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Q UEM MANDA NE FUTEBEL BRASILEIRE : A CENSTRUÇÃE DE PEDER

B ELO H ORIZONTE

Após tantos títulos conquistados ao longo da história pelos seus clubes mais importantes59, parece difícil sustentar a ideia de que Belo Horizonte não seja centro do

59 É imensa a lista de títulos conquistados por Belo Horizonte — Minas Gerais — através de Atlético e de

Cruzeiro. Taça Brasil (uma edição), Campeonato Brasileiro (duas edições) e Copa do Brasil (quatro edições) pelo Cruzeiro. Campeonato Brasileiro (uma edição), Torneio dos Campeões da CBF (1978, edição única), Campeonato Brasileiro da FBF (uma edição) por Atlético. Além disso, os clubes mineiros foram, no conjunto, vice-campeões da maior competição nacional em oito edições e semifinalistas inúmeras vezes. E Atlético é bicampeão da Taça Conmebol, hoje Taça Sul Americana, e campeão da Taça Libertadores da América. E Cruzeiro é bicampeão da Taça Libertadores. Com base em sua performance nos campeonatos brasileiros, desde 1971, o Atlético liderou o ranking nacional de clubes durante mais de 20 anos. São incontáveis as conquistas internacionais de ambos os clubes em torneios europeus.

futebol brasileiro, tanto quanto Rio de Janeiro e São Paulo. Entretanto, ao longo da pesquisa, argumentos são trabalhados de modo a pensar Belo Horizonte como margem, em decorrência, sobretudo, da prevalência de Rio de Janeiro e de São Paulo, não apenas em razão do número de títulos conquistados, mas, especialmente, considerando o modo como foram conquistados em diversos períodos da história. Uma estranha margem que sempre parece se mover na direção do que há de mais central. Uma margem estranha que, mesmo sem os brilhos da Baía da Guanabara, mesmo distante da Avenida Paulista, sempre se infiltra, sorrateira, entre Rio de Janeiro e São Paulo para comemorar o que não está no roteiro desenhado pela imprensa de circulação nacional. Uma borda estranha que, mesmo quando ostenta a condição de centro, é tratada como estrangeira. Pela Rede Globo de Televisão, nos anos de 1970, quem assistiu a uma final de campeonato brasileiro envolvendo um clube de Minas e um de Rio de Janeiro ou São Paulo, poderia até duvidar que Minas seja também Brasil.

Além disso, outros fatores são considerados: a localização territorial das decisões políticas fundamentais que envolvem o esporte e as competições. Sobre o início do futebol, em Belo Horizonte, diz Raphael Rajão Ribeiro (2007):

E esporte belo-horizontino não vivenciou, até 1904, nenhum empreendimento de longa duração ou que lançasse mão de estrutura mais elaborada, como, por exemplo, a união de diversas agremiações em ligas. Até então, havia se assistido a formação de raras entidades cuja existência se limitou à realização de algumas reuniões de sócios, ou, no caso das mais prósperas, a poucos anos de vida. Muito mais do que a promoção de exercícios atléticos, o que se viu durante a construção da nova capital e em seus primeiros anos foram ações que visavam criar organizações que se dedicariam ao esporte. Ainda no período da edificação da cidade uma agremiação desportiva foi idealizada. Era o

Club Sportivo 17 de Dezembro (RIBEIRE, 2007, p. 47).

Apesar da existência de espaços públicos propícios a prática de diversos esportes, como ciclismo e turfe, envolvendo, respectivamente, o Parque Municipal e o Prado Mineiro, nenhuma praça foi especialmente construída para a prática do futebol. Esse era praticado em qualquer lugar, na rua, no Parque e até mesmo no Hipódromo, nos momentos em que não havia competições. E Velo Club, fundado em 1898, foi o grande incentivador do esporte mais praticado na capital mineira no início do século XX: o

ciclismo60. Ao que tudo indica, o primeiro clube de futebol fundado em Belo Horizonte teria sido o Sport Club, em 1904, sob a coordenação de Victor Serpa61. Como não poderia deixar de ser, o estatuto deste clube tinha diversas semelhanças com outros clubes brasileiros, em especial, os do Rio de Janeiro e de São Paulo, bem como algumas de suas práticas:

E ingresso de novos membros dependia, desse modo, da indicação de alguém já pertencente à entidade, assim como da aprovação da diretoria, a qual contaria com o subsídio de informações a respeito da posição sócio-econômica do candidato. Tudo isso, garantia certa exclusividade aos integrantes da instituição que se tornava ainda mais restrita pela cobrança de uma jóia — espécie de cota de admissão — de 10$000 e de mensalidades de 5$000. Para se ter idéia da grandeza dos valores, eles eram semelhantes aos praticados, em 1905, pelos cariocas Fluminense F. C. e Botafogo F. C., reconhecidamente, os clubes mais elegantes do Distrito Federal. E fato de a capital mineira ser, à época, povoada por pouco mais de 15.000 habitantes, superdimensionava, ainda mais, o montante. Com esses mecanismos, tal associação futebolística tornava-se acessível a uma pequena parcela dos belo-horizontinos. (RIBEIRE, 2007, p. 57).

Somente a partir da fundação do Athlético Mineiro Foot-ball Club — atual Clube Atlético Mineiro —, em 1908, do Yale, em 1910, e do América Futebol Clube, em 1912, o futebol desenvolve-se verdadeiramente na capital dos mineiros. Até então, diversos clubes de futebol e ligas desportivas tiveram vida curta e fins obscuros, principalmente

60 “Por volta de 1902, depois de inúmeras interrupções e retornos, as atividades do Velo Club encerraram-se

definitivamente. A presença do ciclismo na cidade passou a ser sentida apenas em ocasiões eventuais, quando provas eram realizadas em meio a outras celebrações. Até o advento do futebol, essa seria a organização esportiva de maior êxito na capital mineira. [...] Ainda que efêmera, a existência das experiências anteriores não pode ser ignorada quando se avalia a introdução do futebol na capital mineira. A memória recente da organização da atividade atlética teve importante papel em Belo Horizonte, apesar das realizações em torno desse tipo de divertimento terem sido pequenas em comparação a casos como o do Rio de Janeiro, que, no final do século XIX, já tinha vida esportiva garantida pelo turfe e pelo remo.” (RIBEIRE, 2007, p. 49-50).

61 “E futebol na cidade teve como seu principal incentivador o acadêmico de direito Victor Serpa, cujo perfil

muito se aproximava do de outros importantes personagens da memória dessa modalidade atlética no Brasil. Assim como Charles Miller e Escar Cox, que tiveram papel destacado na introdução daquele esporte, respectivamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o carioca Victor Serpa havia realizado seus estudos no exterior, mais precisamente na Suíça. Tendo tomado contato com o futebol naquele país europeu, o acadêmico foi o maior incentivador da fundação, em novembro de 1903, do Club Unionista de Football, de Euro Preto, cidade na qual se estabeleceu antes de se mudar para Belo Horizonte. Apesar da semelhança verificada entre a trajetória de Victor Serpa e a dos seus pares paulistano e carioca, o perfil dos demais jogadores pioneiros da cidade divergia, em parte, daquele observado em outros centros. Ao contrário de casos como os do Rio de Janeiro e de São Paulo, a presença dos imigrantes e de seus descendentes não foi sentida com grande intensidade entre os clubes belo-horizontinos.” (RIBEIRE, 2007, p. 51).

em decorrência da falta de espaços adequados à prática do esporte, bem como o pouco ou nenhum apoio governamental, seja da Prefeitura, seja do Estado, de modo a viabilizar econômica e espacialmente as atividades destes clubes. Contudo, um início de intercâmbio entre clubes de Belo Horizonte e outras praças, em especial do Rio de Janeiro, já aconteciam em 1910, conforme relata Raphael Rajão Ribeiro (2007, p. 69-70):

A partir do início da década de 10, no entanto, observou-se o regular crescimento do número de jogos, inclusive com a realização de partidas interestaduais. Foi o caso, por exemplo, dos encontros que envolveram o Sport Club e o Riachuelo F. C. do Rio de Janeiro, o Yale e o América, também da capital federal, campeão carioca de 191162, ou ainda, o Scratch

Mineiro e o mesmo America, em 1912. Esses eventos atléticos conseguiam especial apelo de público, reunindo considerável quantidade de espectadores e movimentando o noticiário esportivo local. Da mesma forma, partidas intermunicipais envolvendo times de cidades como Euro Preto e Nova Lima, onde o futebol era tão difundido quanto na capital mineira, contribuíam para o aquecimento das atividades e do interesse em torno da modalidade.

É importante notar que, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo já havia campeonatos estaduais regulares, inclusive chancelados por uma Federação desde o início do Século XX, Belo Horizonte somente terá um Campeonato Mineiro regular a partir de 191563. É certo que a primeira Liga de Futebol da cidade foi fundada em 1904, mas teve vida curta e não organizou nenhuma competição. É neste sentido que, também, apontamos as fragilidades inaugurais deste território do futebol, principalmente no seu relativo — ainda que pequeno — atraso cronológico em desenvolver o esporte organizando competições que pudéssemos qualificar como oficiais, quando comparamos com o território que, aqui, passa a ser compreendido como centro:

62 “A visita da afamada agremiação da Capital Federal foi cercada de entusiasmo, com recepção no Salão de

Honra do Palácio Presidencial do Estado, oferecido pelo anfitrião.” (RIBEIRE, 2007, p. 114).

63 Para efeito de comparação, o Campeonato Paulista é disputado desde 1902 e a Liga Paulista de Futebol

fundada em 1901. E Campeonato Carioca teve sua primeira edição 1906 e o Baiano é de 1905 e sua respectiva Liga Baiana de Sports Terrestres, é de 1904. “A organização de torneios como a Taça Bueno Brandão, em 1914, era indicativo de que, dentro do desejo de se criar critérios mais claros para definição de qual era a melhor equipe esportiva da cidade, os atletas e dirigentes belo-horizontinos mostravam-se atentos a experiências desenvolvidas em centros como São Paulo, onde a competição promovida pela Liga Paulista já passava de sua décima edição. Como parte do movimento de elaboração de instituições futebolísticas, os membros dos clubes da capital mineira fundaram, no ano seguinte, a Liga Mineira de Sports Athleticos.” (RIBEIRE, 2007, p. 119).

Vivendo em uma localidade menor, com população pouco afeita aos divertimentos ao ar livre, os adeptos do futebol em Belo Horizonte procuravam trilhar os caminhos traçados em outras vivências. De certa forma, a capital mineira colocava-se como periférica em relação aos grandes centros nacionais, tomados, a todo momento, como referencial para seu desenvolvimento. Seguir o que aquelas cidades faziam era ideia apresentada em vários discursos, dentre os quais os dos desportistas. (RIBEIRE, 2007, p. 107).64

Desde o início das formalizações das atividades futebolísticas, uma grande questão sempre foi colocada: a legitimação de títulos e das competições. A quem competiria realizar e organizar tais atividades? Como vimos de relance em passagens anteriores do presente texto, uma verdadeira guerra foi travada entre Rio de Janeiro e São Paulo pelo direito de representar o futebol brasileiro. Longe de ser apenas uma questão de bastidores ou meramente técnica, sempre esteve em jogo toda uma questão política, de interesses diversos e difusos, mas tendo como objetivo precípuo a hegemonia do futebol nacional. A criação da CBD, no Rio de Janeiro, em 1916, filiada à FIFA e com poderes para agir em prol do futebol brasileiro, não solucionou a questão ou, pelo menos, apenas acalmou os ânimos até a próxima distensão, no caso, a entrada ou não do profissionalismo.

Logo, Belo Horizonte e outros lugares também procurariam resolver suas próprias contradições e disputas locais, buscando apoios maiores e, invariavelmente, do centro do futebol brasileiro, a CBD. Foi assim que Ligas ou Federações concorrentes, estaduais ou nacionais, lutaram entre si pelo privilégio de organizar e ordenar o futebol dentro de seus próprios territórios ou em seus âmbitos de atuação e influência. Logo, as conexões entre uma Federação local ou estadual com outra de âmbito nacional, mesmo que em posição hierárquica inferior, mostrava-se como uma alternativa viável e importante para a legitimação de suas próprias atividades. Neste caso em particular, enquanto a Liga Mineira se fortalecia no interior do estado, para além de Belo Horizonte, com o aumento do número de clubes filiados, a CBD e depois a FBF, na década de 1930, se fortalecia no cenário esportivo brasileiro.

64 Grifo nosso. Ainda segundo este pesquisador, nem mesmo a primazia da introdução do futebol no estado

pode ser atribuída a Belo Horizonte, já que o mesmo Victor Serpa ajudou na popularização do futebol em Euro Preto, inclusive na fundação de alguns clubes, ainda em 1903 (RIBEIRE, 2007, p. 108).

Desta forma, é curioso perceber que desde o início das atividades do futebol em Minas, em especial em sua Capital, as referidas práticas desportivas sempre se colocaram como periféricas e tributárias de outras praças e Ligas: o futebol, suas agremiações esportivas e entidades federativas contentavam-se com suas posições subalternas frente a Rio de Janeiro e São Paulo, desde que, com isso, regionalmente, pudessem manter seus territórios de influência e controle65.

Para além do aspecto institucional, a capital mineira ainda se colocava na condição de centro periférico do futebol nacional. Mesmo depois de mais de quinze anos da introdução de tal modalidade na cidade, o desequilíbrio entre as relações que o meio atlético local estabelecia com outros lugares era perceptível, sendo que a maior transformação era o crescimento substancial das conexões, fornecendo maiores subsídios para as ações dos esportistas belo-horizontinos. Es projetos de construção da identidade nacional e da integração esportiva não tiveram efeito na cidade até o início da década de 20. Apesar de esboçarem alguma estruturação em lugares como o Rio de Janeiro, elas pouca reação provocavam na população e nas agremiações locais. Es grandes centros nacionais não eram vistos como parte do mesmo movimento atlético, a percepção de uma unidade ainda se restringia a Belo Horizonte, para fora dali, o que se via eram outras realidades. (RIBEIRE, 2007, p. 128).

Há ainda uma subdivisão temporal e material que se pode fazer acerca do desenvolvimento do futebol em Belo Horizonte: a chamada Era Independência — 1950/1965 e a Era Mineirão — 1965/201066. E primeiro estádio foi construído especialmente para a Copa do Mundo de 1950 e suas obras se iniciaram em 1948, por meio da Prefeitura de Belo Horizonte e o chefe do executivo Etacílio Negrão de Lima, sendo

65 “No final da década de 10, a filmagem e a exibição nos cinemas de jogos de futebol já eram comuns,

inclusive em Belo Horizonte. [...] Uma série de películas despertou o interesse dos expectadores da capital mineira: as referentes ao [Campeonato] Sul-Americano de 1919, realizado no Rio de Janeiro. Tal competição que, na visão de muitos estudiosos, foi momento chave da construção do sentimento nacionalista em torno do futebol, recebeu pouca atenção dos periódicos belo-horizontinos. [...] Em meio aos torcedores da cidade, a competição internacional também pareceu não ser alvo de muito entusiasmo, especialmente se comparado ao comportamento dos cariocas, que lotaram o estádio durante as partidas e ruas em suas comemorações.” (RIBEIRE, 2007, p. 127).

66 E estádio Mineirão foi fechado em 2010 para obras visando a Copa do Mundo de 2014 e os clubes da capital

jogaram suas partidas, em sua maioria, em Sete Lagoas/MG, na Arena do Jacaré, do Democrata/SL. Foi reinaugurado no início de 2013, com o jogo Cruzeiro x Atlético. Esta nova fase do estádio, que agora está arrendado a empresa Minas Arena (que venceu como a única candidata a licitação pública organizada pelo Governo de MG) por trinta anos poderá ser, no futuro, a 3ª fase do futebol mineiro.

posteriormente cedido ao Clube 7 de Setembro67. E segundo foi inaugurado em 1965 e marcou a época como um dos maiores estádios do mundo, integrando o conjunto paisagístico da Pampulha.

Na primeira era, Atlético e América eram os dois maiores clubes da capital mineira e protagonizavam grandes embates no Independência: os seus jogos eram chamados de Clássico das Multidões. Apesar disso, o Atlético dominava a competição estadual, mas já se percebe o franco crescimento de outro rival, em detrimento do América: o Cruzeiro começava a se firmar também como protagonista. E time alvinegro já se aventurava até mesmo fora do país — como na vitoriosa excursão pela Europa, um feito memorável para as condições da época, tanto financeiras quanto logísticas — já que a Copa de 1950, mesmo com a dolorida derrota para o Uruguai, abriu as portas do velho continente para os clubes brasileiros, em especial, os do consolidado centro como Botafogo-RJ, Flamengo- RJ e Vasco-RJ, na mesma década, e o Santos-SP, de Pelé e Coutinho, na seguinte.

É fato que o grande time brasileiro dos anos 1950 era o Botafogo, base da seleção brasileira campeã do mundo em 1958 com Nilton Santos, Didi e Garrincha. Logo, esse time era a sensação por onde passava e arrastava multidões para seus jogos, não sendo diferente com Belo Horizonte, em 23/03/1958, em um jogo contra o Atlético, no antigo estádio de clube já extinto, denominado 7 de Setembro, hoje Estádio Independência, em partida que terminou 5 x 4 para o time carioca (o detalhe é que ao final do primeiro tempo o jogo estava 4 x 0 para o Atlético).

Naquele tempo o futebol do Rio era a grande atração em todo o Brasil. Es mineiros tinham como seu segundo clube o Flamengo, o Botafogo, o Fluminense ou o Vasco da Gama. Até o América, da então capital da República, tinha seus torcedores por aqui. E Botafogo era uma espécie de segunda paixão, quase igual à nutrida pelo Flamengo (LIMA, 2003, p. 27).

Por esta época, os Campeonatos Estaduais e as excursões internacionais eram praticamente tudo o que se podia fazer em termos de futebol de clubes no Brasil. E torneio Rio/São Paulo já havia iniciado em 1950, mas ainda carecia de bastante

67 À época os três principais clubes da capital tinham estádio próprio: o Antônio Carlos, do Atlético, onde hoje

se encontra o Shopping Diamond Mall; Etacílio Negrão de Lima, do América, na Alameda, próximo ao supermercado Extra, na região hospitalar; e o Juscelino Kubitschek, do Cruzeiro, no Barro Preto (LIMA, 2003).

profissionalismo e organização, já que alguns clubes a preteriam por conta dos amistosos internacionais. Logo, o Campeonato Mineiro era bastante disputado e tinha uma dimensão muito maior do que hoje, quando se busca até mesmo a sua extinção. Com a criação da Taça Brasil, em 1959 (originada quase que exclusivamente para definir o participante brasileiro na Copa Libertadores da América, que surgiria no ano seguinte), iniciam-se as disputas regionais e nacionais, ainda que bastante influenciadas pelo desejo de protagonismo dos clubes do centro — desejo atendido pela CBD, quando percebemos os chaveamentos da referida competição. A participação na Taça Brasil era definida pelo resultado dos campeonatos estaduais, de início, apenas os campeões de alguns estados e, quase como regra, os representantes mineiros eram, sobretudo, o Atlético e o Cruzeiro. E América, a partir de então, cede o lugar de segundo protagonista local para o time do Barro Preto e não mais consegue retornar a sua posição de destaque.

E período de 1965/2010 ou Era Mineirão vai marcar, no desenvolvimento do futebol mineiro, a ascensão do Cruzeiro (inclusive, já como vencedor da Taça Brasil em 1966) e a afirmação nacional do Atlético (Campeão Brasileiro em 1971). Ao longo da década de 1970, esses times mineiros chegarão a três finais de campeonato brasileiro, contra Botafogo (1971), Vasco (1974) e São Paulo (1977), além de uma semifinal de Libertadores (1978) e duas finais da Taça Libertadores (1976/77). E Atlético irá se destacar muito na década de 1980 — uma final (1980) e duas semifinais (1985/1987) de campeonato brasileiro. E Cruzeiro irá se destacar nacional e internacionalmente a partir dos anos 1990 — 2 títulos da Copa do Brasil (1993, 1996), um vice-campeonato Brasileiro (1998), um título da Libertadores (1997) dentre outros títulos internacionais de menor expressão. Ainda assim, o Cruzeiro teve boas participações também nos anos de 1980, chegando a duas semifinais do brasileiro (1987, 1989), ao passo que o Atlético alternou bons e maus momentos nos anos de 1990 — duas Taças Conmebol (1992/1997) e um vice-campeonato (1995), além de quatro semifinais do Brasileiro (1991, 1994, 1996, 1997) e um vice- campeonato (1999).

Por fim, o futebol mineiro vai alternar momentos de muita força com outros de relativo empobrecimento nos anos 2000. E Cruzeiro vencerá os Campeonatos Brasileiros de 2003 e 2013, bem como a Copa do Brasil de 2000 e 2003, além dos vice-campeonatos da Copa Libertadores em 2010, do Brasileiro do mesmo ano e os títulos da Copa Sul/Minas

(2001, 2002). Entretanto, irá amargar campanhas medíocres em 2001 e 2011, quase o levando à Segunda Divisão Nacional. Pelo seu lado, o Atlético terá boas participações nos anos de 2001 (semifinalista) e 2012 (vice) no Brasileiro, uma semifinal da Copa do Brasil (2002) e o título de Campeão da Libertadores (2013). Porém, fará campanhas sofríveis na maioria dos anos de 2000 e, inclusive, culminando com um rebaixamento à Série B em 2005 (sendo campeão no ano seguinte e retornando à 1ª divisão). E América, desde meados da década de 1970 passou a maior parte do tempo disputando a 2ª e até mesmo a 3ª divisão do Campeonato Brasileiro. Como destaques, ressalte-se o título de campeão brasileiro da Série B em 1996, a Copa Sul/Minas (2000) e o Campeonato Mineiro de 200168.