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3 PLURIATIVIDADE NO CAMPO: O NOVO RURAL E O IMPACTO DE

3.4 ENERGIA EÓLICA: UMA ALTERNATIVA DE SUSTENTABILIDADE

Segundo o Atlas de Energia Elétrica do Brasil192, denomina-se “energia eólica a

energia cinética contida nas massas de ar em movimento (vento)”. O vento tem a sua origem na associação entre a energia solar e o movimento de rotação do planeta, em um mecanismo solar-planetário permanente193.

Para o aproveitamento eólico, converte-se a “energia cinética de translação em energia cinética de rotação, com o emprego de turbinas eólicas [...], para a geração de energia elétrica, ou através de cataventos e moinhos para trabalhos mecânicos, como bombeamento de água”194.

A história do aproveitamento dos ventos tem data imprecisa, e ocorre há milhares de anos no Oriente. Utilizava-se a força aerodinâmica de arrasto para produzir trabalho. A partir da Idade Média, foi utilizada nas navegações, na moagem de grãos, em serrarias e no bombeamento de água. Com a expansão da utilização de máquinas a vapor, no século XIX, os moinhos de vento europeus caíram em desuso. Já no Estados Unidos, após a abolição da

191 FREITAS, Jackeline Carminda Cabra de; SIQUEIRA FILHO, Valdemar. Semiárido nordestino: os impactos

da extração de petróleo no município de Mossoró (RN). Revista Direito GV, São Paulo, v. 14, n. 3, set./dez. 2018. Versão on-line.

192 ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 2002. p. 81. 193 CEPEL. Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. Brasília: CEPEL, 2001. p. 13. 194 ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 2002. p. 81.

escravatura (em 1863), houve a disseminação de cata-vento para o bombeamento de água e, a partir da década de 1930, a utilização de pequenos aerogeradores para o carregamento de baterias, propiciando o acesso à energia no meio rural. Com o incremento das redes de eletrificação, a produção dessas máquinas foi gradualmente descontinuada entre as décadas de 1950 e 1960195.

O evento que fomentou a retomada de pesquisa por meios alternativos196 de produção

de energia, foi a crise do petróleo de 1970, o que levou diversos países a buscar segurança energética e a redução da dependência de combustíveis fósseis.

No mais, a preocupação ambiental e com os recursos naturais começou a ganhar força na década de 1980, com o relatório Brundtland (1987), elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ONU), o qual consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”197.

Cumpre observar que essas políticas púbicas para incentivo de fontes de energias alternativas e renováveis, em detrimento de fontes poluentes, é obrigação do Estado brasileiro, afinal, a promoção do desenvolvimento sustentável visando assegurar a todos um meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, para as presentes e futuras gerações, é comando constitucional desde a Carta de 1988, aliás, o primeiro documento político brasileiro a tutelar expressamente o meio ambiente.

De fato, a Constituição consagra a ética da solidariedade entre as gerações, criando a responsabilidade ambiental entre as gerações, proibindo as presentes de fabricar a escassez e debilidade para as futuras198.

Essa obrigação em busca do desenvolvimento sustentável foi reforçada com a assunção de compromissos internacionais, a exemplo da ECO-92, Protocolo de Quioto (1997), Declaração do Milênio das Nações Unidas (2000) e, mais recentemente, com a Agenda 2030 (2015) e os seus Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

195 CEPEL. Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. Brasilia, CEPEL, 2001. p. 13.

196 Cumpre distinguir duas expressões por vezes tratadas como sinônimas. Assim, não se deve confundir fonte

alternativa com fonte renovável. A primeira refere-se a uma fonte que representa opção nova ou inovação em uma determinada matriz energética. A segunda, refere-se à renovabilidade, que é propriedade física do objeto, que não se esgota pelo uso. In: DANTAS, Hugo Werner Fortunato. Desenvolvimento energético e energia eólica na ordem jurídica do Brasil: aspectos institucionais e socioambientais. 2013. 189 f. Dissertação (Mestrado em Constituição e Garantia de Direitos) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013. p. 70.

197 Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente/. Acesso em: 21 maio 2020.

Por fim, aponte-se que o desenvolvimento sustentável não se refere somente à proteção de recursos ambientais, mas objetiva, a longo prazo, a manutenção e o desenvolvimento dos bens econômicos e sociais comuns199, visando assegurar a todos uma existência digna.

Dentre as opções de fontes alternativas, renováveis e não poluentes, hoje muito se destaca a eólica.

A vantagem da energia eólica é que ela é alternativa à matriz energética principal, podendo complementá-la (e eventualmente superá-la), e é decorrente de fonte renovável de energia, diferentemente dos combustíveis fósseis, que também são extremamente poluentes.

Atende aos princípios da eficiência energética, diversificação da matriz energética, estímulo à inovação e o não retrocesso no uso de tecnologias, acesso universal à rede de distribuição de energia e liberdade energética200.

No mundo, a primeira turbina eólica comercial ligada à rede elétrica pública foi instalada na Dinamarca, no ano de 1976.

No Brasil, a primeira turbina eólica foi instalada em junho de 1992, no arquipélago de Fernando de Noronha, a primeira de grande porte em operação comercial na América do Sul, resultado da parceria do Centro Brasileiro de Energia Eólica, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Companhia Energética de Pernambuco (CELPE), com financiamento do instituto de pesquisa dinamarquês Folkecenter201.

O conjunto, onshore ou offshore, constituído por aerogeradores, edifício de comando, subestação (instalação elétrica de média ou alta potência, com equipamentos, condutores e acessórios para transmissão e distribuição de energia elétrica) e caminhos de acesso às estruturas, é chamado parque eólico ou usina eólica.

A primeira usina eólica do Brasil foi instalada em 1994, no Município de Gouveia, em Minas Gerais, com capacidade nominal de 1 MW (a central era constituída por 4 turbinas de 150kW). Denominada Central Eólica Experimental do Morro do Camelinho, trata-se de projeto da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) com apoio financeiro do governo alemão202.

199 SILVA, Kathy Aline de Medeiros; XAVIER, Yanko Marcius de Alencar. A utilização das energias renováveis

para a consolidação do desenvolvimento sustentável. In: ALVES, Fabrício Germano; GUIMARÃES, Patrícia Borba Vilar; XAVIER, Yanko Marcius de Alencar (orgs.). Direito das energias renováveis e desenvolvimento. Natal: EDUFRN, 2013. v. 7, p. 15.

200 DANTAS, Hugo Werner Fortunato. Desenvolvimento energético e energia eólica na ordem jurídica do Brasil:

aspectos institucionais e socioambientais. 2013. 189 f. Dissertação (Mestrado em Constituição e Garantia de Direitos) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.

201 ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 2002. p. 71. 202 ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 2002. p. 72.

A primeira experiência de parque eólico construído e operado por um produtor independente de energia, e também a primeira experiência em dunas na América do Sul, entrou em operação em janeiro de 1999. É a Central Eólica da Taíba, no município de São Gonçalo do Amarante, no Ceará, com 5 MW de potência instalada (com 10 turbinas de 500kW)203.

Perceba-se o caráter experimental desses primeiros projetos e a participação estatal em seu desenvolvimento. O alto custo204 e o estágio de desenvolvimento dessa tecnologia em

relação às tecnologias tradicionais disponíveis no mercado conferiam à energia eólica uma característica de baixa competitividade, que deveriam ser resolvidas por incentivos econômicos e regulatórios205, ou seja, políticas públicas específicas.

No Brasil, a crise energética de 2001206 forçou o Governo Federal a incentivar a

contratação de energia eólica. Criou-se por meio da Resolução nº 24, de 5 de julho de 2001, da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (CGE)207, o Programa Emergencial de Energia

Eólica (PROEÓLICA), que tinha por objetivos viabilizar a implantação de 1.050 MW, até dezembro de 2003, de geração de energia elétrica a partir de fonte eólica, integrada ao sistema elétrico interligado nacional; promover o aproveitamento da fonte eólica de energia, como alternativa de desenvolvimento energético, econômico, social e ambiental; e promover a complementaridade sazonal com os fluxos hidrológicos nos reservatórios do sistema interligado nacional. A operação se daria pela garantia de compra de energia pela Eletrobras (ou suas subsidiárias) por um período de 15 anos. O PROEÓLICA fracassou e não foi contratado nenhum empreendimento eólico208.

203 ANEEL. Atlas de energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 2002. p. 73.

204 “As tecnologias de energia renovável são intensivas em capital, e a maior parte do investimento concentra-se

na fase inicial do projeto - o custo dos equipamentos corresponde a até 75% do investimento total de um parque eólico”. In: SIMAS, Moana Silva. Energia eólica e desenvolvimento sustentável no Brasil: estimativa da geração de empregos por meio de uma matriz insumo-produto ampliada. 2012. 220 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em Energia, EP/FEA/IEE/IF, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 36.

205 SIMAS, Moana Silva. Energia eólica e desenvolvimento sustentável no Brasil: estimativa da geração de

empregos por meio de uma matriz insumo-produto ampliada. 2012. 220 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Programa de Pós-Graduação em Energia, EP/FEA/IEE/IF, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 25.

206 Conhecida como o Apagão de 2001, foi uma crise energética que afetou o fornecimento e distribuição de energia

em todo o país, ocasionado pela falta de planejamento e investimentos em geração e transmissão.

207 Órgão criado pela Medida Provisória nº 2.198, de 24 de agosto de 2001, com o objetivo de propor e implementar

medidas de natureza emergencial decorrentes da atual situação hidrológica crítica para compatibilizar a demanda e a oferta de energia elétrica, de forma a evitar interrupções intempestivas ou imprevistas do suprimento de energia elétrica.

208 “De acordo com WACHSMANN e TOLMASQUIM (2003) o valor de compra estabelecido pela ANEEL para

os anos de 2001 e 2002 foram, respectivamente, R$ 112/MWh e R$ 72,35/MWh. De acordo com os autores, este valor de compra era inferior aos custos da geração da energia eólica no Brasil que se encontrava entre R$ 01,40/MWh e R$ 218,00/MWh. DUTRA (2007) outros dois fatores que impossibilitaram o sucesso do programa: I) curto espaço de tempo entre o lançamento do programa e prazos curtos para habilitação para que os empreendedores conseguissem os benefícios associados aos índices dos valores de compra; e II) inexistência de regulamentação com definição clara e consistente para mostrar aos agentes os benefícios do programa. Além disso, a barreira tecnológica e ausência de fabricantes de equipamentos no Brasil dificultaram o sucesso do programa”.

Esse programa foi substituído pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), criado pela Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2012, e que tinha por objetivo aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos de Produtores Independentes Autônomos, concebidos com base em fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa, no Sistema Elétrico Interligado Nacional. O programa foi concebido em duas etapas, uma para implantação e geração a curto prazo e outra de longo prazo. A primeira fase previa a implantação de 3.300 MW de capacidade (para todos esses tipos de aproveitamento energético), em instalações de produção com início de funcionamento previsto para até 30 de dezembro de 2006, assegurando a compra da energia a ser produzida no prazo de 15 (quinze) anos, a partir da data de entrada em operação definida no contrato209. O Proinfa

contou com linha especial de financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O Proinfa é considerado a primeira fase da expansão eólica no Brasil. Contribuiu para a instalação da indústria de componentes e turbinas eólicas no Brasil com exigências de conteúdo nacional para os aerogeradores fruto desse programa210. Dos 54 empreendimentos

contratados pelo Proinfa, apenas 2 não entraram em operação comercial e tiveram seus contratos rescindidos. Os empreendimentos em operação totalizaram 1.282,52 MW de potência instalada211.

A segunda fase do Proinfa previa que as fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa atendessem a 10% do consumo anual de energia elétrica no País, objetivo a ser alcançado em até 20 (vinte) anos. Contudo, tal etapa não foi implementada. É que a melhoria das tecnologias e diminuição dos custos fez o Governo Federal buscar outra forma de promoção das energias renováveis, por meio dos leilões de energia, que objetivavam a expansão da capacidade instalada no sistema e, por intermédio do processo competitivo, a redução dos preços de contratação (modicidade tarifária). Os vencedores assinaram contratos de 20 anos

In: OLIVEIRA, Carlos Eduardo Cruz Lopes de. Avaliação do impacto da alteração das condições de financiamento sobre a energia eólica no Brasil: evolução e perspectivas. 2019. 180 f. Dissertação(Mestrado em Planejamento Energético) – Programa de Pós-Graduação em Planejamento Energético, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. p. 23.

209 Em alterações legislativas posteriores, prorrogou-se o prazo até dezembro de 2008, assegurando a compra da

energia a ser produzida no prazo de 20 (vinte) anos, a partir da data de entrada em operação definida no contrato.

210 Disponível em: http://abeeolica.org.br/energia-eolica-o-setor/. Acesso em: 21 maio 2020.

211 OLIVEIRA, Carlos Eduardo Cruz Lopes de. Avaliação do impacto da alteração das condições de

financiamento sobre a energia eólica no Brasil: evolução e perspectivas. 2019. 180 f. Dissertação(Mestrado em Planejamento Energético) – Programa de Pós-Graduação em Planejamento Energético, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. p. 27-28.

com as distribuidoras participantes do certame, garantindo aos participantes previsibilidade no fluxo de caixa, facilitando a obtenção de financiamentos212.

No final de 2009, ocorreu o primeiro leilão de comercialização de energia voltado exclusivamente para a fonte eólica, o Leilão de Energia de Reserva (LER), em que houve a contratação de 1,8 GW e possibilitou a realização de novos leilões em anos seguintes. As instalações começaram a se intensificar a partir de 2011213.

De fato, observa-se o vertiginoso crescimento da exploração de energia eólica no Brasil. De 22,1 MW em 2005 de capacidade instalada em 2005, o Brasil passou para 15.449,2 MW no final de 2019. A matriz eólica corresponde a 9% da matriz energética brasileira, atrás somente da geração hidrelétrica214.

Hoje o Brasil conta com 15,6 GW de capacidade instalada em 624 parques eólicos, com um total de 7.621 aerogeradores, distribuídos em 12 estados da federação215. Foram

gerados 55,9 Twh de energia eólica em 2019, o que corresponde a 9,7% de toda a energia injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN) no ano. Trata-se de um crescimento de 15,5% em relação ao ano anterior. Essa energia gerada no ano de 2019 tem capacidade para atender 29,5 milhões de residências por mês, beneficiando 88,5 milhões de habitantes216.

Cerca de 88,8% da energia consumida no subsistema Nordeste veio das eólicas, sendo a região que concentra cerca de 80% dos parques eólicos brasileiros217. O Estado do Rio Grande

do Norte continua como o maior detentor de capacidade instalada do Brasil, com 4.319,5 MW em 159 parques218.

O potencial brasileiro para a produção de energia eólica é estimado, com a atual tecnologia, em 500GW (sem contar a potencialidade offshore). Decorre das peculiares características dos ventos sobre o território nacional, que apontam um fator de capacidade médio maior que 40% (a média mundial é 25%), podendo chegar a 70% na região Nordeste219.

212 OLIVEIRA, Carlos Eduardo Cruz Lopes de. Avaliação do impacto da alteração das condições de

financiamento sobre a energia eólica no Brasil: evolução e perspectivas. 2019. 180 f. Dissertação(Mestrado em Planejamento Energético) – Programa de Pós-Graduação em Planejamento Energético, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. p. 29.

213 Disponível em: http://abeeolica.org.br/energia-eolica-o-setor/. Acesso em: 21 maio 2020.

214 ABEEÓLICA. Infovento online n. 15. Março de 2020. Disponível em: http://abeeolica.org.br/wp-

content/uploads/2020/04/Infovento-15_PT.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.

215 São eles: Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul, Piauí, Pernambuco, Maranhão, Santa Catarina,

Paraíba, Sergipe, Rio de Janeiro e Paraná.

216 ABEEÓLICA. Infovento online n. 15. Março de 2020. Disponível em: http://abeeolica.org.br/wp-

content/uploads/2020/04/Infovento-15_PT.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.

217 ABEEÓLICA. Infovento online n. 15. Março de 2020. Disponível em: http://abeeolica.org.br/wp-

content/uploads/2020/04/Infovento-15_PT.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.

218 Em segundo lugar, aparece o Estado da Bahia, com 4.074,4 MW em 165 parques. 219 Disponível em: http://abeeolica.org.br/energia-eolica-o-setor/. Acesso em: 21 maio 2020.

Apesar do alto investimento e da complexidade técnica, a energia eólica detém uma vantagem sobre a principal matriz energética brasileira (hidrelétrica). Pode ser produzida próxima dos centros urbanos220, os quais já contam com estruturas para transmissão, ocupa

menor área, provoca um menor impacto socioambiental, e hoje tem um custo reduzido de comercialização de energia221.

Embora exija licenciamento ambiental, em muitos estados o licenciamento é simplificado, o que demonstra a baixa lesividade ao meio ambiente.

Ao prevenir a queima de combustíveis fosseis, contribui para a redução da emissão de gás carbônico (CO2)222. O impacto da instalação do parque eólico sobre a vegetação e

características naturais são poucos.

Os mais citados são o impacto visual, já que os aerogeradores são visíveis a quilômetros, e podem gerar desvalorização imobiliária223 por contrastar com a paisagem

campestre, em áreas turísticas ou de grande beleza natural, assim como as pás das turbinas produzem sombras e reflexos móveis, indesejáveis em áreas residenciais; impacto sonoro (ruído aerodinâmico das pás dos aerogeradores, e mecânico de engrenagens e geradores) cujo ruído audível significativo pode gerar incômodo e irritação às pessoas e animais mais próximos, ocasionando náuseas e dor de cabeça; impacto sobre a fauna, notadamente pássaros224 e

morcegos que se chocam com as pás, e mediante a perda do habitat natural de algumas espécies; interferência eletromagnética quando instalada entre transmissores e receptores de rádio e televisão, o que pode afetar a vizinhança e o próprio parque. Embora haja impacto no uso da

220 Hoje os grandes projetos hidrelétricos encontram-se na região da Amazônia legal e, apesar de utilizar fonte

renovável, são controversos do ponto de vista ambiental.

221 Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em informe datado de 30 de dezembro de 2019, os resultados

dos leilões de energia nova de 2019 demonstraram a consolidação de preços muito competitivos no ambiente de comercialização regulada, principalmente para as fontes eólica e solar fotovoltaica. Em relação à eólica, também foram observados deságios médios altos (62%, no leilão A-4, e 48%, no leilão A-6), resultando em um preço médio de R$ 97,50/MWh (US$ 23,45/MWh) da fonte considerando os dois certames. Em relação à hidrelétrica, tem-se um preço médio de contratação no ano de 2019 de aproximadamente R$ 224/MWh. Disponível em: http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-

451/Informe%20Leil%C3%B5es%202019_v3.pdf. Acesso em: 16 maio 2020.

222 Segundo a ABEEólica, em 2018, as eólicas evitaram a emissão anual de carbono equivalente a 15,5 milhões de

automóveis. Disponível em: http://abeeolica.org.br/. Acesso em: 16 maio 2020.

223 Muito embora no Brasil, sobretudo no Nordeste, tenha-se verificado o fenômeno inverso, provavelmente

devido à ausência de utilização econômica das propriedades.

224 O pior caso de colisão de pássaros em turbinas eólicas aconteceu nas proximidades de Tarifa, na Espanha. No

final de 1993, 269 turbinas eólicas foram instaladas de um total projetado de 2000 turbinas. Localizado nas principais rotas de migração de pássaros da Europa Ocidental, o local onde se instalaram as turbinas é um “grande mal-entendido”, segundo o diretor da Agência Espanhola de Energia Renovável (IDAE), que fez uma das mais extraordinárias admissões de culpa: “O que me ocorreu sobre o fato é que foi um inoportuno lapso de memória. Ninguém pensou nas migrações dos pássaros”. Muitos pássaros de inúmeras espécies ameaçadas de extinção morreram em colisões com as turbinas (World Energy Council, 1993). Disponível em: http://www.brasilengenharia.com/portal/images/stories/revistas/edicao625/energia_625.pdf. Acesso em 16 maio 2020.

terra, já que os aerogeradores devem estar suficientemente distanciados entre si, a fim de evitar a interferência de um equipamento no outro, esse impacto é ressaltado como mínimo e compatível com a produção agrícola ou outras atividades de lazer.

Por outro lado, a implantação dos parques eólicos em diversas localidades do Brasil reforça o caráter descentralizado da exploração, possibilita o abastecimento residencial em sistemas isolados, propiciando um acesso universalizado. A necessidade de tecnologia de ponta estimula a inovação, o desenvolvimento industrial e toda uma cadeia produtiva, a qual leva desenvolvimento local e regional. Há a geração de empregos diretos (ainda que temporários, em sua maioria)225, nas fases de construção e operação, além dos empregos indiretos ao longo

da cadeia produtiva.

A presença desses projetos recai, sobretudo, em áreas rurais ou de baixa densidade demográfica e vem trazendo desenvolvimento para algumas localidades.

Embora o vento se distribua de forma irregular no território brasileiro, há áreas naturalmente propícias a sua exploração para fins de produção de energia eólica. Aqui, não se