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O muro: finitude e gratuidade

1.2 Cinco tentativas de fuga

1.2.2 O muro: finitude e gratuidade

O muro é o primeiro conto da coletânea, narrado em primeira pessoa, tem como personagem principal Pablo Ibbieta, um preso político da Guerra Civil Espanhola que aguarda, com mais duas pessoas, a execução da sua pena: o fuzilamento. A história conta a noite desses três prisioneiros e como cada um lida com a certeza da morte: medo, desespero, raiva, indignação, arrependimento, orgulho e, por fim, indiferença e absurdo. Tom Steinbock, Juan Mirbal e Pablo Ibbieta são presos e interrogados pela polícia. Tom integrava a Brigada Internacional125; o jovem Juan não era mais que um garoto assustado, fora preso

injustamente, seu irmão é que fazia parte da resistência; Pablo fazia parte da Resistência, fora preso para delatar um dos líderes do movimento, Ramon Gris.

125Tom Steinbock parece ter sido inspirado em Jacques-Laurent Bost, ex-aluno e amigo de Sartre que se

aconselha com o filósofo sobre alistar-se para participar da Guerra Civil Espanhola, lutando contra o regime de Franco. Cf. LES, pp. 58-59 e Beauvoir, 1960, p. 298-299.

Um médico belga126 aparece frequentemente para avaliar a saúde dos condenados

à morte, mais interessado em estudar fisiologicamente como o corpo se comporta diante da proximidade da morte: examina os sinais vitais, faz perguntas e anota tudo em seu caderninho. A preocupação com a saúde dos condenados e o aparente interesse em tornar menos duras as últimas horas127 contrasta com a espreita da morte. O médico monitora, vigia

e registra os danos físicos da morte iminente, enquanto Ibbieta narra os danos psíquicos e mentais no conto, os seus, de Tom e Juan. Tom assume um ar profético que o desagrada, fala demais para impedir o pensamento128; Juan, ao contrário, não fala nada, mas a morte já está

estampada no seu rosto. Ibbieta fala com o leitor e enquanto pensa na morte, pensa na vida. A ideia de três personagens principais encerrados entre quatro paredes129 e mais

um quarto personagem coadjuvante lembra a organização de Huis clos. Do ponto de vista das relações intersubjetivas, a diferença principal é que a narrativa é exclusivamente focada na percepção que Pablo Ibbieta tem dos acontecimentos e dos outros personagens. Ibbieta não gosta de Juan porque ele já estava entregue ao medo e ao sofrimento: “[...] je n’aimais le petit. Il avait um visage trop fin et la peur, la souffrance l’avaient défigurée, elles avaient tordu tous ses traits” (Mu, p. 16). O medo de Garcin também desagrada Inès, em Huis clos: “Vous n'êtes pas seul et vous n'avez pas le droit de m'infliger le spectacle de votre peur” (HC, p. 26). Ibbieta, ao contrário, se sente dur, assim como seu amigo Ramon Gris130 e como

sempre desejaram ter sido Garcin131 e Lucien Fleurier132. Inès também não sente medo, para

ela o medo fazia sentido antes quando ainda havia esperança, agora não há mais medo porque não há mais nada a esperar133.

126O médico belga também é, possivelmente, inspirado numa pessoa real: “C’était um médicin qui avait

demandé à voire des condamnés à mort […]; il avait enregistré avec beaucoup de précision les signes avant- coureurs de la mort” (LES, p. 59).

127O médico diz aos prisioneiros : “Je me mets à votre disposition. Je ferai tout mon possible pour que ces

quelques heures vous soient moins lourdes” (Mu, p. 17).

128Cf. Mu, p. 23.

129O porão de um hospital é a cela improvisada dos prisioneiros em Le mur. Cf. Mu, p. 13. 130Sans doute je l’estimais toujours ; c’était un dur” (Mu, p. 34).

131Moi, je me foutais de l'argent, de l'amour. Je voulais être un homme. Un dur” (HC, p. 89).

132 E como era também o amigo de Lucien Fleurier, Lemordant; Bariona pensava que aqueles que não tinha

mais nada a esperar também eram durs (Cf. Bar, p. 1130). Canoris, de Morts sans sepulture, também é um dur. Interessante lembrar o caso de Bariona, que constrói um projeto de aniquilação em razão do medo e recobra a esperança quando o supera. Há, no entanto, algo em que Bariona e Inès provavelmente concordariam: há esperança enquanto ainda há futuro, porque Inès não tem mais futuro, é que não pode haver esperança para ela.

Le mur é o relato da tomada de consciência da absurdidade da vida exatamente quando um homem é condenado à morte. Com isso, Sartre não afirma o triunfo do nada sobre a existência, ou da morte sobre a vida, ao contrário, é por meio da condenação que Pablo Ibbieta reflete pela primeira vez sobre sua vida e constata a gratuidade da existência. A noite longa que antecede a execução dos prisioneiros é o momento em que Pablo reavalia sua vida, sua história e seus projetos. Mas a morte muda o sentido de tudo que fora feito:

Je me levai, je me promenai de long en large et, pour me changer les idées, je me mis à penser à ma vie passée. Une foule de souvenirs me revinrent, pêle-mêle. Il y en avait de bons et de mauvais – ou du moins je les appelais comme ça avant. Il y avait des visages et des histoires. Je revis le visage d’un petit novillero qui s’était fait encorner à Valence pendant la Feria, celui d’un de mes oncles, celui de Ramon Gris. Je me rappelai des histoires : comment j’avais chômé pendant trois mois en 1926, comment j’avais manqué crever de faim. Je me souvins d’une nuit que j’avais passée sur un banc à Grenade : je n’avais pas mangé depuis trois jours, j’étais enragé, je ne voulais pas crever. Ça me fit sourire. Avec quelle âpreté, je courais après le bonheur, après les femmes, après la liberté. Pour quoi faire ? J’avais voulu libérer l’Espagne, j’admirais Pi y Margall, j’avais adhéré au mouvement anarchiste, j’avais parlé dans des réunions publiques : je prenais tout au sérieux, comme si j’avais été immortel. (Mu, p. 26).

São lembranças ordinárias de um homem ordinário que viveu uma vida igualmente ordinária, sequer seu engajamento político, sua luta, sua situação de desemprego, pobreza e fome parecem ter valor maior sobre os passeios e os sorrisos. Ibbieta não se orgulha da sua história, ao contrário, toda a sua vida aparece, agora, vazia e sem sentido; contingente:

A ce moment-là, j’eus l’impression que je tenais toute ma vie devant moi et je pensai : “C’est un sacré mensonge”. Elle ne valait rien puisqu’elle était finie. Je me demandai comment j’avais pu me promener, rigoler avec des filles : je n’aurais pas remué le petit doigt si seulement j’avais imaginé que je mourrais comme ça. Ma vie était devant moi, close, fermée, comme un sac, et pourtant tout ce qu’il y avait dedans était inachevé. Un instant, j’essayai de la juger. J’aurais voulu me dire : c’est une belle vie. Mais on ne pouvait pas porter de jugement sur elle, c’était une ébauche; j’avais rien compris. (Mu, p. 27).

Pela manhã, Juan e Tom são fuzilados. Uma última proposta é feita pelos algozes a Ibbieta: denunciar a localização do companheiro de Resistência, Ramón Gris, em troca de

liberdade. A sua vida pela dele. Como acontece em todos os contos da coletânea, há um momento decisivo em que a liberdade clama para ser assumida. Em Le mur, a proposta feita pelos falangistas poderia ser esse momento, no qual Ibbieta assumiria a sua liberdade, retomaria o controle da sua vida, afirmaria o seu engajamento político e validaria autenticamente a sua decisão de fazer parte do grupo de Resistência, honraria sua história, sua trajetória e conscientemente se negaria a entregar Ramón Gris, mas não foi isso que aconteceu.

De fato, Ibbieta prefere morrer a dedurar o esconderijo do amigo, mas não em razão de uma escolha consciente e engajada, ou por razões políticas, tampouco por amizade ou estima. Ibbieta não quer entregar Ramón porque considera que nada tem valor, afinal “sa vie n’avait pas plus de valeur que la mienne; aucune vie n’avait de valeur” (Mu, p. 34). Para Ibbieta, “rien n’avait plus d’importance” (Mu, p. 34) e agora parece que não tem mais nada a perder, nem a morte teme mais; seus amores e sua vida agora têm gosto de morte. Pensando que nenhuma vida tem valor maior que qualquer outra, Ibbieta decide enganar os falangistas e denunciar um falso esconderijo, o lugar menos provável em que Gris poderia estar: o cemitério. Seu plano satírico é zombar dos guardas: eles se levantariam, correriam sérios e decididos até o cemitério, dariam com a cara nas covas e não encontrariam nada a não ser túmulos e ossos. Tudo inútil. Pablo quis que sua morte fosse antecedida por uma piada, uma última zombaria. Se a vida não tem mais nenhum sentido, que, pelo menos, tenha graça.

Ao contrário do que espera, é solto assim que os falangistas retornam da investida. Ibbieta descobre, então, que Ramón Gris foi encontrado e morto. Ele estava escondido exatamente no cemitério. No conto, o objetivo da ação derradeira de Ibbieta é pregar uma peça, terminar sua vida com humor; ele não pretende denunciar o esconderijo de Ramón Gris, seu companheiro de luta política. O resultado, no entanto, foi o contrário do desejado: a ação de Ramón Gris de sair da casa do primo e esconder-se no cemitério, assim como a ação de Ibbieta em dizer um local errado para tapear os soldados, são a convergência comicamente absurda que pode ter a ação de qualquer pessoa, em razão da dimensão gratuita, fatual e contingente da realidade humana.

Sartre escolhe uma situação de guerra, de conflito político, de iminência da morte para apresentar os aspectos de facticidade, contingência e absurdidade da existência humana. A contingência significa a imprevisibilidade, a capacidade de poder ser ou não, de

dar certo ou não, o caráter de indeterminação que possui a realidade humana e, em consequência, os seus atos. Ainda que seja necessário agir, nenhuma ação é necessária, toda escolha é contingente e sem valor absoluto. A ação é gratuita, contingente, sem importância, irrelevante, o que não quer dizer que estejamos soltos no acaso, mas que qualquer ação é gratuita no sentido de que não tem razão para acontecer, mas é necessária enquanto tendo fundamento para acontecer.

Segundo François George134, o conto Le mur é também uma reflexão sobre o fato

de mentir, tema que foi explorado por Kant na obra Sobre o pretenso direito de mentir por amor aos homens135, cujo argumento provavelmente Sartre conhecia. O texto traz um

exemplo que, de alguma maneira, se assemelha a situação narrada em Le mur:

É, pois, possível que após teres honestamente respondido com um sim à pergunta do assassino, sobre a presença em tua casa da pessoa por ele perseguida, esta se tenha ido embora sem ser notada, furtando-se assim ao golpe do assassinato e que, portanto, o crime não tenha ocorrido; mas se tivesses mentido e dito que ela não estava em casa e tivesse realmente saído (embora sem teu conhecimento) e, em seguida, o assassino a encontrasse a fugir e levasse a cabo a sua ação, com razão poderias ser acusado como autor de sua morte, pois se tivesses dito a verdade, tal como bem a conhecias, talvez o assassino ao procurar em casa o seu inimigo fosse preso pelos vizinhos que acorreram e ter-se-ia impedido o crime. (KANT, 1988, p. 177).

A atitude de contar uma última mentira em forma de piada, de fazer a última zombaria, reflete a falta de engajamento na militância de Pablo. A morte lhe parece tão absurda porque ela viria sem propósito, sem sentido. A decisão de contar uma última piada não é uma ação coerente de quem tem um projeto de engajamento político e luta contra o fascismo, de quem está disposto a morrer em favor de uma causa; essa atitude é muito mais uma decisão individualista que de engajamento político136. A mentira cômica verdadeira de

Ibbieta e a absurdidade da morte do líder Ramón Gris, podem ser tomadas como o sintoma de uma consciência de má-fé cujo projeto de lutar contra o fascismo não estava elucidado

134Não encontrei, infelizmente, a obra de François George para acompanhar a argumentação do autor, cito a

indicação apontada por Rybalka, em ŒR, p. 1822.

135No original, Über ein vermeintes Recht aus Menschenliebe zu lügen; publicado no número de 6 de setembro

de 1797 da revista Berlinische Blätter.

136A peça Morts sans sépulture, que será estudada no Segundo Capítulo, trará novamente a oferta de delatar o

líder do movimento de Resistência em troca da liberdade, mas sob outra perspectiva. Cf. 2.2 Morts sans

por parte do protagonista Ibbieta. A questão seria compreender se, para Sartre, Ramon morre no lugar de Ibbieta porque Sartre concorda com Kant ou se Sartre ironiza a ideia de Kant137.

Na filosofia heideggeriana, a morte é, segundo Marcos Werle, “uma espécie de angústia ampliada e mais definida na direção de uma caracterização fundamental de nossa existência”138 (2003, p. 111). A tomada de consciência da própria morte aponta para um

elemento de transcendência que tira o homem das suas ocupações ordinárias e o coloca radicalmente diante do seu ser. Ainda segundo Werle, a morte realiza:

1) uma consciência de toda a existência (passado, presente, futuro) e, por isso, também será por ela que o ser irá encontrar a sua verdade no tempo, o assunto da segunda seção de Ser e tempo, em que serão retomados todos os existenciais fundamentais sob o plano do tempo. 2) assumir individualmente a existência, já que a experiência da morte é sempre apenas minha (no §50 Heidegger considera que a angústia diante da morte é a angústia diante do próprio poder-ser). (Idem).

Werle cita como exemplo da teoria heideggeriana de ser-para-a-morte, o que se passa com os personagens de Le mur em que Ibbieta recapitula toda a sua vida: “E esta ‘reflexão’ sobre o seu fim e sua vida como um todo o leva a uma tal clareza sobre a sua existência que, mesmo se escapasse desta situação limite, sua vida nunca mais seria a mesma” (Idem). Werle destaca que a consciência da morte não é clara, mas “é como se ela emergisse da própria existência e das coisas” (Ibidem, p. 112), ainda que as coisas assumam outro aspecto, o da indiferença dos entes. É o que se percebe na fala de Ibbieta: “Naturellement je ne pouvais pas clairement penser ma mort mais je la voyais partout, sur les choses, dans la façon dont les choses avaient reculé et se tenaient à distance, discrètement, comme des gens qui parlent bas au chevet d’un mourant” (Mu, p. 227). Segundo Werle, “a possibilidade da morte coloca Pablo numa situação de indiferença diante dos entes que o cercam, e o transporta para o nível em que as relações espaciais e temporais comuns perdem o seu sentido” (Idem):

Je ne tenais plus à rien, en un sens, j’étais calme. Mais c’était un calme horrible – à cause de mon corps: mon corps, je voyais avec ses yeux, j’entendais avec ses oreilles, mais ça n’était plus moi; il suait et tremblait tout seul et je ne le reconnaissais plus. J’étais obligé de le toucher et de le

137Tarefa que, apesar da relevância e interesse teóricos, não farei aqui. 138Conferir também o Parágrafo 43 de Ser e tempo.

regarder pour savoirr ce qu’il devenait, comme si ç’avait été le corps d’un autre. Par moments je le sentais encore, je sentais des glissements, des espèces de dégringolades, comme lorsqu’on est dans un avion qui pique du nez, ou bien je sentais battre mon coeur. Mais ça ne me rassurait pas : tout ce qui venait de mon corps avait un sale air louche. La plupart du tempos, il se tassait, il se tenait coi et je ne sentais plus rien qu’une espèce de pesanteur, une présence immonde contre moi; j’avais l’impression d’être lié à une vermine énorme. À un moment je tâtai mon pantalon et je sentis qu’il était humide; je ne savias pas s’il était mouillé de sueur ou d’urine, mais j’allai pisser sur le tas de charbon, par précaution. (Mu, p. 227).

Para Werle, Heidegger interliga os conceitos de medo, angústia, nada e morte de modo a dar a chance de Pablo converter-se à autenticidade, partindo desses fenômenos é possível “a virada na existência humana”, que acontece “quando o homem é tocado em seu ser pelo apelo do Ser” (WERLE, 2003, p. 112). Werle explica, ainda, que essa descoberta não acontece na forma da alegria, mas pelo contrário: “para a ética heideggeriana vale sobretudo a finitude humana dos momentos de negatividade” (Idem). Sartre confessa em diferentes momentos o interesse e a influência que Heidegger exerce sobre a sua filosofia, esse é certamente um deles, mas sofrer influência de um filósofo não significa, necessariamente, concordar totalmente com a sua teoria.

O conceito de finitude, caro à filosofia sartriana, aparece na forma do ser-para- a-morte de Heidegger. Sartre, no entanto, discorda de Heidegger nas reflexões mais estritas acerca do tema da morte139, ainda que algo originariamente vinculado entre as duas

concepções possa ser aferido: a descoberta da finitude pode servir para a descoberta e a afirmação da vida. As possibilidades da ética ontológica de Sartre não se anunciam com o ser-para-a-morte heideggeriano, mas sob o fundo de um projeto de ser que é desejo de ser. Diferentemente de Heidegger, a concepção sartriana de projeto e de autenticidade não dá a primazia à atitude da realidade humana em relação à própria morte. Para Sartre, “le choix originel de notre être” é “un projet premier de vivre” (EN, p. 624); por outro lado, a descoberta do ser-para-a-morte é o despertar para a finitude, o que possibilitaria a tomada de consciência e reconfiguração da própria maneira de viver em relação à escolha original de si próprio.

139As minúcias da disputa teórica entre Heidegger e Sartre sobre o tema da morte e da finitude não serão

Quero dizer, com isso, que tanto Heidegger quanto Werle estão errados segundo a teoria sartriana. Heidegger se equivoca porque nem a descoberta da finitude e nem a experiência do ser-para-a-morte são garantias de ascenção à autenticidade. O sujeito pode sempre continuar vivendo na má-fé mesmo depois de ter experimentado horas de confronto direto com a iminência da morte e ter vivido a sua dimensão de ser-para-a-morte sob os diferentes leques da experiência física, psíquica e intersubjetiva. Werle se equivoca ao identificar no personagem de Ibbieta um projeto de autenticidade ou mesmo uma conversão à autenticidade pela experiência do seu ser-para-a-morte. Podemos dizer que Ibbieta constata a sua finitude e vivencia o seu ser-para-a-morte, descobre a absurdidade e a gratuidade da existência, mas não de maneira suficiente para que se converta à autenticidade. O projeto de Ibbieta é até o final da sua vida um projeto de má-fé.

Sequer o vínculo formado entre aqueles que partilham da mesma sorte, da mesma classe, que estão na mesma situação foi suficiente para a conversão de Ibbieta à autenticidade. Tom, Ibbieta e Juan pensam, sentem e temem as mesmas coisas. Estão na mesma situação concreta engaja como irmãos gêmeos140, Ibbieta descobre o peso do mundo e a ligação com todos os outros:

Finalement, j'étais assez confortablement installé dans ma situation d'écrivain antibourgeois et individualiste. Ce qui a fait éclater tout ça, c'est qu'un jour de septembre 1939, j'ai reçu une feuille de mobilisation et j'ai été obligé d'aller à la caserne de Nancy rejoindre des gars que je ne connaissais pas et qui étaient mobilisés comme moi. C'est ça qui a fait entrer, le social dans ma tête : j'ai compris soudain que j'étais un être social […]. Ces gars, quand je les croisais dans la caserne où je tournais en rond ne sachant qu'y faire, je leur voyais, avec toutes leurs différences, une dimension commune et qui était aussi la mienne : ce n'était plus de simples personnes comme celles que je rencontrais dans mon lycée quelques mois plus tôt, quand je ne me doutais pas encore que, elles comme moi, nous étions des individus sociaux. Jusque-là je me croyais souverain et il a fallu que je rencontre par la mobilisation la négation de ma propre liberté pour que je prenne conscience du poids du monde et de mes liens avec tous les autres. (Sit X, pp. 179-180).

140“J’étais blessé dans mon orgueil: pendant vingt-quatre heures, j’avais vécu aux côtés de Tom, je l’avais

écouté, je lui avais parlé, et je savais que nous n’avions rien de commun. Et maintenant nous nous ressemblions comme des frères jumeaux, simplement parce que nous allions crever ensemble” (Mu, p. 24).