, parágrafo 1º, p. 14).

Para fins de contextualização contemporânea acerca da história oral, Meihy e Holanda (2014, p. 63) ressaltam que devido à globalização “a história oral chama a atenção por ser um recurso crescente, prático, persuasivo e, para muitos, respeitável”. Ainda de acordo com o mesmo, para ser compreendida enquanto metodologia, a história oral deverá formular suas entrevistas como o epicentro da pesquisa. Não diferente disso, temos as entrevistas em nosso trabalho como fonte principal de produção de conhecimento, mesmo que ainda e, para isso, também necessitem de fortalecimento teórico a partir da pesquisa documental.

Thompson (1992, p. 44), outro autor clássico no que concerne a metodologia da história oral, afirma que a “a história oral é uma história construída em torno de pessoas [...] leva a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro

da comunidade”. Desta forma, entendemos que exista uma nítida troca social na construção deste conhecimento advindo da oralidade. Ainda segundo o mesmo autor, “a história oral devolve a história às pessoas em suas próprias palavras. E ao lhe dar um passado, ajuda-as também a caminhar para um futuro construído por elas mesmas” (THOMPSON, 1992, p. 337), acreditamos que isso garante não apenas importância social, enquanto metodologia, mas principalmente a garantia de valorização daqueles sujeitos que se colocam à disposição da ciência através de suas memórias.

Alberti (2004, p. 27) relata que “a metodologia da história oral é bastante adequada para o estudo da história de memórias, isto é, de representações do passado”. Diante da justificativa proposta por esta autora (somada à outras importantes filiações teóricas optadas e nossa pesquisa), entendemos que a metodologia de história oral mostrou-se viável e adequada à utilização por parte do presente estudo.

Entendemos que as representações do passado constituem a base para o estudo da história de memórias e que a criação de fontes históricas advém da realização de pesquisas que envolvam a metodologia de história oral. Ante o exposto, delimitamos que o nosso objeto de pesquisa é atendido por esta metodologia científica, uma vez que visamos contemplar nossos protagonistas como base para construção destas fontes históricas.

De certo, segundo Meihy e Holanda (2014, p.22), “[...] a história oral não se faz sem a participação humana direta, sem o contato pessoal”. Nesse sentido, tratando-se de metodologia da história oral, entendemos que através da oralidade de mestres de judô podemos elucidar de forma documental uma história que muitas vezes poderia ser perdida no tempo devido à falta de oportunidades que as fizessem serem registradas e validadas no tempo presente. Bossi (2003, p.15) afirma que a “memória dos velhos pode ser trabalhada como um mediador entre a nossa geração e as testemunhas do passado”, por isso, entendemos que a sapiência de nossos protagonistas deva ser socializada como conhecimento para explicar o nosso presente. Ainda sobre a importância de trazermos à tona esta memória enquanto transformação e ressignificação histórica, a mesma autora supracitada reafirma que em se tratando da história recente, “feliz o pesquisador que se pode amparar em testemunhos vivos e reconstituir comportamentos e sensibilidades de uma época!” (BOSSI, 2003, p. 16-17). Fazemos plena adesão a estas reconstituições de

comportamentos e de sensibilidades ressaltadas pela pesquisadora, visto que, em nossa pesquisa vivenciamos esta sensação de passado no presente através de cada memória registrada. Nosso entendimento corrobora com uma importante citação do filósofo polonês Bauman (2003, p. 7), ao afirmar que “as palavras têm significado: alguma delas, porém, guardam sensações”.

Um fator importante de delimitação metodológica neste trabalho é o de caracterização quanto ao tipo de história oral que decidimos trabalhar. De acordo com Meihy e Holanda (2014) existem três tipos de história oral, são elas: História oral de vida, História oral temática e tradição oral. No nosso caso, optamos pela história oral temática, já que, de acordo com este autor, ela delimita um tema e se propõe a organizar a entrevista em torno deste tema alvo relacionado ao problema e objetos da pesquisa, neste sentido, delimitamos que queremos, através de nossas fontes orais, construir documentos que debatam em torno da relação do judô e da educação a partir do conhecimento vivido pelos antigos mestres.

Ainda de acordo com o autor supracitado, em relação à temática envolvida no tipo de história oral, a escolha dos entrevistados nesse ramo de história oral é fundamental. Quanto ao recorte do tema, o mesmo afirma que “deve ficar explícito de tal maneira que conste nas perguntas a serem feitas ao colaborador” (MEIHY; HOLANDA, 2014, p. 39). De acordo com a literatura vigente, pretendemos, ao longo de nossa pesquisa, explicitar detalhadamente todo o procedimento quanto à escolha dos colaboradores, como também, o processo de montagem de nossas perguntas aos mesmos, sempre primando por contemplar o contexto temático no que se refere ao tipo de história oral no qual aderimos. No tocante às entrevistas faz-se necessário esclarecer que quando a história oral é aceita como metodologia da pesquisa possibilita-se que as mesmas sejam consideradas o epicentro da pesquisa (MEIHY; HOLANDA, 2014).

É importante ressaltar que nessa pesquisa também faremos adesão teórica ao conceito de história oral hibrida, preconizada por Meihy e Holanda (2014). De acordo com estes, trata-se do fato de as entrevistas dialogarem com outros tipos de fontes e/ou documentos. Neste sentido, “preza-se o poder de ‘conversa’, contatos ou diálogos com outros documentos, sejam iconográficos ou escritos, como: historiográficos, filosóficos ou literários” (MEIHY; HOLANDA, 2014, p. 129). Ademais, queremos dizer que transcenderemos as entrevistas como fonte de pesquisa, como veremos ao longo desta seção sobre a metodologia.

No tocante à questão metodológica, foram selecionadas três (03) teses norteadoras (KOHL, 2012; MARTA, 2009; NUNES, 2011) de relevante importância por tratarem da questão do método de história oral com complementação e suporte através da pesquisa investigativa documental e bibliográfica. Também utilizamos de semelhante percurso metodológico nesta pesquisa, optando por visitações em espaços específicos, tais como: Arquivos físicos e virtuais pertencentes a banco de dados de Museus; Instituições Acadêmicas; Bibliotecas públicas e privadas; Entidades Organizacionais do judô (Liga e Federação) e Academias de judô.

Ainda sobre o método da história oral, verifica-se sua significativa importância, pois:

Aprender a ouvir é uma habilidade humana fundamental: para aqueles que importam, a história oral está aí para nos ajudar a compreender melhor nossos passados e para criar memórias nacionais muito mais ricas, mas também para nos ajudar a construir um futuro melhor, mais amável, mais democrático (THOMPSON, 2000, p. 28).

A presente pesquisa deu voz aos antigos mestres entendendo ser importante no processo de valorização e ressignificação destes professores da época, protagonistas diretos de uma importante história, onde, infelizmente, muitos dos que entrevistamos,estavam pouco evidenciados e sem o devido reconhecimento pela sociedade, principalmente pela nova geração do judô recifense, que, em algumas conversas informais com alguns professores mais contemporâneos, mencionavam que não “faziam ideia de quem eram estes que estávamos a procurar para entrevistá-los” (informação verbal).30 O cenário é triste, porém real. E coube aqui, no papel de investigador científico, buscar contribuir para este cenário e devolver o real valor destes “senhores do passado” a quem devemos reconhecimento pela construção histórica de nosso judô atual. Faz-se necessária e relevante esta devolução de reconhecimento e saber à comunidade/sociedade relacionada às práticas do Judô em nossa cidade. Quanto a estes aspectos relacionados à valorização e desvalorização dos mestres, compreendemos que fazem parte dos avanços e retrocessos civilizacionais que oscilam em uma evolução não linear na forma de evidenciar positivamente ou negativamente determinados aspectos sociais e/ou culturais, e neste sentido, necessita-se que o passado se faça

       30

Situação ocorrida durante treinamento prático de judô realizado na cidade de Recife, onde um jovem faixa preta (20 anos de idade) mencionou o desconhecimento de alguns dos nomes selecionados a esta pesquisa.

valorizado no presente a partir de uma contextualização da consciência coletiva através do reconhecimento de sua história e civilização.

Como veremos a seguir, a escolha, leitura e sistematização das dissertações e teses, foram de extrema importância para criação de um roteiro metodológico, e para refletir criticamente, possibilitando o pensar construtivo de nosso estudo. A pesquisa foi de característica exploratória com abordagem qualitativa direcionada à investigação por documentos de judô (registros, artigos, matérias de jornais e revistas da época), dados coletados junto à comunidade japonesa e relativos à imigração japonesa, políticas institucionais esportivas e de educação não formal a respeito dos dados históricos que remetam a registros raros dos pioneiros mestres de judô em nossa cidade.

Como veremos mais adiante, ao longo desta pesquisa, investigamos à luz da interrelação entre a fonte documental e a história oral (realizada por coleta de entrevistas), e para tal, utilizamo-nos da técnica de análise de conteúdo com auxílio de software específico.

2.2 Metodologia de História Oral e sua Aplicação no Universo das Lutas: um Estado

No documento Dojô: espaço de educação (páginas 33-38)