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Capítulo 3 Avaliação das aprendizagens em Matemática

3.4 Práticas de ensino e de avaliação

3.4.2 Papel do aluno

A avaliação formativa pressupõe uma partilha de responsabilidades entre professores e alunos, no que diz respeito à avaliação e à regulação das aprendizagens. É certo que o desenvolvimento deste tipo de avaliação implica mudanças, não só no papel dos professores, como também no dos alunos. A compreensão desta premissa pode fazer a diferença nos alunos, dando-lhes a confiança que eles necessitam para que desenvolvam a capacidade de fazerem algo por forma a ultrapassarem as suas dificuldades (Black, 2009).

Desta forma, o aluno deve ser envolvido na sua avaliação, assumindo um papel ativo, por forma a tornar-se consciente e a ser capaz de gerir os seus conhecimentos e a capacidade de os desenvolver. O facto de o aluno ser capaz de se autoavaliar e de autorregular as suas aprendizagens está dependente do modo como ele aprende a lidar com o processo de ensino e aprendizagem, ao se confrontar com a necessidade de construir novos conhecimentos (Dias & Santos, 2013).

Na perspetiva de Fernandes (2005), para conseguirem aprender melhor e mais aprofundadamente, os alunos têm de ter a responsabilidade de: participar ativamente nos processos de aprendizagem e avaliação; desenvolver tarefas propostas pelo professor e/ou as que resultam da sua escolha e iniciativa; utilizar o feedback fornecido pelos professores para regularem as suas aprendizagens; analisar o seu trabalho através dos seus processos metacognitivos e da autoavaliação; regular as suas aprendizagens tendo por base os resultados da autoavaliação e dos seus recursos cognitivos e metacognitivos; partilhar o seu trabalho, as suas dificuldades e os seus sucessos com os colegas e com o professor; organizar o seu processo de aprendizagem.

Em suma, os alunos serão responsáveis principalmente pelo desenvolvimento dos processos referentes à autoavaliação e à autorregulação das suas aprendizagens. No entanto, para que este processo possa ter sucesso é necessário que os alunos se apropriem dos critérios de avaliação, sendo por isso fundamental que o professor os explicite, antes do início de uma determinada tarefa (Dias & Santos, 2013).

3.5 Síntese

Atualmente, as práticas de avaliação estão no centro do sistema educativo. A avaliação tem cada vez mais um lugar de destaque no processo educativo. Por outro lado, há muitos anos que a investigação reconhece a necessidade de se alterar, para melhor, as práticas de avaliação das aprendizagens dos alunos.

O conceito de avaliação tem sofrido muitas alterações ao longo dos anos e foi estando sempre associado a diferentes perspetivas ideológicas, epistemológicas, psicológicas e pedagógicas. A forma como se concebe e implementa a avaliação está intimamente ligada com as funções que se atribui à escola na sociedade; com os critérios de validação de conhecimentos; com a forma de entender a natureza do conhecimento e o processo de aprendizagem; e, consequentemente, com a perspetiva de ensino e aprendizagem onde se baseia a prática docente em sala de aula.

A mudança de práticas avaliativas requer, na nossa perspetiva, a capacidade de enquadrar conceptualmente o que se faz e o que se pretende fazer. Desta forma, considerou-se importante fazer uma breve caracterização das três gerações de avaliação que Guba e Lincoln (1989) distinguem. São elas a avaliação como medida, como descrição e como juízo de valor. Na opinião dos autores, as três gerações de avaliação estão associadas a outras tantas perspetivas, abordagens, significados e conceptualizações, possíveis de identificar ao longo dos últimos cem anos, aproximadamente. A primeira geração trata-se de uma conceptualização em que avaliar é sinónimo de medida. Infelizmente, pelo que foi escrito ao longo do capítulo, pode-se afirmar que as características desta avaliação ainda influenciam consideravelmente os atuais sistemas educativos. A segunda geração procurou superar algumas falhas e limitações da anterior, e o que principalmente a diferencia da conceptualização desta é o facto de nesta geração se formularem objetivos comportamentais e de se verificarem se são ou não atingidos. A terceira geração também nasce da necessidade de se ultrapassar falhas da anterior, e é a geração em que a avaliação começa a alargar verdadeiramente os seus horizontes. É nesta geração que surgem ideias como a definição de critérios de avaliação, a importância dos contextos de ensino e aprendizagem nos processos de ensino e avaliação, a importância de a avaliação envolver todos os intervenientes no processo, a recolha diversificada de informação e a avaliação como uma prática reguladora do ensino e da aprendizagem.

A avaliação formativa é uma avaliação para a aprendizagem, cujo principal objetivo é fazer com que os alunos aprendam com compreensão, desenvolvendo competências do domínio cognitivo e metacognitivo. A avaliação formativa é uma construção social complexa, um processo fortemente pedagógico, integrado plenamente no ensino e na aprendizagem, deliberado, interativo e cuja função principal é a de regular e melhorar as aprendizagens dos alunos.

Atualmente, não faz qualquer sentido considerar os processos de ensino, avaliação e aprendizagem como entidades de mundos distintos. Nesta perspetiva, é necessário haver um estreito relacionamento entre a avaliação, o currículo, as estratégias a desenvolver em sala de aula, e as metodologias, o que obriga, sempre que possível, que as tarefas de aprendizagem sejam coincidentes com as de avaliação.

Contudo, a alteração de práticas de avaliação, com recurso a novas e inovadoras formas de avaliar os alunos, implicará sempre mudanças profundas nas formas de organizar e desenvolver o ensino e vice-versa (Perrenoud, 1999; Fernandes, 2015).

O desenvolvimento da avaliação formativa implica mudanças quer no papel do professor, quer no do aluno. Neste contexto, cabe ao professor ser criativo na gestão curricular e na preparação de aulas. As tarefas devem ser simultaneamente de ensino, aprendizagem e avaliação, devendo transmitir informações claras e precisas ao aluno sobre o seu conhecimento. O feedback fornecido deve ajudar os alunos a atingirem os objetivos propostos e os critérios de avaliação deverão ajudar a desenvolver a capacidade de os alunos se autoavaliarem e autorregularem. Quanto aos alunos devem assumir um papel ativo na gestão dos seus conhecimentos e na capacidade de os desenvolver. Cabe- lhes principalmente a responsabilidade pelo desenvolvimento dos processos referentes à autoavaliação e autorregulação das suas aprendizagens.

Em suma, a mudança não só é possível, como está ao alcance de todos. É possível melhorar o que é aprendido e o modo como é aprendido. É certo que a avaliação formativa não é a resolução para todos os problemas dos sistemas de ensino, mas é com certeza um processo essencial ao apoio dos alunos no desenvolvimento das suas aprendizagens, em especial àqueles que têm mais dificuldade em aprender. No entanto, é ainda importante referir que o sucesso das mudanças aqui veiculadas depende fortemente do apoio que os professores possam vir a ter. É importante que lhes seja facultada formação de qualidade, além da possibilidade de trabalharem em conjunto, pois só assim conseguirão enfrentar os desafios inerentes a este processo.