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O conceito sobre ensinar e aprender música que adotamos é o dado por Kraemer (2000), no qual “a pedagogia musical ocupa-se com a relação entre a(s) pessoa(s) e a(s) música(s) sob os aspectos de apropriação e transmissão. Ao seu campo de trabalho pertence toda a prática músico-educacional que é realizada em aulas escolares e não escolares, assim como toda a cultura musical em processo de formação” (KRAEMER, 2000, p. 51). Na igreja evangélica, observamos que as pessoas estão em um processo constante de aquisição de informações e conhecimentos musicais, de valores e significações simbólicas. Esses conhecimentos transmitidos são importantes entre as pessoas na igreja, eles acontecem de forma consciente e às vezes não, de uma forma sistemática e às vezes também involuntária. No entanto, as pessoas desenvolvem e ampliam de forma significativa e contextualizada a aprendizagem musical na igreja. Esse considerar “as relações entre as pessoa(s) e a(s) música(s) sob os aspectos de apropriação e transmissão” (KRAEMER, 2000, p. 51) está relacionado ao nosso objeto de pesquisa ao que se compreende por conhecimento pedagógico musical. Assim, corroboramos com Del Ben:

Faz-se pesquisa em Educação Musical sempre que se investiga como as pessoas se relacionam com música em termos de apropriação e transmissão, ou ensino e aprendizagem, seja nas escolas e conservatórios de música, seja em garagens de centros urbanos e escolas de samba, ou até mesmo, nas ruas das cidades (DEL BEN, 2003, p. 6).

O termo educação musical abrange muito mais do que a iniciação musical formal, isto é, aquela introdução ao estudo formal da música. Compreendemos educação musical como o ensino e aprendizagem instrumental e outros focos e também o ensino e aprendizagem informal de música. Nesse sentido, concordamos com Queiroz:

O termo educação musical representa atualmente um campo diversificado de estudos e de práticas de formação em música, abrangendo quaisquer espaços sociais, situações e processos de transmissão de saberes musicais. Assim, essa área é entendida como uma complexa rede de interações que se constitui nos meandros da sociedade, tecendo os fios que configuram a música como expressão cultural (QUEIROZ, 2013, p. 95).

Essa interação entre a pesquisa da educação musical e a cultura, é uma atividade cultural capaz de gerar significados e dar sentido à realidade. Isso possibilita outra forma de observação dos fenômenos educacionais, a partir da compreensão de que a prática musical é social.

Assim, as definições genéticas dos sujeitos e as características físicas dos lugares onde nascem pouco influenciam na construção de conceitos e comportamentos que norteiam sua vida. Essa construção se dá sobretudo na aprendizagem de definições construídas historicamente pelos milhares de sujeitos sociais que cunharam a base do conhecimento que coletivamente nos é transmitido (QUEIROZ, 2013, p. 98).

Considerando as vertentes atuais da educação musical, percebe-se que há, por parte de seus pesquisadores, professores e estudiosos em geral, consciência de que a delimitação da área, enquanto campo de conhecimento e atuação profissional tem de ser plural (QUEIROZ, 2010).

Por essa ótica, a educação musical, enquanto área de conhecimento, abrange o estudo de qualquer processo, situação e/ou contexto em que ocorra transmissão de saberes, habilidades, significados e outras aspectos relacionados ao fenômeno musical, tanto no que se refere aos aspetos sonoros quanto no que concerne a dimensões mais abrangentes da música enquanto expressão cultural, o que significa lidar com toda a gama de aspectos que caracteriza tal fenômeno, tais como estruturas sonoras, habilidades de execução, correlações performáticas e, consequentemente, processos, situações e estratégias diversas de transmissão de saberes (QUEIROZ, 2010, p. 116-117).

Desse modo, a educação musical abrange todas as situações que envolvam ensino e/ou aprendizagem de música, seja no âmbito dos sistemas escolares e acadêmicos, seja fora deles. Como reforça Queiroz,

[...] concebida sob essa perspectiva, a educação musical ocorre em múltiplos lugares e é mediada por estratégias diversas de formação em música, podendo ser estabelecida via processos educacionais intencionais, como acontece em uma instituição de ensino, ou por etnometodologias estabelecidas nas diferentes relações dos sujeitos com o mundo social, via processos não-intencionais de educação. Se na primeira categoria a educação musical se estabelece em lugares constituídos socialmente para educar, a partir de estratégias concebidas para esse fim: uma aula, um curso específico de formação, entre outras ações intencionais, na segunda ela se dá via interações dos indivíduos constituídas nas suas práticas cotidianas: ouvindo rádio, jogando games, participando de cultos religiosos, se divertindo em festas, entre diversas outras formas de relações estabelecidas socialmente com a música (QUEIROZ, 2013, p. 95).

Não há como falar da música e da sua transmissão na igreja evangélica, sem falar de quem as ensina, pois a música é um aspecto central na liturgia do culto. Conhecer e compreender isso trará uma contribuição para o entendimento das práticas musicais não formais que acontecem na igreja evangélica. A religião e a música tem uma ligação forte na igreja evangélica, onde o ensino de música na igreja é exercido de forma que dá uma perpetuação nas gerações de pessoas na igreja que utilizam a música no culto. Este ensino de música ao longo dos anos formam novos professores para ensinar na igreja.

Essas formas diferenciadas de aprendizagem musical que implicam valores, relações sociais da música e de seus praticantes, definições de conteúdo e de estruturas musicais, dentre outros diversos fatores da expressão musical enquanto fenômeno de performance sociocultural, evidenciam a ideia de que a transmissão musical congrega os aspectos essenciais que caracterizam o fenômeno musical, sendo responsável pela sua assimilação, consolidação e transformação no âmbito da cultura (QUEIROZ, 2005, p. 126).

A transmissão oral é outra característica do ensino da música imprimida na igreja, muito observada nos cânticos, onde se caracteriza por um ensino oral das músicas e hinos, mas que se caracteriza por um ensino informal, em que muitas músicas e hinos cantados na igreja não se aprendem em sala de aula. Os processos de ensino acontecem de “ouvido”, pois muitas pessoas na igreja não sabem ler uma partitura musical. As pessoas que ensinam, aprendem e tocam música na igreja consideramos como seres sociais que vão se fazendo “nas vivências e nas experiências sociais em diferentes lugares, em casa, na igreja, nos bairros, escolas, e são construídos como sujeitos diferentes e diferenciados, no seu tempo-espaço” (SOUZA, 2004, p. 10). E, nessa condição de serem sociais, as pessoas “organizam suas representações sobre si e sobre o mundo e interagem por meio de relações sociais no cotidiano com diferentes e diversos espaços e meios de socialização” (SOUZA, 2004, p. 10), o que Penna também reforça:

A sensibilização para música ou mesmo a compreensão do discurso musical possui por base um padrão culturalmente compartilhado. Trata-se da apreensão de um código para organização de sons numa linguagem artística, que socialmente construído, é socialmente apreendido – pela vivência, pelo contato cotidiano, pela familiarização – embora também possa ser apreendido na escola (PENNA, 1990, p. 20).

Assim, a educação musical deve agregar as pessoas e considerar as diferenças nos diversos contextos, sejam eles formais ou não formais. Nesse sentindo, concordamos que “o reconhecimento da diversidade nos fez perceber que não existe uma única música e/ou

sistema musical, e que, portanto, não podemos ter uma educação musical restritiva e unilateral” (QUEIROZ, 2005, p. 60). A observação da música e do ensino em um determinado contexto implica, também, na consideração de que contexto, música e ensino se estabelecem na práxis dos sujeitos em seu cotidiano. Souza, a esse respeito, postula que:

[...] sob a perspectiva do cotidiano, o processo de análise pedagógico- musical propõe a superação de modelos metodológico-instrumentais universais ou de categorias amplas e generalizantes. Uma perspectiva da sociologia da vida cotidiana nos processos de transmissão e apropriação musicais se compromete com a análise individual histórica, com o sujeito imerso, envolvido num complexo de relações presentes, numa realidade histórica prenhe de significações culturais. Seu interesse está em restaurar as tramas de vida que estavam encobertas; recuperar a pluralidade de possíveis vivências e interpretações; desfiar a teia de relações cotidianas e suas diferentes dimensões de experiências fugindo dos dualismos e polaridade e questionando dicotomias (SOUZA, 2000, p. 28).

Na educação musical, a música na igreja evangélica se dá por meio dos momentos de louvor nos cultos e que transmitem mensagens e significados simbólicos com princípios bíblicos para as pessoas que ouvem e que cantam ou tocam em seus templos. Temos na igreja evangélica o uso da música como meio pedagógico, que reforça a ideia do uso da música como meio de instrução e ensino. Nesse sentido,

[...] um passo importante para a eficácia do processo ensino-aprendizagem de música é o entendimento de como funcionam os processos de transmissão de música em distintas situações, espaços e contextos culturais. O entendimento de tais processos propicia ao professor uma maior capacidade de "(re) apropriação e/ou a criação de estratégias metodológicas capazes de abarcar diferentes dimensões da educação musical" (QUEIROZ, 2004, p. 103).

Consideramos que os diversos contextos de educação musical que existem atualmente e as várias formas e ações de ensino e aprendizagem da música que se caracterizam em cada um deles têm levado educadores musicais a repensar sobre as diferentes perspectivas que constituem as abordagens da educação musical na contemporaneidade. Com isso, tem levado a pensar uma visão mais abrangente de educação musical, assim como o fenômeno musical é diverso, há uma infinidade de concepções e estratégias de ensino e aprendizagem da música. Estratégias que são definidas e consolidadas pelas diferentes realidades socioculturais que as rodeia (QUEIROZ, 2010). Como ressalta,

[...] toda atividade de ensino da música requer o desenvolvimento de práticas que devem se caracterizar como expressões musicais significativas e não simplesmente como um conjunto de exercícios para a assimilação de aspectos técnicos e estruturais. Entendemos então que para estabelecermos propostas de ensino e aprendizagem que possam não só desenvolver habilidades, mas, sobretudo, concretizar um ensino musical da música, precisamos caracterizar performances que tenham sentido, significado e expressão, pensadas como produtos oriundos de experiências reais de vivência da música, que possam estabelecer processos significativos e fundamentais para a educação musical (QUEIROZ, 2005, p. 55).

Entendemos, na atualidade, de que a aprendizagem de música ocorre em diferentes contextos e que cada espaço estabelece uma forma própria para passar aquilo que elege como importante para a sua música. Nessa direção, Queiroz (2007) entende que os espaços formais, amplamente reconhecidos e valorizados no campo de ensino da música, são apenas um dos múltiplos universos em que ocorre a transmissão dos conhecimentos musicais.

A música não é ensinada apenas nas escolas, mas também em centros comunitários, associações, clubes, hospitais, abrigos, empresas, instituições não escolares e nas igrejas. As práticas musicais são muito presentes na igreja evangélica, onde a música é muito importante para a dinâmica do culto. A multiplicidade de espaços de atuação é apontada por Del Ben (2003), como uma das particularidades da formação do professor de música.

Sabe-se também que as biografias pessoais dos professores influenciam fortemente seus processos de aprendizagem e motivação para o exercício do magistério, além de influenciarem sua visão pessoal do próprio trabalho, podendo intervir na dinâmica afetiva e formativa do professor (MARTINOFF, 2010, p.73).

Nesse sentido, tanto no Brasil como no exterior, tem sido crescente o número de investigações sobre os processos de ensino e aprendizagem musical que ocorrem fora do espaço escolar, sejam em manifestações culturais, em projetos comunitários, em grupos musicais, em programas de rádio ou televisão, ou em processos de autoaprendizagem.

Vemos, nos relatos bíblicos, vários trechos sobre a formação inicial de músicos, a tradição oral, a transmissão do texto escrito da Bíblia, a oralidade através dos cantos litúrgicos. No livro de II REIS, na Bíblia, vemos o rei Josias, pedindo para os escribas ensinarem o povo. Outro personagem bíblico, Moisés, escreveu as leis para o povo. Podemos observar que as igrejas da IEADERN seguem um padrão em sua liturgia.

Na igreja, a formação musical acontece com pessoas de diferentes níveis de musicalidade, alguns têm facilidade para cantar, outros para tocar. Na missão da igreja, que é

levar à mensagem do evangelho, a utilização da música como ferramenta é fundamental assim a igreja incentiva à formação e a prática musical inclusiva pensando no contexto social de todo o grupo. As igrejas evangélicas fundamentam-se na bíblia para utilizá-la no culto como um canal para louvar e adorar a Deus. Ela congrega um encontro de músicos e de práticas musicais como coral, banda, orquestra, canto lírico, regência.

A igreja evangélica tem visto com importância a área musical e, consequentemente, tem investido neste setor ao ponto de ter um Departamento de Música em muitas igrejas. Com uma visão aberta para este setor, sem dúvidas, a Igreja Evangélica tem sido um celeiro de músicos no Brasil.

Dentro desse contexto, há uma grande motivação em fazer o melhor e o resultado disso são músicos cristãos excelentes e outros que chegam a serem profissionais, que passaram em concursos extremamente concorridos, mas por fazer parte deste setor na igreja não tiveram tanta dificuldade diante de uma prova e hoje vivem da música e professando a fé. Alguns pontos são vitais em se tratando de música cristã evangélica. O Louvor e Adoração não se resumem na música, a música se torna uma pequena parcela diante de toda uma vida que deve ser consagrada, as pessoas com suas habilidades musicais devem submeter a Deus e ao serviço da igreja.

Fazer música na igreja implica em viver e envolver-se nas diversas sonoridades, valorizando a vivência musical cotidiana e a funcionalidade, pois ela expressa os conceitos próprios da igreja. É uma música que transmite a mensagem do Evangelho de Jesus, e ela é criada e executada no culto onde às pessoas creem e confessam sua fé em Jesus. Ela é também uma ferramenta para o fazer maior da igreja, que é o de pregar a palavra de Deus. Portanto, tudo isso marca a relação da música e ensino na igreja.

O que é importante enfatizar a partir desses exemplos é que, no âmbito da educação musical contemporânea, a estrutura sonora e todos os demais elementos cognitivos e culturais que marcam a relação da música com o indivíduo são elementos musicais. Nessa perspectiva todos devem ser considerados e trabalhados com o mesmo grau de importância em uma aula de música. Diferente de algumas perspectivas que podem ser encontradas na literatura da área de educação musical, entendo que a separação entre os diversos elementos que constituem a música como prática cultural, concebendo as estruturas sonoras como musicais e os demais aspectos como não musicais/extramusicais, é artificial e inadequada para pensar as propostas educativo-musicais de formação escolar, sobretudo diante das diferenças que constituem a escola, os sujeitos e a expressão musical (QUEIROZ, 2013, p. 114).

A Educação Musical, compreendida como uma área que se articula com outras áreas do conhecimento como Sociologia, Antropologia e Filosofia (SOUZA, 2001), e tendo como objeto de estudo os processos pedagógico-musicais de ensino e de aprendizagem (KRAEMER, 2005), têm debatido possibilidades de uma educação plural, ultrapassando os métodos tradicionais de ensino musical, baseado principalmente no modelo conservatorial europeu. O contexto sociocultural dos alunos, suas identidades musicais e suas experiências cotidianas têm promovido debates que preveem uma postura dinâmica do professor de música, atuando mais como um mediador crítico das diferentes linguagens e significações musicais do que propriamente um difusor de diferentes propostas estéticas.

O educador musical, para compreender seu campo de estudos e para atuar como professor de música na contemporaneidade precisa estar atendo à complexidade de questões que permeiam a música artística, social e culturalmente. Consequentemente, deve ser capaz de trilhar e de (re)definir caminhos epistêmicos e metodológicos (inter)agindo, de forma contextualizada, com a dinâmica que diferentes culturas estabelecem para estruturar, valorar e transmitir seus conhecimentos musicais (QUEIROZ, 2004; 2005).

Entendemos que compreender essa diversidade nos leva a (re)pensar caminhos mais significativos para o ensino de música na atualidade, podendo estabelecer análises críticas sobre a realidade da educação musical e sobre perspectivas para o desenvolvimento de suas práticas educativas. As discussões apresentadas anteriormente demonstram a complexidade que permeia a área de educação musical e demonstra a necessidade de refletirmos sobre a diversidade de questões e alternativas desse campo.

Nas múltiplas dimensões da transmissão musical, consolidadas e vividas socialmente e culturalmente, a música enquanto expressão humana é integrada a um sistema maior de valores que a torna contextualizada com o universo dos seus praticantes. Esse princípio é importante referência para pensarmos na educação musical praticada e sistematizada em instituições que se dedicam ao ensino e aprendizagem da música (QUEIROZ, 2005, p.59).

Segundo Favaro (2007), a ausência de um ensino musical efetivo as escolas brasileiras limitam tanto a formação de profissionais como a de ouvidos treinados para apreciar a música, sendo um fator que propicia a procura pelos estudos de música oferecidos pelas igrejas. Afinal, as igrejas evangélicas, segundo ele, se tornam locais onde se investe em formação musical no Brasil e a expansão das igrejas a partir da década de 80 fez aumentar o número de

pessoas interessadas no aprendizado de música. As igrejas evangélicas tornaram-se os novos celeiros de músicos eruditos no Brasil.