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Segundo Adriane Bramante de Castro Ladenthin “O ruído tem sido o responsável pela maioria dos pedidos aposentadorias especiais e provoca inúmeras discussões administrativas e judiciais” (LADENTHIN, 2014, p. 244).

Neste norte, vem o entendimento de Fernando Vieira Marcelo referindo que o ruído é o agente insalubre mais habitual dentre as atividades especiais. Segundo o autor, com base na doutrina, jurisprudência e normas legais, os níveis de ruído, para caracterizar a especialidade, devem obedecer a seguinte ordem cronológica: até 05 de maio de 1997 a exposição a ruído pelo período de 8 (oito) horas em um dia de trabalho deve ser superior à média de 80 dB(A); de 06 de março de 1997 à 17 de novembro de 2003 deve ser superior à média de 90 dB(A) e a partir de 18 de novembro de 2003 deve ser superior à média de 85 dB(A), esse entendimento, como verifica-se na sequência (MARCELO, 2013).

Wladimir Martinez (2002), citando outros autores, expande o entendimento, reforça as definições de ruído e recorre à tabela de limites de tolerância constante no Anexo I da NR 15, para fixar a compreensão, e complementa:

Tuffi Messias Saliba, Márcia Angelim C. Corrêa, Lênio Sérvio Amaral, Rubensmidt Ramos Riani quando desenvolvem os riscos ambientais e conceituam o ruído, reproduzem Webber e Fechener. "O ruído é o fenômeno físico vibratório com características indefinidas de variações de pressão (no caso do ar), em função da freqüência, isto é, para uma dada freqüência podem existir, em forma aleatória através do tempo, variações de diferentes pressões" (ob. cit., pág. 16). Acrescem "As normas internacionais e o Ministério do Trabalho adotam a curva de compensação 'A' para medições de níveis de ruído contínuo e intermitente devido a sua maior aproximação à resposta do ouvido humano" (pág. 22). (MARTINEZ, 2002, p.

139) [grifos do autor].

Dessa forma, importante trazer a baila a tabela de limites de tolerância para exposição de ruídos contínuos ou intermitentes da NR 15, Anexo I:

NÍVEL DE RUÍDO DB (A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL

85 8 horas

86 7 horas

87 6 horas

88 5 horas

89 4 horas e 30 minutos

90 4 horas

91 3 horas e 30 minutos

92 3 horas

93 2 horas e 40 minutos

94 2 horas e 15 minutos

95 2 horas

96 1 hora 3 45 minutos

98 1 hora e 15 minutos

100 1 hora

102 45 minutos

104 35 minutos

105 30 minutos

106 25 minutos

108 20 minutos

110 15 minutos

112 10 minutos

114 8 minutos

115 7 minutos

(BRASIL, 1978, NR 15, Anexo I).

Pode-se observar que a referida tabela apresenta variações de ruídos representando os limites de tolerância que vão de 85 dB(A) a 115 dB(A) para os

quais a diminuição do tempo máximo de exposição permitido diminui exponencialmente de 8 horas para 7 minutos respectivamente, segundo Maria Helena Ribeiro (2018), indicando o quão prejudicial é a presença de ruído acima de 85 dB(A), em ambiente de trabalho, ou em qualquer outro meio ambiente em que se tenha presença humana.

Diante disso, cabe ressaltar a excelente explanação de Tuffi Messias Saliba e Márcia Angelim Chaves Corrêa:

Os limites constantes no anexo 1 da NR-15 foram baseados naqueles estabelecidos pela ACGIH, em 1977, devidamente corrigidos em função da diferença entre a jornada de trabalho do Brasil e a dos EUA. O Limite de Tolerância da ACGIH era de 90 dB(A) para 8 horas de exposição diária e 40 horas de jornada semanal. No Brasil, a jornada de trabalho era de 48 horas semanais. Assim, o MTE adotou o limite de tolerância de 85 dB(A), devido à diferença de carga horária. Atualmente, o limite da ACGIH foi reduzido para 85 dB(A), para a jornada de 40 horas, e a jornada de trabalho brasileira foi reduzida para 44 horas semanais — Constituição Federal/1988. Assim sendo, o limite de tolerância estabelecido no anexo 1, NR-15, deveria sofrer nova correção, ou seja, ser reduzido para um valor em torno de 84 dB(A) para 8 horas de exposição diária. Deve-se salientar que o novo limite de 85 dB(A) adotado pela ACGIH baseou-se em estudos experimentais, supondo uma aceitação de 10 a 15% de risco de dano auditivo. (SALIBA; CORRÊA, 2019, p. 199).

Nesta senda, Maria Helena Carreira Alvin Ribeiro (2018) considera que a definição dos limites de tolerância é de suma importância para análise da especialidade quando se trata do agente insalubre ruído. Porém, considera que é inviável crer que exista alguma atividade na qual o trabalhador fique exposto a um único nível de ruído em sua jornada de trabalho, pois na prática o que se tem é uma multiplicidade de ruídos.

Segundo a autora citada, a realidade enfrentada pelos trabalhadores é bem diferente da teoria, pois, no interior das empresas ou obras, durante os horários de trabalho, há uma infinidade de variações nos níveis e tipos de ruído, por isso, tão difícil determinar uma média, ou precisar discriminadamente o tempo de atuação e o nível de cada fonte de ruído presente no ambiente de trabalho.

Esse aspecto é ainda mais agravado, quando tem-se ciência do potencial nocivo do som, que engloba um universo complicado de diversos elementos, como as características individuais de cada ser humano, a fonte de ruído e as locações laborais, assim como, características técnicas relacionadas a energia total do ruído, posicionamento, abrangência do ruído, dimensões e formas do ambiente de trabalho

e a itinerância do trabalhador pelos setores das empresas. Por isso, as oscilações podem ser tão prejudiciais quanto ruídos constantes (RIBEIRO, 2018).

No mesmo sentido vem Diego Henrique Schuster, explanando que nas situações em que ocorre deslocamento periódico do obreiro “é preciso buscar a dose de exposição diária e, posteriormente, calcular o Nível de Exposição Normalizado” (SCHUSTER, 2018, p. 1). Devido à equívocos nesse tipo de auferimento, perante a empresa e o INSS, quem acaba sendo prejudicado é o trabalhador, o elo mais vulnerável desta relação.

A NR nº 15 em seu anexo nº 1, itens 5 e 7 traz determinações que tendem a corroborar para esse entendimento:

5. Não é permitida exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos. [...] 7. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A), sem proteção adequada, oferecerão risco gave e iminente. (BRASIL, 1978).

Para Mariana Gonçalves, na obra em conjunto com José Antonio Savaris (2014), há muita controvérsia sobre a abrangência dos efeitos extra-auditivos do ruído. A autora cita o Médico do Trabalho José Marcelo de Oliveira Penteado:

Vários estudos já vem demonstrando os efeitos extra-auditivos do ruído.

Não podemos então pensar em ruído e perda auditiva, mas também com relação aos efeitos deletérios no organismo como um todo. Podemos descrever sucintamente alguns desses efeitos que vêm sendo estudados por diversos autores, tais como distúrbio do sono, vertigens, distúrbios de marcha, dilatação das pupilas, tremores nos olhos, tremores nas mãos, mudanças de humor, dores de cabeça, impotência sexual, estresses, ansiedade, distúrbios digestivos, vasoconstricção periférica, hipertensão arterial, sobrecarga cardíaca, alterações hormonais com elevação do cortisol e dos índices de adrenalina, entre outros. Portanto, de acordo com os estudos atuais, podemos concluir que a utilização correta dos protetores auriculares é eficaz para eliminar a possibilidade de perda auditiva ocasionada por níveis pressóricos elevados. Será que temos a mesma certeza com relação aos efeitos extra-auditivos? Acredito que não e por esse motivo, baseando-se no conceito de proporcionar maior segurança à saúde do trabalhador, concordamos com a súmula 09 da Turma de Uniformização. (PENTEADO, 2009, p. 316 apud SAVARIS, et al, 2014, p.

101 - 102).

Nesse sentido, Fernando Vieira Marcelo explica que, “para o Direito Previdenciário, a presença de Equipamentos de Proteção Individual, mesmo que neutralizadores dos agentes, não elimina o DIREITO do segurado à aposentadoria especial.” (MARCELO, 2013, p. 161), explicitando seu entendimento de que o

legislador pretendeu proteger e compensar o trabalhador pelo risco de sofrer danos, não necessariamente pelo dano efetivamente causado.

Em tempo, por estar em total consonância com os autores mencionados, pode-se destacar a súmula 87 da TNU de 26 de fevereiro de 2019, a qual veio definir que, para as atividades laborais anteriores a 03 de dezembro de 1998, a utilização de EPI eficaz não descaracteriza a especialidade das atividades laborais onde haja incidência de agentes insalubres.

Concluindo, nesse sentido, José Antonio Savaris e Mariana Amelia Flauzino Gonçalves (2018) trazem seu entendimento no sentido de que a partir da vigência da MP 1.729/98, convertida na Lei 9.732/98 os Equipamentos de Proteção Individual tem o condão de descaracterizar a especialidade das atividades laborais, quando, comprovadamente, forem utilizados e considerados eficazes contra os danos dos agentes insalubres presentes no ambiente de trabalho, desde que os agentes insalubres não sejam cancerígenos, biológicos, ou o ruído.

Considerando as informações expostas, o capítulo que agora se finda, possibilitou evidenciar que ruído é equivalente a definição de som, e que decorre de vibrações mecânicas, podendo causar prejuízos à saúde humana além do sistema auditivo. Isto ocorre pelo fato de que as vibrações sonoras ao atingirem outros órgãos humanos, pode provocar problemas como hipertensão arterial, dores de cabeça, tremores no corpo, distúrbio do sono, entre outros.

Por isso, os equipamentos de proteção individual capazes de reduzir ou eliminar a ação deletéria do ruído no sistema auditivo podem não ser capazes de elidir a ação deletéria em outros sistemas fisiológicos humanos.

3 JURISPRUDÊNCIA E APLICAÇÕES PRÁTICAS

Verifica-se que a doutrina não está destoante em relação a jurisprudência firmada, com pontuais exceções que variam de um(a) autor(a) para outro(a). O que observa-se nos posicionamentos dos principais autores pesquisados, como José Antonio Savaris e Adriane Bramante de Castro Ladenthin, assim como nas decisões judiciais, como as Súmulas 9, 50 e 87 da TNU, é uma recíproca troca de influências, por vezes percebe-se a doutrina dando guarida à jurisprudência e em outros momentos vice-versa.