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Capítulo 6 Metodologia

6.3 Recolha de dados

6.3.2 Entrevistas

Na investigação qualitativa, as entrevistas podem ser utilizadas de duas maneiras distintas: como principal fonte de recolha de dados ou em conjunto com outras técnicas, como por exemplo a observação, a análise de documentos, entre outros (Bogdan e Biklen, 1994). Em ambas as situações, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo obter informação em relação aos aspetos não diretamente observáveis de uma dada situação, daí ser considerada uma técnica fundamental na recolha de dados (Bogdan & Biklen, 1994; Canavarro, 2003; Nunes, 2004).

Bogdan e Biklen (1994) assumem que o êxito da recolha de informação através da entrevista depende de vários fatores, entre os quais: (i) a sua preparação e estruturação: “As perguntas principais devem estar sempre na mente do entrevistador, devem ser cuidadosamente elaboradas algumas perguntas exploratórias” (Stake, 2016, p. 82); (ii) a qualidade de quem realiza a entrevista e neste ponto Stake (2016) é ainda mais específico, afirmando que durante a realização da entrevista o entrevistador necessita, acima de tudo, de saber ouvir não podendo, no entanto, esquecer-se de se manter no controlo da recolha de dados; e (iii) a personalidade do entrevistado, uma vez que o entrevistador, além de ser o recetáculo da entrevista, deve tentar desfrutar da mesma (Stake, 2016).

As entrevistas qualitativas possuem vários graus de estruturação, podendo variar de forma contínua entre as totalmente estruturadas e as não estruturadas (Bogdan & Biklen, 1994). No presente estudo, foram realizadas duas entrevistas ao professor e três aos alunos. Em ambos os casos, as entrevistas foram semiestruturadas, garantindo desta forma a obtenção de dados comparáveis (Bogdan & Biklen, 1994). Por outro lado, ainda que neste modelo exista uma orientação clara dos seus objetivos, concretizados em questões específicas, mantem-se uma atitude, por parte do investigador, de abertura e flexibilidade à integração de novas ideias (Canavarro, 2003).

Outra questão a salvaguardar foi a escolha adequada dos alunos a entrevistar, para tal refletiu-se sobre os critérios a seguir (Stake, 2016). Neste contexto, decidiu-se que os alunos fossem heterogéneos, com diferentes interesses pela escola e pela Matemática e diferentes níveis de sucesso escolar, além de terem sexos opostos. Assim, foi elaborado um breve questionário (Anexo 6) para passar aos alunos, com o objetivo único de ajudar a caracterizá-los. Embora haja informação sobre os alunos da turma, optou-se por recolher, também, informação mais detalhada e aprofundada a partir dos alunos referidos.

Durante a realização das entrevistas, tentou-se evitar a emissão de opiniões e a manifestação de expressões, a não ser o interesse e a atenção pelo que o professor e alunos diziam. Apesar de se ter utilizado um pequeno gravador e de os guiões de entrevista terem estado presentes durante a realização das mesmas, tentou-se que as entrevistas decorressem num tom informal de uma boa conversa, onde a investigadora assumiu o papel de boa ouvinte, falando muito menos que o professor e os alunos, evitando, sempre que possível interrompê-los (Stake, 2016).

A primeira entrevista realizada ao professor (guião no Anexo 7) teve como objetivos principais a caracterização do contexto escolar do professor, a sua relação com o currículo, a perceção de si próprio enquanto professor, além da reflexão sobre alguns episódios de sala de aula, quer do ponto de vista mais geral, quer mais em particular no que diz respeito ao desenvolvimento do pensamento algébrico. A segunda entrevista (guião no Anexo 8) visou caracterizar, do ponto de vista do professor, as suas práticas de ensino, de avaliação e a participação dos alunos, além de algumas questões sobre o pensamento algébrico dos mesmos e a reflexão por parte do professor em relação a algumas questões levantadas pelos alunos, enquanto entrevistados. As entrevistas do professor oscilaram entre cerca de uma hora e meia e as duas horas e meia.

No que diz respeito aos alunos, como já foi referido anteriormente, foram realizadas três entrevistas a dois alunos, a Ana e o Rui, que correspondiam aos critérios acima explicitados. A primeira entrevista está dividida em três partes (guião Anexo 9) e visou obter informação sobre diferentes conceções dos alunos, tais como a sua conceção sobre a Matemática, sobre a sala de aula de Matemática e sobre a Álgebra. A segunda entrevista (guião em Anexo 10) está dividida em duas partes, a primeira tem como principal objetivo perceber o desenvolvimento do pensamento algébrico dos alunos, nomeadamente no que diz respeito às sequências e regularidades e às funções. Na segunda parte da mesma, tentou-se compreender se os alunos alteraram a sua opinião sobre a aula de Matemática e, ainda, quais as suas conceções sobre o trabalho de grupo. A terceira entrevista (guião em Anexo 11) visou os mesmos objetivos que a anterior, acrescentando-se na primeira parte questões que tentaram compreender o desenvolvimento do pensamento algébrico, não só no que diz respeito às sequências e regularidades, às funções, como também às equações. Além disso, como esta entrevista, pelas razões já anteriormente referidas, ocorreu já durante o 8.º ano de escolaridade ainda que os conteúdos recaíssem sobre o 7.º ano, optou-se por questionar novamente os alunos sobre as suas conceções sobre a aula de Matemática e também sobre as dinâmicas de grupo, podendo assim comparar as

conceções destes de um ano letivo para outro (Bogdan & Biklen, 1994). Por sua vez, as entrevistas dos alunos oscilaram entre cerca de quinze minutos e uma hora.

Todas as entrevistas foram integralmente gravadas e transcritas. As transcrições foram elaboradas na íntegra por uma transcritora. Com o objetivo de verificar o texto e a consistência das anotações reviu-se posteriormente a totalidade das transcrições já efetuadas, confrontando-as com o registo áudio. Os guiões de entrevistas utilizados foram elaborados tendo em consideração a matriz de investigação e validados no âmbito do projeto AERA.