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No documento Roger Scruton - Estetica da arquitectura.pdf (páginas 122-130)

FIGURA 40: Francesco Borromini: Oratorio di San Filippo Neri

modesta vitalidade é representada com um estado interior. Considerem-se, por exem plo, o repousante corredor, no qual penetra subitamente uma janela recortada, sem perturbar as estudadas e reflectídas características da estrutura, ou a sala de diversão, com a delicada chaminé e os ornamentos subtis que criam um espaço iluminado e uma brancura estranhamente móvel da parede, que parece o sím bolo perfeito de interioridade (Figuras 42-4). Não há dúvida de que, quando Borromini escreveu sobre a necessidade estilística de fantasU- care ( ,6), queria referir-se, não a uma arbitrária profusão de formas exuberan­ tes, mas sim à constante necessidade de alterar e corrigir, de fazer gestos audazes e variações permanentes e, assim, transformar a invenção decorativa em arte expressiva.

FIGURA 41: Francesco Borromini Oratória dt San FiJippo Neri

Falar deste modo do Oratório de Borromini é arriscarm o-nos a o fe n d e r o purista arquíicctura! Dísse-se que interpretar um edifício em term os de nm a -ideia- subjacente, é entregar-se a uma rapsódia irrelevante que não tem qualquer relação com as qualidades visuais do edifício, ou então é apenas empreender uma especulação fantástica e inverificável acerca da psicologia do arquitecto ( l?j. Mas Borromini não tinha, por certo, intenção de que víssem os a sua obra de modo que sugeri e, m esm o que tivesse essa intenção, isso seria puramenre episódico para a qualidade estética do seu edifício (1S). Um a vez que conhecemos bem as interpretações sim plistas do gótico, que surgiram numa rápida sucessão no campo da história arquitectural; estam os talvez um pouco relutantes agora para conceder relevância à critica arquitecruntl da -história tias ideias». Contudo, no nosso afii de desacreditar os fanatism os entusiásticos dus nossos antepassados, não nos devíam os refu g iar no puro hedonismo, excluindo totalmcrue as ideias da discussão da arquirectura» visto

FIGURA 42: Francesco Borrorrdni: Omiorio di San Filippt? Nefi

que elas nos conduzem a um interesse por ela. Devíamos compreender que, quando relacionamos, deste modo, a nossa experiência visual com uma ideia abstracta, não estamos necessariamente a descrever as intenções do arqukecto, nem estamos a propor uma interpretação definitiva, irrefutavelmente válida para todas as sucessivas épocas. Estamos antes a tentar mostrar que o conhecimento do espectador e a simpatia por um determinado estado de espírito, podem modificar e enriquecer a percepção de ura edifício. À validade dessa tentativa deve apoiar-se não na intenção do aiquitecto mas na transfor­ mação da experiência do espectador. Para que uma ideia seja um instrumento bem sucedido da critica tem de encontrar uma correspondência circunstan­ ciada, e não meramente esquemática, nas nossas percepções.

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FIGURA 44: Francesco Borromini: Oratorio di San Filippo Neri

Até agora, estes pensam entos são vagos e vou continuar a clarificá-los. Mas já podem os ver neles as forças e as fraquezas da critica histórica d a arte que foi discutida no capítulo 3. Por um lado, é verdade que um a com preensão histérica pode transform ar a nossa experiência de arquitectura; p o r outro, não pode presum ir-se, antes de uma descrição critica do caso individual, que essa transformação seja possível ou razoável. Não podem os chegar m ecanicam ente a um significado histórico, devolvendo sim plesm ente cada objecto ao ninho de ideias e sentimentos que rodearam o seu nascim ento. Â relação de um edifício com uma interpretação histórica, espiritual ou m oral é um a realização critica; é criada pelo crítico ao traçar com parações e derivar significados que penetram no mais ínfimo porm enor de com preensão arquitectural. (Essa crítica é rara na discussão da arquitectura, pof razões que foram m encionadas no 1° capítulo. Entre os poucos exemplos,, podem m encionar-se, de novo, o estudo de Panofsky sobre o estilo gótico e a descrição de Ruskin do Palácio dos D oges.) E é claro que essa transformação crítica só pode ser conseguida em relação a certos ed ifício se, sobretudo, aos de carácter público ou sim bólico. A critica do lugar-com um ou do estilo vernáculo tem de fazer uso de outros conceitos e não das elevadas abstracções da história d a arte. Uma das principais questões que irei considerar na segunda parte deste livro, é a do que é com um nos procedí m eutos críticos. Que tipo de ^ significado*» descobre o critico? E por q u e deve ele ser uma im portante da experiência arquitectural?

Foi revelado um ponto significati vo nesta discussão: a conexão* n o gosto estético, entre experiência, preferência c pensam ento é, em certa medida*

inextricável. Nenhuma delas pode» em caso algum, ser verdadeirameme separada das outras, ou o significado e valor duma ser completamente caracterizado sem a referencia ao significado e valor da® outras. O feitor compreenderá m elhor se fizermos de novo uma breve referencia às doutrinas funrionaiistas e nos perguntarmos como podem ser libertadas do estéril <z priorismo daqueles que as defendem e como lhes poderemos dar um

fundamento crítico sério.

Ora, o único impulso forte por detrás do movimento funcionalista era a revolta contra o ornamento supérfluo ou «mütil*. Já vimos que Âlberú julgou conveniente — e por muito boas razoes — separar beleza e Ornamento, separar o que é próprio da compreensão arquítectural do que ©pão é. E , çomó também vimos, o funcionalista propõe uma explicação daquilo em quç consiste a compreensão aiquitecturaf, unia explicação que possa ser aplicada passo a passo n a crítica de edifícios individuais. Os revivalistas do gótico (bastante páradoxalmente) foram quem primeiro déu uma forte expresso à doutrina, e quem primeiro a dirigiu contra o inútil acréscimo de ornamentos em detrimento da estrutura e da forma. Paia Pugín e seus seguidores ( T^) erá intolerável que se pensasse no pormenor arquitectómco como puramente ornamental, uma superfície vã, cravada numa estrutura funcional, mas destacável da verdadeira estrutura do edifício. Parecia intolerável, por exem* pio, que se pudessem ter dois edifícios de estrutura idêntica, um no *estílo» gótico e outro puramente «.clássico», como se o «estilo» fosse simplesmente uma questão de folheado escultural e não de realização da arquitectura. (Comparem-se, de novo, os dois projectos de Schinkel para a Werdersche Kirche, Figuras 7 e 8, Pàg< 50). Em oposição a essas sugestões, Pugih - e e Ruskin em The Stones o f Vénice — tentaram demonstrar conto os detalhes ornamentais e estilísticos do gótico não eram, de forma alguma, vâs superfi­ cialidades, mas, pelo contrário, desenvolvimentos naturais, e mesmo inevitá­ veis, dos requisitos estruturais e sociais que os construtores góticos tinham de encontrar. Ruskin foi mais longe (20), tentando mostrar qué o amor àipedra, que é a única origem de todo o ornamento sério, e o respeito pclá boa construção, têm unta origent idêntica; que pptpcessorie c o n s tip e o^tocesso dc ornamentar são partes contíguas de uma úniça actividade e não <kvem ser entendidos independentemente. Não existo uma apreciação do omamento que não seja, ao mesmo tempo, um a apreciação da fúâçãó,

Pára com preendeimos a foi^acrítica dessa ^

distinção entre estrutura real e função real, po r úffí lado, ç aquilo a quê podemos cham ar — utilizando um termo dê Suzaime Eanger f ? 1) — estrutura virtual e função virtual, por outro. Isto-4 , fazemos uma distinção —. óbvia ã luz da discussão do capítulo 3 etítre^còmo u m tè É íiç ^ ^

e como essa constniçâo é sen A nossa d is ç ttá ^ ^ a estrutura real é in ^ le v a h tê ^ p a ra ^ a |^ ^ é s te tic á * ^

que forrevelada N íasçcam

scr parte de toria áptofnçiá?

FIGURA 45: «Le Roi Soleil*, popa

do século XVII em belezada com todos os m agníficos o rgam entos do barroco dfcsse tempo (ver Figura 45 — adaptada livrem ente de L e R oi S o le il) . É pouco provável que esta com posição, se colocada na fachada de um a ca sa , nos píarecesse de bom gosto ou harmónica* E pode dizer-se plau siv elm en te que pàrte d a explicação estaria no consequente abuso da estru tu ra virtual. Pòr m elhor apoiado que esse gigante pudesse estar em terra, a sua estrutura aparente só tem um sentido próprio quando assente num a ubíqua alm ofada d e mar. Temos de ver o barco apoiado desta form a, flutuando liv re m en te , de forma que as pi lastras e linhas estruturais pareçam ligar os estrados horizon­ tais^ Assim , não parecem * apoiar* directam ente as horizontais , co m o parece-

riam ííc clc estivesse rigidamente fixado na terra» O exemplo mostra, penso eu> como a nossa concepção de estrutura se traduz de imediato na experiência e como a nossa consciência dos veetores estruturais pode esítar inextricavelmenfe relucionada c o m o sentido do que é esteticamente correcto» Gomo parte de uma casa, a estrutura dada seria bolbosa e incoerente» Gomo ura barco flutuando livremente no oceano é a própria perfeição de harmonia: todos os pormenores sc ajustam perfeitamente»

FIGURA 46: Michelozzo Miche lozzi- Palácio M ediei. Florença, pátio

A questão a que o critico funcionaiista tem agora de responder, é até que ponto se pode alargar o seu aperçu crítico. Naturalmente, as suas possibilida­ des de aplicação não têm limites» À estrutura virtual está no centro da nossa experiência sempre que aceitarmos ou rejeitarmos um novo progresso na arquitectura. Foi isto — muito mais do que qualquer desejo corbusieriano de campos de futebol sem fim — que deu origem ao gosto por torres de vidro erguidas sobre pilares. Se tem de haver torres altas, pelo menos que se construam de forma que não pareçam abater sobre o observador um peso esmagador. À composição aceite, nos exemplos mais bem sucedidos (por exemplo, os de Mies Van Der Rohe), obriga-nos a ver o edifício como uma tela iluminada ou uma cortina enfiada numa tênue fita de força ascendente e inquebrável. Em todos os períodos da história, foi através do problema da estrutura virtual que cada novo cânone de gosto visual foi forçado a envolver-se e a comprometer-se. Comparem-se os cantos desamparados do pátio de Michelozzo no Pâlazzo Mediei ~ uma tentativa de transformar o calmo ritmo de Bruneilescbi no Innocenti de forma recta em quadrangular, que conduz a uma estranha amálgama das arquivoltas e a um sentido de fraqueza

FIGURA

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: Palazzi* Venezia. Roma, pasio

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