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Considerando que o entendimento de que formas alternativas de educação se constituem como não formais ou informais (LIBÂNEO, 2007), o ensino da música nas igrejas evangélicas seria classificado como educação não formal por autores como Gadotti (2005), por exemplo. As práticas coletivas organizadas assim como as bandas e coros das igrejas, seriam classificadas como educação não formal (PARK; FERNANDES; CARNICEL, 2007). Assim, para Libâneo (2007), a educação formal é aquela que se refere à estruturação, organização e o planejamento intencional de um modo sistemático. O mesmo afirma que onde há ensino (escolar ou não), ali está presente a educação formal. Pensando desse modo e considerando essa afirmação, pode-se dizer que aulas de música dadas na igreja evangélica em salas específicas na igreja, são aulas formais. Para Libâneo (2000), existem duas

modalidades de educação, a educação não intencional, também chamada de educação informal ou paralela e a educação intencional, que se subdivide em educação não formal e formal. Santos (1991) relata as características de grupos que apresentam características do ensino não formal:

[...] são a facilitação do engajamento do aluno na prática musical, incluindo a execução instrumental desde o início, o acesso ao instrumento de imediato, participando com que é possível fazer no momento, em função das condições reais do sujeito [...] proporcionam o aprendizado prático e trazem estímulo ao aprendizado musical (SANTOS, 1991, p. 11).

As práticas musicais na igreja compreendem um complexo de aspectos, desde os produtores e receptores das ações musicais, o que eles produzem, como e por que e todo o contexto social e cultural que dá sentido às próprias ações musicais. As educações não formal, formal e informal se apresentam no ensino da música na igreja de diversas maneiras, nas quais o canto congregacional que acontece em todos os cultos seria o ensino informal, o aprendizado é realizado de forma espontânea pelos membros da igreja. “A aprendizagem musical informal na igreja acontece pelo uso comum e pela compreensão comum que se amplia pelo uso” (KERR, 2004, p. 5). Pode-se afirmar, então, que o canto congregacional possibilita o aprendizado não intencional, informal ou paralelo, pois o mesmo é realizado sem a intenção de profissionalização, com apenas um intuito que é adorar a Deus.

Nesse caso, o termo informal é o mais adequado para indicar a modalidade de educação que resulta do clima em que os indivíduos vivem, envolvendo tudo o ambiente e as relações socioculturais e políticas que se fundem no indivíduo e no grupo (LIBÂNEO, 2007). Ao discutir sobre o termo informal, ele esclarece que o mesmo pode ser visto como não formal, sendo considerado algumas vezes como educação musical não oficial e outras não escolares, utilizado para referendar o ensino e a aprendizagem de música que podem ocorrer nas situações cotidianas e entre as culturas populares.

Para Arroyo (2000), é possível perceber que não há unanimidade no que se refere a um termo que pode ser adotado para nomear uma realidade um tanto complexa, como tem se revelado esta que abrange o ensino e a aprendizagem decorrentes de contextos diversos. Ela reconhece que “particularmente, estamos à procura de denominações mais precisas que deem conta de contemplar toda essa diversidade” (ARROYO, 2000, p. 79). Neste seu trabalho de pesquisa, realizado em diferentes ambientes onde ocorrem práticas musicais diversas, a autora utilizou os termos escolar e não escolar referindo-se a esses espaços, mas ressalta que os termos podem ser problemáticos, pois a referência central recai sobre o espaço escolar.

A educação musical que acontece nos grupos musicais da igreja evangélica seria o ensino não formal, aquele ensino obtido através de muitos ensaios de preparação instrumental para o culto. E o ensino de música oferecido nos cursos livres de música da igreja seria o ensino formal, no sentido que o aprendizado ocorre nas salas de aula nas igrejas através de teoria musical e solfejo.

Ainda segundo Arroyo (2000), ao utilizarmos o termo formal para qualificarmos a educação musical, diferentes significados poderão ser destacados, pois esse termo pode ter significações tais como: escolar, oficial ou mesmo dotado de uma organização. Assim, a educação musical formal pode ser considerada tanto aquela que acontece nos espaços escolares e acadêmicos, envolvendo os processos de ensino e aprendizagem, quanto aquela que acontece em espaços considerados alternativos de música. Libâneo (2007) propõe uma setorização, ainda que esquemática, numa tentativa de explicar a interpenetração entre a educação informal, não formal e formal. Com esta setorização, ele afirma que a educação musical nas igrejas está classificada entre a educação informal e a não formal.

Arroyo (2000) afirma que existe também o trânsito entre o formal e o informal, onde se rompem os “modelos estereotipados de ensino da música” (ARROYO, 2000, p. 89). A afirmação reforça que não há uma classificação específica ou individual, mas que a relação da educação formal, não formal e a informal sempre estará presente na educação musical nas igrejas evangélicas de forma constante. A classificação do ensino de música no âmbito de educação não formal depende do tipo de atividade realizada.

[...] as relações dos alunos com a música e suas práticas e aprendizagens musicais são construídas a partir de conceitos, princípios, convenções, expectativas e padrões compartilhados. Estes vão sendo aprendidos e internalizados, de modo formal e/ou informal, ao longo da existência de cada aluno, a partir de suas experiências diretas e de interações com outras pessoas, com membros dos grupos, comunidade e/ou sociedade a que pertencem (DEL BEN, 2003, p. 34).

A necessidade de transitar entre o “formal” e o “informal” é colocada como questão de caráter primordial, pois para Arroyo (2000, p. 89) a educação musical contemporânea demanda a construção de novas práticas que deem conta da diversidade de experiências musicais que as pessoas estão vivenciando na sociedade atual. Assim, transitar entre o escolar e o extraescolar, o “formal” e o “informal”, o cotidiano e o institucional, torna-se um exercício de ruptura com modelos arraigados que teimam em manter separadas as esferas que na experiência vivida dialogam. “Ao mencionar às práticas musicais ocorridas dentro e fora

da escola, estou considerando, a educação musical como prática social e cultural que é mais ampla que a escolarização” (ARROYO, 2000, p. 78). Significa considerar não somente os espaços escolares e o que acontece neles, mas também considerar que o fazer musical das diversas culturas, tempos e sociedades traz tacitamente o ensino e aprendizagem desse fazer musical (ARROYO, 2000, p. 78). Torna-se relevante, portanto, refletir sobre, pois a música é feita por humanos, cada qual com sua singularidade sociocultural e biológica. Assim, é primordial a conciliação de um "ensino que utilize tanto construções performáticas para fins didáticos quanto performances como fenômenos culturais" (QUEIROZ, 2005, p. 55-56). A multiplicidade de espaços de atuação é apontada por Del Ben (2003) como uma das particularidades da formação do professor de música. Pesquisas realizadas em diferentes espaços e contextos da sociedade têm contribuído para uma abertura discursiva do ensino musical, ampliando as concepções pedagógicas e as estratégias educativas.

Queiroz (2004) ressalta que temos muito que aprender com os processos informais, “não no intuito de transportá-los para as instituições formais, mas sim com o objetivo de, a partir deles, entender diferentes relações e situações de ensino e aprendizagem da música” (QUEIROZ, 2004, p. 102). Nesse sentido, a educação musical deve ser inclusiva na valorização das diferenças nos múltiplos contextos escolares e não escolares.

Assim, é possível pensar num ensino da música democrático e inclusivo, que respeite a diferença, não para utilizá-la como base para a formação de iguais, mas principalmente para, por meio dela, construir saberes contextualizados com o universo particular de cada indivíduo e de cada grupo social (QUEIROZ, 2011, p. 22).

Ao transmitir saberes musicais, visões de mundo, significados e significâncias, o educador se utiliza de seu papel socializador para dialogar constantemente entre a educação, educador, educando e meio cultural democratizando a (re)construção do conhecimento e estabelecendo relações socioeducacionais na diversidade.