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O PAPEL DA FAMÍLIA NAS EMPRESAS

2.4. C ONTROLE , F AMÍLIA F UNDADORA E E MPRESAS F AMILIARES

2.4.3. O PAPEL DA FAMÍLIA NAS EMPRESAS

A empresa familiar tem como característica principal o controle da empresa nas mãos dos membros da família. Além disto, por não diversificar seus investimentos, acaba por concentrar sua riqueza em um só tipo de negócio e, portanto, torná-lo mais arriscado ao longo do tempo. Por outro lado, mantém esse investimento por muitas gerações. Outra característica importante é que, por possuir uma grande porção do capital da empresa, normalmente faz com que ela tenha poder suficiente para que as decisões corporativas estejam de acordo com os interesses da família, o que nem sempre é interessante para os acionistas minoritários da empresa (ANDERSON e REEB, 2004).

Essa predominância familiar fica evidente nos trabalhos de Black et al. (2008), que mostram serem os conselhos de administração das empresas ainda quase totalmente

compostos por membros da família ou indicados por controladores. Dessa forma, os interesses dos controladores são sempre determinantes no processo de tomada de decisão.

A separação entre propriedade e gestão também foi tema dos trabalhos de Dedoussis e Papadaki (2010), que descrevem os investimentos e a governança nas empresas familiares gregas. Segundo os autores, elas são primariamente baseadas em propriedade familiar e não há separação entre propriedade e gestão.

As empresas familiares podem ainda apresentar características comuns, de acordo com Al-Ajmi et al. (2009): (i), são fundadas por empreendedores baseado em capital humano; (ii) num primeiro momento, a busca de capital é feita com recursos internos ou empréstimos familiares; (iii) as empresas só buscam capital externo quando precisam sustentar seu crescimento em um segundo momento e (iv) o desejo pelo controle e permanência dele.

Vários estudos têm tratado do conflito entre os acionistas da empresa ̶ principalmente entre os acionistas que controlam essas empresas (a família) e os acionistas minoritários. Nem sempre, no entanto, os resultados são singulares e conseguem tratar o tema de forma completa. Drozdow e Carroll (1997) encontraram ligações estratégicas dos executivos com o fundador e com a família, mesmo quando a família não é controladora da empresa.

Outro aspecto importante a se notar quando se trata da influência familiar no controle da empresa é que, muitas vezes, essa influência pode ser negativa. Agrawal e Nagarajan (1990), por exemplo, discorrem sobre os fatores que influenciam a decisão sobre a estrutura de capital da empresa, analisando as caracteristicas financeiras, gerenciais e de propriedade.

Algumas de suas conclusões envolve a familia fundadora, cuja interferência, afirmam, resulta em uma relação negativa entre controle familiar e endividamento nas empresas.

Nessa mesma linha, o trabalho de Lee (2011), com subsidiárias familiares, indica elas são menos endividadas. Segundo o autor, empresas familiares buscam maior endividamento interno para não emitir capital. A esse mesmo resultado chegaram, Oro et al. (2008), quanto ao Brasil: há maior utilização do capital próprio por empresas familiares e menor endividamento.

Mais uma vez, os resultados das pesquisas não se mostraram uniformes. Leavell e Maniam (2009), e.g., mostram que as pesquisas em pequenas empresas concluíram, nos últimos anos, que elas buscam endividamento externo em detrimento de busca de capital por meio de emissão de ações. Isso foi atribuído por diversos autores (LANDSTROM;

WINBERG, 2000; Gómez-Mejía et al., 2007 ) à preocupação do dono da empresa em perder

o controle do negócio pensamento que caracteriza o perfil do acionista majoritário e controlador.

Dessa forma, o gestor de uma empresa familiar tenderia a tomar as decisões mais baseadas na continuidade da empresa do que no seu potencial de lucros e geração de valor. Ou seja, esses gestores terão uma tendência muito maior a aumentar a valorização do risco em investimentos incertos, porque possuem tendência a não diversificar seu portfólio. Isso significa que seu risco já está concentrado, portanto qualquer avaliação de investimentos terá um desconto de risco muito maior entre sua geração de riqueza presente e futura.

Gomés-Mejía et al., (2007), a propósito, apontam para uma importante observação quanto ao risco assumido pelas empresas familiares. Em sua pesquisa, eles indicam que as empresas gerenciadas pela família fundadora tendem a ser, ao mesmo tempo, avessas ao risco para investimentos, mas simpáticas a ele quando as decisões envolvem suas doações socioemocionais. Essas afirmações, que também são corroboradas pelos trabalhos de Bowman (1984), Singh (1986), Bromiley (1991) e Miller e Chen (2004), são fundamentais para que se possa entender o componente comportamental das famílias fundadoras nas decisões da empresa. Além disso, também mostram o quanto a teoria da agência, nesse caso, não considera esses componentes familiares quando afirma que os gestores podem eliminar as preferências de risco quando são os próprios donos da empresa.

Também em relação ao valor da empresa, Anderson e Reeb (2004) observaram que, consistentemente com a teoria da agência, as empresas mais valiosas eram aquelas nas quais diretores independentes balanceavam a representação das familias. Em contraste, empresas nas quais os diretores eram, na sua maioria, pertencentes às familias fundadoras, com poucos diretores independentes, a performance da empresa também se mostrou significativamente pior do que a das empresas não familiares. Nesse sentido, a necessidade de governança corporativa exercida pelos diretores faz com que a gestão seja mais eficiente em empresas com diretores não pertencentes à familia fundadora.

Nota-se que o entendimento sobre as famílias fundadoras é essencial para a compreensão das empresas no Brasil e no resto do mundo. Burkart et al. (2003), v.g., ressaltam tal importância ao mostrar que o monitoramento da família fundadora é necessário para diminuir o oportunismo gerencial dos gestores contratados, causa dos conflitos de agência. Um elemento chave para reduzir o poder da família fundadora, beneficiando a empresa, seria limitar a expropriação de riqueza dos acionistas minoritários. Tal expropriação de riqueza, observada em diversos estudos de finanças, mostra frequentemente que a família

fundadora tende a beneficiar-se, em detrimento dos minoritários, mesmo com grande controle legal. (ANDERSON e REEB, 2004)