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Entendemos a definição para música como uma linguagem cultural que varia conforme o espaço e o momento histórico, sendo uma atividade “significativa e intencional sobre o mundo, como a música do homem” (PENNA, 2012, p. 21). Portanto, a música produzida num contexto terá significados únicos para aquele contexto diferente para outro. Citando Blacking, “a música é o som humanamente organizado” (1995, p. 10). Isso varia de cultura para cultura. Compreendemos que em "humanamente organizado" devemos lembrar da incrível variedade humana e, juntamente com ela, a incrível variedade de organização de cultura para cultura.

Nos universos em que a música serve a princípios religiosos, a tênue relação que a expressão musical estabelece com as manifestações de religiosidade faz desses dois fenômenos um corpus de conhecimentos, costumes, princípios e ações praticamente indissociáveis. Assim, nesses contextos, é possível conceber a crença e a prática (rito) religiosa como um dos aspectos caracterizadores (constituintes) da performance musical como um todo (QUEIROZ, 2011, 79).

A música na religião é muito importante. Ela é também abordada em suas dimensões sociais e educativas, além da sua dimensão artística. A religião é uma das forças que opera e que condiciona a prática educativa. “A música do homem é uma atividade significativa e intencional” (PENNA, 2012, p. 21).

A relação entre música e religião é uma realidade presente em expressões culturais de todo o mundo. Manifestações religiosas de diferentes naturezas fizeram e fazem uso da música para expressar as suas crenças e praticar os seus ritos. Estudos da etnomusicologia, da antropologia, da linguística e de outros campos do conhecimento humano, que lidam com perspectivas relacionadas à prática musical em contexto, têm demonstrado a forte

presença da música nos "mundos" religiosos e as funções que ela cumpre dentro dos diversos cultos e rituais (QUEIROZ, 2011, p. 79).

Inserida neste meio está a prática de ensino musical na igreja evangélica, sendo um espaço rico, amplo e diverso de ensino e aprendizagem musical.

A igreja evangélica valoriza muito a música em seus cultos, enfatizando a educação musical, ainda que informalmente. Diversas igrejas evangélicas possuem uma escola de música, que atende não somente aos seus congregados em várias faixas etárias, mas também a pessoas da comunidade. Assim, as consequências do crescimento do número de evangélicos são muitas para o campo da música. Estima-se que o “mercado evangélico” no país movimente mais de três bilhões de reais por ano e crie dois milhões de empregos diretos e indiretos (MARTINOFF, 2010, p. 68).

A música tem sido uma ferramenta utilizada em todos os momentos do culto e em ocasiões distintas: desde uma festa de casamento a uma cerimonia fúnebre, ali está ela, peça fundamental na liturgia do culto.

A música é componente essencial do culto evangélico, juntamente com as orações e a prédica ou sermão. Entretanto, o culto pode transcorrer de diferentes maneiras, conforme a ênfase dada em um ou outro componente. Essas variações existem e são encontradas entre as diferentes denominações e entre igrejas da mesma denominação. Assim, a música é utilizada nas igrejas evangélicas em sua forma vocal e instrumental. A vocal é executada principalmente pela congregação, que canta os hinos dos hinários das diferentes denominações, acompanhada por instrumentos harmônicos, principalmente o órgão e/ou piano, ou teclados. Aos corais existentes nas igrejas evangélicas desde sua implantação no Brasil compete a execução de hinos e outras peças especiais para coro – os antemas –, geralmente acompanhados por piano ou órgão (MARTINOFF, 2010, p. 68).

A igreja evangélica crê que Deus é o autor da música, que ela deve ser para o louvor e adoração a Ele. A Bíblia faz referência à música desde o início, quando cita Jubal o pai de todos que tocam flauta e harpa (GENESIS 4.21) e, ao longo de toda história, observamos que a música nunca perde o seu lugar. O livro dos SALMOS, dos CÂNTICOS DOS CÂNTICOS e do APOCALIPSE relatando os louvores a Deus.

A religião, na diversidade em que se apresenta pelo mundo, congrega princípios, doutrinas e costumes que unem pessoas em torno de uma mesma crença e, conseqüentemente, em torno de hábitos, atitudes e comportamentos semelhantes (QUEIROZ, 2011, p. 80).

A música, nessa perspectiva, é considerada um produto cultural, ela é seu objeto e não seu objetivo. Nisso, é importante não limitar ao entendimento da estrutura física da expressão

musical na igreja evangélica. Faz-se necessário um esforço em compreender o fenômeno cultural que influenciou o comportamento produtor na igreja evangélica. Investigar além do elemento sonoro, observar e dar atenção em fazer música.

Um fator evidente na manifestação religiosa é a sua contextualização com o meio em que está inserida, seja em sua forma original ou através de (re)adaptações a padrões, a costumes e a crenças que permitam o desenvolvimento e a prática dos seus ritos dentro de uma cultura específica. Como expressão cultural, os aspectos religiosos são formadores de comportamentos e de princípios determinantes para o convívio do homem em seu meio (QUEIROZ, 2011, p. 80).

Merrian (1964) tipifica e isola quatro tipos de comportamentos a serem observados e analisados em relação à produção e organização dos sons musicais. O primeiro é o comportamento físico; o segundo, o comportamento verbal; o terceiro, o comportamento social; e o último, o comportamento de aprendizagem musical. Cada cultura modela o processo de aprendizagem, onde os processos e situações de ensino e aprendizagem da música acontecem de formas variadas, e são (re)modelados e (re)definidos, em sua concepção e aplicação, pelo contexto em que se inserem, conforme os seus próprios ideais e valores. “A música é um produto do comportamento humano e possui estrutura, mas sua estrutura não pode ter existência própria se divorciada do comportamento que a produz” (MERRIAN, 1964. p. 7).

Alan Merriam (1964) ao conceber as dez funções sociais da música, destaca a função religiosa como importante característica do fenômeno enquanto expressão sociocultural, demonstrando o forte elo existente entre música, religião e sociedade (QUEIROZ, 2011, p.111).

Queiroz (2011) realizou uma pesquisa junto aos Ternos de Catopês, Marujos e Caboclinhos da cidade de Montes Claros, Minas Gerais, na qual discute e analisa as relações entre música, fé e devoção na performance dos grupos, refletindo acerca do universo religioso da manifestação e suas implicações para a prática musical. As reflexões apresentadas evidenciam que as dimensões religiosas são importantes referências para a performance dos grupos estudados, sendo definidora de componentes simbólicos, comportamentos, repertórios, espaços de atuação e diversos outros elementos que configuram a música nesse contexto cultural.

Na crença reside grande parte dos mistérios e subjetividades da religião. Ela é geradora da fé e para ela se configura o conjunto de elementos que dão forma à prática e às expressões do fenômeno religioso (QUEIROZ, 2011, p. 80).

Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras. Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto. Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto. Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.

4 ENSINO E APRENDIZAGEM DE MÚSICA NO TEMPLO CENTRAL DA