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3. Ambiente, considerando o património natural e a biodiversidade, o urbanismo, planeamento e construção, as paisagens, a atmosfera, a

4.4 Enquadramento da Formação Superior em Turismo em Portugal

A organização do sistema de ensino no nível superior em Portugal conta com uma rede de instituições públicas (35) e privadas (94) com um total de 400 mil alunos, num sistema organizado conforme a figura 11 (DGES, 2011).

Figura 11

Organograma do Sistema de Ensino Superior Português de acordo com os Princípios de Bolonha.

Fonte: DGES, 2011

Em relação ao nível educacional, aquele que interessa a este estudo e que será analisado de forma mais aprofundada é a licenciatura, tanto do ensino politécnico, como universitário. A maioria dos cursos de turismo em Portugal é oferecida pelos Institutos Politécnicos, através das licenciaturas (1º ciclo) ou mestrados (2º ciclo), com a possibilidade de vir a cursar os dois ciclos de modo integrado. O primeiro ciclo apresenta, habitualmente, uma abordagem mais generalista, enquanto no segundo ciclo são apresentados conteúdos e

desenvolvidas competências de carácter mais especializado (Salgado, Martins e Gomes, 2011).

Como já foi antes referido, um dos objectivos específicos desta investigação é a contextualização da formação superior em turismo em Portugal, tendo em vista a relação entre as funções de planeamento turístico ao nível local com a formação superior em turismo, de forma a conhecer os níveis de interacção entre escola - destino, bem como a capacidade de actuação dos profissionais formados para exercerem funções de planeamento. Desta forma, o que julgamos necessário reunir e analisar acerca do ensino superior em Portugal é: 1) A forma como está organizado o ensino superior em Portugal – uma vez que esta informação ajuda a compreender o papel do profissional formado nestes cursos, situa a pesquisa e contextualiza o ensino superior;

2) A oferta formativa na área de turismo, neste nível de ensino – identificando geograficamente as instituições de ensino, o plano de estudos, bem como outras informações relevantes relativas à formação ou saída profissional.

Da definição dos perfis profissionais em turismo para os quais é exigível formação de nível superior, destacamos as referências incluídas na tabela 10.

Tabela 10 Perfis Profissionais

Sub-áreas Perfil Subsistema Prescritores dos principais actos

Turismo Técnico de Turismo (generalista)

Universidade e Politécnico

Coordenação e operacionalização de actividades/ operações turísticas em instituições públicas e privadas Técnico de Turismo

(especialista)

Universidade e Politécnico

Concepção, organização e gestão de operações turísticas especializadas

A crescente oferta dos cursos de turismo pelo mundo, e mais especificamente em Portugal, surge em resposta à progressiva importância da actividade no contexto económico. A qualificação dos recursos humanos em turismo surge, desta forma, como resposta às crescentes necessidades do mercado de trabalho.

Apesar do reconhecimento da necessidade de novos profissionais qualificados no mercado, são muitas as dúvidas acerca da sua adequada formação no contexto educacional e, no caso desta tese, no contexto educacional português no nível da educação superior em turismo.

Do total de 74 cursos superiores de turismo portugueses (considerando o ensino público e privado, universitário e politécnico (Direcção-Geral do Ensino Superior, 2011), foram analisados os cursos que incluíam na saída profissional o desempenho de actividades nas autarquias, actividades de consultoria, gestão ou planeamento do turismo. Os cursos analisados foram 33, o que totaliza 44,6% de toda a oferta formativa do ensino superior.

Do total destas 33 licenciaturas, a maioria integra-se no ensino politécnico público, sendo certo que todos os subsistemas têm presença neste ensino sectorial (tabela 11).

Tabela 11

Perfil das Licenciaturas analisadas

Tipo de ensino Público Privado

Universitário 5 3

Politécnico 15 10

Total 20 13

Fonte: Elaboração própria com base na Direcção-Geral do Ensino Superior, 2011

Quanto à localização destes cursos, na região Norte foram identificados 12; na região Centro, 11; na região do Alentejo, 3; na região de Lisboa e Vale do Tejo, 5; e na região do Algarve foram identificados 2 cursos (Figura 12)

Figura 12

Localização dos Cursos de Turismo analisados

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da DGES, 2011 e websites das instituições.

As disciplinas mais frequentes para acesso aos cursos analisados são Português, Geografia, História e Economia (Figura 13)

1 UNIV 1 UNIV 1 POLITEC 2 POLITEC 1 POLITEC 1 UNIV 1 POLITEC 1 UNIV 1 POLITEC 1 POLITEC 3 POLITEC 2 UNIV 3 POLITEC 1 UNIV 6 POLITEC 1 POLITEC 2 POLITEC 1 POLITEC 1 UNIV 2 POLITEC

Figura 13

Disciplinas de acesso aos cursos superiores em Turismo ou Gestão em Turismo

Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.

Uma análise mais detalhada mostra alguns dados curiosos quando se consideram o sistema público e privado, isoladamente. No sistema público de ensino, a disciplina de Geografia é a mais requisitada, seguida do Português, Economia e História. No ensino particular, a Língua Portuguesa é, expressivamente, a mais exigida. É seguida de Geografia que, apesar de ser a segunda disciplina tem, praticamente, a mesma percentagem que no ensino público. Na verdade, a força dada à Língua Portuguesa como disciplina de acesso no ensino privado é razão da menor frequência da inclusão de outras disciplinas, como mostra a Figura 14.

Em termos concretos, as disciplinas mais solicitadas no ensino público, por ordem de importância são: Geografia, Português, Economia, História, Matemática e Inglês. Já no ensino privado são: Português, Geografia, História, Economia, Matemática e Inglês.

Figura 14

Disciplinas de acesso aos cursos superiores em Turismo e Gestão do Turismo, por sistema de ensino (%)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.

Por outro lado, considerando a combinação de três disciplinas, seja no ensino público ou privado: 33% dos cursos consideram o conjunto de disciplinas Português/Geografia/História como disciplinas de entrada; 22% Economia/Português/Geografia. Estes dois grupos representam as disciplinas de entrada de mais da metade dos cursos analisados (Figura 15).

Estes dados permitem concluir que, no que respeita às condições de ingresso, e sem prejuízo de outras referências, os cursos possuem uma abordagem mais voltada para as ciências sociais e humanas, nomeadamente para a Geografia.

Figura 15

Disciplinas de entrada nos cursos superiores de Turismo e Gestão do Turismo (públicos e privados), combinação das disciplinas (%)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.

Para a análise dos planos de estudo destes cursos foi elaborado um agrupamento das disciplinas, que resultou do seguinte modo: ciências sociais e humanas; ciências económicas e empresariais; novas tecnologias; idiomas estrangeiros; turismo – gestão e planeamento; turismo – outras; outras.

Nas ciências sociais e humanas foram incluídas disciplinas como: Geografia, História, Comunicação, Sociologia, Psicologia. Em ciências económicas e empresariais, disciplinas como: Gestão, Economia, Recursos Humanos, Marketing. Nas novas tecnologias foram reunidas disciplinas como: Matemática e Ciência da Informação. Em idiomas estrangeiros foram considerados todos os idiomas oferecidos, excepto o Português. A disciplina “Português” foi considerada no contexto da “Comunicação” e, portanto, em ciências sociais e humanas. No bloco de disciplinas do “Turismo – Gestão e Planeamento” foram envolvidas as disciplinas de Gestão, Planeamento, Marketing, Consultoria e Gestão de Projectos. No grupo das disciplinas de “Turismo – outras” foram incluídas todas as disciplinas específicas de turismo, mas que não estavam

relacionadas com a área de Gestão e Planeamento do Turismo. Em “outras” foram incluídas disciplinas ligadas à “Metodologia Científica”, “Estágio Supervisionado”, disciplinas de Acompanhamento de Monografia, entre outras que não se enquadravam nas categorias já citadas.

Considerando os planos curriculares da totalidade dos cursos e os grupos disciplinares antes referidos e constantes na Figura 16, as disciplinas gerais do Turismo representam 23% do curso e as disciplinas específicas de Gestão e Planeamento 18%. No entanto, quando consideradas as outras áreas, os “idiomas estrangeiros” representam 19%; as “ciências económicas e empresarias” representam 16%; as “ciências sociais e humanas”, 10%; e as “outras”, 7% (ver figura 16). Observa-se, assim, que o peso das ciências sociais e humanas é muito maior enquanto disciplinas de acesso, principalmente quando consideradas em conjunto , do que como parte dos planos de estudos. Em sentido inverso, os idiomas estrangeiros e as disciplinas ligadas à Gestão e Planeamento do Turismo e à Economia e Gestão Empresarial têm maior presença nos planos de estudos do que como disciplina de acesso a estes cursos.

Figura 16

Áreas que compõem os cursos superiores de Turismo e Gestão do Turismo (Público e Privado/ Universidade e Politécnico) (%)

Em termos da análise comparada dos sistemas politécnico e universitário, é relevante destacar uma maior preponderância no primeiro dos “idiomas estrangeiros” e das “ciências sociais e humanas”, enquanto que no segundo se evidenciam as disciplinas gerais do turismo e as de “Turismo – Gestão e Planeamento” (Figura 17).

Figura 17

Disciplinas que compõem os cursos superiores em Turismo e Gestão em Turismo, por sistema de ensino

Fonte: Elaboração própria, a partir dos websites das instituições.

Verifica-se, assim, que em Portugal os cursos de turismo com saídas profissionais para a gestão pública e/ou áreas que envolvam gestão e planeamento do turismo possuem um foco de formação na área de turismo: gestão e planeamento e nas ciências económicas e empresariais para além de grupos abrangentes como turismo: outras áreas e idiomas estrangeiros. Estes dados significam que apesar de as disciplinas de entrada estarem concentradas na área de “ciências humanas e sociais”, estes cursos possuem planos de estudos com outras orientações, o que demonstra incoerência, mas suposta vantagem face às oportunidades e desafios profissionais. Entendendo- se as razões desta situação, não pode deixar de se evidenciar o potencial de dificuldades e conflitualidades decorrentes da incoerência entre os perfis de

ingresso dos alunos e a expectativa em relação às competências que lhes são solicitadas durante o ensino.