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1934-2015 Etapa da Educação

6 AS LÓGICAS NA PERCEPÇÃO DE PAIS, JUÍZES E DIRETORES

6.2 A P ERCEPÇÃO DOS D IRETORES E SCOLARES

Considera-se importante a percepção destes sujeitos, por sua vasta experiência na área da educação e por estarem à frente de três grandes escolas particulares na cidade de Poços de Caldas/MG. Duas escolas distintas possuem a mesma entidade mantenedora e são dirigidas pela mesma pessoa. Portanto, tem-se a entrevista com duas pessoas, do sexo feminino, com idades de 60 e 59 anos. Estas, vivenciaram a implantação do ensino fundamental de nove anos, a polêmica em torno da data de corte e as consequências, para as escolas da rede particular mineira, da Lei Estadual n. 20.817, publicada em 30/07/2013. Foram entrevistadas duas diretoras e estão identificadas por numeração arábica, seguida da idade.

Dividiu-se o texto em três partes: analisam-se na primeira parte as percepções destes sujeitos sobre a implantação do ensino fundamental de nove anos e a data de corte; em seguida, apresentam-se as estratégias políticas, buscando elucidar o grau do conflito e das forças e disputas políticas que culminaram com a publicação da Lei 20.817/2013; e, depois, as análises das percepções sobre as consequências desta Lei Estadual.

Verifica-se que o ensino fundamental de nove anos foi uma política pública educacional que trouxe para a escola, segmentos de crianças que não tinham acesso a ela anteriormente, e sua implantação foi ao mesmo tempo tranquila e complexa. Na experiência dos diretores, o questionamento na justiça para matricular a criança no

ensino fundamental – independentemente da data de corte estabelecida nas Resoluções CNE/CEB n. 01, de 14 de janeiro de 2010 e n. 6, de 20 de outubro de 2010 – e o movimento contrário, para manter a criança na educação infantil – causado pela lei estadual mineira, Lei n. 20.817/2013 –, trouxeram para as escolas uma sobrecarga administrativa, financeira e pedagógica na busca para resolver os problemas causados pelos mandados de segurança. Sobressai-se, nas percepções, indignação em relação aos órgãos superiores do sistema educacional, considerados morosos e indecisos, e, em relação à criança e à infância, considerou-se que não foram abordadas com a seriedade necessária em questões que as afetam.

I- A implantação do ensino fundamental de nove anos e o limite etário

Como política pública, percebe-se na Lei n. 11.274/2006108 uma certeza sobre o benefício do ensino fundamental de nove anos, que passa a trazer para a escola classes de crianças que não tinham acesso à ele, visto que muitas prefeituras não priorizam o investimento na educação infantil por inúmeras razões, entre elas, a preferência dada a outros setores.

- Embora tenha a obrigatoriedade de educação infantil, as prefeituras não conseguem atender, e algumas gastam estimulando o ensino superior, mas não atendem o que a legislação pede, que é o atendimento completo da educação infantil. Então, em termos de política pública, eu acho que tem um efeito

mais pontual, do acesso e da obrigatoriedade da criança na escola (Diretor

1, 60 anos).

Entretanto a normatização de uma data de corte trouxe consigo o questionamento sobre o cumprimento da Lei n. 11.114/2005109– que altera a LDB –, estabelecendo o início do ensino fundamental aos seis anos de idade. Expressou-se que o fato da lei existir, mas

não precisa[r] ser cumprida , abriu precedentes para solicitações judiciais de mandados

de segurança para quebrar outros limites etários. Esta questão foi considerada como decorrente da pós-modernidade, com a quebra de muitos paradigmas e com questões que

não são mais muito rígidas e que vão trazendo uma maleabilidade para tudo .

108 A Lei n. 11.274, de 7 de fevereiro de 2006, que altera a LDB, implantou o ensino fundamental de nove anos e estabeleceu um prazo de quatro anos – até o final de 2009 –, para que os Municípios, Estados e o Distrito Federal implementassem esta obrigatoriedade e, portanto, em 2010, deveriam efetivamente ter implantado a ampliação.

109 Lei n. 11.114, de 17 de maio de 2005, determina a matrícula dos menores no ensino fundamental a partir de seis anos de idade, entretanto mantém o ensino fundamental de oito anos.

- Eu acho que a lei nem sempre favorece todo mundo. A gente sabe disso. É como eu digo aos pais: você precisa ter anos para ter carteira de habilitação. Não adianta você ensinar seu filho a dirigir antes e garantir que ele dirija muito bem. Se ele não tiver anos, não tira carteira de habilitação . Então a lei existe, mas ela não precisa ser cumprida? Então, aí, amanhã, ele quer dirigir com 18 anos, como ele vai entender uma lei que [diz] sim e outra lei que [diz] não? As coisas vão ficando muito confusas. Eu acho que essas quebras, essa pós-modernidade, com a quebra de muitos paradigmas e com questões que não são mais muito rígidas e que vão trazendo uma maleabilidade para tudo. Eu acho que atrapalha um pouco na formação ética e moral. Então eu entro com o mandado de segurança amanhã para o meu filho dirigir. E se ele dirigir muito bem e for um

ÁS no volante com anos? Diretor , anos .

Considera-se que a implantação foi tranquila e complexa ao mesmo tempo. Tranquila porque não mexeu com a estrutura curricular dos demais anos do ensino fundamental, nós não acrescentamos um ano depois da ª série, nós transformamos a

antiga pré-escola em º ano .

- A implantação de nove anos foi tranquila, nós não tivemos grandes problemas porque, como nós brincamos, a implantação de nove anos cresceu feito rabo de lagartixa, para baixo. Então nós não acrescentamos um ano depois da 8ª série, nós transformamos a antiga pré-escola em 1º ano. Foi só transformar o 5º

período ou 3º estágio em 1º ano (Diretor 1, 60 anos).

Também foi considerada tranquila quando foi realizado o alinhamento das matrículas, e a data de corte ainda não era uma questão polêmica:

Nós trabalhamos por uns dois anos sem ter dificuldades para administrar essa questão das idades, porque, justamente no ingresso, a criança já era

matriculada na sala ou na turma que a lei determinava (Diretor 2, 59 anos).

Os pais, por falta de informação ou por não haver tanta divulgação na mídia, não procuravam tanto ir atrás da questão da liminar.