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3. Ambiente, considerando o património natural e a biodiversidade, o urbanismo, planeamento e construção, as paisagens, a atmosfera, a

3.3 Gestão Estratégica e Organização do Turismo em Portugal

3.3.2 Gestão e Planeamento do Turismo no nível Regional

O anterior modelo de gestão regional do turismo (pré-2008) era questionado por ser inadequado ou ineficiente, dado, por exemplo, não cobrir todo o território português ou por haver sobreposição de funções, fosse com a hierarquia superior, de nível nacional, fosse com o nível local.

Firmino (2007: 248), por exemplo, ainda chama a atenção para o facto de que algumas das atribuições formais das antigas Regiões de Turismo ficavam comprometidas por falta de recursos financeiros, técnicos e humanos. Além disso, o autor aponta como um ponto fraco o elevado número de Regiões que existia num território tão pequeno como Portugal.

O actual modelo de Gestão Regional dividiu Portugal em ERTs que têm como principais objectivos: contribuir para o alcance dos objectivos da Política Nacional de Turismo; dinamizar e potencializar os recursos turísticos; monitorizar a oferta turística (Turismo de Portugal, 2009).

O modelo estatístico regional na União Europeia estabeleceu uma classificação comum para os Estados-Membros, as chamadas NUTS (Nomenclaturas das

Unidades Territoriais para Fins Estatísticos), que foi desenvolvida desde o início dos anos 70 mas só em 2003 adquiriu uma base legal. Segundo essa classificação, as NUTS possuem 3 níveis regionais, de acordo com um número mínimo e máximo do tamanho da população das regiões. No caso da estrutura do País não corresponder a nenhum dos 3 níveis regionais, torna-se necessário identificar um nível adicional que não possui, funcionando apenas para fins estatísticos e não tendo, portanto, qualquer função administrativa (Eurostat, 2008: 5-6).

Em Portugal Continental, os três níveis estatísticos são assim representados e servem de base para a gestão e organização do turismo no país visto que as NUTS II coincidem com as Entidades Regionais de Turismo (tabela 5):

Tabela 5

Portugal Continental, por NUTS

Nível 1 Nível 2 Nível 3

Portugal Continental Norte Minho – Lima

Cávado Ave Grande Porto Tâmega Entre-Douro e Vouga Douro Alto Trás-os-Montes Algarve Algarve

Centro Baixo Vouga

Baixo Mondego Pinhal Litoral

Pinhal Interior Norte Dão-Lafões

Pinhal Interior Sul Serra da Estrela Beira Interior Norte Beira Interior Sul Cova da Beira Oeste

Médio Tejo

Lisboa Grande Lisboa

Península de Setúbal Alentejo Alentejo Litoral

Alto Alentejo Alentejo Central Baixo Alentejo Lezíria do Tejo Fonte: Eurostat, 2008: 6

Considerando a realidade de dispersão, sobreposição de poder e desorganização do sector, foi proposta e implementada uma nova estrutura organizacional do turismo, com base na já existente divisão administrativa do território, a divisão em NUTS II.

O Decreto-Lei n.º 67/2008, de 10 de Abril, redefine a estrutura organizacional do turismo em Portugal e, para efeitos de planeamento, divide o Continente em cinco áreas regionais que coincidem com as unidades territoriais utilizadas para fins estatísticos, as NUTS II (Figura 5): Norte; Centro; Lisboa e Vale do Tejo; Alentejo; Algarve. Figura 5 Regiões de Turismo Norte Centro Alentejo

Lisboa e Vale do Tejo Algarve

São, ainda, criados Pólos de Desenvolvimento Turístico (Figura 6), que são integrados nas áreas regionais supracitadas, a saber (sítio Internet do Turismo de Portugal, consultado em 02 de Dezembro de 2008):

1. Douro:

 Unidade territorial do Douro — Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Lamego, Mesão Frio, Moimenta da Beira, Murça, Penedono, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, S. João da Pesqueira, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca, Torre de Moncorvo, Vila Real e Vila Nova de Foz Côa;

2. Serra da Estrela:

 Unidade territorial da serra da Estrela — Fornos de Algodres, Gouveia e Seia;

 Unidade territorial da Beira Interior Norte) — Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso;

 Unidade territorial da Cova da Beira — Belmonte, Covilhã e Fundão; 3. Leiria – Fátima

 Unidade territorial de Leiria-Fátima — Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Ourém (que inclui Fátima), Pombal e Porto de Mós;

4. Oeste:

 Unidade territorial do Oeste — Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Óbidos, Peniche, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras;

5. Litoral Alentejano:

 Unidade territorial do Litoral Alentejano — Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines;

6. Alqueva — Terras do Grande Lago, Alandroal, Barrancos, Portel, Reguengos de Monsaraz, Moura e Mourão.

Alqueva Litoral Alentejano Leiria – Fátima Oeste Serra da Estrela Douro Figura 6

Pólos Turísticos de Portugal

Os Pólos de Desenvolvimento foram criados sob a óptica de desenvolvimento da oferta de turismo internacional (Douro, Litoral Alentejano, Oeste4) e numa óptica de desenvolvimento nacional (todos os Pólos); tratou-se de uma criação que pretendia diversificar a oferta e reduzir a dependência face às três principais regiões de turismo nacionais, assim como dar resposta às principais motivações de procura, possibilitando a melhoria de imagem do país,

dinamizando o turismo nacional e fortalecendo a economia regional (PENT, 2006: 83).

Vale esclarecer que, para efeitos da divisão de Portugal em ERT, tendo por base a divisão inicial das NUTS (de 1999), a Região de Lisboa e Vale do Tejo agregou os municípios integrantes das sub-regiões do Oeste, do Médio Tejo e da Lezíria do Tejo, tal como na composição das CCDR (Comissão de Coordenação do Desenvolvimento Regional). Com o intuito de evitar que as citadas sub-regiões fossem prejudicadas no âmbito da distribuição dos fundos do Quadro Comunitário de Apoio (IV), estas sub-regiões foram deslocadas, em 2006, para outras NUTS II. Assim, a Lezíria do Tejo passou a integrar, para este fim de gestão de financiamentos, a região Alentejo, que será um dos objectos de estudo do trabalho empírico desta Tese; no entanto, para fins de ordenamento do território e acompanhamento do turismo, esta sub-região, tal como o Oeste e o Médio Tejo, continuam a pertencer à região de Lisboa e Vale do Tejo, pelo que não será incluída na nossa recolha e análise de informação. A organização em ERTs e Pólos não é consensual (Fonseca, 2009; Baptista, 2003). Por exemplo, Céu (2008: 35) acredita que a gestão do turismo seria mais beneficiada com regiões que coincidissem perfeitamente com as cinco regiões de Portugal Continental e apenas será neutralizada caso as Entidades Regionais e os Pólos que as integram sejam capazes de trabalhar conjuntamente. Também António Fonseca Ferreira, ex-Presidente da CCDR- LVT (Lisboa e Vale do Tejo), considera que a criação de Pólos dentro das Regiões de Turismo, bem como Agências Regionais para promoção destas regiões no exterior, é pouco racional e conveniente para um país com as dimensões de Portugal (Fonseca, 2009: 22). O actual Governo, pela voz da Secretária de Estado Cecília Meireles, também já deu sinais de algum sentido crítico em relação ao actual modelo de gestão regional do turismo (Jornal Expresso, 2012).

O modelo organizacional do turismo, constituído em 2008, tinha, entre outras finalidades, a de assegurar que os órgãos regionais de turismo tivessem capacidade de se autofinanciar, estimulando o envolvimento dos agentes privados e estabelecendo parcerias com o Turismo de Portugal, para que fosse

possível o desempenho de actividades e projectos na esfera central. Por outro lado, a reestruturação da disposição das entidades públicas regionais fazia-se necessária com o intuito de dar os devidos suportes para o Turismo de Portugal, assegurando a implementação da política nacional de turismo. Esta nova organização surge para dar sentido ao modelo de gestão, ao nível regional e local, visto que o modelo até então vigente era disperso, aleatório e incoerente (sítio Internet do Turismo de Portugal, consultado em 18 de Setembro de 2008).

São atribuições das ERTs (Decreto – Lei nº 67/ 2008, de 10 de Abril):

 Colaborar com os órgãos centrais e locais com vista à prossecução dos objectivos da política nacional que for definida para o turismo;

 Promover a realização de estudos de caracterização das respectivas áreas geográficas, sob o ponto de vista turístico e proceder à identificação e dinamização dos recursos turísticos existentes;

 Monitorizar a oferta turística regional, tendo em conta a afirmação turística dos destinos regionais;

 Dinamizar e potencializar os valores turísticos regionais.

Apesar de se reconhecer que cada ERT se apresentava num estágio específico de maturidade, foram atribuídas a todos estes organismos regionais as mesmas funções: promoção do mercado interno; incremento do produto turístico; apoio ao sector empresarial no desenvolvimento de projectos de investimento e requalificação (Turismo de Portugal, 2010: 18).

Aos Pólos de Desenvolvimento Turístico eram atribuídas competências para valorizar o turismo e o aproveitamento sustentado dos recursos turísticos nas suas respectivas áreas, estando, assim, de acordo com as orientações e directrizes da Política Nacional de Turismo. Além disso, os Pólos de Desenvolvimento podem criar uma entidade dinamizadora e interlocutora junto dos órgãos centrais de turismo (Turismo de Portugal, 2008).

Como já antes referido, a bondade dos argumentos e critérios utilizados na constituição e formatação das competências das ERTs e Pólos nem sempre se revelou consensual. Ao contrário, muitas dúvidas e críticas foram sendo lançadas, ao ponto de, apenas quatro anos volvidos, se tornar natural a necessidade da sua revisão, independentemente da diversidade das opiniões sobre esta matéria e das consequentes soluções propostas.

No âmbito da linha de pensamento em que é definida a sustentabilidade como modelo de desenvolvimento do turismo português, são apresentados os seguintes objectivos (Figura 7):

Figura 7

Objectivos para alcançar o modelo de desenvolvimento sustentável do turismo

Fonte: Turismo de Portugal, 2010: 33

Os objectivos a serem alcançados pelos organismos regionais de turismo são válidos e compatíveis com o modelo seleccionado, que se pretende seja sustentável. São contempladas as principais variáveis (sociais, económicas e ambientais) onde o turismo pode incidir positivamente: geração de emprego, dinamizar as empresas e a actividade como um todo, preservação da cultura e do meio ambiente.

Por outro lado, apesar do reconhecimento de que as acções decorrem no nível local, a definição de objectivos talvez ganhasse com uma abordagem geograficamente mais ampla, definindo-se uma postura estratégica mais eficaz e adequada para alcançar os resultados pretendidos.

Também é importante referir que é prevista, por Lei (Decreto – Lei nº 67/ 2008, de 10 de Abril), a abertura de postos de turismo, no nível local, sendo estes sujeitos à gestão das ERTs.

O mesmo diploma legal estipula, em relação ao acesso aos programas públicos de financiamento na área de turismo através de fundos exclusivamente nacionais, que este está condicionado à participação dos municípios nas respectivas Entidades Regionais de Turismo. Esta iniciativa constitui-se como um factor positivo, uma vez que, apesar da autonomia municipal, há um estímulo à criação das ligações em teias regionais que, posteriormente, estão interligadas no nível nacional. Esta ligação em rede dá coerência ao modelo seleccionado, bem como aumenta as oportunidades de sucesso da proposta de desenvolvimento do turismo no país.