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3.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS

3.2.1 Vias Administrativas

Conforme explana Marisa Ferreira dos Santos, o INSS é Autarquia Federal prestadora de serviços públicos criada pela Lei 8.029/1990, sob o preceito de auxiliar ao Estado a concretizar e implementar as garantias constitucionais de dignidade e qualidade de vida a um grande número de pessoas (SANTOS, 2019).

Porém, nem sempre consegue fazê-lo de forma eficaz, por vezes ensejando o agravamento da situação em que se encontra o segurado necessitado, muitas vezes em decorrência das excessivas formalidades processuais, conforme informativos constantes no site da Autarquia datados de 10 de maio de 2017 e 18 de outubro de 2018.

Nesse sentido bem explanam Castro e Lazzari:

No âmbito de concessão das prestações previdenciárias, considera-se processo administrativo previdenciário (PAP) o conjunto de atos administrativos praticados por meio dos Canais de Atendimento da Previdência Social, iniciado em razão de requerimento formulado pelo interessado, de ofício, pela Administração ou por terceiro legitimado, e concluído com a decisão definitiva no âmbito administrativo (art. 658 da IN n. 77/2015). A aludida Instrução Normativa prevê que todo pedido de benefício, Certidão de Tempo de Contribuição e revisão deverá ser protocolado diretamente no Sistema Informatizado da Previdência Social, na data da apresentação do requerimento ou comparecimento do interessado.

(CASTRO; LAZZARI, 2020, n.p.).

Hodiernamente o processo administrativo eletrônico é uma realidade que proporciona ao segurado inclusão e acesso à proteção previdenciária, conforme informações encontradas no site do INSS:

Agora todos os serviços do INSS já podem ser pedidos e realizados a

distância. O cidadão pode acessar o Meu INSS (site ou aplicativo para celular) ou ligar no 135 e fazer a solicitação, acompanhar o andamento do pedido e até recorrer se não concordar com a decisão do INSS. (INSS, 2018, n.p.).

Nesse sentido Castro e Lazzari complementam:

A Lei n. 13.846/2019 inclui na Lei n. 8.213/1991 o art. 124-A, que dispõe: “O INSS implementará e manterá processo administrativo eletrônico para requerimento de benefícios e serviços e disponibilizará canais eletrônicos de atendimento”. Dentro dessa lógica e diante da falta de servidores para atendimento nas Agências da Previdência Social, a Lei n. 13.846/2019 passou a prever que os benefícios do RGPS poderão ser solicitados, pelos interessados, aos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais, que encaminharão, eletronicamente, requerimento e respectiva documentação comprobatória de seu direito para deliberação e análise do INSS (art. 18, § 4º, da LBPS). (RE 631240). (CASTRO; LAZZARI, 2020, n.p.).

Quanto as fases do processo administrativo previdenciário Castro e Lazzari explanam que são cinco: a fase inicial, ou instauração; a instrutória; a decisória; a recursal e a de cumprimento da decisão administrativa. (CASTRO; LAZZARI, 2020, n.p.)

Segundo referidos autores:

O requerimento do benefício ou serviço que gera o processo administrativo pode ser realizado: I – pelo próprio segurado, dependente ou beneficiário; II – por procurador legalmente constituído; III – por representante legal, tutor, curador ou administrador provisório do interessado, quando for o caso; e IV – pela empresa, o sindicato ou a entidade de aposentados devidamente legalizada, na forma do art. 117 da Lei nº 8.213, de 1991. (CASTRO;

LAZZARI, 2020, n.p.).

Atualmente a Autarquia, simplificadamente, instrui os segurados a comprovarem suas atividades insalubres apresentando “Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), preenchido pela empresa ou seu preposto, com base em Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT) expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho” (INSS, 2020, n.p.).

Porém, pesquisando a fundo o site do INSS, pode-se verificar o rol mais extenso de documentos que a mesma considera hábeis para comprovar as características especiais insalubres ou periculosas das atividades laborais:

Para que a supervisão médica ou o setor administrativo do INSS possam analisar se um determinado período pode ser convertido em tempo

“especial”, o trabalhador deverá apresentar além da carteira de trabalho, se

for o caso, os seguintes documentos conforme a data de emissão:

Categoria Profissional Apesar da conversão de tempo “especial” por categoria profissional, ter como data limite 28/04/1995, o INSS aceitará tanto os antigos formulários emitidos antes e depois desta data bem como o atual PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário, sendo que cada um deverá respeitar as seguintes datas: Emissão a partir de 01/01/2004, torna-se obrigatório o formulário denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP (regulamentado pela IN INSS/DC 99/2003), para períodos de trabalho em qualquer época e que poderá ser emitido: pela empresa, no caso de trabalhador empregado pelo Órgão Gestor de Mão de Obra ou pelo sindicato da categoria no caso de trabalhadores avulsos Emissão até 31/12/2003, um dos seguintes formulários emitidos em época própria:

DIRBEN-8030, regulamentado pela IN INSS/DC 39 de 26/10/2000 (emitidos entre 26/10/2000 e 31/12/2003) DSS-8030, regulamentado pela OS INSS/DSS 518 de 13/10/1995 (emitidos entre 13/10/1995 e 25/10/2000) DISES BE 5235, regulamentado pela Resolução INSS/PR 58 de 16/09/1991 (emitidos entre 16/09/1991 e 12/10/1995) SB-40, regulamentado pela OS SB 52.5 de 13/08/1979 (emitidos entre 13/08/1979 e 11/10/1995) (INSS, 2017, n.p.)

Além da documentação para comprovação da(s) atividade(s) especial(ais), ainda devem ser apresentados documentos de identificação tais como certidão de nascimento, Cédula de Identidade e comprovante de residência, da mesma forma documentação para comprovação de exercício de outras atividades de vínculo obrigatório, caso não constem nos cadastros do INSS (CNIS), tais como documentação de exercício rural como segurado especial, de exercício de atividade como aluno aprendiz ou de atividades no serviço militar, conforme se verifica das informações constantes no portal eletrônico do INSS (INSS, 2017).

Na opinião de Adriane Bramante de Castro Ladenthin:

A Lei 9.0321/95 retirou do segurado a presunção absoluta das atividades profissionais e lhe conferiu a incumbência de demonstrar exposição aos agentes agressivos prejudiciais à saúde, o que ele recebe com o peso de uma sanção. A partir daí, sem prova, não há tempo especial. As reformas legislativas que se seguiram formaram um gargalo irreversível em prejuízo do trabalhador, no qual o segurado foi o único e o mais prejudicado nessa seara, afinal ele está entre dois gigantes: o INSS e a empresa. Seja qual for a melhor saída, o fato é que o segurado é a vítima desse sistema engessado e ineficiente. A ele cabe o ônus da prova, que, por sua vez, depende da empresa para que lhe forneça o documento. (LADENTHIN, 2014, p. 204).

Recapitulando às formas de comprovação dos períodos especiais, vale trazer os didáticos esclarecimentos de João Marcelino Soares:

Para os períodos posteriores à 28.04.1995 não é mais possível o enquadramento por função e a análise deve ser feita obrigatoriamente pelo setor médico do INSS, vinculado à DIRSAT. A comprovação da atividade

especial a partir desta data se faz da seguinte forma: a) entre 29.04.1995 e 13.10.1996 (MP 1.523) a comprovação da atividade especial é feita por intermédio dos formulários (SB-40, DSS-8030, DIRBEN 8030 etc.) que indiquem a exposição permanente do empregado, sem a necessidade de apresentação do LTCAT (Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho), salvo para agente físico ruído em que o laudo técnico é obrigatório 53; b) entre 14.10.1996 a 31.12.2003, a comprovação da atividade especial passou a ser feita por intermédio do respectivo formulário (SB-40 e DSS-8030 etc.) acompanhado do LTCAT, qualquer que seja o agente nocivo; c) e a partir de 01.01.2004 passou a ser exigido o PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário). (SOARES, 2014, p. 96 - 97).

Referido autor complementa informando que o Formulário Perfil Profissiográfico Previdenciário é uma descrição do histórico laboral personalizado, elaborado pela empresa, para cada trabalhador, baseando-se em laudos técnicos e periciais, tornado dispensável o fornecimento de Laudo Técnico das Condições do Ambiente de Trabalho nos processos administrativos, portanto, alega ter a capacidade de suprir a exigência de apresentação de formulários contemporâneos (SOARES, 2014).

Em relação ao agente insalubre ruído contínuo ou intermitente, João Marcelino Soares afirma que depois do cancelamento da Súmula 32 da TNU, as próprias Instruções Normativas do INSS passaram a considerar os limites de tolerância, conforme já orientavam a doutrina e a própria Advocacia Geral da União em sua Súmula nº 29, no sentido de que “[...] considera-se especial, no âmbito do RGPS, a atividade exercida com exposição a ruído superior a 80 decibéis até 05/03/97, superior a 90 decibéis desta data até 18/11/2003, e superior a 85 decibéis a partir de então”. (SOARES, 2014, p. 97 - 98).

Castro e Lazzari destacam as orientações para a Autarquia quanto a necessidade de protocolização e registro dos processos administrativos, assim como necessidade de possibilitar a complementação da documentação durante o processo administrativo:

Lembramos que em conformidade com o art. 176 do RPS, a apresentação de documentação incompleta não constitui motivo para recusa do requerimento de benefício, ainda que, de plano, se possa constatar que o segurado não faz jus ao benefício ou serviço que pretende requerer, sendo obrigatória a protocolização de todos os pedidos administrativos, cabendo, se for o caso, a emissão de carta de exigência ao requerente. Nesses casos, é importante que o(a) segurado(a) ou seu representante insista no protocolo, mencionando inclusive o art. 668, que determina: “Todo requerimento de benefício ou serviço deverá ser registrado nos sistemas informatizados da Previdência Social na data do comparecimento do interessado”. Adota-se tal conduta porque é a DER (Data de Entrada no Requerimento) que irá determinar a DIB (Data de Início do Benefício)

podendo representar o recebimento de valores a mais no primeiro mês.

(CASTRO; LAZZARI, 2020, n.p.).

Concluindo, Maria Helena Carreira Alvim Ribeiro afirma que “Constando dos autos a prova necessária a demonstrar o exercício de atividade sujeita a condições especiais, conforme a legislação vigente na data da prestação do trabalho, deve ser reconhecido o respectivo tempo de serviço”. (RIBEIRO, 2018, p. 289). Portanto, verifica-se a importância de se ter a primeira etapa (encaminhamento administrativo) bem instruída com a documentação adequada, para viabilizar o efetivo reconhecimento do direito vindicado pelo segurado.