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O FUTEBOL BRASILEIRO E A T

T ELEVISÃO E F UTEBOL

O FUTEBOL BRASILEIRO E A T

A primeira transmissão de uma partida de futebol é controversa, pelo que se apurou: pode ter sido entre São Paulo-SP e Palmeiras-SP, no dia 15 de outubro de 1950, pela TV Tupi25, cerca de um mês após a sua própria inauguração — o que considero pouco provável; ou uma segunda data, de acordo com Sérgio Mattos (2010), que afirma que a primeira partida de futebol transmitida ocorreu no dia 18 de dezembro de 1951, entre Santos-SP e Palmeiras-SP, realizada em Santos26.

25 Mencionado em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-televisao/historia-da-televisao-no-

brasil-9.php. Acesso em 06/08/2013. Também citado por BRAUNE; RIXA (2007, p. 286).

26 Diante das enormes dificuldades técnicas da época, tanto de operação quanto de deslocamento de

equipamentos para se transmitir fora dos estúdios da TV Tupi em 1951, consideramos que estas datas devem ser, no mínimo, dignas de reconsiderações futuras. Por outro lado há uma pequeníssima passagem no texto de Daniel Baptista Madrigal (2009, p. 40), sem referências, dando conta da transmissão de uma partida de futebol, direto de Santos, pela TV Tupi, através de um link que foi instalado na Serra do Mar e que

A transmissão de uma partida de futebol requer um sofisticado aparato tecnológico, que vai desde câmeras e microfones espalhados pelo campo até a transmissão direta do jogo, via satélite, do próprio estádio. Atualmente, a tecnologia permite que as novas câmeras digitais mostrem o mesmo lance infindáveis vezes, de ângulos diferentes, em slow motion e sem perda de qualidade da imagem: a nitidez impressiona. Contudo, no início, como tudo na televisão era de improviso, também não é difícil imaginar todas as complicações para se transmitir uma partida: alto custo do equipamento, geração do sinal, precariedade de instalações nos estádios — que, obviamente, e em sua grande maioria, não tinham cabines e infraestrutura adequada para a televisão. As transmissões das partidas ainda eram de domínio quase que exclusivo das rádios e será de lá que sairão os grandes narradores e comentaristas esportivos da televisão27.

Um dos primeiros programas esportivos de que se tem notícia da televisão brasileira se chamava Grande Revista Esportiva Facit — que mais tarde se chamaria apenas

Resenha Facit — transmitida pela TV Rio em 1959 e que ocupava as noites de domingo. A

pauta era a rodada do Campeonato Carioca do final de semana. A ideia era criar uma mesa redonda, com diversos debatedores, ao mesmo estilo das mesas de debates sobre economia e política que se faziam populares naquela época. O time da Resenha Facit era composto por Luiz Mendes (apresentador e mediador), Nelson Rodrigues, João Saldanha, José Maria Scassa, Vitorino Vieira e Armando Nogueira: “Cada estrela da mesa torcia para um time. Nelson era tricolor. João, botafoguense. Vitorino, vascaíno. Scassa, rubro-negro” (SIQUEIRA, 2007, p. 221). Nelson Rodrigues, tal qual seu irmão, Mário Filho, dedicava boa parte do seu trabalho como colunista de jornal ao futebol, conforme destacado anteriormente. João Saldanha era extremamente conhecido por seu trabalho no rádio e os

retransmitiu o sinal para São Paulo. Contudo, a data apontada guarda muita coincidência com a suposta partida entre São Paulo-SP e Palmeiras-SP, ou seja, 15 de outubro, mas o ano assinalado é 1955. Outra data mencionada, bem mais confiável, é o dia 18/12/1955: “A Record, por méritos do chefe da equipe técnica, Reynaldo Paim, havia conseguido abrir um ponto na serra de Paranapiacaba para realizar a primeira transmissão intermunicipal da televisão brasileira, entre as cidades de São Paulo e Santos. Não se sabe como a informação vazou para os técnicos de Chateaubriand, que conseguiram passar o jogo entre Santos e Palmeiras, na Vila Belmiro, Baixada Santista, antes da concorrente” (CARDOSO; ROCKMANN, 2005, p. 127).

27 Mas foi só em 1956 que a televisão conseguiu transmitir uma partida interestadual. Era o dia 1º de julho.

Record e TV Rio entraram em cadeia e mostraram, ao vivo, imagens de um amistoso do Brasil contra a Itália, no Maracanã. “Essa proeza da Record impulsionou definitivamente a venda de televisores. A população começou a achar alguma vantagem em comprar aqueles aparelhos, que ainda eram novidade” (SAVENHAGO, 2011, p. 25-26). Outra confusão de datas, pois Tom Cardoso e Roberto Rockmann (2005) apontam o dia 26/06/56.

outros também tinham trajetórias nos jornais e rádios como conhecedores do futebol. Ruy Castro assim se refere a importância de João Saldanha para o rádio, onde era conhecido como “O realmente técnico”:

Saldanha revolucionou o comentário sobre futebol. Raspou o ouro parnasiano, de porta da Colombo [Confeitaria tradicional do Rio de Janeiro], que caracterizava o gênero, e impregnou-o com clima de porta de botequim. Falava ao microfone como se estivesse debruçado ao balcão da Miguel Lemos [Rua de Copacabana onde João fazia ponto para bater papo com os amigos] (SIQUEIRA, 2007, p. 219)28.

Essa predileção pelo linguajar popular, mais próximo do cidadão comum e que o imortalizou no rádio, Saldanha também levou para a televisão. O programa fez sucesso imediato e ficou no ar durante muitos anos e sempre com índices de audiência bastante elevados para o período e acabou indo para a TV Globo em 1966.

A TV Record de São Paulo, na tentativa de fazer frente ao poderio da TV Tupi, foi uma das emissoras que mais investiu em esportes, tanto programas esportivos quanto transmissão de partidas ao vivo. Um dos programas de maior audiência era o Mesa

Redonda, apresentado por Raul Tabajara e Geraldo José de Almeida e apresentava

discussões acaloradas entre dirigentes de clubes e a crônica esportiva. As transmissões de jogos eram muito complicadas e, como tudo na TV brasileira da década de 1950, muitos também eram os improvisos:

O repórter de campo não tinha retorno da base – só sabia a hora de entrar no ar depois que o motorista do ônibus de externas da emissora, Geraldo Campos, acenava com a mão para Silvio Luiz iniciar as entrevistas. Durante a partida, dois fotógrafos, cada um atrás de um gol, registravam os lances mais perigosos e polêmicos. No começo do intervalo corriam para revelar as fotos, que minutos depois eram exibidas pela televisão. Era o replay caseiro inventado pelos diretores de TV [...]. O tom descontraído das transmissões, somado aos recursos técnicos inventados

28 “João estava numa faculdade para participar de um debate com estudantes, e um rapaz perguntou: —

Saldanha, você também fala para intelectual... Porque não muda essa sua maneira de falar? João respondeu: — O intelectual só ouve rádio às vezes, quando não tem nada para fazer. Já quem está todos os dias grudado no radinho, lá no botequim, tomando cerveja, é que é minha audiência. Eu tenho que falar para ele, para que ele entenda o que estou dizendo. Se eu for rebuscar as palavras ou dizer um negócio que ele tenha que procurar no dicionário, ele vai me desligar. Ele nem tem dicionário!” (SIQUEIRA, 2007, p. 219).

[...] fizeram da TV Record a emissora predileta dos amantes do futebol (CARDOSO; ROCKMANN, 2005, p. 133-134).

As dificuldades para se assistir às partidas também eram muitas, já que as imagens eram em preto e branco e, algumas vezes, quando duas equipes tinham cores de camisas mais escuras — como Palmeiras-SP (verde) e Portuguesa-SP (vermelha) — era impossível distinguir os jogadores de cada time. No caso da Record, um filtro laranja, de plástico, passou a ser colado na lente das câmeras, permitindo que a imagem mostrada revelasse, ligeiramente, as diferenças dos uniformes.

À época, o futebol não era, nem de longe, o mega-espetáculo que se constitui hoje, tanto em nível de profissionalização de atletas quanto do aparato tecnológico, logístico e, principalmente, comercial. As emissoras de TV brasileiras ainda não tinham despertado para o imenso poder comercial que o futebol já representava: transmissões de partidas eram quase uma exclusividade do rádio. A Copa do Mundo do Chile, por exemplo, jogada em 1962 e vencida pelo Brasil, foi transmitida ao vivo por diversas rádios, mas os brasileiros precisavam esperar pelo menos quarenta e oito horas para assistir ao vídeo teipe dos jogos. Por outro lado, os principais canais que operavam em São Paulo, por volta de 1964 — TVs Record, Tupi e Paulista —, transmitiam quaisquer partidas que desejassem, simultaneamente inclusive, sem que se pagasse absolutamente nada por isso. O presidente da Federação Paulista de Futebol — FPF — à época, Mendonça Falcão, exigia das emissoras o pagamento pela transmissão dos jogos do Campeonato Paulista, principalmente sob a alegação que, ao exibir os jogos na TV, as emissoras tiravam, pelo menos, ⅓ dos torcedores do estádio: neste momento, o dinheiro das bilheterias era praticamente o único recurso dos clubes de futebol para manterem suas equipes profissionais. Esta polêmica foi tão grande que a discussão chegou a Brasília: o deputado Pedro Marão (PTN-SP), representando os grandes grupos de transmissão, fez lobby no Congresso, apresentando à Câmara Federal projeto de lei que obrigava as TVs a transmitir jogos de futebol e estipulava um pagamento irrisório aos clubes. O presidente da Confederação Brasileira de Desportos — CBD — João Havelange, rival histórico da FPF, apoiou as agremiações em seu pleito, até porque desejava o mesmo para o Campeonato Carioca. A TV Record, em especial, se beneficiava sobremaneira da gratuidade das

transmissões, já que as tardes de domingo eram extremamente rentáveis a emissora com as exibições dos jogos. No final, prevaleceu o interesse dos clubes, ainda que as emissoras pudessem escolher livremente uma partida por semana para transmitirem sem custos

(CARDOSO; ROCKMANN,

2005).

Todavia, em outros países, principalmente do hemisfério norte, o futebol era visto como um grande e rentável negócio; e isso se configurará em um problema, por exemplo, para a Rede Globo, em 1969, véspera da Copa do Mundo no México. De acordo com Walter Clark (1991), executivos da Televisa, maior rede de televisão daquele país e que detinha os direitos de transmissão dos jogos, vieram ao Brasil negociar a retransmissão da Copa pelas emissoras locais — ainda não se discutia a exclusividade dos direitos de retransmissão, como hoje, mas, apenas de geração e transmissão das imagens. Os referidos executivos praticamente impuseram um contrato pouco vantajoso para as emissoras, já que os espaços publicitários durante as partidas seriam ocupados apenas pelos anunciantes internacionais da Televisa. O contrato somente pôde ser alterado através de uma falsa ameaça da retirada do Brasil da Copa. O mais interessante desta novela mexicana não é a astúcia dos executivos brasileiros na hora do blefe. Eles tiveram a percepção, absolutamente correta por parte da TV mexicana do poder comercial do futebol e, principalmente, dos prejuízos que se abateriam sobre a Televisa caso o Brasil — já na época bicampeão mundial e com renomadas estrelas

internacionais, como Pelé — não participasse. Essa Copa foi transmitida em cores. Na figura, cartaz alusivo à realização dos jogos de 1970.29

A transformação do futebol em um grande negócio foi sedimentada, de fato, a partir da década de 1970, com a venda dos direitos de geração, transmissão e retransmissão das imagens das partidas das Copas do Mundo. Para tanto, também contribuiu o brasileiro João Havelange30, que se tornou presidente da FIFA em 1974, depois de haver presidido a antiga Confederação Brasileira de Desportos — CBD31 — hoje CBF, por muitos anos. Tanto por seus críticos quanto por seus admiradores é consenso que Havelange revolucionou a administração do futebol, principalmente dos jogos das seleções, atraindo patrocinadores e consolidando a estrutura hierárquica e de poder existente até hoje: federações municipais ou ligas que se submetem as Federações Estaduais –> Confederações Nacionais –> Confederações Supra Nacionais (como a Conmebol, para a América do Sul e UEFA, para a Europa) –> FIFA. Esta estrutura permite um gerenciamento quase total das regras, dos jogos, dos clubes e dos campeonatos oficiais que são chancelados por estas Federações, em seus respectivos níveis de atuação e não permite nenhuma modificação, acréscimo ou supressão de absolutamente nada relacionado ao futebol que não passe por esta estrutura de poder. De acordo com Andrew

Jennings (2006), João Havelange conseguiu, durante seu primeiro mandato, o patrocínio

da Coca-Cola que o ajudou a financiar seus projetos de expansão do negócio futebol:

[...] dieron un golpe maestro al persuadir a Coca-Cola, una de las más poderosas firmas mundiales, a hacer grandes inversiones en los proyectos expansionistas de Havelange. Ayudaron a financiar

29 Fonte: http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/arquibancada/artigo/1043 Acesso em 22/06/2012.

30 Para a Revista Carta Capital: “Se Havelange tem um ponto positivo em sua trajetória, esta é a de levar o

futebol para os países pobres. Mas sua mentalidade de que o esporte é, acima de tudo, negócio [que] também levou a Fifa a fazer amizades com ditadores sanguinolentos, que usavam o futebol para a promoção de seus respectivos regimes. A modalidade poderia servir a quem quisesse, desde que os negócios fossem proveitosos para a Fifa. Foi na gestão dele que o esporte bretão se transformou em uma mina de dinheiro. O futebol como um produto para o lucro fez da Fifa uma entidade internacional desorganizada, nas mãos de poucos e nebulosa, que não presta contas a praticamente ninguém. Tão nebulosa que permitiu ao seu hoje ex- presidente demorar mais de uma década para ser punido por um crime que, segundo a imprensa do Reino Unido, cometeu. Aos 95 anos de idade, João Havelange tem, enfim, a mancha que faltava em seu currículo”. http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-outono-de-joao-havelange-o-homem-que-negociou-o-futebol/. Acesso em 06/12/2011.

31 João Havelange foi eleito presidente da Confederação Brasileira de Desportos em janeiro de 1958,

entrenamientos, nuevos torneos, cursos para árbitros y toda clase de cosas positivas. A cambio, la Coca-Cola consiguió que su logotipo estuviera bien visible durante toda la Copa del Mundo. Una vez que Coca-Cola hubo firmado el contrato, todo el mundo quiso meter la mano. Los patrocinadores compitieron por el derecho a utilizar el distintivo de la FIFA y grabar en sus productos las palabras “Copa del Mundo” (JENNINGS, 2006, p. 28-29).

Todavia, se a televisão ao redor do mundo já reconhecia o poder do futebol enquanto negócio, a própria FIFA, antes de João Havelange, não tinha a dimensão de sua importância32. Para se ter uma ideia melhor, em meados de 1974, a FIFA recebia cerca de 4% a 5% dos direitos de transmissão das Copas pela televisão. Na Copa da Alemanha daquele ano a entidade recebeu cerca de 80 milhões de dólares. O contrato com a Coca- Cola renderia cerca de 7 milhões de dólares a cada quatro anos, irrisória para os padrões da entidade nos dias de hoje33 (RODRIGUES, 2007). Desta forma, estava traçado o destino do futebol como um grande negócio, em escala mundial e com a participação de diversas multinacionais interessadas em vincular suas marcas ao esporte. No Brasil, mesmo que um pouco mais tarde do que em países mais centrais, a televisão também terá importante papel na espetacularização do futebol, já a partir do início da década de 1970.

O impacto da conquista brasileira no México, vencendo o tricampeonato da Copa do Mundo é largamente utilizado em dezenas de estudos que apontam a sua apropriação pela Ditadura Militar como forma de transformar a vitória do futebol em uma vitória do regime. De nossa parte, é importante situar que esta participação do Brasil proporcionará um arrebatamento da população brasileira, unindo, ainda que por pouco tempo, setores conservadores e progressistas, esquerda e direita, ricos e pobres nas comemorações34. Para

32 Em 1965 houve um projeto de Lei Federal que regulamentava as transmissões de futebol pela TV que previa

um pagamento quase simbólico de direitos aos clubes, sob a premissa de que os clubes já recebiam pela venda de ingressos (RODRIGUES, 2007).

33 “O poder sobre o esporte mundial não é coisa à toa. No final de 1994, falando em Nova York para um

círculo de homens de negócios, Havelange confessou alguns números, o que nele não é nada frequente: — Posso afirmar que o movimento financeiro do futebol no mundo alcança, anualmente, a soma de 225 bilhões de dólares” (GALEANO, 2004, p. 145).

34 Por outro lado, por parte da imprensa escrita, em especial a Revista Placar, até hoje uma revista

especializada em esportes, em especial o futebol, do Grupo Abril, questionava um certo regionalismo carioca na configuração da equipe brasileira de 1970: “Na edição do dia 3 de Julho de 1970 a Placar aborda a comemoração em vários Estados brasileiros após a conquista do tricampeonato mundial de futebol. A Placar cita a alegria da cidade do Rio de Janeiro, a união entre as torcidas do Rio Grande do Sul e Minas Gerais e destaca a decepção da torcida paulista devido à ausência de importantes jogadores e da taça na comemoração.

além de algumas versões maniqueístas de alguns textos que apontam este caso em particular como emblemático na construção da célebre frase “o futebol é o ópio do povo”35 e de tudo o que ela supostamente possa representar, nos interessa apontar que a televisão brasileira finalmente se dá conta da importância comercial do futebol e de sua capacidade de emular multidões em torno de um ideal. A partir daqui, torna-se claro para as emissoras que o futebol precisava ser tratado com mais profissionalismo já que as possibilidades comerciais deste produto estavam apenas se revelando: no limite isto levará ao endividamento dos clubes e uma posição rotineiramente subalterna e dependente frente às televisões, seja na organização dos campeonatos, seja na imposição dos dias e horários das partidas, como veremos mais tarde. Mas, longe do que possa parecer, o futebol não estará presente na programação dos canais apenas nas resenhas esportivas ou nas transmissões dos jogos: ele fará parte, também, de pequenas ou grandes inserções em praticamente todos os programas de TV, das novelas aos noticiários esportivos, como veremos a seguir.

Sobre esta questão a revista Placar assume-se paulista e questiona: ‘Paulista não é brasileiro? Não tem direito de ver a taça que nossos jogadores ajudaram a ganhar no México?’ (Placar, 16, 1970, p. 03). Na edição publicada no dia 10 de Julho de 1970, após noticiar a grande operação militar para a chegada da taça em São Paulo, Placar afirma: ‘Porque São Paulo é sempre marginalizado pela CBD? Porque a CBD não tem sede em Brasília?’ (Placar, 17, 1970, p. 38). Nota-se que, indiretamente, a Placar questiona certo favorecimento ao Estado do Rio de Janeiro, local sede da CBD, entidade máxima do futebol brasileiro. Desta forma a publicação

sugere a transferência da CBD para um local mais ‘neutro’”.

http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/arquibancada/artigo/1043. Acesso em 26/06/2012.

35 “O ópio dos povos? Em que o futebol se parece com Deus? Na devoção que desperta em muitos crentes e na

desconfiança que desperta em muitos intelectuais. Em 1880, em Londres, Rudyard Kipling desdenhou o futebol e as ‘almas pequenas que podem ser saciadas pelos enlameados idiotas que jogam’. Um século depois, em Buenos Aires, Jorge Luis Borges foi mais sutil: proferiu uma conferência sobre o tema da imortalidade no mesmo dia, e na mesma hora, em que a seleção argentina estava disputando sua primeira partida na Copa de 78. O desprezo de muitos intelectuais conservadores se baseia na certeza de que a idolatria da bola é a superstição que o povo merece. Possuída pelo futebol, a plebe pensa com os pés, como corresponde, e nesse gozo subalterno se realiza. O instinto animal se impõe à razão humana, a ignorância esmaga a Cultura, e assim a ralé tem o que quer. Por outro lado, muitos intelectuais de esquerda desqualificam o futebol porque castra as massas e desvia sua energia revolucionária” (GALEANO, 2004, p. 40-41).