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O FUTEBOL BRASTLETRO PELAS ONDAS DO RÁDTO

Q UEM MANDA NE FUTEBEL BRASILEIRE : A CENSTRUÇÃE DE PEDER

O FUTEBOL BRASTLETRO PELAS ONDAS DO RÁDTO

Eutro importante veículo de informação — talvez o mais importante de todos até a chegada da televisão — foi o rádio. É ponto pacífico entre diversos pesquisadores do assunto que ele chegou ao Brasil na década de 1920 e a primeira transmissão oficial foi um discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, a 07.09.192240. Es técnicos da

Westinghouse Eletric instalaram uma estação de 500 W e uma antena no Morro do

Corcovado e a transmissão foi captada em Niterói, Petrópolis e também em São Paulo, onde haviam sido instalados receptores. Já a primeira emissora no Brasil foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 20.04.1923, por Roquette Pinto e Henry Morize41. No mesmo ano são criadas: a Rádio Clube do Brasil (RJ) e a Rádio Clube de Pernambuco. Em 1926, a Rádio Educadora Paulista42 e a Rádio Mayrink Veiga. Em São Paulo, surgiu a

40 Cf. CREPALDI, 2009; ALMEIDA; MICELLI, 2004.

41 Francês naturalizado brasileiro, geógrafo, engenheiro e primeiro presidente da Academia Brasileira de

Ciências.

42 De acordo com Almeida e Micelli (2004, p. 7), “[...] a primeira narração detalhada de um jogo de futebol,

[foi] a 19 de julho de 1931, em São Paulo. A partida entre as seleções de São Paulo e Paraná foi narrada pelo locutor Nicolau Tuma, na Rádio Educadora Paulista, primeira emissora de São Paulo e pioneira das transmissões na cidade. E jogo, no campo da Chácara da Floresta, valia pelo VIII Campeonato Brasileiro de Futebol e terminou 6 a 4 para os paulistas”.

Rádio Cruzeiro do Sul em 192743, das Erganizações Byington que abriria filiais em diversas partes do País e transmitiu, tempos depois, a Copa do Mundo de 1938 (CREPALDI, 2009). É preciso compreender que essas primeiras rádios não eram comerciais, por conta da inexistência de uma lei de Rádio-difusão no Brasil, o que fazia com que muitas perecessem sem recursos: por isso, a presença do Clube em seus nomes, já que os ouvintes tornavam-se associados, pagando mensalidades para manter a operação da rádio. A partir da década de 1930, a publicidade no

rádio foi regulamentada através do Decreto Federal 21.111, de 01.03.1932, definindo o rádio como de interesse nacional e de finalidade educativa44.

Es anos de 1930, inclusive, foram bastante agitados, criativos e produtivos para uma história do rádio no Brasil. Como se tratava de uma mídia ainda nova, pouco conhecida, essa época foi cercada por experimentações e testes. Além disso, a possibilidade de obtenção de lucros através da publicidade fez com que as rádios, de um modo geral, passassem

de uma linguagem erudita para outra bem mais popular e em acordo com os anseios de seus anunciantes com o propósito de atingir o maior número possível de pessoas. Assim, as grandes rádios procuravam, cada vez mais, instalar equipamentos que pudessem fazer com que seus sinais fossem captados em diversas partes do território brasileiro45. Desde

43 “De acordo com os dados apresentados pelo Atlas Estatístico do Brasil, organizado em 1941 [...], o Brasil

possuía, em 1937, um total de sessenta e três estações radiodifusoras (...): Amazonas 1; Pará 1; Ceará 1; Paraíba 1; Pernambuco 1; Bahia 1; Rio de Janeiro 4 [interior]; DF 13 [cidade do Rio de Janeiro]; São Paulo 28; Paraná 1; Santa Catarina 1; Rio Grande do Sul 4; e, finalmente, Minas Gerais 6” (GURGUEIRE, 2009, p. 158).

44 “E Decreto 21.111, que autorizava a veiculação de propaganda pelo rádio, [limitou] sua manifestação,

inicialmente, a 10% da programação, posteriormente elevada para 20%.” (CREPALDI, 2009, p. 53).

45 Daniel Damasceno Crepaldi (2009, p. 53) observa: “Tais empresas e produtos tinham a necessidade de

1932, a chamada Rádio Phillips46 investia na revolução dos programas de rádio, através de locutores como Adhemar Casé e Nássara, que inventaram os primeiros bordões e jingles publicitários. Em um país de analfabetos, a popularidade do rádio atingiu números absurdamente expressivos, transformando esse veículo de comunicação numa poderosa ferramenta de divulgação de ideias, de ideologias, de valores e transformação dos hábitos e da cultura.

A esfera política apropriou-se bem do novo instrumento: nascido já em fins da República Velha, o rádio irá desempenhar papel fundamental na chamada 1ª Era Vargas, ajudando a consolidar a figura desse Presidente como o Pai dos Pobres47. Não somente isso, mas, nesta época, foi criado o Programa Hora do Brasil (1931) — reestruturado em 1939 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) — e efetivada a promulgação de nada menos que seis decretos referentes à regulação do serviço de rádio-difusão48. Esses decretos, a rigor, visavam coibir a liberdade de expressão, bem como promover os valores deste Estado totalitário que ora se configurava no País, através do regime varguista e também chamado de Estado Novo49. Da mesma maneira que a política se utilizou do

rádio, com aparelhos tão potentes que, transmitidos do Rio de Janeiro ou de São Paulo, seus sinais eram recebidos em todo o país. Dentre esses grupos estavam a Farroupilha do Rio Grande do Sul, a Tupi de São Paulo e a Nacional, do Rio de Janeiro. Em 1935 foi inaugurada a estação de rádio mais potente da América Latina, a Rádio Farroupilha, de Porto Alegre. A marca de ‘rádio mais potente do continente’ foi rapidamente ultrapassada por Assis Chateubriand quando, em 1937, lançou a Rádio Tupi de São Paulo, chamada de a ‘A mais poderosa’, com um transmissor de 26 KW que alcançava todo o país, e até o exterior, através de ondas curtas.”

46 Sociedade Rádio Phillips do Brasil, fundada em 1930. A Phillips era a única emissora carioca a atingir São

Paulo e, por não apoiar a Revolução Constitucionalista de 1932, passou a enfrentar boicote paulista a seus aparelhos. Como a emissora nascera para ajudar a promover os produtos Phillips e não para prejudicá-los, a direção da multinacional decidiu vendê-la. Foi encampada pelo grupo do jornal "A Noite", "Noite Ilustrada" e "Revista Carioca" e transformada na famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sendo seus estúdios instalados inicialmente na Praça Mauá número 7, edifício A Noite. Cf. CREPALDI, 2009.

47 A chamada Era Vargas é assaz conhecida, mas vale lembrar, através das palavras de Jambeiro (apud

CREPALDI, 2009, p. 65): “Importante argumentar que neste período é muito difícil distinguir Estado, Governo Federal, Poder Executivo, Nação e interesses nacionais da figura de Getúlio Vargas. Es três primeiros por estarem intrinsecamente identificados com a figura de Vargas; os dois últimos por sofrerem uma conotação ideológica autoritária e fascista tão grande que indicavam uma relação de Nação e dos interesses nacionais com as tomadas de decisão do Poder Executivo, personificado por Vargas, que por sua vez era, ao mesmo tempo, Estado e Governo”.

48 Foram eles: 1915/39; 5077/39; 1949/39; 4701/42; 4826/42; 4828/42.

49 Exemplo de atuação do Governo, por esta época, foi o chamado Caso Cohen, em que, supostamente, foram

descobertos os planos de comunistas brasileiros, em associação com os soviéticos, para a tomada do poder e instalação de uma sociedade socialista. E fato foi amplamente noticiado pelo rádio e coube ao ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra e o Presidente Getúlio Vargas, através do programa Hora do Brasil, divulgar a

descoberta. Além disso, o Governo conseguiu fazer aprovar o Estado de Guerra, em 30.09.1937, suspendendo

rádio como forma de propaganda governamental, pelo seu lado, o futebol será capturado pela radiocomunicação como importante ferramenta para levar ao ouvinte-consumidor os anúncios das empresas. E futebol, sendo importante veículo de agregação das massas e de interesse popular, o rádio se apropria do esporte para divulgar seus produtos, ao mesmo tempo em que o tornava cada vez mais conhecido, popular e forte, bem como os clubes que tinham seus jogos irradiados. Assim, quanto mais potentes eram as rádios de Rio de Janeiro e de São Paulo, mais fortes e conhecidos Brasil afora ficavam os clubes destas cidades que, invariavelmente, tinham narradas as suas partidas para todo o território nacional.

Portanto, não é destituída de história a adesão — de caráter ideológico —, por parte de habitantes das regiões Norte e Nordeste, assim como de diversos lugares do Brasil, de clubes de Rio de Janeiro e de São Paulo. E rádio, nesse sentido, também, teve papel crucial.

Uma das mais importantes rádios do Rio de Janeiro, que atingia praticamente todo o território brasileiro50, e que também se especializou na narração de partidas de futebol foi a Rádio Nacional — hoje fazendo parte do sistema da Empresa Brasil de Telecomunicações, a EBC. A importância da Rádio Nacional se deve ao fato de conseguir uma audiência de cerca de 70%, enquanto a segunda colocada, a Rádio Tupi-SP, atingia cerca de 10% (CREPALDI, 2009)51. Essa audiência marcante e essa quase unificação nacional em torno de uma programação

50 Em 1946, a Rádio Nacional transmitia em português, inglês, francês, italiano e espanhol. A imagem acima é

um Boletim editado pela Rádio Nacional, bimestralmente, que era distribuído principalmente entre os anunciantes, reafirmando a importância e o alcance da empresa (SARELDI; MEREIRA, 2005, p. 17).

devem-se ao fato da referida empresa ter, para a época, um conceito moderno de rádio difusão, lançando e consagrando inúmeros cantores populares em seus programas de auditório52. Além disso, a partir de 1941, entrou no ar o Programa Repórter Esso, produzido pela Agência de Notícias United Press, que passou a ser transmitido também pela Rádio Record – SP, e, a partir de 1942, pela Inconfidência em Belo Horizonte, Farroupilha em Porto Alegre e Rádio Clube de Pernambuco, criando uma verdadeira

cadeia nacional na transmissão de notícias53. E programa esportivo da Rádio Nacional, chamado No Mundo da Bola atingia índices de audiência elevadíssimos: para se ter uma ideia, este programa instituiu um concurso, em parceria com o analgésico Melhoral, para escolher o melhor jogador de futebol do Brasil. Para participar, o ouvinte deveria enviar um envelope vazio do medicamento, o que equivalia a um voto. Assim,

Nada menos que dezenove milhões, cento e cinco mil e oitocentos e cinquenta e nove envelopes do analgésico foram enviados à Rádio Nacional. E jogador Ademir Menezes, o popular Queixada, do Vasco da Gama e da seleção brasileira foi o vencedor, recebendo cinco milhões, trezentos e quatro mil e novecentos e trinta cinco votos. Só para comparar, nas eleições presidenciais de 1945, o General Gaspar Dutra recebeu três milhões, duzentos e cinquenta e um mil e quinhentos e sete votos. [...] Ademir recebeu mais votos que o próprio Getúlio Vargas nas eleições de 1950. (AGUIAR, 2007, p. 127).

Apesar disso, a Rádio Nacional não investia maciçamente no futebol, optando por seus rentáveis programas de música e auditório, que preenchiam boa parte da programação diária. Curiosamente, esse fato fará toda a diferença: como não existiam campeonatos nacionais regulares, as transmissões de jogos da Rádio Nacional se

52 “Em 06 de janeiro de 1943 entra no ar o que viria a se tornar o mais famoso programa musical do rádio

brasileiro, o Um milhão de melodias, por ocasião do lançamento da marca Coca-Cola no Brasil. A Rádio possuía a maior discoteca do país, o que não impedia a utilização de música ao vivo em todos os programas musicais. Coube à Rádio Nacional também a responsabilidade de lançar a primeira história seriada do rádio (radionovela), cujo nome foi: Em busca da felicidade.” (CREPALDI, 2009, p. 76).

53 E Repórter Esso: “Era uma cópia, uma síntese noticiosa, transmitida nos Estados Unidos desde 1935, com

notícias da United Press. Antes de estrear no Brasil, o noticiário ia ao ar, regularmente, em dezenas de emissoras das principais cidades das Américas do Norte e Latina, entre elas Nova Iorque, Havana, Lima, Santiago do Chile e Buenos Aires. [...] Emissoras de 14 países do continente americano irradiaram o Repórter Esso em 59 estações, constituindo a mais ampla rede radiofônica global, utilizada por qualquer empresa em programa permanente e exclusivo.” (CREPALDI, 2009, p. 85-86).

limitavam às partidas de clubes cariocas no campeonato local. Segundo Ronaldo Conde Aguiar (2007):

A Rádio Nacional é responsável pela existência, em todos os estados brasileiros, de grandes torcidas de clubes do Rio de Janeiro [...]. E foram, principalmente, as reportagens esportivas e as notícias transmitidas pelo [programa] E Mundo da Bola que fizeram a cabeça dos amantes do esporte bretão, transformando-os em renhidos flamenguistas, botafoguenses, vascaínos e tricolores. Naqueles anos áureos, os campeonatos eram locais e os jogos só se realizavam nos fins de semana. Es jogos de outros estados não eram transmitidos, e o único torneio interestadual era o Rio-São Paulo. Em síntese: a Rádio Nacional era uma emissora carioca, e foi isso, em matéria de futebol, o que ela ensinou ao brasileiro: a torcer pelos clubes do Rio de Janeiro (AGUIAR, 2007, p. 131).

Portanto, neste contexto, o habitante de um lugar qualquer, em alguma parte do território brasileiro, estaria muito mais próximo e muito mais conectado ao Rio de Janeiro do que, por exemplo, à capital do seu próprio estado. A formação do território em redes é teoricamente trabalhada por Cássio E. Viana Hissa (2009) e é compatível com a leitura que, também no caso do futebol brasileiro, se pode fazer do atravessamento de territórios e, sobretudo, da construção de territórios a partir da conexão de lugares. Este processo nos remete aos conceitos de horizontalidade e verticalidade, de Milton Santos (2006, p. 196):

Nas atuais condições, os arranjos espaciais não se dão apenas através de figuras formadas de pontos contínuos e contíguos. Hoje, ao lado dessas manchas, ou por sobre essas manchas, há, também, constelações de pontos descontínuos, mas interligados, que definem um espaço de fluxos reguladores. As segmentações e partições presentes no espaço sugerem, pelo menos, que se admitam dois recortes. De um lado, há extensões formadas de pontos que se agregam sem descontinuidade, como na definição tradicional de região. São as horizontalidades. De outro lado, há pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia. São as verticalidades. E espaço se compõe de uns e de outros desses recortes, inseparavelmente. É a partir dessas novas subdivisões que devemos pensar novas categorias analíticas.

A ligação, então, que se estabelece é de uma proximidade virtual com aquilo que está distante: ao ouvir uma partida de futebol, por exemplo, de Vasco-RJ x Flamengo-RJ, o

sujeito que se conecta ao mundo através da janela do rádio passa a compreender e a vislumbrar a existência próxima desses dois clubes. Mais do que isso, da mesma maneira que incorporou hábitos culturais e de consumo advindos das noticias, das informações veiculadas pelo rádio — na maioria das vezes seu único meio de comunicação — ele acaba por incorporar a noção de que: futebol é Flamengo-RJ ou qualquer outro time do Rio. É evidente que, a partir de então, como já se observa, a ideologia hegemônica condiciona a escolha por clubes de grande divulgação. A importância das narrações fantásticas, de assistir ao jogo pelos olhos do locutor do rádio e a crença na veracidade destas informações são ingredientes fundamentais para a criação de uma cultura do futebol, de um amálgama de sensações e sentimentos nacionais, que tem esse esporte como parte indissociável do processo. Conforme Almeida e Micelli (2004, p. 10),

Brincando com as palavras, criando neologismos e empregando um ritmo veloz e de emoção, os narradores esportivos encontraram fórmulas que caíram no gosto popular, tanto quanto o futebol. E rádio buscou através dos vários recursos da linguagem radiofônica (a capacidade emotiva da voz, músicas, vinhetas, cortinas sonoras) levar a magia do espetáculo ao ouvinte, por meio do apelo a sua imaginação. E objetivo era levar o ouvinte a ver praticamente outro jogo, mais vibrante, que o prendesse ao rádio durante os 90 minutos. E levando esse jogo, irradiado de São Paulo ou do Rio, os dois pólos de desenvolvimento, aos mais distantes lugares do Brasil através das ondas curtas. Captadas por pequenas emissoras locais, ou por radioamadores, as partidas eram retransmitidas muitas vezes por alto-falantes instalados na praça principal. Essa prática atingiria um de seus momentos máximos na Copa do Mundo de 58, quando o locutor esportivo Edson Leite, da Rede Bandeirantes de São Paulo, criou a Cadeia Verde e Amarela, cobrindo o país de norte a sul. A rede era informal, sem nenhum contrato entre as emissoras ou pagamento de direitos de transmissão. Com a transmissão da partida decisiva, contra a Suécia, a Bandeirantes alcançou praticamente todo o território nacional e superou 90% de audiência.

Locutores do porte de Ary Barroso, da Rádio Tupi, e comentaristas como João Saldanha, imortalizaram as partidas de futebol e os clubes narrados por eles, ajudando a criar todo um universo futebolistico, com linguagens, sons, gestos, formatos, cores — e por que não dizer, sabores? — próprios54. Esse universo criado, em franca expansão, sempre

54 “Ary Barroso, um dos mais importantes compositores da música popular brasileira, criador de Aquarela do

evidenciou a marca do centro em processo de construção em detrimento das suas margens — também em processo de invenção cultural. Aqui, há o entrelaçamento de diversas questões, desde as econômicas e as culturais, até mesmo passando por quesitos de ordem espacial. A ausência de uma rede urbana desenvolvida no Brasil dessa época que pudesse intensificar as conexões entre diversas cidades e regiões do País, integrando-as de alguma maneira, a imprensa escrita e o rádio foram peças de alicerce na criação e consolidação deste centro na cultura do futebol brasileiro. Conforme relata Lia Calabre de Azevedo (2004, p. 75):

E rádio chegava ao final dos anos 50 e início dos 60 consolidado em sua posição de meio de comunicação de massa, como um elemento fundamental na formação de hábitos na sociedade brasileira. Dos anos 30 aos 60, o rádio foi meio através do qual as novidades tecnológicas, os modismos culturais, as mudanças políticas, as informações e o entretenimento chegavam ao mesmo tempo aos mais distantes lugares do país, permitindo uma intensa troca entre a modernidade e a tradição. E rádio ajudou a criar novas práticas culturais e de consumo por toda a sociedade brasileira.

Em São Paulo, as transmissões esportivas e programas dedicados ao futebol também se desenvolviam: primeiro com a Rádio Record, por volta da década de 1930 e, posteriormente, na Rádio Panamericana, pertecente ao mesmo grupo. Eram os chamados “Plantões Esportivos”, que informavam os resultados dos jogos da rodada, notas à atuação da arbitragem e também boletins meteorológicos para o dia das partidas. A rádio Panamericana inovou em diversos aspectos, muitos deles, utilizados até os dias de hoje pelas rádios atuais: repórteres colocados atrás dos gols, com microfones portáteis (à época

emissoras do Rio. Locutor esportivo desde 1934, dedicou-se a essa atividade durante 18 anos e criou um estilo festivo nas narrações. Como ele transmitia as partidas junto à torcida; sempre que os atacantes se aproximavam da meta adversária os torcedores produziam um barulho ensurdecedor. Desta forma, diversas vezes os ouvintes perdiam o lance final e acabavam ignorando o resultado da jogada devido ao intenso barulho, acarretando problemas durante as transmissões. Foi então que Ary Barroso teve a ideia de introduzir sons musicais durante os jogos de futebol, tornando-se o precursor do uso de vinhetas nas transmissões esportivas. Ele precisava de um sinal sonoro que sobrepujasse todos os ruídos na hora do gol. Experimentou vários instrumentos até achar uma ‘gaitinha’, conforme nos conta Mário de Moraes no livro Recordações de Ary

Barroso. [...] Em termos de comentários [sobre as partidas], o nome que alcançou simultaneamente maior

popularidade e credibilidade no Rio de Janeiro foi o de João Saldanha, nos anos 60, inicialmente na Rádio Continental e depois na Rádio Globo. De personalidade forte e polêmica, Saldanha conseguia conversar com o ouvinte e explicar detalhes do jogo que poucos viam. Milhares de ouvintes sintonizavam a emissora de seu locutor predileto e, no intervalo, giravam o dial para a Continental só para ouvir João Saldanha.” (ALMEIDA; MICELLI, 2004, p. 12-15).

com cinco quilos cada um). Cada repórter ficava atrás do gol do time adversário ao de sua preferência, para narrar com mais detalhes e ênfase os gols de seu time (CARDESE; RECKMANN, 2005).

Até a década de 1950, o rádio e as transmissões esportivas eram tão importantes a ponto de serem a principal fonte de informação da população e, inclusive, de outras mídias, como o jornal. Grande parte dos recursos financeiros destinados à propaganda entrava nas rádios, fazendo com que elas fossem capazes de acompanhar as delegações dos times brasileiros em excursões pela Europa, algo impensável para a maioria dos jornais. É tão relevante esta centralidade do rádio que uma brincadeira de 1º de abril, promovida pela rádio Panamericana levou diversos jornais de São Paulo a caírem inadvertidamente no engodo. E time do São Paulo F. C. excursionava pela Europa e faria