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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MACHADO DE ASSIS FACULDADES INTEGRADAS MACHADO DE ASSIS CURSO DE DIREITO RAFAEL PINHEIRO HOJAH

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FACULDADES INTEGRADAS MACHADO DE ASSIS CURSO DE DIREITO

RAFAEL PINHEIRO HOJAH

BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS E O RECONHECIMENTO DA ESPECIALIDADE NAS ATIVIDADES COM INCIDÊNCIA DO AGENTE INSALUBRE RUÍDO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Santa Rosa 2020

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BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS E O RECONHECIMENTO DA ESPECIALIDADE NAS ATIVIDADES COM INCIDÊNCIA DO AGENTE INSALUBRE RUÍDO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Monografia apresentado às Faculdades Integradas Machado de Assis, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Me. Ricieri Rafael Bazanella Dilkin

Santa Rosa 2020

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RAFAEL PINHEIRO HOJAH

BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS E O RECONHECIMENTO DA ESPECIALIDADE NAS ATIVIDADES COM INCIDÊNCIA DO AGENTE INSALUBRE RUÍDO

Monografia apresentada às Faculdades Integradas Machado de Assis, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Banca Examinadora

___________________________________

Prof. Ms. Ricieri Rafael Bazanella Dilkin – Orientador

___________________________________

Prof.ª Ms. Ana Paula Cacenote

____________________________________

Prof. Ms. Alexandre Almeida

Santa Rosa, 10 de dezembro de 2020.

Ricieri Rafael B. Dilkin (Dec 14, 2020 23:03 GMT-3)

Ricieri Rafael B. Dilkin

Ana Paula Cacenote (Dec 15, 2020 14:06 GMT-3)

Ana Paula Cacenote

Alexandre Jaureguy de Almeida (Dec 16, 2020 12:04 GMT-3)

Alexandre Jaureguy de Almeida

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Dedico este trabalho a meu filho Miguel Beck Hojah; minha esposa, Simone Kronbauer Beck; meus Pais Cloves Hojah e Vera Lúcia Pinheiro Hojah

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Agradeço a qualidade dos professores e colaboradores da instituição FEMA de forma geral, em especial na pessoa de meu orientador Me. Ricieri Rafael Bazanella Dilkin; as oportunidades desprendidas pelo Escritório Beck, Kronbauer & Theobald - Adv. Assoc.

especialmente na pessoa de Nelmo José Beck; ao caráter exemplar de meus pais e a inspiração de meu filho

(6)

Roger Waters

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Esta monografia aborda o Direito Previdenciário, tangendo Aposentadoria por Tempo de Contribuição, Aposentadoria por Idade Urbana e Aposentadoria Especial no RGPS (Regime Geral da Previdência Social). Analisa as possibilidades para reconhecimento da especialidade nas atividades laborais de vínculo previdenciário obrigatório ao Regime Geral de Previdência Social nas quais haja incidência de ruído contínuo ou intermitente, focalizando-se nos julgados do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do STF (Supremo Tribunal Federal), que uniformizaram entendimento acerca dos limites nos níveis de ruído para caracterização da especialidade nas atividades laborais definindo a questão da caracterização ou não da especialidade, em razão da utilização de EPI eficaz. Objetivou-se responder à seguinte questão: Para fins previdenciários, em quais situações pressupõe-se que as atividades laborais dos(as) segurados(as) da Previdência Social serão consideradas especiais em função da insalubridade causada pela ação do agente insalubre ruído contínuo ou intermitente? Pretendeu-se traçar o caminho histórico da Previdência Social, analisar os desfechos judiciais em epígrafe e a jurisprudência firmada, com a finalidade de compreender o atual cenário nos processos administrativos e judiciais acerca do tema. Durante as pesquisas preliminares, identificou-se uma interpretação controversa acerca do uso eficaz de equipamentos de proteção individual e o enquadramento das atividades especiais com incidência de ruído. A relevância da temática abordada está na contribuição para a compreensão de como o ruído pode determinar a especialidade das atividades laborais, para fins previdenciários. A metodologia de pesquisa abordada caracteriza- se, essencialmente, por ser teórica, porém, para seu desenvolvimento foi necessário abordar características de um estudo de casos, no qual a forma de pesquisa tem caráter de natureza teórico-empírica, a forma de tratamento de dados é qualitativa e a metodologia quanto aos fins é de caráter explicativo. A pesquisa utilizou-se de coleta de dados por documentação indireta. Quanto ao tipo de análise de interpretação dos dados, aborda o método dialético, além do método auxiliar histórico. Este Trabalho de Conclusão de Curso está subdividido em 3 capítulos, o primeiro é uma introdução à evolução histórica da previdência e aposentadoria especial, aborda o surgimento de conceitos previdenciários, surgimento da Aposentadoria Especial e as mudanças legislativas que culminaram na Emenda Constitucional nº 103 de 2019. O segundo, trata sobre os preceitos e conceitos de insalubridade, agentes insalubres, ruído e equipamentos de proteção individual. Por fim, o terceiro capítulo explana sobre a jurisprudência e as aplicações práticas para enquadramento da especialidade pela ação do agente insalubre ruído, nas vias administrativas e judiciais. Nesse contexto, conclui-se pela percepção da importância de conceitos como tempus regit actum, limites de tolerância e eficácia de equipamentos de proteção, para melhor aplicação dos direitos inerentes aos segurados do RGPS em relação a períodos laborais especiais.

Palavras chave: Previdenciário – Aposentadoria – Especial – Insalubridade – Ruído.

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This monograph addresses Social Security Law, including Retirement for Contribution Time, Retirement for Urban Age and Special Retirement in RGPS (General Social Security Regime). It analyzes the possibilities for recognizing the specialty in labor activities linked to the Social Security General Regime in which there is an incidence of continuous or intermittent noise, focusing on the decisions of the STJ (Superior Court of Justice) and the STF (Supreme Federal Court) , who standardized understanding about the limits on noise levels to characterize the specialty in work activities, defining the issue of characterizing or not the specialty, due to the use of effective PPE. The objective was to answer the following question:

For social security purposes, in which situations is it assumed that the work activities of Social Security policyholders will be considered special due to the unhealthiness caused by the action of the unhealthy agent continuous or intermittent noise? The intention was to trace the historical path of Social Security, analyze the judicial outcomes in question and the established case law, in order to understand the current scenario in administrative and judicial processes on the subject. During preliminary research, a controversial interpretation was identified about the effective use of personal protective equipment and the framing of special activities with an incidence of noise. The relevance of the topic addressed is in the contribution to the understanding of how noise can determine the specialty of work activities, for social security purposes. The research methodology addressed is essentially characterized by being theoretical, however, for its development it will be necessary to address the characteristics of a case study, in which the form of research had a theoretical- empirical character, the form of data treatment being qualitative, the methodology as to the ends is explanatory. The research used data collection by indirect documentation. As for the type of analysis of data interpretation, it addressed the dialectical method, in addition to the historical auxiliary method. This Course Conclusion Paper is subdivided into 3 chapters, the first being an introduction to the historical evolution of social security and special retirement, addressing the emergence of social security concepts, the formation of Special Retirement and the legislative changes that culminated in Constitutional Amendment 103 of 2019. The second addresses the precepts and concepts of unhealthiness, unhealthy agents, noise and personal protective equipment. Finally, the third chapter explaining the jurisprudence and the practical applications of the specialty framework by the action of the unhealthy noise agent, in the administrative and judicial ways, concluding by the perception of the importance of concepts such as tempus regit actum, tolerance limits and protection equipaments, for better application of the rights inherent to RGPS policyholders in relation to special periods of work.

Keywords: Social security - Retirement - Special - Unhealthy - Noise.

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§ - Parágrafo

ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygiene AMB - Associação dos Magistrados Brasileiros

ANAFE - Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais

ANAJUSTRA - Associação Nacional dos Servidores da Justiça Trabalhista ANAPE - Associação Nacional dos Procuradores do Estado

ANFIP - Associação Nacional dos Auditores Fiscais

ANPPREV - Associação Nacional dos Procuradores e Advogados Públicos Federais

APS's - Agências da Previdência Social ARE - Agravo em Recurso Especial

AREX - Agravo em Recurso Extraordinário Art. - Artigo

CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais

CNTI - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria COFECON - Conselho Federal de Economia

CP - Carteira Profissional

CRPS - Conselho de Recursos da Previdência Social CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social dB - Decibéis

dB(A) - Decibéis no circuito de ponderação de curvatura tipo “A”

DER - Data de Entrada no Requerimento DIB - Data de Início do Benefício

DIRSAT - Diretoria de Saúde do Trabalhador

DIRBEN 8030 - Formulário de informações sobre exposição a agentes nocivos emitido pela Diretoria de Benefícios do INSS sob nº de controle 8030

DSS 8030 - Formulário de informações sobre exposição a agentes nocivos e periculosos emitido pela Diretoria de Benefícios do INSS sob nº de controle 8030

DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos

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EC - Emenda Constitucional

EPC - Equipamento de Proteção Coletiva EPI - Equipamento de Proteção Individual EUA - Estados Unidos da América

FEMA - Fundação Educacional Machado de Assis

FENAFISCO - Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital

FETAPERGS Federação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Estado do Rio Grande do Sul

IBDP - Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário IEPREV - Instituto de Estudos Previdenciários INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

IRDR - Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas JEF - Juizado Especial Federal

LTCAT - Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

Nº - Número

NB - Número do Benefício NR - Norma Regulamentadora

OAB - Ordem dos Advogados do Brasil OIT - Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial da Saúde PEC - Proposta de Emenda à Constituição PPP - Perfil Profissiográfico Previdenciário REsp - Recurso Especial

REx - Recurso Extraordinário

RGPS - Regime Geral de Previdência Social RPPS - Regimes Próprios de Previdência Social

RBPS - Regulamento dos Benefícios da Previdência Social - Decreto 2.172/1997

RMI - Renda Mensal Inicial

SB-40 - Formulário de informações sobre exposição a agentes nocivos STF - Supremo Tribunal Federal

STJ - Superior Tribunal de Justiça

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TCC - Trabalho de Conclusão de Curso TNU - Turma Nacional de Uniformização TRU - Turma Regional de Uniformização TRF - Tribunal Regional Federal

p. - Página(s)

PA - Protetor Auricular

PAP - Processo Administrativo Previdenciário

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INTRODUÇÃO...12

1 PREÂMBULO HISTÓRICO...14

1.1 PREVIDÊNCIA ESTATAL...17

1.1.1 O RGPS e os Segurados Obrigatórios...20

1.2 APOSENTADORIA ESPECIAL NO BRASIL...22

1.3 ABRANGÊNCIA DA ESPECIALIDADE...24

1.4 A REFORMA DE 2019...26

1.4.1 Reflexos no RGPS...27

2 ATIVIDADES ESPECIAIS E O RUÍDO...31

2.1 ATIVIDADES ESPECIAIS...32

2.2 O RUÍDO...36

2.2.1 Ruído Contínuo ou Intermitente e Ruído de Impacto...39

2.2.2 Equipamentos de Proteção Individual...41

2.3 ESPECIALIDADE E O RUÍDO...45

3 JURISPRUDÊNCIA E APLICAÇÕES PRÁTICAS...50

3.1 TESES JUDICIAIS...50

3.1.1 STJ e os Limites de tolerância para o Ruído...50

3.1.2 STF e as Teses Sobre a Eficácia dos EPI's...54

3.1.3 Posicionamento do TRF da 4ª Região...58

3.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS...64

3.2.1 Vias Administrativas...64

3.2.2 Vias Judiciais...68

CONCLUSÃO...76

REFERÊNCIAS...80

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INTRODUÇÃO

Para abraçar a temática do Direito Previdenciário no que diz respeito a Aposentadoria por Tempo de Contribuição, Aposentadoria por Idade e Aposentadoria Especial no Regime Geral da Previdência Social, a pesquisa realizada neste trabalho, focaliza-se nos meios e requisitos necessários para possibilitar o reconhecimento da especialidade nas atividades laborais de vínculo previdenciário obrigatório, nas quais haja incidência de agente insalubre ruído contínuo ou intermitente, para fins previdenciários no Regime Geral de Previdência Social.

O afunilamento da temática, conduz para análise das decisões judiciais, que fixaram jurisprudência sobre o tema a partir do ano de 2013. Foi neste ano em que o Superior Tribunal de Justiça uniformizou entendimento acerca dos limites nos níveis de ruído para caracterização da especialidade nas atividades laborais. Também abrangendo o Acórdão no Agravo em Recurso Extraordinário nº 664335 – Santa Catarina - Tema 555 do Supremo Tribunal Federal, que trouxe definições quanto a caracterização ou não da especialidade, em razão da utilização de Equipamento de Proteção Individual.

Diante da temática apresentada, objetivou-se responder à seguinte questão:

Para fins previdenciários, em quais situações pressupõe-se que as atividades laborais dos(as) segurados(as) da Previdência Social serão consideradas especiais em função da insalubridade causada pela ação do agente insalubre ruído contínuo ou intermitente? Pretende-se analisar a tramitação processual dos processos judicias em epígrafe e a jurisprudência firmada, com a finalidade de compreender o atual cenário e a real aplicabilidade nos processos administrativos e judiciais acerca do tema, para os segurados do RGPS.

Durante as pesquisas preliminares, identificou-se que no Brasil, inúmeros segurados do RGPS estão expostos a condições especiais sob incidência de fatores insalubres. Vários deles, não obtiveram o reconhecimento da especialidade de suas atividades laborais perante o Instituto Nacional do Seguro Social. Isto aconteceu devido a uma interpretação controversa acerca do uso eficaz de equipamento de proteção individual, no caso do ruído.

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A relevância da temática abordada, está na contribuição com o entendimento das questões que envolvem o assunto e na repercussão que as decisões judiciais trouxeram, pois muitos litígios foram e ainda são decididos com base nas definições do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.

Doutrinadores como Adriane Bramante de Castro Ladenthin corroboram com a percepção da eminente relevância acerca da temática, assim como Fernando Vieira Marcelo, João Batista Lazzari e Jose Antonio Savaris.

A metodologia de pesquisa abordada caracteriza-se, essencialmente, por ser teórica. Porém, para seu desenvolvimento, será necessário descrever características de estudo de casos. A forma de pesquisa tem caráter de natureza teórico-empírica, a apresentação de dados é qualitativa e a metodologia quanto aos fins, explicativa.

A pesquisa utiliza-se de coleta de dados por documentação indireta, ou seja, pesquisa documental e bibliográfica. Quanto ao tipo de análise de interpretação dos dados, foi abordado o método dialético, além do método auxiliar histórico.

No primeiro capítulo, será apresentado o nascimento das noções de sistema previdenciário estatal e os fundamentos históricos da Aposentadoria Especial na legislação brasileira.

No segundo capítulo serão explicadas as características dos fatores causadores de insalubridade de forma geral, suas classificações e a utilização de equipamentos protetores que possam amenizar ou anular os efeitos no corpo humano, enfatizando o agente insalubre ruído.

Por fim, no terceiro capítulo serão expostas as decisões judiciais mais relevantes, a jurisprudência e teses firmadas no STF, STJ e TRF-4 e as finalidades práticas junto aos processos administrativos e judiciais de aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por idade e aposentadoria especial, levando em consideração a evolução legislativa.

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1 PREÂMBULO HISTÓRICO

Para viabilizar uma abordagem histórica acerca da aposentadoria especial no Brasil e reconhecimento das atividades laborais especiais, faz-se necessário contextualizar as relações e conceitos evolutivos sobre dignidade humana, trabalho, saúde e previdência, conforme consenso majoritário extraído nas obras pesquisadas.

No entendimento de Lauro César Mazetto Ferreira, “A abordagem histórica é um instrumento fundamental para a análise da origem da concepção contemporânea dos direitos humanos.” (FERREIRA, 2007, p. 19).

Segundo Miguel Horvath Júnior, “O método histórico analisa a lei, tomando como ponto de partida a evolução dos institutos correlatos. O método histórico é importantíssimo ao intérprete jurídico.” (HORVATH JÚNIOR, 2014, p. 86).

Por isso, para iniciar a compreensão histórica previdenciária, traz-se o entendimento de Carlos Alberto Pereira Castro em conjunto com João Batista Lazzari. Eles, descrevem como surgiram e como eram as primeiras relações de trabalho e as primeiras concepções das atividades laborais. Pode-se notar como as percepções, até mesmo de grandes pensadores e filósofos, eram coniventes e pouco evoluídas em relação às concepções de dignidade do ser humano, escravidão e proteção aos trabalhadores (CASTRO; LAZZARI, 2020):

O ser humano, desde os primórdios da civilização, tem vivido em comunidade. E neste convívio, para sua subsistência, aprendeu a obter bens, trocando os excedentes de sua produção individual por outros bens.

Com o desenvolvimento das sociedades, o trabalho passou a ser considerado, numa determinada fase da história – mais precisamente na Antiguidade Clássica – como ocupação abjeta, relegada a plano inferior, e por isso confiada a indivíduos cujo status na sociedade era excludente – os servos e escravos. Dizia Aristóteles que para se obter cultura era necessário o ócio, razão pela qual deveria existir o escravo. Muitos mencionam advir daquela época a etimologia do vocábulo trabalho – derivando do latim tripalium. Mais adiante no tempo, dentro do chamado sistema feudal, aparecem os primeiros agrupamentos de indivíduos que, fugindo das terras dos nobres, fixavam-se nas urbes, estabelecendo-se, pela identidade de ofícios entre eles, uma aproximação maior, a ponto de surgirem as denominadas corporações de ofício, nas quais se firmavam contratos de locação de serviços em subordinação ao “mestre” da corporação.

(CASTRO; LAZZARI, 2020, n.p.).

Nesta senda, Lauro Ferreira (2007) indica que a concepção da condição humana é antiga, remetendo ao período entre os séculos VIII a II antes de Cristo.

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Foi neste período que desenvolveram-se as primeiras noções do ser humano dotado de liberdade e razão, servindo como base na era moderna, o surgimento do consenso de que a dignidade é qualidade intrínseca de todo ser humano.

Mantendo a mesma linha dos autores citados anteriormente, Castro e Lazzari (2016) são conclusivos:

Mas é com o Estado Moderno – assim considerado em contraposição ao modelo político Medieval, como antecedente, e ao Estado Contemporâneo, como sucessor daquele –, a partir da Revolução Industrial, que desponta o trabalho tal como hoje o concebemos. O surgimento dos teares mecânicos, dos inventos movidos a vapor e das máquinas em geral estabeleceu uma separação entre os detentores dos meios de produção e aqueles que simplesmente se ocupavam e sobreviviam do emprego de sua força de trabalho pelos primeiros. Paralelamente a esse fenômeno, a Revolução Francesa e seus ideais libertários proclamaram a liberdade individual plena e a igualdade absoluta entre os homens, conceitos que, tempos após, foram contestados tal como concebidos naquela oportunidade. (CASTRO;

LAZZARI, 2016, p.4).

Corrobora, também, com esse entendimento, Max Weber, indicando que o trabalho é elemento essencial para a construção e manutenção da dignidade humana. Em sua obra, remete a natureza capitalista e empreendedora dos meios de trabalho e produção, contrapondo dignidade por mérito com dignidade sendo elemento intrínseco do ser humano (WEBER, 1967).

Partindo-se da premissa de relação direta entre trabalho e dignidade da pessoa humana, a doutrina remete noções de que as primeiras relações de emprego da era moderna, antes da existência de qualquer norma de proteção aos trabalhadores, propiciavam aos mesmos, condições análogas a de escravos:

Nos primórdios da relação de emprego moderna, o trabalho retribuído por salário, sem regulamentação alguma, era motivo de submissão de trabalhadores a condições análogas às dos escravos, não existindo, até então, nada que se pudesse comparar à proteção do indivíduo, seja em caráter de relação empregado-empregador, seja na questão relativa aos riscos da atividade laborativa, no tocante à eventual perda ou redução da capacidade de trabalho. Vale dizer, os direitos dos trabalhadores eram aqueles assegurados pelos seus contratos, sem que houvesse qualquer intervenção estatal no sentido de estabelecer garantias mínimas.

(CASTRO; LAZZARI, 2016, p. 4).

Nesse sentido, explana João Marcelino Soares:

Em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels lançam o livro Manifesto Comunista apresentando as bases de um novo modelo econômico, adverso ao

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capitalismo liberal, com a socialização dos meios de produção e a planificação estatal da economia. Embora o socialismo não tenha vingado em suas tentativas empíricas de existência, tal modelo foi crucial para o amadurecimento da ideia de intervencionismo estatal e concretização de direitos sociais. Em 1891, a Igreja Católica deu sua contribuição aos direitos sociais: a Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, exteriorizando formalmente sua preocupação com a proteção social. Indubitável que a moral cristã, com suas ideias humanistas, ensejou uma base axiológica necessária para que a seguridade social e os direitos sociais figurassem como direitos fundamentais do ser humano. (SOARES, 2014, p. 33).

Referindo-se ao mesmo contexto histórico citado por Soares, Castro e Lazzari afirmam que em meio às revoluções operárias do século XIX ocorreu paralelamente o movimento de aumento de tolerância às causas dos trabalhadores subalternos. Foi neste período que surgiram as primeiras normas de proteção aos trabalhadores e autorização para as coalizões entre os operários. Foi neste contexto também, que introduziu-se a concepção de Estado Social ou Estado de Bem-Estar (CASTRO;

LAZZARI, 2016).

Lauro Ferreira afirma “[...] sem dúvida, essa evolução não foi rápida e muitas atrocidades e lutas ocorreram para o desenvolvimento da proteção dos direitos humanos [...]”, (FERREIRA, 2007, p. 20) relatando que, depois de muitos séculos de reivindicações e revoluções, foi a DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos) que trouxe reconhecimento mundial da existência e importância da dignidade intrínseca do ser humano. Lauro Ferreira simplifica esse reconhecimento citando a própria DUDH: “todos os homens nascem livres em dignidade e direitos.”1 (FERREIRA, 2007, p. 20 - 21).

Por sua vez, João Marcelino Soares complementa, destacando a proteção promovida pela segunda geração de direitos fundamentais, focalizada na igualdade de condições:

No século XX, o liberalismo começa a demonstrar seus defeitos, com a insuficiência cada vez mais notória da "mão invisível". Dentre os acontecimentos históricos que corroboraram para tal fato é de se citar: a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), a quebra da bolsa de Nova York (1929) e a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Com o enfraquecimento do liberalismo, a segunda geração de direitos fundamentais começa a se destacar. Ao invés da omissão estatal em face da liberdade individual, consagrada na primeira geração, neste momento histórico exigia-se a presença do Estado a fim de garantir os direitos sociais do sujeito: por isto, chamados de direitos positivos. (SOARES, 2014, p. 33 – 34) [grifo do autor].

1 O artigo 1º da DUDH, hodiernamente, encontra-se com o seguinte texto: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Eles são dotados de razão e consciência e devem agir uns com os outros com espírito de fraternidade.” Fonte: <https://www.un.org/en/universal-declaration- human-rights/index.html> acessado em 10 nov. 2020.

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Trabalho digno pressupõe respeito à saúde do trabalhador. Por isso, a Constituição Federal de 1988 segue os preceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e dos tratados internacionais derivados do mesmo, como bem analisa Mariana Amélia Flauzino Gonçalves na obra escrita em conjunto com José Antonio Savaris de 2014. A autora refere que

A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 7º, inciso XXII, no artigo 200, inciso VIII, e no artigo 225, aos trabalhadores o direito fundamental ao meio ambiente de trabalho saudável, refletindo a preocupação da Organização Internacional do Trabalho – OIT com a proteção da saúde do trabalhador. No preâmbulo de sua Constituição, a OIT destaca a necessidade de “proteção dos trabalhadores contra moléstias graves ou profissionais e os acidentes de trabalho[…] (SAVARIS, et al, 2014, p. 56 - 57).

Assim, baseando-se nos conceitos doutrinários explanados, ficam evidenciadas as vertentes humanitárias e sociais que balizam as motivações previdenciárias.

1.1 PREVIDÊNCIA ESTATAL

Para Castro e Lazzari, o início da proteção previdenciária e social aos trabalhadores por parte do Estado, é algo historicamente recente, remetido às décadas finais do século XIX. Em sua obra é mencionada a existência de indícios de que nas sociedades romanas e gregas da Antiguidade, haviam grupos de pessoas que se associavam em comum acordo organizando reservas financeiras advindas de contribuições dos trabalhadores. Estas, serviam para socorrer àqueles contribuintes que viessem a sofrer algum infortúnio causador de incapacidade laborativa. Percebendo assim, a falta de intervenção estatal que existia, obrigando as pessoas a se organizarem para mútua assistência e caridade (CASTRO;

LAZZARI, 2016).

Segundo José Ricardo Caetano Costa, “Superado o período medieval, marcado pelas instituições de cunho mutualista, novo curso tomou a humanidade, cujo marco histórico foi a Revolução Francesa de 1789.” (COSTA, 2011, p. 21).

No mesmo sentido vem João Marcelino Soares sintetizando o caráter solidário, porém estatal da previdência social:

Neste contexto vem-se à baila o intervencionismo estatal. Inverte-se a lógica

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da justiça retributiva, de dar a cada um o que é seu (suum cuique tribuere dos romanos), para uma justiça distributiva, colimando-se o bem estar de todos.[...] Permuta-se a isonomia formal de todos iguais perante a lei por uma isonomia material, tratando-se, nas clássicas palavras de Rui Barbosa, desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades. (SOARES, 2014, p. 34) [grifos do autor].

Na mesma linha, Castro e Lazzari indicam que em meados do século XIX e século XX os primeiros países europeus a desenvolver ideais que impuseram ao estado formas de garantir sustento aos trabalhadores acometidos de incapacidade ou velhice, foram gradativamente desenvolvendo normas de proteção aos operários na forma de seguro contributivo. Desta maneira, foi propiciando a manutenção de renda aos trabalhadores e seus dependentes, não mais de forma assistencialista, caracterizando, assim, o nascimento dos primeiros sistemas previdenciários, ainda que não se utilizasse essa nomenclatura (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Nesta senda, contextualizando a origem histórica e a etimologia da expressão

“previdência social”, importa destacar a definição dada por Adriane Bramante de Castro Ladenthin:

A expressão “previdência social” foi inspirada na estrutura da legislação da Alemanha e significa ação ou qualidade de ser previdente, isto é, de antever, prevenir, prover com antecedência medidas para evitar males (moléstias) ou danos (prejuízos), riscos possíveis de ocorrer. (LADENTHIN;

et al, 2018, p. 126 - 127).

Embora o exposto, para Lauro César Mazetto Ferreira a Previdência Social tem por base a garantia do princípio da dignidade da pessoa humana. Portanto, este é o fundamento para a manutenção dos direitos do cidadão. Denota ainda, que a Seguridade Social busca assegurar o indivíduo em certos eventos que venham a afetar sua renda, garantindo desta forma, uma vida digna enquanto durar a causa danosa.

Nesse sentido, a previdência social nada mais é do que um ordenamento essencial para a preservação da ordem social de nosso país e do Estado de Direito (FERREIRA, 2007).

Com este norte, elucidando o propósito do Estado e suas Autarquias, Castro e Lazzari (2016) afirmam que possuem função de assegurar o equilíbrio e proteção social. Essa atribuição consolidou-se pelo reconhecimento da necessidade de intervenção, pois a liberdade absoluta é falha no tocante à proteção social. Foi esse contexto que viabilizou o surgimento da Autarquia Previdenciária (INSS), nos moldes

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que se conhece hodiernamente, da mesma forma, foram criadas a Lei para organização de custeio da Seguridade Social (Lei nº 8.212/1991) e a Lei dos Benefícios Previdenciários (Lei nº 8.213/1991):

Em 1990 foi criado o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, autarquia que passou a substituir o INPS e o IAPAS nas funções de arrecadação, bem como nas de pagamento de benefícios e prestação de serviços, aos segurados e dependentes do RGPS. [...] Em 1991 foram publicadas as Leis ns. 8.212 e 8.213, que tratam respectivamente do custeio da Seguridade Social e dos benefícios e serviços da Previdência, incluindo os benefícios por acidentes de trabalho, leis que até hoje vigoram, mesmo com as alterações ocorridas em diversos artigos. (CASTRO; LAZZARI, 2016, p. 47 - 48).

No Brasil, as primeiras normas de caráter previdenciário não foram abrangentes a todos os trabalhadores. Segundo José Ricardo Caetano Costa, o início da positivação previdenciária na Legislação Brasileira se deu em 24 de janeiro 1923 com a Lei Eloy Chaves, o Decreto Legislativo nº 4.682. Esta norma foi direcionada aos trabalhadores das estradas de ferro, concretizando a criação de um caixa de aposentadoria e pensão, pois, à época, verificava-se constante debilitação por demasiado esforço e por causas acidentais, de forma acentuada para esses trabalhadores (COSTA, 2011).

Conforme João Batista Lazzari (2017), a criação do Ministério do Trabalho e Previdência Social foi de suma importância por dar início a uma unificação nas normas previdenciárias. Em 1960, foi criado o Ministério do Trabalho e Previdência Social, assim como a Lei 3.807 (Lei Orgânica da Previdência Social - LOPS), a qual reuniu normas de amparo e segurança de forma efetiva.

Referido autor explica que em 1988, com a Constituição Federal, veio o sistema de Seguridade Social, objetivando abranger as áreas da saúde, assistência social e previdência social, tornando esse o foco dos custeios das contribuições sociais, não mais somente, para a previdência social.

Para Jose Ricardo Caetano Costa, apenas em 1966 houve a unificação dos seis institutos de aposentadorias e pensões existentes, IAPB, IAPC, IAPTEC, IAFESP, IAPI e IAPM, surgiu, então, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

Considerando a evolução mundial dos sistemas protetivos aos trabalhadores e seus dependentes, evidencia-se a importância e influência que Tratados e Convenções Internacionais tiveram nas legislações dos diversos países do globo,

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como bem explana o autor:

Os Tratados e Convenções Internacionais, como o Tratado de Versalhes (1919) e Filadélfia (1944), a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, e, principalmente, a Organização Internacional do Trabalho tiveram participação contundente na reafirmação de alguns direitos consagrados em todo e qualquer país desenvolvido. (COSTA, 2011, p. 22).

Lauro Ferreira indica que “[...] a Carta de 1988 consolida as garantias e os direitos fundamentais e a proteção dos setores mais carentes e vulneráveis de nossa sociedade.” (FERREIRA, 2007, p. 83).

O autor destaca que a Constituição Federal de 1988 trouxe os ditames contemporâneos dos direitos humanos, indicando como um dos principais objetivos da sociedade brasileira o equilíbrio entre os direitos individuais e os sociais de forma indissociável e abrangente (FERREIRA, 2007).

1.1.1 O RGPS e os Segurados Obrigatórios

Segundo Castro e Lazzari (2016), o RGPS abrange todos os trabalhadores Celetistas, chegando a atingir “[...] cerca de 86% da população brasileira amparada por algum regime de previdência [...]” (CASTRO; LAZZARI, 2016, p. 103 - 104). Para os autores, o RGPS é o regime mais importante na ordem interna brasileira, sendo assim, insta destacá-lo como regime delimitador do objeto de estudo deste TCC.

A Constituição Federal de 1988 prevê a cobertura previdenciária, seus segurados e os beneficiários. Nesse sentido, Hugo Goes define que “Beneficiários são os titulares do direito subjetivo de gozar das prestações previdenciárias. Ou seja, é toda pessoa física que recebe ou possa vir a receber alguma prestação previdenciária (benefício ou serviço).” (GOES, 2015, p. 77).

Na concepção de Folmann e Ferraro, a Constituição Federal de 1988 é tida como a Constituição Cidadã, pois, dentre outros motivos, nela estão as bases para o Estado Social de Direito, destacando a previdência como um direito fundamental de Segunda Dimensão, principalmente ao que se refere aos benefícios da Previdência Social constantes nos artigos 201 e 202 (FOLMANN; FERRARO, 2008).

Segundo Horvath Júnior, a cobertura da Previdência Social implica em prestações previdenciárias, as quais se estabelecem na forma de benefícios e serviços administrados pela Autarquia Previdenciária. O autor define que benefícios

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correspondem à pecúnia recebida pelos segurados ou dependentes, e serviços corresponde à égide assistencial dispensada, não necessariamente somente aos segurados, mas, também, a outras pessoas que não tenham vínculo previdenciário.

Destaca ainda, a natureza básica dos benefícios previdenciários, pois tem “[...] a finalidade de atenuar ou eliminar o estado de necessidade social, revestem-se de cunho alimentar.” (HORVATH JÚNIOR, 2014, p. 158 - 159).

Mesmo autor destaca a obrigatoriedade da filiação como um dos princípios fundamentais para manutenção da Previdência Social, que é fundado na necessidade de ter-se previsões de patrimônio público que possa suprir os compromissos previdenciários em uma estimativa atuarial lógica em relação aos trabalhadores segurados do RGPS.

Segundo Horvath Júnior “A obrigatoriedade é essencial para caracterização do seguro social, que é custeado por contribuições dos trabalhadores, empregadores e Estado (fórmula tripartite de custeio).” (HORVATH JÚNIOR, 2014, p. 92) [Grifo do autor].

Marisa Ferreira dos Santos explica a relação passiva em contraponto a relação ativa do segurado do RGPS. O sujeito ativo será o credor, o beneficiário, aquele que tem direito a perceber benefício previdenciário. Enquanto o sujeito passivo será o devedor, financiador da Previdência, ou seja, aquele que deve ao Estado as contribuições previdenciárias enquanto segurado obrigatório ou facultativo (SANTOS, 2015).

No mesmo sentido trazem Castro e Lazzari dando mais ênfase sobre a concepção de segurados obrigatórios da Previdência Social:

São segurados obrigatórios, e por tal razão contribuintes do sistema, os indivíduos enquadrados nos conceitos de: empregado, empregado doméstico, contribuinte individual trabalhador avulso e segurado especial, na forma prevista no art. 12 da Lei n. 8.212/91, com redação conferida pela Lei n. 9.876/99. Quanto a estes, a contribuição é verdadeiro tributo, sendo exigida a partir do fato gerador (prestação do trabalho remunerado). Dessa maneira, não há como o empregado (urbano, rural ou doméstico), o trabalhador avulso, o contribuinte individual ou o segurado especial

“optarem” por não contribuir, como equivocadamente se diz no ideário popular. A participação no sistema previdenciário, sendo compulsória, acarreta também, de modo obrigatório, o pagamento do tributo respectivo – a contribuição incidente sobre os ganhos do trabalho, seja ele assalariado, pago de forma avulsa, decorrente de prestação autônoma de serviços ou, ainda, como produtor rural enquadrado como segurado especial. (CASTRO;

LAZZARI, 2016, p.139).

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Dessa forma, com base nas elucidações doutrinárias, verifica-se o RGPS como a principal e mais abrangente fonte para o desenvolvimento e estudos previdenciários, por se tratar do regime que mais afeta a população trabalhadora brasileira.

1.2 APOSENTADORIA ESPECIAL NO BRASIL

A aposentadoria Especial no Regime Geral de Previdência Social foi inicialmente prevista no artigo 31 de Lei 3.807 de 1960 para o segurado que contasse com 50 anos de idade, 180 contribuições e tivesse laborado por 15, 20 ou 25 anos em atividades consideradas penosas, insalubres ou perigosas, previstas em decreto pelo Governo, conforme introduz João Batista Lazzari (2017).

Na mesma senda, Adriane Bramante de Castro Ladenthin explana:

A aposentadoria especial foi criada em um momento de grande comoção social. Por um lado, a empresa necessitava da força de trabalho dos operários para produzir, sendo a responsabilidade de colocá-los em ambiente saudável e livre dos riscos provenientes dessas atividades. De outro lado, o Estado era responsável pela criação de regras que regulassem a prevenção e a melhoria do ambiente do trabalho, além de estabelecer limites de tolerância e normas punitivas pelo seu descumprimento. [...]

(LATENTHIN, 2014, p. 19).

A aposentadoria especial, apesar de encontrar-se prevista na Carta Magna em uma das três ramificações da Seguridade Social que é a previdência social, também está diretamente ligada a outra ramificação que é a saúde. Ela trata sobre os trabalhos que podem causar danos ou põem em risco a saúde do trabalhador, conforme elucida-se da obra de Adriane Bramante de Castro Ladenthin, a autora complementa desta forma: “A legislação constitucional traz claramente a proteção à integridade física como requisito para diferenciar a aposentadoria especial [...]”

(LADENTHIN; et al, 2018, p. 192).

Referida autora reforça que é dever estatal a prestação de certos serviços básicos como saúde, saneamento básico, segurança, assistência social, dentre outros. Porém, três desses serviços básicos restaram ao encargo do sistema de seguridade social, sejam eles a previdência social, a assistência social e a saúde, por se tratarem de direitos humanos universais. Nesse diapasão, a autora reforça o fundamento constitucional que justifica a existência de uma aposentadoria diferenciada para aqueles trabalhadores sujeitos a condições especiais durante sua

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vida laborativa, sendo o princípio da igualdade que objetiva compensar o trabalhador que expõe sua saúde em risco no exercício de atividade insalubre, penosa ou perigosa (LADENTHIN; et al, 2018).

Corroborando com o entendimento sobre a ação debilitante dos agentes insalubres, também está o posicionamento de José Ricardo Caetano Costa, pois considera que o legislador, quando incluiu a modalidade de aposentadoria com tempo de labor reduzido na Lei Orgânica da Previdência Social de 1960 em seu art.

31, visou a proteção aos trabalhadores enquadrando-os pelas categorias profissionais consideradas penosas, insalubres ou perigosas (COSTA, 2011).

Fernando Vieira Marcelo elenca os beneficiários da aposentadoria especial de forma taxativa como sendo “[...] os segurados obrigatórios: empregados, contribuintes individuais (autônomos e empresários), cooperados, avulsos que comprovem estar inseridos em ambientes insalubres, penosos ou perigosos.”

(MARCELO, 2013, p. 38). Segundo o autor, “Após 28.04.1995, para ter direito à aposentadoria especial, o segurado deve comprovar que está inserido em um ambiente insalubre.” (MARCELO, 2013, p. 44), por consequência da Lei nº 9.032/95 que extinguiu o enquadramento de atividades especiais por categoria profissional.

No entendimento de Maria Helena Carreira Alvin Ribeiro, o legislador, quando criou a aposentadoria especial quis proteger não somente a saúde física do trabalhador, mas também, a saúde mental e sua dignidade, pois submeter-se a uma atividade na qual a saúde pode ser comprometida é uma opção não atrativa, se existentes outras possibilidades. Ribeiro deixa a ideia de que àqueles que se submetem a um trabalho, que por sua natureza ou qualquer especificidade, ponha sua saúde em risco, deve ser concedida uma forma de aposentadoria que compense esse risco (RIBEIRO, 2018).

Nesta senda, conforme sustentado pela mesma autora, em consonância com as demais obras pesquisadas, verifica-se um pensamento uníssono entre os autores, e uma forte ligação entre a jurisprudência e a legislação, no sentido de que a Aposentadoria Especial é um benefício necessário, pois as atividades laborais que demandam situações insalubres, perigosas ou penosas, são, na sua maioria, essenciais para o desenvolvimento da sociedade, sendo assim, de uma forma ou outra, trabalhadores irão executá-las.

Com essas considerações, justifica-se conceder um benefício diferenciado para aqueles que se submetem a exercer atividades nas quais há risco de dano a

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sua saúde, para que possam se desligar da atividade danosa, antes de uma consequência patológica mais grave (RIBEIRO, 2018).

De forma sucinta, porém não superficial, vem José Antonio Savaris trazer seu conceito acerca do que define por aposentadoria especial, tempo de trabalho especial e seus efeitos:

A Aposentadoria Especial, portanto, é um benefício previdenciário que busca compensar o trabalhador pelo desgaste decorrente da sujeição a agentes prejudiciais à sua saúde e integridade física, e também antecipar sua saída do ambiente de trabalho que lhe é prejudicial, mediante redução do tempo necessário para obter aposentadoria e pela possibilidade de somar o tempo de serviço exercido alternadamente em atividades comuns e especiais, após a respectiva conversão, para efeito de aposentadoria de qualquer espécie. (SAVARIS, et al, 2014, p. 57).

Assim, diante dos conceitos apresentados, ambienta-se a Aposentadoria Especial no contexto histórico e ressalta-se sua importância perante a sociedade.

1.3 ABRANGÊNCIA DA ESPECIALIDADE

Segundo Maria Ribeiro “A aposentadoria é o gênero, do qual aposentadoria por invalidez, por idade, por tempo de serviço e especial são espécies”. (RIBEIRO, 2018, p. 27).

Conforme Carlos Luiz Strapazzon, a Legislação possibilita o aproveitamento de períodos especiais para aposentadoria comum, mesmo quando o segurado não implementar as carências necessárias para concessão de aposentadoria especial, utilizando um fator de conversão equivalente, assim, mantendo o princípio da isonomia e do direito adquirido (STRAPAZZON, 2009).

No entendimento de Fernando Vieira Marcelo “O tempo de atividade exercida sob condições prejudiciais à saúde ou à integridade física é chamado de tempo especial” (MARCELO, 2013, p. 36).

Segundo esclarece João Marcelino Soares (2014) em sua obra anterior à EC 103/2019:

Se o segurado exerceu atividades com exposição permanente a agentes nocivos, de ordem física, química ou biológica e tal período não é suficiente para a concessão de uma aposentadoria especial, é possível a sua conversão em tempo comum para a concessão de uma aposentadoria por tempo de contribuição. Tanto em âmbito administrativo como judicial não há limite temporal para a conversão de tempo especial para comum. Sobre o

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tema, a Súmula 50 da TNU: "É possível a conversão do tempo de serviço especial em comum do trabalho prestado em qualquer período". (SOARES, 2014, p. 92).

Nesse sentido, como bem explana Ribeiro, até o advento da EC 103/2019, valem as premissas da Lei 8.213/91 que em seu artigo 57, § 5º2, prevê a possibilidade de conversão dos períodos laborados sob condições especiais3, para serem somados aos períodos não especiais, assim denominados como tempo de trabalho exercido em atividade comum. Ou seja, se a intenção do segurado não for a aposentadoria especial, poderá converter o tempo especial em tempo comum de acordo com a tabela do artigo 70 do Decreto Lei nº 3.048 de 06 de maio de 1999, com redação dada pelo Decreto Lei nº 4.827 de 03 de setembro de 2003 (RIBEIRO, 2010).

Referindo-se à possibilidade do aproveitamento dos períodos especiais para concessão de outros benefícios previdenciários que não a aposentadoria especial, Adriane Bramante de Castro Ladenthin, explana:

Era evidente que não teria qualquer sentido permitir que, aqueles que não tivessem implementado os prazos mínimos de 15, 20 ou 25 anos para obtenção da aposentadoria especial fossem submetidos às regras de aposentadoria por tempo de serviço, sem qualquer reconhecimento dos períodos trabalhados sob condições agressivas. A conversão era, portanto, medida esperada para regularizar a situação daqueles que tivessem trabalhado em duas ou mais empresas insalubres, penosas ou periculosas sem terem completado em qualquer delas o prazo mínimo exigido que lhes correspondesse o direito ao benefício especial. (LADENTHIN, 2014, p. 155 - 156).

Com a possibilidade de conversão dos períodos, vem o artigo 1º do Decreto 4.827/2003 trazendo a tabela de conversão dos tempos especiais em comuns conforme consta no Decreto 3.048/1999:

Art. 1º O art. 70 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 70. A conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum dar-se-á de acordo com a seguinte tabela:

2 BRASIL, Lei 8.213/1991, art. 57, § 5º: § 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão, ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício.

3 Com a EC nº 103/2019 continua sendo possível a conversão, porém somente para períodos especiais laborados antes de 12/11/2019, conforme art. 25, § 2º da EC 103/2019.

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Tempo a converter Multiplicadores

Mulher (para 30) Homem (para 35)

De15 anos 2,00 2,33

De 20 anos 1,50 1,75

De 25 anos 1,20 1,40

§1º A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do serviço. §2º As regras de conversão de tempo de atividade sob condições especiais em tempo de atividade comum constantes deste artigo aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer período. (BRASIL, 2003).

Vê-se que a tabela do Art. 1º considera, em relação a conversão de tempo especial para tempo comum, na aposentadoria por tempo de contribuição, requisito a ser adimplido, pelas mulheres, 30 anos de contribuição, assim como, pelos homens, 35 anos de contribuição. Por isso, há diferença nos multiplicadores.

Segundo Castro e LazzarI, verifica-se a importância da perspectiva transformadora e histórica da Previdência Social no Brasil, também acerca da concepção evolutiva de aposentadoria especial, o enquadramento das atividades laboradas em condições especiais e a possibilidade de conversão de períodos especiais em tempo comum, visando a proteção do trabalhador (LAZZARI, 2016).

1.4 A REFORMA DE 2019

Em 2019 tramitou a PEC 6/2019 (Proposta de Emenda Constitucional nº 6 de 2019)4 aprovada no Congresso Nacional sob o aspecto de Reforma Previdenciária5, que, após os tramites legais, culminou na EC (Emenda Constitucional) nº 103/2019.

Neste subcapítulo tratar-se-á, especialmente e exclusivamente, sobre os artigos modificados que abordam acerca da temática principal deste TCC:

Aposentadoria Especial, reconhecimento da especialidade e conversão de períodos especiais em comuns.

A referida PEC 6/2019 foi de autoria do Poder Executivo e proposta com a seguinte Ementa: “Modifica o sistema de previdência social, estabelece regras de transição e disposições transitórias, e dá outras providências.” (Razões da PEC nº

4 Proposta de Emenda à Constituição nº 6/2019, protocolada no Congresso Nacional em 20 de fevereiro de 2019.

5 Razões para Proposta de Emenda à Constituição nº 6/2019, de autoria do Ministro da Economia:

Paulo Roberto Nunes Guedes, p.2.

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6/2019, p. 1 - 2). Motivada, principalmente, por fatores econômicos, no tocante da dívida pública, indicando o “nó fiscal” (Razões da PEC nº 6/2019, p. 2) como o maior obstáculo para o crescimento econômico brasileiro, e a Previdência como o maior entrave para desfazer o referido “nó fiscal” (Razões da PEC nº 6/2019, p. 2).

1.4.1 Reflexos no RGPS

Antes das profundas modificações da Reforma de 2019, Tiago Faggioni Barchur explanou acerca da manutenção das características da aposentadoria especial no decorrer das transformações legislativas que “A aposentadoria especial está prevista na Constituição Federal (art. 201), na Lei n° 8.213/91 (arts. 57 e 58) e no Decreto n° 3.048/99 (arts. 64 a 70) e desde que foi criada, isto é, pela Lei n°

3.807/60, a aposentadoria especial pouco se modificou” (BACHUR, 2010, p. 99).

Com a aprovação da EC 103/2019, é importante analisar-se o Texto Constitucional reformado, pois, nos pontos em que se refere à Aposentadoria Especial, reconhecimento da especialidade e conversão de períodos especiais em comuns, houveram significativas alterações.

As modificações na CF/1988 trazidas com a reforma da Previdência, quanto à temática deste TCC, podem ser abordadas iniciando-se pelo artigo 201, §1º, inciso II, que a Emenda alterou para o seguinte texto:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. § 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados: I - com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar; II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupa ção . (BRASIL, 1988) [grifo nosso].

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Nesta alteração, encontra-se o que alguns juristas como Luiz Alberto dos Santos denominam de “desconstitucionalização das regras Previdenciárias”

(SANTOS, 2019, p. 1), referindo-se ao ato que, segundo Cezar Britto, “retira da Constituição Federal qualquer debate qualificado sobre o direito à aposentadoria decente” (BRITTO, 2019, p. 3), no mesmo tom, reforça João Batista Lazzari, referindo-se à PEC 6/2019, “desconstitucionaliza as regras de concessão dos benefícios” (LAZZARI, 2019, podcast).

Enquanto uma lei complementar não é formulada, valem as determinações do artigo 19, § 1º da EC 103/2019 quanto as idades mínimas para aposentadoria especial:

Art. 19. [...] § 1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida aposentadoria: I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, nos termos do disposto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos: a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de contribuição; b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte) anos de contribuição; ou c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição; II - ao professor que comprove 25 (vinte e cinco) anos de contribuição exclusivamente em efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio e tenha 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem. § 2º O valor das aposentadorias de que trata este artigo será apurado na forma da lei.

(BRASIL, 2019).

Em seguida, pode-se destacar o artigo 25, § 2º, que foi alterado para o seguinte, ipsis litteris:

Art. 25. Será assegurada a contagem de tempo de contribuição fictício no Regime Geral de Previdência Social decorrente de hipóteses descritas na legislação vigente até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional para fins de concessão de aposentadoria, observando-se, a partir da sua entrada em vigor, o disposto no § 14 do art. 201 da Constituição Federal. [...] § 2º Será reconhecida a conversão de tempo especial em comum, na forma prevista na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, ao segurado do Regime Geral de Previdência Social que comprovar tempo de efetivo exercício de atividade sujeita a condições especiais que efetivamente prejudiquem a saúde, cumprido até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, vedada a conversão para o tempo cumprido após esta data. (BRASIL, 2019).

(30)

Acerca desta alteração feita no artigo 25 da CF/88, Claudia Deud e Renata Baars (2019) explicam que mantém-se a possibilidade garantida “de conversão de tempo especial em comum” (DEUD; BAARS, 2019, p. 26), porém, somente para as atividades especiais exercidas até a data de publicação da emenda.

A regra de transição, para os segurados do RGPS, veio com o artigo 21 da EC 103/2019:

Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de: I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição; II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição. § 1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refere o caput. § 2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei. § 3º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, na forma do § 4º-C do art. 40 da Constituição Federal, as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência social. (BRASIL, 2019).

Nesta senda, cabe referenciar o quadro Comparativo entre a PEC nº 287 de 2016 e a PEC nº 6 de 2019, das Consultoras Legislativas Cláudia Deud e Renata Baars.

Resumidamente, a regra de transição, conforme referido Quadro Comparativo, determina que, os segurados filiados antes da data de promulgação da Emenda, que implementarem tempo de atividade insalubre de 15, 20 e 25 anos de acordo com o grau de insalubridade, terão direito à aposentadoria, se a soma de sua idade e seu tempo de contribuição for igual a 66, 76 ou 86 respectivamente relacionada ao grau de insalubridade da atividade exercida, “[...] elevando-se cada somatório, a partir de 2020, em um ponto a cada ano, até atingir 89, 93 e 99 pontos, para ambos os sexos” (DEUD; BAARS, 2019, p. 26).

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Quanto ao cálculo da RMI, no entendimento de Castro e Lazzari, a fórmula para estipular o valor dos benefícios relativos à aposentadoria especial, tanto para a regra permanente, quanto para a regra de transição, será promulgada por lei complementar, conforme § 2º do artigo 19 da EC 103/2019. Por isso, até que isso ocorra, vale a regra prevista no inciso IV, § 2º, artigo 26 da EC 103/2019. Ou seja, equivalente a 60% (sessenta por cento) da média salarial do segurado, contando as contribuições efetuadas a partir de julho de 1994, com acréscimo de 2% (dois por cento) da média para cada ano contribuído que exceder 15 (quinze) anos de tempo de atividades especiais da categoria de aposentação com 15 (quinze) anos, na data da aposentação (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Segundo Deud e Baars, diferentemente do que foi aprovado para a EC 103/2019, a PEC 6/2019 previa acréscimo de 2% (dois por cento) também para as categorias de aposentação com 20 (vinte) e 25 (vinte e cinco) anos. Segundo suas palavras, a proposta inicial previa que o valor do benefício corresponderia a “60% da média salarial com acréscimo de 2% a cada ano que superasse 15 anos quando a atividade ensejar aposentadoria nesse TC e a partir dos 20 anos, quando ensejar aos 20 ou 25 anos de TC” (DEUD; BAARS, p. 27, 2019).

Por isso, conforme demonstrado, analisar a evolução legislativa é de suma importância para compreender a aplicação das leis vigentes, principalmente quando o estudo exige o afunilamento restritivo à normas específicas, nesse sentido corrobora Horvath Júnior, quando cita Carlos Maximiliano:

Carlos Maximiliano afirma que mais importante do que a história geral do direito é, para o hermeneuta, a especial de um instituto, em proporção maior, a do dispositivo ou norma submetido à exegese. A lei aparece como último elo da cadeia, como um fato intelectual e moral, cuja origem nos fará conhecer melhor o espírito e o alcance do mesmo. (HORVATH JÚNIOR, 2014, p. 327).

Com este capítulo que agora se encerra, contextualiza-se historicamente a Previdência Social, explicitando-se a evolução legislativa frente a proteção aos trabalhadores e seus dependentes nos eventuais momentos de impedimento ou redução de capacidade laborativa, com o amparo estatal na forma de normas direcionadas à preservação da saúde, destacando a aposentadoria especial e a conversão dos períodos especiais para aproveitamento em outros benefícios, pois, podem trazer certa compensação aos segurados expostos aos agentes insalubres.

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