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Formação Superior uma proposta de Educação que deve ser voltada para o indivíduo?

3. Ambiente, considerando o património natural e a biodiversidade, o urbanismo, planeamento e construção, as paisagens, a atmosfera, a

4.2 Educação e Formação

4.2.1 Formação Superior uma proposta de Educação que deve ser voltada para o indivíduo?

É evidente a acelerada mudança no sistema de ensino, sobretudo, na formação de nível superior, onde, além de uma oferta mais diversificada e mais acessível, também são verificadas mudanças nas propostas educacionais. As novas características do ambiente socioeconómico, com cada vez mais dinamismo e competitividade, acabaram por influenciar, também, o ambiente educacional, exigindo uma reflexão acerca das propostas de ensino. Hoje,

quem conclui um curso de formação superior já não tem garantia de emprego, como acontecia há poucas décadas atrás. Actualmente, o profissional precisa de “algo mais”, para além do diploma, para obter um emprego, para sobressair e para alcançar a sua realização profissional (Pacheco, 2005; Maranhão, 2001; Ladkin, 2008).

A globalização também modificou e influenciou o ensino superior, exigindo a reestruturação dos cursos face às novas necessidades. Se na Europa há uma pressão para o ajustamento da educação no espaço comum, com a principal finalidade de garantir a mobilidade dos docentes e discentes, o restante do mundo também acaba por sentir esta necessidade de reformulação dos cursos e reestruturação, para um modelo que facilite a comparabilidade e, consequentemente, a mobilidade e a empregabilidade (Zarifian, 2003; Pacheco, 2005; Formica, 1996).

Estas novas variáveis inseridas no contexto educacional estimulam e, em momentos, determinam novos rumos, originando reflexões e debates fundamentalmente acerca da essência da formação superior e do objectivo do ensino neste nível.

A percepção do indivíduo como centro do processo educativo pressupõe ter como parâmetro o ser humano e compreender a sua formação como um processo de conhecimento e realização individual, mais abrangente do que a formação voltada exclusivamente para o mercado (Ramos, 2002).

No outro extremo, há quem defenda uma formação superior que garanta a empregabilidade e, portanto, tenha uma grande preocupação com as necessidades imediatas do mercado, preparando, desta forma, os indivíduos para ocuparem postos de trabalho. Para os defensores desta abordagem educacional, o estudante procura, através da obtenção do diploma, a inserção no mercado de trabalho e uma “prova” desta constatação seria, pelo inverso, a baixa procura tendencial dos cursos com pouca aceitação no mercado de trabalho.

De facto, esta realidade pode ser constatada com relativa facilidade. No entanto, é preciso reflectir acerca de algumas questões: não estaria, desta forma, a educação superior a confundir-se com a formação profissional? Não estaria o mercado a fundir as propostas nestes diferentes âmbitos educacionais? Estarão os estudantes cientes da abordagem da formação voltada para o mercado em detrimento de uma proposta de desenvolvimento pessoal?

Estas são algumas das muitas questões que poderiam ser levantadas acerca do tema e acerca das diversas propostas de formação. Ramos (2002: 27) esclarece e defende o seu ponto de vista, que se baseia numa formação centrada no sujeito, na qual:

(…) o processo de formação humana pressupõe o desenvolvimento do indivíduo como particularidade e generalidade, ou seja, como ser social individual, que reúne em si o modo de existência subjetivo da sociedade pensada e sentida para si, do mesmo modo que também na efetividade ele existe tanto como intuição e gozo efetivo do modo de existência social, quanto como uma totalidade de exteriorização de vida humana. Dessa forma, esse processo visa promover a possibilidade de o Homem desenvolver-se e apropriar-se do seu ser de forma global, de todos os seus sentidos e potencialidades como fonte de gozo e de realização. Sob o modo de produção capitalista, os sentidos humanos foram subjugados à lógica da propriedade privada, que atrela o gozo e a realização à posse dos objetos como capital – valorizáveis e geradores de lucro – ou como meio de subsistência socialmente determinado – destinados à satisfação de necessidades de diversas ordens. Igualmente, as potencialidades humanas – físicas, intelectuais e emocionais – foram alienadas do Homem e apropriadas pela classe capitalista como mercadoria força de trabalho.

Uma proposta de formação na qual o indivíduo deixa de ser o centro do processo e passa a ser apenas um formando, não com um fim em si mesmo, mas por necessidades do mercado, é considerada pela autora como uma

evolução voltada para o ambiente externo. Neste modelo de formação, as pessoas perdem o sentido da educação para desenvolvimento e realização pessoal e passam a ser formadas para ocupar um posto de trabalho, perdendo as rédeas do processo educativo ao qual se submetem. O indivíduo passa a ser formado para o mercado e para desenvolver, principalmente, competências profissionais, e não mais como assumindo o principal objectivo de desenvolver competências que lhe confiram mais consciência de si e da sociedade e, consequentemente, mais independência.

Como já se deixou expresso anteriormente, as recentes abordagens educacionais, voltadas para o mercado de trabalho aliado à educação para a cidadania e para o desenvolvimento pessoal, contrastam com os modelos tradicionais de educação que focavam essencialmente o indivíduo. Na nova ordem educacional, a educação está atenta à lógica do mercado, bem como o sistema económico à lógica da educação, a fim de que a Escola se torne competitiva e auto-sustentável (Maranhão, 2001).

Houais e Villar (2001, citado por Mota, 2005: 36) definem:

1. Educação (p. 1110): acto ou processo de educar; qualquer estágio desse processo; aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano, pedagogia, didáctica, ensino; conjunto desses métodos, pedagogia, instrução, ensino; conhecimento, desenvolvimento resultante desse processo, preparo;

2. Formação (p. 1372): acto, efeito ou modo de formar, construir, criação, construção, constituição; maneira como uma pessoa é criada, origem, educação; conjuntos de conhecimento habilidades específicos a um determinado campo de actividade prática ou intelectual; conjunto dos cursos concluídos e graus.

A educação inclui, para além de conteúdos que concorrem para a formação profissional, outros aspectos com a finalidade do desenvolvimento pessoal,

enquanto que a formação está mais centrada no campo profissional. É importante frisar que, em Portugal, é comum a utilização do termo “formação” como indicação da “educação” no nível superior, sendo, portanto, comum a referência de “formação superior” para os cursos de nível universitário.

Vale destacar a abordagem de Salgado (2007: 34), que reafirma esta perspectiva, aproximando e integrando os conceitos de educação e formação, quando aponta que

(…) a educação e a formação têm sido objecto de preocupações em todas as sociedades e culturas tendo em consideração o lugar determinante que ocupam na organização e na estruturação social, numa perspectiva dicotómica, com a educação a assumir um significado mais global, remetendo para todas as dimensões do agir humano onde a formação contém um significado mais especifico e mais próximo do processo produtivo. […] Em termos genéricos, a educação é vista como um processo natural e espontâneo, inerente à existência humana, e resulta da aquisição cumulativa de saberes e competências de um sujeito, em situação de contacto com o seu meio habitual. Também é diversificada, enquanto processo, porque acontece em todas as idades e tem lugar em múltiplos contextos, mediante a acção de diversos agentes formativos.

Como afirma Hegarty (1999: 6, citado por Salgado, 2007: 36),

formar é também educar, e vice-versa. Os dois conceitos possuem características comuns mas a relação entre eles é complexa (…) o equilíbrio depende de uma linha ténue que se estabelece entre o desenvolvimento pessoal e a eficiência profissional.

Ao citar Adam Smith, em a Riqueza das Nações, Ramos (2002: 31) destaca a conveniência de quase toda a população obter os conhecimentos essenciais (ler, escrever, contar e rudimentos de geografia e mecânica), admitindo a

dualidade do poder da educação que tanto pode libertar quanto aprisionar, conforme os processos. No caso da proposta de Smith (Ramos, 2002: 31),

a educação dos trabalhadores pobres teria por função discipliná-los para a produção, proporcionando à maioria da população somente o mínimo necessário para fazer do trabalhador um cidadão passivo que, apesar de tudo, tivesse alguns poucos direitos.