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A selecção de um factor de transformação apropriado é um aspecto importante para a maioria da investigação empírica em contabilidade e finanças devido não só a questões relativas a procedimentos estatísticos mas também por razões teóricas.

Do ponto de vista estatístico, os problemas ocorrem quando a variância do termo resíduo ou erro é heterocedástica (a variância do resíduo não é a mesma para todas as observações). Na presença de heterocedasticidade, os estimadores do método dos mínimos quadrados, embora ainda sejam não enviesados, deixam de ter mínima variância. Como consequência, não podemos confiar nos resultados dos intervalos de confiança e nos convencionais testes t e F, dado que estes fornecem provavelmente resultados imprecisos (decorrente da existência de variâncias dos estimadores excessivamente grandes) (Gujarati, 2000; Wooldridge, 2002).

Para minimizar o problema da heterocedasticidade são utilizados normalmente dois métodos. O primeiro método consiste em utilizar uma transformação logarítmica (a qual também reduz a probabilidade de multicolinearidade). No entanto, com a transformação logarítmica a interpretação do coeficiente das variáveis é alterada, já que o logaritmo traduz a relação numa medida de mudança proporcional (elasticidade) (Gujarati, 2000; Tabachnick e Fidell, 2001). O segundo método consiste em dividir o modelo original pela variável que supostamente origina heterocedasticidade. Na investigação empírica em contabilidade e finanças, a dimensão da empresa parece ser a variável frequentemente associada com a heterocedasticidade.

Um dos procedimentos utilizados para testar a potencial existência de heterocedasticidade consiste na representação gráfica de resíduos ou através de testes estatísticos (Gujarati, 2000; Hair et al., 2005). Um dos testes normalmente utilizados para testar a potencial heterocedasticidade e para obter desde logo estimativas corrigidas da mesma é o teste White (Gujarati, 2000; Hair et al., 2005; Oliveira et al., 1998). No exame de resíduos, na análise de regressão, uma indicação de heterocedasticidade é a existência de uma distribuição dos resíduos em forma de cone. A heterocedasticidade pode ser corrigida, na análise de regressão, através da transformação da variável dependente ou

através da utilização do procedimento de mínimos quadrados ponderados se for possível atribuir a violação a uma única variável independente (Hair et al., 2005).

Do ponto de vista teórico, a selecção do factor de transformação adequado também se afigura importante, uma vez que tal selecção pode influenciar os resultados empíricos. O total do activo corresponde ao factor de transformação normalmente utilizado na investigação em contabilidade e finanças, o qual supostamente reflecte a dimensão da empresa (por exemplo, Agrawal e Knoeber, 1996; Core e Guay, 2001; Frye, 2004; Kato et al., 2005; Matsunaga, 1995; Mehran, 1995; Yermack, 1995). A capitalização bolsista (por exemplo, Bryan et al., 2000), o total das vendas (por exemplo, Hanlon et al., 2003) e o número de empregados (por exemplo, Francis e Smith, 1995) têm sido também utilizados como factores de transformação.

Como o objectivo do nosso estudo é o de analisar empiricamente os determinantes da atribuição de opções de acções e o seu efeito no desempenho das empresas, bem como o efeito da potencial endogeneidade entre atribuição de opções de acções, desempenho da empresa e os mecanismos de monitorização considerados nos respectivos modelos, utilizamos a capitalização bolsista como factor de transformação de todas as variáveis financeiras. Do ponto de vista teórico, a utilização da capitalização bolsista como factor de transformação parece-nos mais adequada, uma vez que reflecte, como se referiu, a avaliação do valor da empresa na perspectiva do mercado de capitais, o qual se assume ser eficiente. Além disso, o total do activo pode não reflectir de forma mais adequada a dimensão da empresa ao não espelhar todos os activos utilizados pela empresa. Adicionalmente, o total dos activos pode variar significativamente entre empresas similares decorrente da selecção de diferentes critérios e políticas contabilísticas (Chan et al., 1993). Enquanto que o total das vendas e o número de empregados pode também reflectir o efeito indústria das empresas.

3.7. Resumo e Conclusões

Este capítulo apresenta as hipóteses sobre os determinantes da atribuição de opções de acções, sobre o impacto da atribuição de opções de acções no desempenho da empresa e sobre a potencial endogeneidade entre atribuição de opções de acções, desempenho da empresa, acções detidas pelos gestores, composição do conselho de administração, política de dividendos e endividamento, bem como a correspondente definição e justificação das variáveis e o desenho de investigação e a selecção da metodologia. Apresenta-se adicionalmente o tipo de dados e o efeito dimensão e selecção do factor de transformação.

Na análise dos determinantes da atribuição de opções de acções são formuladas nove hipóteses e, assim que as acções detidas pelos gestores, a composição do conselho de administração, a dimensão do conselho de administração, a política de dividendos, o endividamento, o risco da empresa, os constrangimentos de liquidez, a dimensão e o desempenho da empresa podem influenciar a atribuição de opções de acções. A existência de diferentes argumentos teóricos sugere que a atribuição de opções de acções pode ser influenciada positivamente ou negativamente por cada um dos referidos potenciais determinantes. Consequentemente, na formulação de cada uma das hipóteses não é sugerida qualquer direcção, dada a dificuldade de prever qual dos argumentos teóricos dominará.

Para analisar os determinantes da atribuição de opções de acções é utilizada a metodologia da análise de regressão múltipla, dado que esta nos permite avaliar a influência relativa das variáveis independentes sobre a variável dependente. A dificuldade de obter informação de todas as variáveis necessárias na mensuração do valor das opções de acções implica que a sua mensuração seja efectuada através da utilização de uma variável binária, a qual identifica a atribuição ou não de opções de acções. Deste modo, para estudar os determinantes da atribuição de opções de acções desenvolve-se um modelo de regressão logística.

Para estudar o impacto da atribuição de opções de acções no desempenho da empresa são também formuladas nove hipóteses, uma de forma explícita, que a atribuição de opções de acções pode influenciar o desempenho da empresa, e as restantes de forma

implícita, através da inclusão de variáveis de controlo. Tal como na análise anterior não é sugerida qualquer direcção na formulação da hipótese dada a existência de argumentos que sugerem que as opções de acções podem influenciar positivamente ou negativamente o desempenho da empresa. Para investigar o impacto da atribuição de opções de acções no desempenho da empresa é desenvolvido um modelo de regressão linear.

Apresenta-se também a formulação do modelo de equações simultâneas, a qual considera a determinação endógena entre atribuição de opções de acções, desempenho da empresa, acções detidas pelos gestores, composição do conselho de administração, política de dividendos e endividamento. Para testar o efeito da potencial endogeneidade entre atribuição de opções de acções, desempenho da empresa e outros mecanismos de monitorização desenvolve-se um modelo de equações simultâneas. Devido à potencial endogeneidade torna-se necessário utilizar na estimativa dos parâmetros do modelo de equações simultâneas o método dos mínimos quadrados em duas fases, de forma a evitar a obtenção de estimadores por mínimos quadrados enviesados e inconsistentes.

A apresentação e divulgação do relatório do governo das sociedades, o qual nos fornece informação para mensurar algumas das variáveis, passaram a ser obrigatórias a partir do exercício de 2002 inclusive. Para efectuar as referidas análises de regressão múltipla utilizam-se dados relativos ao período de 2003 a 2006. Os dados relativos aos quatro períodos são utilizados conjuntamente.

O potencial impacto do efeito dimensão implica a utilização de um factor de transformação adequado para todas as variáveis financeiras de forma a minimizar nomeadamente o problema da heterocedasticidade. Assim, utiliza-se nas várias análises empíricas a capitalização bolsista como factor de transformação de todas as variáveis financeiras, já que reflecte o valor da empresa que decorre da avaliação efectuada pelo mercado de capitais.

Do conjunto de argumentos teóricos, apresentados no capítulo dois, nomeadamente acerca dos potenciais determinantes da atribuição de opções de acções e do seu efeito no desempenho da empresa bem como sobre a potencial interdependência entre atribuição de opções de acções, desempenho da empresa e outros mecanismos de monitorização e, das hipóteses e desenho de investigação apresentados neste capítulo, parecem ser de destacar os seguintes aspectos diferenciadores deste trabalho face à investigação existente:

1. o teste empírico do efeito da política de dividendos (enquanto mecanismo que pode ser utilizado na minimização dos custos de agência) na decisão de atribuição ou não de opções de acções. É assim testada a hipótese sugerida por Gaver e Gaver (1993) e Smith e Watts (1992), isto é que a política de dividendos pode afectar a atribuição de opções de acções. Note-se que apesar de Pasternack e Rosenberg (2002) já terem estudado a relação entre política de dividendos e opções de acções, nós analisamos o efeito da política de dividendos na decisão de atribuição ou não de opções de acções, enquanto que Pasternack e Rosenberg (2002) estudaram o seu impacto no nível das opções de acções detidas pelos gestores;

2. a formulação de um modelo de equações simultâneas, o qual considera a determinação endógena entre atribuição de opções de acções, desempenho da empresa, acções detidas pelos gestores, composição do conselho de administração, política de dividendos e endividamento, para além da formulação dos modelos individuais dos determinantes da atribuição de opções de acções e do seu efeito no desempenho da empresa. A formulação do modelo de equações simultâneas assume um papel importante, dado que permite verificar se os resultados dos modelos individuais dos determinantes da atribuição de opções de acções e o seu impacto no desempenho da empresa são ou não afectados pela potencial endogeneidade.

Capítulo Quatro Recolha de dados, Selecção da amostra e Características estatísticas da amostra

CAPÍTULO QUATRO

RECOLHA DE DADOS, SELECÇÃO DA AMOSTRA E CARACTERÍSTICAS ESTATÍSTICAS DA AMOSTRA

4.1. Introdução

Neste capítulo apresentamos o procedimento utilizado na recolha de dados e na selecção da amostra. Adicionalmente apresentamos e discutimos a estatística descritiva da amostra.

Na secção 4.2. começa-se por apresentar a fonte de informação e o procedimento de recolha de informação. Por último aborda-se a forma de processamento da informação. A secção 4.3. descreve o procedimento utilizado na selecção da amostra. Na secção 4.4. apresenta-se e discute-se a estatística descritiva da amostra. Finalmente, na secção 4.5. são apresentados o resumo e as conclusões do capítulo.