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Jorge Amado é, segundo o Index Translationum3, o terceiro autor em língua portuguesa mais traduzido para espanhol4. O nosso trabalho

centrar-se-á nas traduções publicadas em castelhano, catalão, galego e basco em Espanha. A obra de Jorge Amado começou a ser traduzida em Espanha no final da década de 19605, publicada pela editora Luis

de Caralt e nas traduções de Basilio Losada6, que começava naquela

1Este texto é uma versão originalmente publicada em Hispanoamérica. 2Universitat de Barcelona.

3Index Translationum. World Bibliographe of Translation. (www.unesco.org/xtr

ans/).

4 Os primeiros são Paulo Coelho e José Saramago. O seguinte brasileiro na lista

é Clarice Lispector, no oitavo lugar.

5É preciso ressaltar um outro elemento importante para o estudo da recepção da

obra amadiana em Espanha: a tese de doutoramento de Assumpta Forteza Picó, El nord-est de Jorge Amado en català. La traducció dels referents culturals deTocaia Grande i de Gabriela, cravo e canela, orientada por Montserrat Bacardí Tomás e Joa- quim Sala Sanahuja e defendida na Universitat Autònoma de Barcelona – Faculdade de Tradução e Interpretação (5/7/2010).

6Basilio Losada (1930). Catedrático de Filologia Galega e Portuguesa na Univer-

sidade de Barcelona. Tradutor também, entre outros autores em língua portuguesa, de José Cardoso Pires, Fernando Namora, José Saramago, Almeida Faria, Rubem Fonseca, Autran Dourado, Machado de Assis e Clarice Lispector. Premio Nacional

52 Elena Losada Soler altura o seu labor como tradutor de português e que foi também, como lemos no depoimento que acompanha este texto, quem propôs à editora a publicação da obra daquele autor brasileiro de nome pouco exótico para o gosto do público e dos interesses comerciais das editoras da época.

O primeiro romance publicado foi Los viejos marineros7 (tradução

de Basilio Losada, Ed. Luis de Caralt, 19688). Esta tradução foi ree-

ditada pela mesma chancela em 1978 e 1980; em 1971 pelo Círculo de Lectores; em 1980, 1988 e 1995 por Ediciones B9; em 1984 por Seix

Barral; em 2000 numa colecção muito interessante de Mondadori-XL, impressa em letra grande, desta vez sob o título Capitán de altura, mais breve; e em 2002 pelo jornal El País, de Madrid. Seguiram-se três tra- duções mais da autoria de Basilio Losada: Los pastores de la noche, Ed. Luis de Caralt, 1970, reeditada por Noguer e Caralt, em 1978, 1980 e 1984, por Ediciones B, em 1995, por Lumen, em 2010, e por Debolsillo em 2012; Mies roja10 (Ed. Luis de Caralt, 1972, reeditada

em 1984 e 1985) e Jubiabá (Ed. Luis de Caralt, 1972, reeditada pela mesma chancela em 1981, publicada também em 1982 e em 1988 por Orbis, em 1985 por Seix Barral e em 1994 por Plaza & Janés).

Na Espanha dos anos finais do franquismo e da transição o Jorge Amado mais social foi claramente preferido ao cronista lúdico da vida baiana. A publicação também nesses anos de um texto fortemente ideo- lógico como é a trilogia Los subterráneos de la libertad: I. Los ásperos

de Traducción 1991 pela sua versão de Memorial do convento, de José Saramago.

7 Indicaremos o título original do romance apenas em caso de diferença notável

com o título da tradução.

8 Algumas vezes existem discordâncias nas datas entre as diferentes bases

de dados usadas para este trabalho: INDEX TRANSLATIONUM (UNESCO) www.unesco.org, ISBN (Espanha) www.mcu.es/libro/CE/AgenciaISBN/BBDDLibr os/Sobre.html e Catálogo da Biblioteca Nacional de Espanha, www.bne.es. Nestes casos consideramos como mais fiável a ficha bibliográfica do catálogo da Biblioteca Nacional. É o que acontece com esta tradução, datada no ISBN de 1961. O próprio tradutor confirmou a data de 1968.

9Se não houver indicação do contrário a editora é de Barcelona. 10Seara Vermelha.

Jorge Amado em Espanha 53 tiempos, II. Agonía de la noche, III. Luz en el túnel(tradução de Basi- lio Losada, Ed. Bruguera, 1980) prova-o. Foi também Basilio Losada, já noutros tempos, meados dos anos 90, o tradutor de um texto fun- damental de Jorge Amado: Navegación de cabotaje (Madrid, Alianza Editorial, 1994), as suas memórias, reeditadas, em 2001, por Muchnik Editores, sob o selo El Aleph, e do seu último romance, De cómo los turcos descubrieron América(Ediciones B, 1995, reeditada em 1996).

Desta primeira época das traduções amadianas em Espanha é pre- ciso lembrar também as versões de Mariano Tudela11: Tierras del sinfín

(Ed. Luis de Caralt, 1975), reeditada em 1979 e 1980, e Los coroneles12

(Ed. Luis de Caralt, 1975), reeditada por Seix Barral em 1985.

Os anos 80 são o ponto mais alto da recepção de Jorge Amado em Espanha. Reeditam-se as traduções espanholas anteriores e também são publicadas em Espanha as traduções hispano-americanas – funda- mentalmente argentinas – dos anos 60 e 70, recuperadas principalmente por Alianza Editorial. Nestas versões, em algum caso não muito ade- quadas aos hábitos linguísticos do público espanhol, chegaram algu- mas das obras fundamentais de Jorge Amado como Gabriela, clavo y canela(tradução de Haydée M. Jofre Barroso13, Madrid, Alianza Edi-

torial, 1981, reeditada pelo mesmo selo em 1986 e em 1997). A mesma tradução foi publicada por Seix Barral, em 1985, pelo Círculo de Lec- tores, em 1985 e em 1987 (com um prefácio de Robert Saladrigas), por Plaza & Janés em 1994, em 1995 pela distribuidora Altaya, em 1998 por Muchnik Editores, por El Aleph e por Bibliotex em 1999, e em 2003 por Quinteto Ed.

11Mariano Tudela (1925-2001). Escritor e tradutor literário profissional. Tradutor

entre outros autores de Ilia Eherenburg. Em 1954 fundou com Urbano Lugrís a revista Atlántida. Foi guionista de rádio, televisão e cinema. Publicou romances, livros de contos e biografias romanceadas publicadas sob o pseudónimo de René Luard.

12São Jorge dos Ilhéus.

13Haydée Jofre Barroso. Tradutora argentina. Em Espanha só foi publicada a sua

tradução de Gabriela, cravo e canela e algumas de obras de José Mauro de Vascon- celos.

54 Elena Losada Soler No caso de Dona Flor e seus dois maridos, o primeiro tradutor para espanhol foi o poeta galego Lorenzo Varela14, numa versão publicada na Argentina pela editora Losada e recuperada em Espanha por Alian- za Editorial (Madrid, 1981), reeditada em 1985 e 1998, e por RBA em 1993. No mesmo ano de 1981 apareceu, também publicado por Alian- za Editorial, Cacao15, em tradução de Estela dos Santos16 (reeditado

em 1988 e em 1995). Em 1983, Alianza Editorial lançou Teresa Ba- tista cansada de guerra, em tradução de Estela dos Santos (reeditado em 1986 e 1995). No ano seguinte – 1984 – a mesma chancela pu- blicou Capitanes de la arena (tradução também de Estela dos Santos, reeditado em 1992 e em 1997).

14 Lorenzo Varela (1916-1978). Poeta e tradutor. Filho de emigrantes galegos

viveu em Buenos Aires desde 1920. Em 1935, Varela viajou a Madrid para se incor- porar às “Misiones pedagógicas” e à equipa de redacção da PAN (Poetas, Andantes e Navegantes), revista na que publicou, entre outros, Rafael Dieste. Integrado na “Alianza de Intelectuales Antifascistas para la Defensa de la Cultura”, participou na guerra civil como miliciano, membro do Partido Comunista. Durante a guerra per- correu as diferentes frentes, e contribuiu com os seus artigos jornalísticos para manter o moral dos combatentes. Em 1937 fez parte do “Segundo Congreso Internacional de Intelectuales Antifascistas” celebrado em Valencia. Em 1939 saiu rumo ao exílio, primeiro no México, depois na Argentina, onde publicou o seu livro de poemas sobre a guerra e o exílio intitulado Lonxe (1954), recuperou a actividade política e exerceu como crítico de arte e tradutor do português. O golpe de Estado do general Videla, em 1976, obrigou Varela a um novo exílio e regressou a Madrid, onde retomou o seu trabalho como tradutor. A sua tradução de Dona Flor e seus dois maridos foi publi- cada pela primeira vez em Espanha em 1981. A primeira edição, porém, publicada pela editora Losada de Buenos Aires, é de 1969.

15 Na edição argentina o romance aparecia junto com Sudor, na espanhola apare-

ceram em separado (tradução de Estela dos Santos, Madrid, Alianza Editorial, 1985, reeditada por Sagrafic em 2009).

16 Estela dos Santos (1932). Professora de 1975 a 1996 na área de Sociologia da

Educação, Metodologia da Pesquisa e Produção do Texto Científico, na Fundação Getúlio Vargas (RJ) e na Universidade Federal Fluminense. Desde 1978 tem uma actividade importante como tradutora. Recebeu o Prêmio de Tradução da Biblioteca Nacional em 1995. Entre suas diversas traduções destacam-se as obras de Jules Verne, Zélia Gattai, Guimarães Rosa e Jorge Amado.

Jorge Amado em Espanha 55 Independentemente das publicações de Alianza Editorial, nos anos 80 apareceram também Uniforme, frac y camisón de dormir17, tradu- ção de Josefina Iñíguez Abad18para Plaza & Janés (1982, 1989, 1991),

Tocaia Grandeem tradução de Rosa Corgatelli19(Plaza & Janés, 1986,

reeditada por RBA em 1995 e por Muchnik em 2001), El gato Mallado y la golondrina Siñá: una historia de amor (tradução de Montserrat Mira Campins20, Plaza & Janés, 1988, 1994 e 2001) e La desaparición

de la santa: una historia de hechicería(tradução também de Montser- rat Mira Campins, Plaza & Janés, 1989, 1994 e Debolsillo, 2002).

Também dos anos 80 datam as primeiras traduções de Amado às outras línguas ibéricas. Em 1984, Kakau, versão para basco sem in- dicação de tradutor, publicada por Hordago (Donostia-San Sebastián). Em 1986, a tradução galega de Xela Arias21 publicada em Vigo por

Xerais de Galicia: O gato Gaiado e a andoriña Señá. Em 1987 apare- ceu a primeira tradução de Amado para catalão: Tocaia Grande, la faç obscura, da autoria do grande mediador cultural que foi nesses anos Manuel de Seabra22 (Barcelona, Ed. La Magrana), e em 1988 (reedi- tado em 1999) lançou-se Els vells mariners, tradução para catalão de Xavier Moral23(Barcelona, Ed. Proa).

17Farda, fardão, camisola de dormir.

18 Josefina Iñíguez Abad é tradutora literária profissional para espanhol e para

catalão. Colaborou com Manuel de Seabra no Diccionari portuguès – català / català – portuguès, publicado pela Enciclopèdia Catalana, em 1989. Traduziu outros autores em língua portuguesa como Rubem Fonseca (para espanhol) e Cardoso Pires (para o catalão).

19Rosa Corgatelli. Tradutora argentina de inglês e de italiano para espanhol. Em

Espanha foram publicadas apenas as suas traduções de Jorge Amado.

20 Montserrat Mira Campins. Tradutora literária profissional. É a tradutora de

Paulo Coelho em Espanha. Traduziu também obras de Nélida Piñón e Alice Vieira.

21 Xela Arias (1962-2003). Poeta e tradutora galega. Traduziu ao galego James

Joyce, Fenimore Cooper e Camilo Castelo Branco, entre outros.

22Manuel de Seabra (1932). Escritor português, residente em Catalunha. Media-

dor cultural entre as literaturas portuguesa e catalã e tradutor profissional. Traduziu, entre outros, Vonnegut, Tolstoi e Bukowski. Entre os autores de língua portuguesa traduziu para catalão Rubem Fonseca, José Cardoso Pires e Lygia Bojunga Nunes.

23 Xavier Moral. Sem informação. Traduziu também Sinais de fogo, de Jorge de

56 Elena Losada Soler Os últimos 20 anos, excepção feita das versões argentinas de Rosa Corgatelli, revisadas por Cristina Barros, publicadas por Alianza Edi- torial24, observa-se um novo impulso das traduções feitas em Espanha,

no começo da década em Plaza & Janés (que reedita as versões de Montserrat Mira) e RBA, depois em El Aleph. Para além das últimas traduções de Basilio Losada, publicadas nessa década e já referidas, apareceu em RBA o conto La muerte e la muerte de Quincas Berro d’Água25 (1996). Já nos primeiros anos do século XXI apareceram algumas versões de grande qualidade, como o foram as primeiras. É o caso da Gabriela, clavo y canela, traduzida para Círculo de Lec- tores por Mario Merlino26, em 2002, e das publicadas por El Aleph, Gabriela, clavo y canela(tradução de Dante Hermo27, 2002, 2003), e

Capitanes de la arena(Dante Hermo, 2004).

As últimas traduções de Jorge Amado não publicadas previamente datam de 2009: são Sudor, tradução de Amalia Sato28, e Tienda de los

Sena.

24 Gabriela, clavo y canela(2007), Doña Flor y sus dos maridos (2008, 2009,

2010), Cacao (2009), todos eles publicados por Alianza Editorial, Madrid.

25 A primeira tradução desta novela foi a de Basilio Losada em 1969, publicada

junto com Los viejos marineros. Nas edições publicadas pela editora Luis de Caralt apareceram sempre juntos os dois textos. Posteriormente a novela desapareceu. Ofe- lia Castillo é tradutora profissional de inglês. A novela amadiana é o seu único título traduzido da língua portuguesa.

26Mario Merlino (1948-2009). Escritor e tradutor de língua portuguesa, italiana e

inglesa. Premio Nacional de Traducción 2004, pela sua versão do Auto dos condena- dosde Lobo Antunes. Argentino, viu-se obrigado ao exílio em 1976 e residiu até a sua morte em Espanha. Tradutor de Clarice Lispector, Nélida Piñón, Lobo Antunes, Eça de Queirós, João Ubaldo Ribeiro e Mia Couto, entre outros.

27Dante Hermo. Licenciado em Filologia Portuguesa pela Universidade de Barce-

lona. Tradutor de Jorge Amado e de Miguel Sousa Tavares.

28Amalia Sato é a directora da revista Tokonoma, especializada em literatura japo-

nesa e na sua recepção na literatura argentina. Tradutora habitual de japonês. A sua única tradução de língua portuguesa publicada em Espanha é Suor. Em Argentina publicou também uma versão de Dona Flor e seus dois maridos.

Jorge Amado em Espanha 57 milagros, tradução de Marcos Mayer29, publicadas ambas por Alianza

Editorial.

Também para catalão e basco tem havido novas traduções nestes últimos anos. No que diz respeito ao basco encontramos a tradução de Valentín Olaetxea30de Jubiabá para a editorial Ibaizabal (Bilbao, 1997) e para catalão as versões de Gabriela, clau i canyella, de Anna Alsina Keith31para Edicions 62, na colecção “Les millors obres de la literatura

universal” (1997) e a que é a última tradução amadiana publicada em Espanha, La mort i la mort d’en Quincas Bram d’Aigua, de Gabriel de la S. T. Sampol32(Barcelona, Lapislázuli, 2012).

Podemos pois concluir que a fortuna da obra amadiana em Espanha, pelo número das traduções e a qualidade de grande parte delas tem sido muito superior à de outros autores brasileiros que ainda esperam a sua vez. Embora nos últimos anos o seu nome esteja um pouco apagado na produção da crítica literária espanhola, Jorge Amado é ainda na vida cultural espanhola aquilo que com certeza teria gostado de ser, um autor popular.

29Marcos Mayer. Tradutor de Stevenson e de Jorge Augusto Cury. 30Valentín Olaetxea. Sem informação.

31Anna Alsina Keith. Tradutora profissional de inglês, francês e russo.

32 Gabriel de la S. T. Sampol. (1967). Poeta, tradutor e crítico literário malhor-

quino. Professor de Literatura Portuguesa na Universidade das Ilhas Baleares. Tradu- ziu do português António Vieira, Almeida Garrett, Fernando Pessoa e José Saramago. É também tradutor do francês (Voltaire e Madame de Staël) e do latim (Hildegarda de Bingen). Obteve o Prémio Giovanni Pontiero de Tradução (Instituto Camões y Universitat Autònoma de Barcelona) pela sua tradução de Fígado de Tigre de Gomes de Amorim.

58 Elena Losada Soler

Jorge Amado em Espanha 59

60 Elena Losada Soler

Jorge Amado em Espanha 61

62 Elena Losada Soler

Jorge Amado em Espanha 63

ANEXO 2

Entrevista com Basilio Losada. Barcelona 5 de Novem-