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Capítulo 6 Metodologia

6.1 Opções metodológicas

6.1.4 Questões de ética

A acusação de uma prática pouco ética pode destruir qualquer profissional. Neste contexto, “a ética consiste nas normas relativas aos procedimentos considerados corretos e incorretos por determinado grupo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 75). É consabido que os princípios éticos devem estar salvaguardados em qualquer investigação, devendo esta ser uma das preocupações dos investigadores na concretização dos seus estudos (Almeida, 1995). Desta forma, o investigador deve estar atento e consciente de toda esta problemática (Jacinto, 2017), uma vez que a utilização de padrões éticos comuns, além de potenciar a ação esclarecida e autónoma dos investigadores, favorece também o seu processo de construção identitária, contribuindo desta forma para a credibilização pública, em particular da comunidade científico-educacional portuguesa (SPCE, 2014).

São várias as entidades de abrangência nacional e internacional que ao longo das últimas décadas têm elaborado um conjunto de princípios orientadores da prática de investigação em ciências da educação (Bogdan & Biklen, 1994; Jacinto, 2017).

Bogdan e Biklen (1994) enumeram um conjunto de quatro princípios éticos a ter em conta pelos investigadores qualitativos. Segundo os autores, os investigadores devem: (i) proteger as entidades dos sujeitos que participam no estudo; (ii) tratar respeitosamente os sujeitos participantes na investigação, por forma a que estes cooperem na mesma; (iii) ser claros e explícitos no que diz respeito aos termos do acordo que integram o pedido de autorização para a realização do estudo, que deve ser respeitado até ao fim dos trabalhos; por fim (iv) ser autênticos ao escrever os resultados, mesmo que as conclusões obtidas não sejam totalmente do seu agrado.

No planeamento e execução deste estudo, teve-se em conta várias recomendações relativamente a questões de ética no que diz respeito à investigação científica, em particular, nas ciências da educação. Deste modo, e em conformidade com o estabelecido pela Carta Ética da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE, 2014), passo a explicitar os princípios éticos acautelados nesta investigação, tal como os procedimentos adotados com esse intuito.

O consentimento informado é um dos princípios éticos fundamentais e afirma o seguinte: “Os participantes têm direito a ser plenamente informados e esclarecidos sobre todos os aspetos relativos à sua participação, bem como a mudar os termos da sua autorização, em qualquer altura da investigação” (SPCE, 2014, p. 7). Neste âmbito, nos primeiros contactos mantidos com todos os intervenientes, agrupamento de escolas, professor, alunos e encarregados de educação deixou-se claro os propósitos desta investigação, tal como todos os procedimentos previstos e as condições em que se realizaria o estudo. Foi ainda explicitada a necessidade de se observar aulas, através de observação direta e vídeo gravação, bem como de se proceder a várias entrevistas, além dos mecanismos de registo.

Outro princípio ético a ter em conta é o da garantia de confidencialidade/privacidade que refere que “os participantes da investigação têm o direito à privacidade, à descrição e anonimato” (SPCE, 2014, p. 8). Ou seja, os investigadores têm a obrigação de manter em anonimato e confidenciais os dados fornecidos pelos participantes. Tendo em conta esta premissa, no presente estudo foi garantido o anonimato de cada participante, tal como está expressamente referido na declaração de autorização de participação dada a assinar aos encarregados de educação (Anexo 3) de cada um dos intervenientes. No que diz respeito à elaboração do relatório, tal como noutros documentos publicados, o anonimato é garantido através do uso de nomes fictícios. Neste âmbito, foi dirigido à direção da escola um pedido de autorização (Anexo 4) de realização do presente estudo no referido estabelecimento. Sobre este assunto há ainda a referir que se optou por ocultar o rosto dos participantes neste relatório e em todas as publicações associadas.

No que diz respeito à divulgação de informação, outro princípio constante na carta ética, “Os participantes têm o direito a ser informados sobre os resultados da investigação e sobre a forma como esses resultados vão ser usados e divulgados, em conformidade com o que for acordado no âmbito do consentimento informado” (SPCE, 2014, p. 9), pode-se afirmar que este princípio também foi acautelado. Quer os alunos participantes e os seus pais, quer o professor foram devidamente informados sobre os produtos esperados

em consequência desta investigação. Além disso, os participantes foram consultados no momento de conclusão da investigação, com o objetivo de partilhar com eles os dados da sua participação.

No que diz respeito à possibilidade de desistência da participação, outro princípio da carta ética, segundo o qual “Os participantes têm sempre o direito a manifestar dúvidas ou reservas relativamente à sua participação, com motivo ou sem motivo expresso” (SPCE, 2014, p. 9), optou-se por dar essa informação na primeira reunião presencial com a direção da escola, com o professor e, por fim, com os alunos, na aula onde me fui apresentar.

A relação com os participantes também se pautou pelo princípio do benefício e do respeito pela sua integridade física e moral, uma vez que os processos de investigação, bem como os seus resultados, foram pensados e comunicados de forma a evitar qualquer ameaça para a integridade dos envolvidos (SPCE, 2014). Aliás, o sucesso do presente estudo será tanto maior quanto for o sucesso dos participantes no mesmo, daí a importância de os intervenientes se sentirem confortáveis e confiantes com a sua participação na investigação.

Finalmente, é importante referir o cuidado tido no estabelecimento de relações com outros investigadores, especificamente pelo facto deste trabalho ter sido desenvolvido no seio do Projeto AERA6 - Avaliação e Ensino na Educação Básica em Portugal e no Brasil: Relações com as Aprendizagens. Neste contexto, realizei vários trabalhos de colaboração com outros investigadores, ainda que em torno de outros dados que não os deste estudo, no entanto a definição da autoria e coautoria foi sempre tida em conta.

Em suma, durante a realização do presente estudo as questões de ética estiveram sempre presentes tal como recomenda (Stake, 2016).