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Erostrato: a falta do Outro

1.2 Cinco tentativas de fuga

1.2.4 Erostrato: a falta do Outro

O conto Erostrato é narrado em primeira pessoa, na voz do personagem principal, Paul Hilbert, um funcionário público de 33 anos que sente asco pela humanidade. O grande Outro que incomoda e circunscreve Hilbert é, diferente dos contos até agora tratados em que uma pessoa era esse Outro com o qual o personagem principal era confrontado, representado pela humanidade em geral. Seus projetos e suas escolhas serão realizados diante do papel que o personagem atribui às multidões, ao homem em geral, à humanidade, em resumo. Segundo Contat, Paul Hilbert é um personagem ímpar na literatura sartriana, desesperado pela glória e pela fama: “Chez un seul des peronnsages sartriens d’avant guerre, on voit en action le désir littéralement éperdu de la gloire. C’est Paul Hilbert. […]. Pourtant il rime avec Hitler et Flaubert. […] La gloire qu’il convoite, immémoriale, éternelle, est celle du héros noir. Du malfaisant” (CONTAT, 2001, p. 31).

Já no início do texto, o narrador se posiciona: “Les hommes, il faut les voir d’en haut” (Mu, p.79). Hilbert não fica à vontade na altura dos olhos dos homens, sente-se sufocar, prefere observá-los de longe em vez de estar junto deles. O local onde pensa que

160Os tipos de relação intersubjetiva descritos na Terceira Parte de L’être et le néant serão retomados na

deveria passar toda a sua vida é na sacada de um sexto andar, para sempre ver os homens de cima. O local de onde Hilbert decide posicionar-se para olhar os homens e a recusa em manter-se na mesma altura de todos nos leva à metáfora preferida de Sartre quando quer demonstrar a discussão sobre compreensão do Outro: o olhar.

O olhar que o outro não lança de volta a Hilbert impede que a relação com o outro saia do primeiro nível, isto é, de um nível meramente de conhecimento que é o mesmo tipo de relação que estabeleço com os objetos em geral. A revelação da presença do outro é feita quando descubro seu olhar lançado sobre mim: os objetos não me olham. Nesse momento, ser-visto exige que seja atribuído ao outro o ser-sujeito no lugar do ser-objeto, é preciso que a objetividade do outro seja convertida em subjetividade. Isso significa que um tipo de relação estabelecida via olhar, na sua completude, exige que eu emancipe o outro da sua condição de objeto para a condição de outro homem. O olhar do outro sobre mim não está no mesmo âmbito do olhar que ele desfere para as coisas, o que garante a passagem da relação estabelecida no puro conhecimento para uma relação intersubjetiva que se realiza de ser a ser. É, justamente, o teor desta relação originária que escapa a Hilbert: “ce à quoi se réfère mon appréhension d'autrui dans le monde comme étant probablement un homme, c'est à ma possibilité permanente d'être-vu-par-lui, c'est-à-dire à la possibilité permanente pour un sujet qui me voit de se substituer à l’objet vu par moi” (EN, p. 296). Isso quer dizer que Hilbert está sempre na condição de olhador, mas nunca na de olhado. A existência do Outro, descoberta em toda a sua plenitude por meio do Olhar, arranca a consciência do solipsismo e a faz descobrir a intersubjetividade, a existência dos outros e do mundo em sua verdade.

Isso significa que, teoricamente, a noção de outro não poderia visar uma consciência solitária e fora do mundo, mas Hilbert procura captar esse outro como um tipo de ser que é ao mesmo tempo homem e objeto por não estabelecer com o outro a relação originária que fala Sartre, assim, ele não outorga ao outro o estatuto de sujeito porque o outro não lhe retribui o olhar. Colocar-se na mesma posição dos homens exigiria que Hilbert lhes outorgasse o estatuto de equivalentes a si, que os emancipasse como ser-sujeito, ser-em- situação que compartilha o mesmo mundo circundante. Ele não o faz, prefere a distância que lhe confere o poder de captar a todos como coisas sem nunca a coisa devolver o olhar que exige emancipação à categoria de humano. Do alto, os homens parecem formigas, produtos, objetos vulgares, com seus chapéus fincados sobre um corpo ausente com pés. É mais fácil

odiá-los do alto, na lacuna da comunhão, sem que os laços que unem os para-sis sejam estabelecidos e concretamente identificados e vivenciados. O primeiro parágrafo deste conto é rico em remissões ao olhar e seu papel fundamental na constituição da relação entre o Eu e o Outro:

Les hommes, il faut les voir d’en haut. J’éteignais la lumière et je me mettais à la fenêtre : ils ne soupçonnaient même pas qu’on pût les observer d’en dessus. Ils soignent la façade, quelquefois les derrières, mais tous leurs effets sont calculés pour des spectateurs d’un mètre soixante-dix. Qui donc a jamais réfléchi à la forme d’un chapeau melon vu d’un sixième étage ? ils négligent de défendre leurs épaules et leurs crânes par les couleurs vives et des étoffes voyantes, ils ne savent pas combattre ce grand ennemi de l’Humain : la perspective plongeante. Je me penchais et je me mettais à rire : où donc était-elle, cette fameuse “station debout” dont ils étaient si fiers : ils s’écrasaient contre le trottoir et deux longues jambes à demi rampantes sortaient de dessous leurs épaules. (Mu, p. 79, grifos meus). Da janela do sexto andar, com a luz apagada, isolado, Paul Hilbert observa sem ser visto, com ar de inimigo os homens e suas aparências ridículas de coisa, de formiga. Sem saber da presença de qualquer um olhando-os de cima, os homens passam despreocupados com a imagem que oferecem; de lá de cima, Hilbert não recebe o recíproco contato originário daqueles a quem observa. Esconde-se no escuro da sacada, olha os homens e não é olhado, ironiza-os, ri solitário. O personagem renuncia o papel da presença do Outro na construção da sua subjetividade, recusando estabelecer qualquer tipo de relação social com outrem. Divagando solitário, o personagem pergunta a si: “Or, précisément, quelle est ma supériorité sur les hommes?” (Mu, p. 79) e responde: “Une supériorité de position, rien d’autre: je me suis placé au-dessus de l’humain qui est en moi et je le contemple” (Mu, p. 79). Destaco a expressão: Colocado acima do humano que existe em mim, de que forma Hilbert pode colocar-se para além do que há de humano nele mesmo? O que é o homem e o humano para Paul Hilbert?

Apesar da tentativa do personagem de negar a existência do outro a todo custo, a estrutura do para-si é ser-para-si-para-outro; por mais que recuse o convívio entre os homens, não há como desprender-se da dimensão de para-outro que o para-si possui. Por isso, em alguma medida, Hilbert relaciona-se com o outro e recebe de volta uma imagem de si e do mundo fornecida pelo outro, mas de maneira ontologicamente insuficiente. No caso de Hilbert, a imagem do Outro de si é distorcida pela própria relação distorcida e incompleta

que ele estabelece com o outro, a figura do outro de Hilbert não é o homem singular, mas a categoria do outro neste conto é representada pelo agrupamento da humanidade em geral. Objetivamente colocado acima, Hilbert se relaciona com o Outro na figura da humanidade toda, apenas no nível do conhecimento, mas a dimensão de para-outro capenga devolve uma imagem de si igualmente capenga. Do alto do seu apartamento, ele vê pessoas caminhando, ouve os passos, observa-as e as acha ridículas, seu olhar certeiro atinge-as todas, mas não há olhar em retorno devolvendo uma imagem honesta porque ele se colocou acima. O personagem não é olhado de volta enquanto observa sorrateiro os passantes; os homens são como coisas e assim permanecerão para Hilbert.

Sem a presença concreta do Outro para lhe roubar o mundo, Hilbert adormece na ilusão solitária da individualidade egocêntrica. A percepção manca que tem de si mesmo não fora perpassada pela degradação que um Outro singular oferece naquele justo momento em que remove o chão da consciência que acreditava captar sozinha o mundo. Mundo que, por sua vez, não aparece em sua verdade a Paul Hilbert porque a realidade conhecida pelo personagem é pobre, pois é formada somente a partir de uma perspectiva, isto é, da sua própria. Isso não quer dizer que Hilbert creia ser único, mas seu distanciamento da comunhão entre os homens oferece uma realidade alterada pela falta da experiência autêntica com o outro. É seu projeto de má-fé que organiza a realidade para que ela apareça desse modo, no fundo Hilbert sabe que há mais elementos para considerar, mas ele não quer defrontar-se com a angústia e com o peso da liberdade como tal. Dessa forma, até mesmo a imagem que tem de si é limitada porque não recebeu a devolutiva da parte de si que escapa em direção ao outro, Hilbert tem de si somente a figura que formulou sozinho.

O conto Erostrato antecipa as reflexões sobre a intersubjetividade de L’être et le néant. Lá, na esteira da filosofia hegeliana, Sartre explorará a relação entre o Eu e o Outro, partindo do Eu em direção ao outro por meio do cogito numa relação recíproca, segundo a qual é somente na medida em que o Eu se opõe ao outro que cada um é absolutamente si mesmo. O Eu afirma contra o outro e para o outro o seu direito de individualidade. O cogito não é o responsável pela aparição do outro, mas é a existência do Outro e seu reconhecimento que fazem o cogito saltar sobre o Eu apreendido como objeto no mundo. Isso significa que o Outro é uma espécie de estágio para o desenvolvimento da consciência

de si ao passo que ele reflete o meu Eu. O outro é interessante na medida em que ele atua como um outro-Eu, um Eu-objeto que, inversamente, o reflete, o devolve161 para mim.

Ora, a originalidade do conto Erostrato no que diz respeito à investigação da relação intersubjetiva é a de que a figura do Outro não é, necessariamente, personificada na individualidade de uma pessoa, não é representada pela figura da prostituta, de um colega de trabalho ou qualquer outro personagem individual que aparece na história. O Outro, como disse acima, é o povo, a multidão, a humanidade. Assim, a questão que se coloca é a de que a imagem que Hilbert forma desse grande Outro é diluída e vazia porque não encontra respaldo e correlato concreto na realidade, uma vez que se sustenta unicamente na percepção isolada que o personagem constrói da humanidade em geral, principalmente porque assume a humanidade do ponto de vista abstrato, sem estabelecer relações concretas e autênticas com outrem.

A humanidade que Hilbert odeia é este Outro que devolve para ele a representação que ele próprio fez de si; entretanto, no limite, a imagem que Hilbert julga que a humanidade faz dele, no fundo, provém apenas dele mesmo e é falsa. E isso se torna decisivo para todos os seus projetos e durante toda sua existência, pois o sentido que Hilbert outorga ao Outro, a saber, à humanidade, é, no fundo, aquele que ele encontra em si mesmo. É no conflito com ideia de humanidade que ele possui, que ele se constrói; é no ódio que nutre pela humanidade que o personagem arquiteta seu projeto existencial e age segundo ele, traçando suas ações e escolhas tendo como contraponto as multidões que, na verdade, não existem em outro lugar que em si mesmo.

O ódio pela humanidade tem seu ápice num plano formulado de rompante, sem muita reflexão e ponderação – como é característica dos projetos de má-fé narrados nos contos d’O muro – “Un soir, l’idée m’est venue de tirer sur des hommes” (Mu, p. 81). Depois disso, o personagem compra uma arma e não anda mais sem o revólver, passeia com ele no bolso, anda pelas ruas imaginando como as pessoas cairiam se fossem alvejadas nas costas, imagina os corpos perfurados, rasgados, mortos. Hilbert decide realizar uma chacina contra a Humanidade num ato simbólico de desprezo por tudo aquilo que ele considera

humano, mas é fundamental ter em mente, que Hilbert não tem uma experiência autêntica do humano no sentido da coletividade, do grupo, nem mesmo da intersubjetividade.

No trabalho, numa conversa com os colegas sobre quem e o que são as figuras heroicas da Humanidade, Hilbert descobre a história de Erostrato de Éfeso, que incendiou o Templo de Éfeso para entrar para a História:

Puis ils parlèrent de Lindbergh. Ils aimaient bien Lindbergh. Je leur dis : ˗ Moi j’aime les héros noirs.

[…]

Je leur exposai ma conception du héros noir : ˗ Un anarchiste, résuma Lemercier.

˗ Non, dis-je doucement, les anarchistes aiment les hommes à leur façon. ˗ Alors, ce serait un détraqué.

Mais Massé, qui avait des lettres, intervint à ce moment :

˗ Je le connais votre type, me dit-il. Il s’appelle Érostrate. Il voulait devenir illustre et il n’a rien trouvé de mieux que de brûler le temple d’Éphèse, une des sept merveilles du monde.

˗ Et comment s’appelait l’architecte de ce temple ?

˗ Je ne me rappelle plus, confessa-t-il, je crois même qu’on ne sait pas son nom.

˗ Vraiment ? Et vous vous rappelez le nom d’Érostrate ? Vous voyez qu’il n’avait pas fait un si mauvais calcul. (Mu, pp. 87-88).

A história de Erostrato encoraja Paul Hilbert. Convencido de que seu destino será curto e trágico, a imagem que faz de si mesmo é a de um ser da espécie dos revólveres e das bombas, que um dia, no fim da vida obscura, explodiria e iluminaria o mundo com uma chama violenta e fugaz (Mu, p. 89). Hilbert começa a planejar seu ato de Erostrato: descarregar cinco balas aleatoriamente em horário e local movimentados pela turba odiada, em 30 segundos correr para o seu apartamento e quando seus perseguidores o encontrarem, descarregar o último cartucho em sua cabeça.

Tomado por seu plano, o anti-herói passeia por dias pelos bulevares, caminha angustiado e resoluto entre suas possíveis futuras vítimas; deixa apoderar-se da ideia até que se sinta por ela consumido. Quando a ideia o invadir a tal ponto que ele próprio se transforme em coisa, em assassino, é sinal que está pronto. Hilbert escreve uma carta em 102 cópias que serão enviadas para 102 escritores franceses. Nela, expõe os motivos pelos quais odeia os homens e tudo o que eles representam:

Vous serez curieux de savoir, je suppose, ce que peut être un homme qui n’aime pas les hommes. Eh bien, c’est moi, et je les aime si peu que je vais tout à l’heure en tuer une demi-douzaine […]. Je ne peux pas les aimer. Je comprends for bien ce que vous ressentez. Mais ce qui vous attire en eux me dégoûte. J’ai vu comme vous des hommes mastiquer avec mesure en gardant l’œil pertinent, en feuilletant de la main gauche une revue économique. […] S’il n’y avait entre nous qu’une différence de goût, je ne vous importunerais pas. Mais tout se passe comme si vous aviez la grâce et que je ne l’aie point. (Mu, pp. 90-91).

Longe de grandes fundamentações de resistência, com causas históricas, pessoais ou políticas, Hilbert simplesmente se entorpece justificando que contra seu ódio não se pode fazer nada, pois ele nascera assim. Transparece nesse trecho o modo objetivado como o personagem relaciona-se com a ideia abstrata e geral de homem que ele criou sozinho. Sua desaprovação se sustenta na repugnância causada pela aparência dos movimentos humanos e a sua incapacidade intransponível de superá-la. Expandindo o asco pela fisionomia e fisiologia humanas até proporções épicas em que passa a odiar o humano em geral, Hilbert se percebe completamente estranho a espécie humana e, principalmente, a todos aqueles que, irmanados, se comprazem e se identificam entre si pela alcunha de humanistas. Na carta, Hilbert se refere ao humanismo, que o enoja, da seguinte maneira:

Vous avez l’humanisme dans le sang : c’est bien de la chance. Vous vous épanouissez quand vous êtes en compagnie ; dès que vous voyez un de vos semblables, sans même le connaître, vous vous sentez de la sympathie pour lui. Vous avez du goût pour son corps, pour la façon dont il est articulé, pour ses jambes qui s’ouvrent et se ferment à volonté, pour ses mais surtout : ça vous plaît qu’il ait cinq doigts à chaque main et qu’il puisse opposer le pouce aux autres doigts. Vous vous délectez, quand votre voisin prend une tasse sur la table, parce qu’il y a une manière de prendre qui est proprement humaine et que vous avez souvent décrite dans vos ouvrages, moins souple, moins rapide que celle du singe, mais n’est-ce pas ? tellement plus intelligente. Vous aimez aussi la chair de l’homme, son allure de grand blessé en rééducation, son air de réinventer la marche à chaque pas et son fameux regard que les fauves ne peuvent supporter. [...] Je suis libre d’aimer ou non le homard à l’américaine, mais si je n’aime pas les hommes, je suis un misérable et je ne puis trouver de place au soleil. Ils ont accaparé le sens de la vie. […] Voilà trente-trois ans que je me heurte à des portes closes au-dessus desquelles on a écrit : “Nul n’entre ici s’il n’est humaniste”. (Mu, pp. 89-91).

O protagonista diz que se encontra em meio ao que poderíamos chamar de ditadura do humanismo: o homem pensado como valor supremo e finalidade de tudo. Essa

humanização exacerbada sufoca o personagem que não vê a realidade desse modo, ele quer apresentar ao mundo o que pensa, mas nesse totalitarismo do humano, não há espaço para ideias que não se dirigem exclusivamente à elevação humana no sentido clássico de humanismo.

A crítica ao humanismo tradicional fica evidente por essas passagens da carta e é coerente com a posição sartriana que discorda desse tipo de humanismo ingênuo e arrogante162. Há trechos da carta de Paul Hilbert bastante dedicados à linguagem e sua

relação com o escritor e o público, antecipando ideias e questões que Sartre desenvolverá em 1947, em Qu’est-ce que la littérature?:

Monsieur,

Vous êtes célèbre et vos ouvrages tirent à trente mille. Je vais vous dire pourquoi : c’est que vous aimez les hommes. […] Il vous a donc été facile e trouver l’accent qui convient pour parler à l’homme de lui-même ; un accent pudique mais éperdu. Les gens se jettent sur vos livres avec gourmandise, ils les lisent dans un bon fauteuil, ils pensent au grand amour malheureux et discret que vous leur portez et ça les console de bien des choses, d’être laids, d’être lâches, d’être cocus, de n’avoir pas reçu d’augmentation au premier janvier. Et l’on dit volontiers de votre dernier roman : c’est une bonne action. […] Les pensées que je ne leur destinais pas expressément, je n’arrivais pas à les détacher de moi, à les formuler : elles demeuraient en moi comme de légers mouvements organiques. Les outils même dont je me servais, je sentais qu’ils étaient à eux ; les mots par exemple : j’aurais voulu des mots à moi. Mais ceux dont je dispose ont traîné dans je ne sais combien de consciences ; ils s’arrangent tout seuls dans ma tête en vertu d’habitudes qu’ils ont prises chez les autres et ça n’est pas sans répugnance que je les utilise en vous écrivant. Mais c’est pour la dernière fois. [...] Adieu, monsieur, peut-être est-ce vous que je vais rencontrer. Vous ne saurez jamais alors avec quel plaisir je vous ferai sauter la cervelle. Sinon – et c’est le cas le plus probable – lisez les journaux de demain. […] Vous savez mieux que personne ce que vaut la prose des grands quotidiens. (Mu, pp. 89-92).

Interessante observar que enquanto Paul Hilbert sente que a linguagem não lhe pertence de modo algum, como se fosse algo externo e não uma ferramenta natural do humano relacionar-se com o mundo. O protagonista de Erostrato se sente totalmente desconfortável com a linguagem, mas Sartre afirma que o que se passa com o para-si em

162Cf. EH, pp. 74-76, donde destaco: “Le culte de l’humanité aboutit à l’humanisme fermé sur soi […] et, il faut