• Nenhum resultado encontrado

2.2 O RUÍDO

2.2.2 Equipamentos de Proteção Individual

Na concepção de Wladimir Novaes Mertinez (2016) a criação e difusão dos equipamentos de proteção, sejam eles individuais ou coletivos (EPI - EPC), ocorreu devido a necessidade de proteção aos trabalhadores, pela constatação cada vez mais frequente de agentes insalubres nos ambientes de trabalho. Segundo o autor, os equipamentos de proteção podem diminuir, ou, até mesmo evitar totalmente a ação deletéria dos agentes insalubres.

Nesse sentido, esclarece Alexsandro Menezes Farineli:

Sobre o conceito de Equipamento de Proteção Individual considera-se: Todo dispositivo de uso individual destinado a proteger a integridade física do trabalhador. NR - 6 Dessa forma temos que o dispositivo, tais como, capacete, roupa, protetores auriculares, botas, luvas, etc. todo este material é considerado EPI, e deve ser fornecido pelas empresas, para fins de proteção da integralidade do trabalhador, pois é dever do empregador oferecer um ambiente saudável e seguro. (FARINELI, 2014, p. 100).

Na mesma senda, destacando a superficialidade em algumas decisões em processos previdenciários, Maria Helena Carreira Alvin Ribeiro argumenta que:

Algumas vezes, as razões apresentadas para o indeferimento de benefícios de aposentadoria se restringem ao argumento de que a utilização de EPIs - Equipamentos de Proteção Individual, ou EPCs - Equipamentos de Proteção Coletiva pelo segurado eliminariam os danos ao organismo. Equipamento de Proteção Individual - EPI é o instrumento colocado à disposição do trabalhador visando evitar ou atenuar o risco de lesões provocadas por agentes físicos, químicos, mecânicos ou biológicos presentes no ambiente de trabalho.” (RIBEIRO, 2018, p. 237).

Porém, a discussão acerca da descaracterização da especialidade laboral em função da utilização de EPI eficaz vai além das características técnicas dos equipamentos, como bem explana Alexsandro Menezes Farineli, que, já no ano de 2014, indicava haver “[...] um grande debate, com grandes e respeitados doutrinadores e jurisprudências se dividindo, a questão é se o fornecimento de Equipamento de Proteção Individual descaracteriza a concessão da aposentadoria especial.” (FARINELI, 2014, p. 100).

Segundo José Antonio Savaris, de acordo com as normas previdenciárias, a incidência de agente insalubre só poderá ocasionar o reconhecimento da especialidade de uma atividade, caso o segurado tenha, de fato, prejuízo de sua

saúde ou integridade física. Por isso, a utilização de equipamentos que venham a anular, ou amenizar à níveis seguros a incidência do agente insalubre, tem o condão de desqualificar a atividade como especial. Porém, para isso, ressalta o autor, é necessário haver a comprovação do fornecimento contemporâneo, suficiente e adequado de EPI's eficazes para elidir os efeitos insalubres dos agentes presentes no ambiente de trabalho, e ainda, comprovação de que, foi efetivamente utilizado o equipamento pelo trabalhador (SAVARIS, 2014).

Em contraponto, no sentido de priorizar a elisão do agente insalubre em sua fonte, explanam Castro e Lazzari citando conceitos do próprio CRPS (Conselho de Recursos da Previdência Social) e do TST (Tribunal Superior do Trabalho):

Sobre os EPI's, é relevante mencionar o Enunciado n. 21 do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS): “O simples fornecimento de equipamento de proteção individual de trabalho pelo empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos agentes nocivos à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho”. No mesmo sentido o Enunciado n. 289 do Tribunal Superior do Trabalho: “Insalubridade.

Adicional fornecimento do aparelho de proteção. Efeito: O simples fornecimento do aparelho de proteção pelo empregador não o exime do pagamento do adicional de insalubridade. Cabe-lhe tomar as medidas que conduzam à diminuição ou eliminação da nocividade, entre as quais as relativas ao uso efetivo do equipamento pelo empregado”. (CASTRO;

LAZZARI, 2016, p. 748).

No mesmo sentido, Adriane Bramante de Castro Ladenthin idealiza:

Claro que seria ideal que o trabalhador ficasse totalmente protegido das condições adversas do ambiente laboral e que tal aposentadoria nem existisse, pois não deveríamos ter trabalhadores expostos a agentes agressivos. Mas, infelizmente, isso não é possível, considerando que há agentes nocivos pela sua própria natureza, concentração, como é o caso, por exemplo, dos agentes biológicos e dos demais agentes qualitativos, o que inviabiliza a extinção desse benefício. (LADENTHIN, 2014, p. 291).

Segundo Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro (2018), a complexidade vai além da utilização de EPI e eventual pagamento de adicional de insalubridade como forma de compensação ao trabalhador, indicando que a real proteção ao empregado seria focar-se nas fontes geradoras dos agentes insalubres, eliminando do próprio ambiente de trabalho os agentes insalubres, pois, em verdade, não há qualquer bônus financeiro que compense a degradação da saúde do trabalhador.

Ainda recente e recorrente em alguns casos, são duas as vertentes acerca da descaracterização ou não da insalubridade pela utilização eficaz de EPI's, assim

abordadas por Alexandro Menezes Farineli:

Entretanto, temos encontrado fundamentos sólidos pelos dois lados, para aqueles que se filiam a favor da descaracterização, se apegam argumento, de que o fornecimento dos devidos equipamentos, são o suficiente para descaracterizar o caráter especial da atividade. Entretanto, ousamos discordar, destes eminentes profissionais, uma vez que, a lei visa resguardar a saúde ou a integridade física, pelo simples fato do segurado se expor a risco em virtude da realização de seu trabalho, e não necessariamente que a cada dia da execução de seu trabalho haja uma ofensa a integridade física ou um ataque a saúde deste segurado. Portanto, o fato gerador deste benefício está no exercício de atividade que possa ser objeto de agressão a integridade física ou a saúde deste segurado.

Considerando, que basta a simples execução do trabalho em condições possam prejudicar a saúde ou a integridade física temos a súmula numero 9 do CONSELHO FEDERAL DE JUSTIÇA: Súmula nº 09 do CJF - Aposentadoria Especial - Equipamento de Proteção Individual - O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado. (Publicada no DJ de 05.11.2003) (FARINELI, 2014, p. 101).

José Antônio Savaris (2018) traz a correlação entre as esferas trabalhista e previdenciária prevista na Lei 8.213/91, nos casos em que se discuta enquadramento da especialidade das atividades laborais e, nos autos, conste informação de fornecimento e utilização de EPI's. Segundo o autor, foi a Lei 9.732/98 que modificou o art. 58 da Lei 8.213/91, acrescentando a exigência de constar, nos laudos técnicos de condições do ambiente de trabalho, informações sobre a utilização de EPI, resguardando-se os parâmetros da CLT.

Para Adriane Bramante de Castro Ladenthin, descaracterizar a exposição do trabalhador aos agentes nocivos pela simples menção do fornecimento dos EPIs é uma visão equivocada, pois a percepção de que, havendo necessidade de utilização de EPI, então existe nocividade no ambiente de trabalho. Ela explana que a Lei 8.213/91 em seu artigo 57 “[...] estabelece que a aposentadoria especial será devida ao segurado sujeito a condições agressivas prejudiciais à saúde. O benefício é devido pela sujeição dele ao risco, independentemente de ter ou não a saúde efetivamente prejudicada.” (LADENTHIN, 2014, p. 287).

Referida autora explana que, mesmo sendo o EPI eficaz para atenuação ou neutralização dos agentes insalubres, outros fatores, como a má utilização, por exemplo, podem interferir na sua real eficácia. Diferentemente da forma que vem procedendo a Instituição Previdenciária em seus recursos, a qual, utilizando-se do trabalho chamado “Protetor Auditivo” do Professor Ph.D. Samir N. Y. Gerges, coleta, apenas argumentos, que de certo ponto de vista, lhes são vantajosos. No entanto, a

autora esclarece que Gerges não está alinhado com as justificativas do INSS, pois afirma que pode existir real eficácia dos EPI's, porém deixa saliente que muitos fatores externos inviabilizam essa real efetividade (LADENTHIN, 2014).

A autora exemplifica certos motivos pelos quais não são atingidos os efeitos desejados dos EPI's. Nas palavras de Gerges, evidenciando uma realidade na qual o operário aloca ou posiciona os protetores auriculares para sua máxima comodidade, ou seja, não totalmente inserido no ouvido, assim, tornando-o ineficaz.

Explica, ainda, que seria correto as empresas efetivamente aplicarem instruções corriqueiras aos trabalhadores, além da busca por melhores equipamentos, modificando o tipo de protetor utilizado, se for preciso, para um mais confortável, como o de concha, por exemplo (LADENTHIN, 2014).

Entre outros motivos para a falta de efetividade dos EPI's, a referida autora cita Gerges:

A escolha do protetor auditivo deve ser feita com critérios científicos considerando o conforto como o primeiro parâmetro. (c) O não uso do protetor auditivo em 100% do tempo de exposição ao ruído. Um simples cálculo mostra que, um protetor com NRRsf = 20dB usado durante 4 horas em uma jornada de 8 horas com nível de exposição de 100dBC, fornece um nível equivalente de exposição a 97dBA, isto é, o usuário ganhou apenas 3dB de atenuação. A figura 5 mostra o efeito de % de uso do PA na atenuação conseguida. (d) Podem existir perdas auditivas durante horários de lazer causados pela exposição ao ruído da prática de algumas atividades tais como: música alta, dirigir motocicletas, etc. (e) A falta da escolha de um protetor auditivo CONFORTÁVEL, faz com que o usuário não aceite o uso dele, colocando-o de forma incorreta e não usando-o o tempo todo.

(GERGES, apud LADENTHIN, 2014, p. 291 - 292).

Nesse sentido, João Marcelino Soares, em 2014 já mencionava o ARE 664335, objeto de estudo da presente pesquisa, objetivando demonstrar a mesma linha de raciocínio que leva às conclusões acerca da utilização dos EPI's:

Por derradeiro grife-se que, diferentemente da seara trabalhista, a insalubridade, para fins previdenciários, é reconhecida mesmo que haja uso de equipamento de proteção que a afaste. É o que o preceitua a Súmula 09 da TNU: “O uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído. não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado”. Em sentido semelhante, o Enunciado 21 do CRPS: “O simples fornecimento de equipamento de proteção individual de trabalho pelo empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos agentes nocivos à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho”. Todavia, a questão agora aguarda decisão do STF em que foi reconhecida repercussão geral no ARE 664335. (SOARES, 2014, p. 98) [grifos do autor].

Segundo Maria Helena C. A. Ribeiro (2018), as normas previdenciárias não indicam a necessidade de efetiva comprovação de que a exposição aos agentes insalubres estejam acometendo patologias ou debilitação ao trabalhador, pois, a simples exposição do trabalhador aos agentes insalubres faz com que a atividade seja legalmente presumida como insalubre.

No mesmo diapasão, Fernando Vieira Marcelo, explica que muitas vezes os trabalhadores estão expostos a diversos agentes insalubres, podendo ser eles físicos, biológicos ou químicos, para os quais, a utilização de equipamento de proteção pode reduzir o risco de dano, mas não elimina o risco, pois diversos fatores podem levar a falha de eficácia neste tipo de equipamento (MARCELO, 2013).

Referido autor entende que a Autarquia Previdenciária, ao desconsiderar a especialidade das atividades laborais do segurado, mesmo quando consta exposição a agentes insalubres previstos em lei, sob a alegação de que há informação do uso eficaz de equipamento de proteção individual, está descumprindo suas próprias normas (MARCELO, 2013).