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3.1 TESES JUDICIAIS

3.1.2 STF e as Teses Sobre a Eficácia dos EPI's

Segundo Savaris e Gonçalves, a aposentadoria especial é “instrumento de proteção à saúde e integridade física do trabalhador” (SAVARIS; GONÇALVES, 2018, p. 308 - 309). Portanto, estando o ambiente de trabalho seguro, ou sendo comprovada a utilização de equipamentos de proteção que eliminem ou reduzam a nocividade a níveis toleráveis, então a especialidade não se caracteriza.

Porém, o mesmo não se aplica, particularmente, em relação ao agente insalubre ruído, conforme contrapõe João Batista Lazzari:

No que tange ao agente nocivo ruído, a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais editou a Súmula n.° 9, com o seguinte teor: "Aposentadoria Especial - Equipamento de Proteção Individual: O uso

de Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial prestado". (LAZZARI, et al, 2017, p. 314).

Segundo a análise de Lazzari, depois de reconhecida a repercussão geral em relação ao tema sobre o uso de EPI, no Agravo em Recurso Especial número 664.335, o STF firmou duas teses (LAZZARI, 2017). Dessa forma faz-se necessária uma análise processual para melhor compreensão das razões que levaram o STF a firmar as referidas teses.

Para isso foram extraídas informações do Portal da Justiça Federal da 4ª Região - JEF Processo Eletrônico - E-Proc V2 - SC 5002579-18.2014.4.04.7202 – Original: 2010.72.52.004244-0, conforme coloca-se na sequência.

Em 04 de agosto de 2010 o segurado do RGPS aqui denominado AF, ajuizou na 3ª Vara do Juizado Especial Federal Cível de Chapecó - SC, Ação para Concessão de Benefício Previdenciário de Aposentadoria por Tempo de Contribuição contra o INSS. O benefício havia sido indeferido na seara administrativa pois a Autarquia não reconheceu a especialidade das atividades exercidas em condições insalubres, mesmo havendo informação de ruído acima de 90 dB(A) durante a jornada de trabalho, pois havia, também, informação de utilização de EPI eficaz na documentação para o período de 01 de março de 2002 a 26 da abril de 2006, conforme descrito na sentença do juízo de origem.

Após o período de instrução do processo, a sentença proferida pela Excelentíssima Juíza Federal Marta Weimer, publicada no dia 29 de março de 2011, veio pela procedência dos pedidos da petição inicial referentes à insalubridade causada por ruído.

O INSS recorreu para 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais de Santa Catarina em 20 da abril de 2011. A Turma Recursal conheceu do recurso, porém negou provimento no sentido de manter a sentença recorrida.

Com o improvimento do recurso inominado, o INSS interpôs Recurso Extraordinário sob alegação de violação de dispositivo Constitucional, conforme descrito na decisão monocrática da Presidente da 2ª Turma Recursal da Seção Judiciária de Santa Catarina, Luísa Hickel Gamba: “Sustenta o recorrente que acórdão teria violado dispositivos da Constituição Federal (art. 201, caput e §1º, e art. 195, §5º), o que viabilizaria a admissão do extraordinário com fulcro no artigo 102, III, "a", da mesma Carta.”.

A Excelentíssima Presidente da 2ª Turma Recursal – SC não admitiu o recurso extraordinário com decisão proferida, sob o seguinte argumento:

Com efeito, não há violação aos princípios constitucionais apontados pelo INSS, visto que o reconhecimento da especialidade de atividades se dá pelo enquadramento em categorias profissionais ou pela exposição efetiva do segurado a agentes agressivos à saúde, sendo certo que tais critérios são definidos em legislação previdenciária de nível nitidamente infraconstitucional. Vale lembrar que o reconhecimento da atividade especial não está condicionado ao recolhimento de um adicional sobre as contribuições previdenciárias. Assim, sendo certo que um dos requisitos para o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário é a existência de controvérsia em torno da aplicação da Constituição Federal, o que, de fato, não ocorre no caso dos autos, uma vez que a discussão gira em torno da definição de critérios legais para a concessão de benefícios previdenciários, matéria de índole infraconstitucional, resta impossibilitado o trâmite do presente recurso. (Presidente da 2ª Turma Recursal da Seção Judiciária - SC, Luísa Hickel Gamba. Decisão de Inadmissibilidade do recurso extraordinário, Processo Nº 2010.72.52.004244-0 - SC, 28 set. 2011).

No dia 20 de outubro de 2011, o INSS, agravou a decisão monocrática que não admitiu o recurso extraordinário. O Plenário Virtual reconheceu a repercussão geral e o processo permaneceu sobrestado até dezembro de 2014, quando o STF colocou em pauta, conforme consta no Extrato de Ata do Acórdão no Recurso Extraordinário 664.335 / SC: “Preliminarmente, o Tribunal, proveu o agravo para processamento do recurso extraordinário.”

Coube, então, ao STF julgar o mérito quanto a validade e abrangência da Súmula nº 9 da Turma Nacional de Uniformização. A decisão proferida pelo STF no Acórdão acerca do Recurso Extraordinário, veio no seguinte sentido simplificado pela Ementa:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO CONSTITUCIONAL PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL.

ART. 201, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REQUISITOS DE CARACTERIZAÇÃO. TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO SOB CONDIÇÕES NOCIVAS. FORNECIMENTO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI. TEMA COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA PELO PLENÁRIO VIRTUAL. EFETIVA EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS À SAÚDE. NEUTRALIZAÇÃO DA RELAÇÃO NOCIVA ENTRE O AGENTE INSALUBRE E O TRABALHADOR. COMPROVAÇÃO NO PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO PPP OU SIMILAR. PREJUDICIAIS. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DEVIDO. AGRAVO

CONHECIDO PARA NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. (Acórdão do STF, 2014, Recurso Extraordinário nº 664.335, Tema nº 555).

Conforme bem explanado nas palavras de Lazzari, citado anteriormente, foram duas teses reconhecidas e firmadas no corpo do Relatório do referido Acórdão.

A primeira tese firmada pelo STF, ipsis litteris:

10. Consectariamente, a primeira tese objetiva que se firma é: o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial. (Acórdão do STF, 2014, relatório, Recurso Extraordinário nº 664335 Tema nº 555, p. 04).

A segunda tese ficou estabelecida nos seguintes termos:

14. Desse modo, a segunda tese fixada neste Recurso Extraordinário é a seguinte: na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria. (Acórdão do STF, 2014, relatório, Recurso Extraordinário nº 664335, Tema nº 555, p. 05).

Vale trazer ainda a excelente conclusão de João Batista Lazzari:

Importante ressaltar desse julgado que o Plenário do STF negou provi-mento ao recurso do INSS e manteve a validade da Súmula n.° 9 da TNU.

Considerando-se que a maioria das ações que discutem o reconhecimento do tempo especial está relacionada ao agente nocivo ruído, pode-se concluir que a decisão do STF representou uma vitória aos segurados do Regime Geral de Previdência Social. Quanto aos demais agentes nocivos, a utilização de EPI eficaz poderá afastar o direito à contagem do tempo trabalhado como especial. Todavia, não basta a simples indicação do fornecimento de EPI eficaz no PPP. Deverão ser produzidas provas dessa eficácia nos termos da Norma Regulamentar n.° 6 do Ministério do Trabalho e Emprego[...] (LAZZARI, et al, 2017, p. 315).

Dessa forma, fica elucidado o posicionamento do STF acerca da temática desta pesquisa, considerando a especialidade das atividades laborais perante a incidência de agente insalubre ruído acima dos níveis de tolerância, mesmo quando há utilização de EPI eficaz.