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1934-2015 Etapa da Educação

5.5 C ONTEXTOS R EGIONAIS

5.5.5 Na Região Sul

As resoluções foram suspensas no âmbito dos Estados e Municípios de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, em cumprimento à Tutela Antecipada da 1ª Vara Federal de Santa Rosa/RS, Ação Civil Pública nº 5000600-25.2013.404.7115/RS, que deferiu efeito suspensivo aos seus respectivos Sistemas de Ensino.

No Rio Grande do Sul, o Conselho exarou a Resolução CEED nº 307, de 31 de março de 2010, que estabelece a idade mínima de 6 anos completados até 31 de março para o ingresso no 1º ano do Ensino Fundamental. Este Estado também havia sido abrangido pela Tutela Antecipada citada acima, entretanto a decisão que ampliava o prazo foi suspensa por Desembargador Federal na Apelação/Reexame Necessário Nº 5000600- 25.2013.407.7115/RS, restando mantida, para o Sistema Estadual de Educação, a idade de corte na Resolução CEED nº 307/2010.91

Em Santa Catarina, a Resolução nº 110/2006/CEE/SC não estabelecia uma data- corte. Posteriormente esta Resolução foi revogada pela Resolução nº 64/2010/CEE/SC, que estabeleceu 31 de março e que, por fim, foi alterada pela Resolução nº / /CEE/SC, ainda vigente e que flexibilizou a referida data-corte. Diante do julgamento ocorrido recentemente sobre o tema, nos autos da Ação Civil Pública nº 5000600-25.2013.404.7115/RS, movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em face dos três Estados da Região Sul, cuja sentença posicionou-se no sentido do reconhecimento do direito amplo de acesso ao ensino fundamental de todas as crianças com seis anos incompletos na data de início do ano letivo, desde que possuam capacidade para ingresso, a ser avaliada por critérios psicopedagógicos. Desse modo, a Resolução CEE/SC

nº 227/2012 encontra-se em consonância com referida decisão, não merecendo, por ora, qualquer reparo .92

A Ação Civil Pública Nº 5000736-24.2014.404.7200/SC, movida pelo MPF, teve por réu o Estado de Santa Catarina e solicita em antecipação de tutela:

(a) a suspensão dos arts. 2º e 3º da Resolução CNE/CEB nº 1/2010, e dos arts. 2º, 3º e 4º da Resolução CNE/CEB nº 6/2010 (ou quaisquer outros que os substituam com o mesmo sentido jurídico), atos normativos do Ministério da

91 Informação obtida, via e-mail, através da Assessoria Técnica da Comissão de Ensino Fundamental/CEF/CEEd/RS.

92 Informação obtida, via e-mail, através do Sr. Claudio Lange Moreira/ Coordenador de Normas e Legislação-COLEG/ Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina.

Educação, editados pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, os quais substituíram a normatização anterior consistente na Resolução nº 3, de 2005, que não fazia referidas restrições inconstitucionais, que: b.1) limitaram o acesso ao Ensino Infantil aos 4 (quatro) anos de idade completados até 31 de março do ano da matrícula; e b.2) limitaram o acesso ao Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos de idade completados até 31 de março do ano da matrícula; afastando toda e qualquer restrição de data para o ingresso no ano em que deva ocorrer a matrícula, determinando que a União comunique o teor da decisão às Secretarias Estaduais, do Distrito Federal e Municipais; bem como determine a suspensão dos efeitos das respectivas normas do Estado de Santa Catarina que reproduzem referidas restrições; (b) determinar que a União e o Estado de Santa Catarina organizem suas atividades escolares para o próximo ano letivo, de modo a cumprirem o comando constitucional, e (c) sucessivamente, seja oportunizado que as crianças comprovem sua capacidade intelectual, por meio de avaliação psicopedagógica, para o acesso ao Ensino Infantil aos 4 (quatro) anos de idade, e para o acesso ao Ensino Fundamental aos 6 (seis) anos de idade, devendo os réus, neste caso, garantir estrutura pública e dotada de autonomia científico e profissional para avaliação psicopedagógica em questão, de sorte a viabilizar a todos o acesso ao serviço. (SANTA CATARINA, 2014)

Em decisão, sujeita ao reexame necessário, proferida em 21/12/2014, o Juiz Federal Hildo Nicolau Peron deixa a questão para ser resolvida conjuntamente por pais e escolas:

- ACOLHO a preliminar de litispendência quanto ao pedido subsidiário, relativamente ao acesso ao Ensino Fundamental das crianças com 6 anos de idade incompletos, e nesta parte julgo o processo EXTINTO sem resolução do

mérito (art. 267, V, do CPC);

- ACOLHO PARCIALMENTE os pedidos, e julgo o processo com resolução do mérito - art. 269, I, do CPC. Por conseguinte, DETERMINO aos réus que viabilizem o acesso à Pré-Escola de todas as crianças residentes no Estado de Santa Catarina, com 4 anos de idade incompletos, desde que, avaliada a

conveniência pedagógica, resulte da decisão conjunta dos pais e da escola, devidamente formalizada em ata assinada pelas partes (SANTA

CATARIANA, 2014). (Grifos nossos)

No Estado do Paraná, já em 2006, teve-se o processo n. 2.972/06, de interesse de um grupo de escolas da rede privada, e a Ação Civil Pública n. 402/07, proposta pelo Ministério Público deste estado. Em decorrência, editou-se, por força judicial, a Deliberação CEE/PR nº 02/07, que foi o mecanismo normativo que autorizou a matrícula no primeiro ano do Ensino Fundamental de crianças que completassem seis anos no decorrer do ano letivo, quando em Deliberação anterior – de 2006 – a data limite era o dia 1º de março. Assim o Conselho Estadual de Educação do Paraná dá cumprimento à determinação judicial e, lucidamente, considera, entre outras coisas, que:

- O princípio defendido foi o de respeitar o direito da criança à Educação Infantil, sobretudo quando o texto constitucional, no artigo 208, inciso IV, estabelece o direito à Educação Infantil às crianças de 0 (zero) a 6 (seis) anos de idade, recentemente alterado pela Emenda Constitucional n° 53, de 19 de dezembro de 2006, tendo como foco a ludicidade, que proporciona a organização do mundo real a partir dos estímulos, das regras, dos jogos e da convivência social.

- Trocar o direito de ser criança pela imposição prematura de uma escola formal e instrucional obrigatória, implicaria no desrespeito às especificidades da infância e o direito à Educação Infantil (PARANÁ, 2008).

A Lei Estadual nº 16.049, de 19 de fevereiro de 2009, confere o direito à matrícula no 1º ano do ensino fundamental às crianças que completem 6 (seis) anos até a data de 31 de dezembro do ano letivo.

Em 07/02/14, o Juiz Rafael Lago Salapata proferiu a sentença determinando o acesso de crianças com seis anos incompletos no início do ano letivo que comprovem capacidade para tanto, mediante avaliação psicopedagógica.

Em 24 de junho de 2015, o Governador do Paraná aprovou o Plano Estadual de Educação (PEE), Lei 18.492, que instituiu uma nova data de corte para o ensino fundamental no estado. Apenas as crianças que completarem 6 anos até 31 de março de cada ano poderão ser matriculadas nessa etapa. A mudança está de acordo com resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) e revoga a lei estadual de 2009, que havia instituído 31 de dezembro como data de corte.

Para finalizar, demonstrou-se que foi visível o desordenamento causado pela interferência do Poder Judiciário em todos os Sistemas de Ensino do país. Os órgãos responsáveis pelo regramento – o CNE e os CEE – foram colocados em uma situação de subordinação em relação ao Ministério Público, o qual definiu o conteúdo da norma que deve ordenar o sistema de ensino, destituindo-os de sua competência deliberativa.

Desta guerra de posições diferenciadas, evidenciadas no embate jurídico-político, ficaram de fora as questões pedagógicas que envolvem a infância e os processos de construção do conhecimento pela criança. Essas mudanças nos critérios de matrícula prejudicaram a vida escolar de muitos estudantes e só trouxeram mais confusão para as famílias que sentiram dificuldade em compreender essa polêmica que se instalou (CAMPOS, 2007).

No atendimento judicial, inúmeras crianças foram matriculadas no Ensino Fundamental de nove anos com cinco anos de idade, idade essa, conforme LDB, compatível com o atendimento na Educação Infantil. Ainda não há como mensurar os efeitos dessa matrícula antecipada na vida dessas crianças. Entretanto, na pesquisa de Campos et al. (2011a), encontramos que a questão da idade em que as crianças ingressam no ensino fundamental é um fator importante. Nesta pesquisa, os resultados aferidos pela

Provinha Brasil93, aplicada em alunos do segundo ano do ensino fundamental de escolas públicas, no primeiro semestre de 2009, mostraram que as médias mais altas se situam na faixa etária entre 7,5 e 8 anos (crianças que ingressaram no primeiro ano aos 6 anos completos teriam esta idade) enquanto as crianças mais novas obtiveram médias mais baixas.

93 A Provinha Brasil é uma avaliação diagnóstica do nível de alfabetização das crianças matriculadas no segundo ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras, aplicada no início e no final do ano letivo.