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Uma das mais importantes teorias desenvolvidas para tentar explicar o comportamento dos gestores das corporações é a TEORIA DA AGÊNCIA (JENSEN; MECKLING, 1976). Antes de discorrer sobre ela, é importante buscar outras teorias que formaram o conceito de agência na empresa.

2.3.1. Propriedade e controle

Jensen e Meckling (1976) descrevem o contexto em que a teoria da agência se inicia.

Segundo os autores, a empresa descrita pela teoria econômica clássica, antes da era industrial, assumia o proprietário como único controlador da empresa. As sociedades pré-industriais encontravam em seu interior as muito frequentes unidades de produção familiar − o alfaiate, o ferreiro, o padeiro etc. – cuja “empresa”9 era o próprio trabalhador, raras vezes auxiliado por um funcionário de fato. Havia também uma mistura de papéis entre o patrimônio pessoal do empresário e o patrimônio da empresa.

Uma abordagem interessante foi realizada por Lopes e Martins (2005) que afirmam que a TEORIA DA PROPRIEDADE assume que o proprietário da empresa é o único interessado nela num primeiro momento; a propriedade é vista como um valor líquido entre ativos totais

9 Desconsidere-se o anacronismo, já que as atividades individuais constituíam trabalho, profissão. Caracterizam-se, até cerca do século XVIII, como atividades intensivas limitadas a artesãos e a mão de obra não qualificada, especialmente a voltada à agricultura.

menos passivos com terceiros; as receitas da empresa representam um aumento de sua propriedade e as despesas são vistas como diminuição de sua propriedade.

Acerca disso, Berle e Means (1932) descrevem que, na propriedade individual, ou propriedade privada, o dono da empresa é responsável pelos instrumentos de produção e possui direitos completos sobre seus instrumentos de geração de dinheiro. As organizações sobre o sistema de empresas privadas estão dominadas pelo interesse pessoal do dono da empresa. Esse interesse pessoal ocorre na preocupação apenas com a concorrência e condições de oferta e demanda. Essas preocupações garantem, da melhor forma, a eficiência econômica da empresa. Por isso, de acordo com Berle e Means (1932), se o indivíduo é protegido pelo direito de uso de sua propriedade − pode receber todos os frutos deste uso, utilizá-lo para ganhos pessoais e lucros −, infere-se que o incentivo para o uso de sua eficiência é exatamente o uso da propriedade que ele possui.

Dentro desse contexto, é possível afirmar que o gestor (quando é o proprietário da empresa) é um indivíduo que trabalha de forma racional e irá procurar otimizar o lucro de longo prazo para que se possa aumentar o valor da empresa (LOPES; MARTINS, 2005).

Todas essas premissas não existem em uma corporação, como descreve Berle e Means (1932). Essa é a uma das grandes contribuições do trabalho dos autores. A separação de propriedade e controle, dada pela existência da corporação, prevê que os proprietários não mais são os únicos beneficiários da geração de riqueza da empresa. Os responsáveis pelo controle da riqueza e da eficiência e da produção de lucros não são mais os donos, mas um gestor, que pode possuir ou não uma parte muito pequena da empresa.

Nesse contexto, os acionistas, que são os detentores dos direitos sobre os lucros da empresa, não podem ser motivados pelo lucro para gerir a empresa, uma vez que sua força nas decisões é tão pequena que não conseguiriam ter esse controle e dependeriam das decisões daqueles que realmente possuem o controle sobre as decisões da empresa. Acerca disso, observe-se a excepcional descrição de Berle e Means (1932):

...The explosion of the atom of property destroys the basis of the old assumption that the quest for profits will spur the owner of industrial property to its effective use. It consequently challenges the fundamental economic principle of individual initiative in industrial enterprise. It raises for reexamination the question of the motive force back of industry, and the ends for which the modern corporation can be or will be run.

Isso significa que, uma vez que a empresa não é tratada apenas como uma propriedade, em que os seus donos se beneficiam continuamente de tudo o que ela pode trazer de retorno e riqueza, o princípio e a teoria econômica das decisões também irão mudar, assim como as iniciativas e as motivações gerenciais.

A corporação moderna possui uma separação clara entre os proprietários (acionistas) e os controladores (tratados pela literatura pelo termo gestores). Isso irá influenciar claramente no tipo de decisão de cada um deles e também na forma com o o gestor irá administrar os ativos da empresa. Outra descrição perfeita do que passa a ocorrer quando existe separação e controle foi feita por Berle e Means (1932, p. 9):

Economic Power, in terms of control over physical assets, is apparently responding to a centripetal force, tending more and more to concentrate in the hands of a few corporate managements. At the same time, beneficial ownership is centrifugal, tending to divide and subdivide, to split into ever smaller units and to pass freely from hand to hand.

Na visão de Berle e Means (1932), a propriedade tende a continuar cada vez mais dispersa enquanto que o poder de decisão deverá ser mais concentrado. O sistema corporativo, por sua vez, será ainda mais seguro, garantindo aos acionistas que os seus interesses sejam alcançados.

No entanto, a partir desta teoria, Berle e Means (1932) também relataram o conceito de conflito de agência (CA) entre os participantes, depois discutida largamente a partir do trabalho de Jensen e Meckling (1976), entre outros autores. Esse conflito, segundo Lopes (2004), “surge quando os agentes ligados à empresa possuem interesses contrastantes e ao colocar seus interesses pessoais em primeiro lugar acabam por prejudicar o andamento da organização”.

Por causa disso, surgem, então, as teorias desenvolvidas por Jensen e Meckling (1976), em seu trabalho sobre o comportamento gerencial, conflito de agência e estrutura de propriedade.

2.3.2. Conflito de agência

Os autores fazem um retrospecto das teorias principais de finanças corporativas e definiu a relação de agência (cf. JENSEN; MECKLING, 1976) como um contrato no qual uma ou

mais pessoas (interessado principal) encarrega outra pessoa (o agente) a fazer um serviço em seu lugar. Tal procedimento envolve delegar algumas autoridades de decisão.

Seguindo os conceitos de separação de propriedade e gestão desenvolvidas por Berle e Means (1932),os autores partiram para o desenvolvimento da estrutura de compensação dos gestores, de forma a fornecer alinhamento entre os seus interesses e dos acionistas.

Definiram que os custos de agência são derivados da separação de propriedade e controle. Em uma empresa gerenciada totalmente por seu proprietário, suas decisões serão sempre de forma a maximizar a sua utilidade. As decisões do gestor (e proprietário) serão tomadas para aumentar os seus benefícios por meio da prática empreendedora como atividades de escritório, dos funcionários, relações pessoais entre outras. Uma vez que o proprietário vende parte do capital da empresa a terceiros, custos de agência serão gerados a partir do momento em que os interesses do proprietário gestor não sejam iguais aos dos outros acionistas. O mesmo custo irá ocorrer quando o proprietário não for mais o gestor da empresa e fizer essa delegação a terceiros. (JENSEN; MECKLING, 1976, p. 89).

A partir desse problema, os autores Jensen e Meckling (1976) discutem o sistema de compensação dos gestores de forma a igualar os interesses dos gestores e dos proprietários.

Apesar disso, mesmo com uma estrutura de compensação eficiente, os autores afirmam que há custos de agência e que esses custos podem ser diminuídos por meio do aumento do débito com terceiros, o que aumenta o monitoramento.

O mesmo custo de agência pode existir em relação aos credores da empresa. Jensen e Meckling (1976) e Eisenhardt (1989) avaliaram tais custos em relação ao débito e mostraram que o aumento do custo do débito com terceiros ocorre porque os credores identificam a expropriação de riqueza por parte dos acionistas majoritários. Laffont e Martimort (2001, p.

118) também tratam da responsabilidade limitada dos sócios como um motivo para identificação dos custos de agência do débito.