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1 APROXIMAÇÃO ETNOGRÁFICA COM JOVENS EM

1.1 AS OFICINAS DO PROJETO PAPO SÉRIO

1.1.4 Escola de Educação Básica Berta Lutz

Nesta escola, localizada no município de São José, no bairro Praia Comprida, foram realizadas três oficinas. As duas primeiras ocorreram no dia 18 de junho de 2010, no período da manhã e a terceira ocorreu no dia 22 de junho de 2010, no período da tarde. Todas as oficinas foram realizadas com turmas do segundo ano do Ensino Médio. Nas oficinas do dia 18, fui acompanhada pelos bolsistas Ana Paula Santos e Raruilquer Oliveira. Já na oficina do dia 22, estiveram presentes as bolsistas Ana Paula Santos e Rayani Mariano.

Na primeira turma na qual realizamos a oficina, no dia 18, havia 37 alunos, sendo que a maioria era do sexo feminino. Eles possuíam entre 16 e 18 anos. Explicamos a dinâmica da oficina. Em primeiro lugar, exibimos um trecho do seriado “Anos Rebeldes”, veiculado na Rede Globo em 1992. O trecho mostrava um baile de formatura de colégio nos anos 1960. No baile estavam presentes os pais e demais familiares dos formandos. A pista de dança era iluminada e beijos entre

os jovens ocorriam apenas longe dos olhares dos convidados (embaixo de uma escada, por exemplo). Também era retratada a atitude masculina de “tirar para dançar”. Por fim, havia declarações de amor entre o casal principal (João e Maria Lúcia), que precediam o beijo. A seguir, passamos a palavra aos estudantes, para que eles pudessem expor suas impressões sobre o vídeo, falando sobre o que havia chamado sua atenção, especialmente por parecer diferente das festas atuais.

Num segundo momento, exibimos um trecho de “Meu Tio Matou um Cara”, um filme brasileiro de 2004. Nesse trecho, há cenas na escola e numa festa, realizada na casa de um dos alunos. É possível visualizar as tentativas de Duca de se aproximar de Isa, sua melhor amiga, tendo, para tanto, que tentar afastá-la de Kid, em quem ela está interessada. Na cena da festa aparece a aproximação entre Kid e uma menina, colega de classe, no intuito de ficar com ela. Após a exibição, também passamos a palavra aos jovens, de forma a perceber se o que é exibido no filme se aproxima da sua realidade, bem como quais são as principais diferenças em relação às aproximações entre jovens exibidas nos dois vídeos.

Na primeira turma, após a exibição do trecho de “Anos Rebeldes”, foi mencionado que a principal diferença entre a festa retratada e as festas atuais seria que hoje em dia aconteceria de tudo. Com essa expressão, os alunos queriam dizer que havia inclusive pessoas que ficavam com alguém do mesmo sexo. Nessa turma havia uma aluna que se intitulava homossexual. A aceitação de sua orientação sexual não era unânime, mas havia alguma tolerância com o fato. Isso gerou diversas discussões, permitindo que ouvíssemos os alunos acerca dos seus preconceitos contra homossexuais. Após a exibição do segundo filme, ocorreu uma discussão acalorada entre um menino e uma menina, pois ela afirmava que as mulheres tinham o direito de fazer o que quisessem, ao se referir ao direito que teriam de ficar com quantos homens quisessem, enquanto ele defendia que os homens faziam uma diferenciação entre meninas galinhas e aquelas para namorar.

A segunda turma, cuja oficina também foi realizada no dia 18, apresentava uma peculiaridade interessante. Nela havia, segundo boatos dos professores, um grupo de meninas que ficavam entre si. Alguns professores informaram, inclusive, que duas das alunas seriam namoradas. Essa informação, contudo, não pôde ser totalmente confirmada quando da realização da oficina, pois nenhuma das meninas afirmou ficar com alguém do mesmo sexo ou namorar outra menina. Elas apenas defendiam, na discussão do tema, essa prática. Por outro lado, havia um grupo, composto sobretudo por meninos, que se diziam homofóbicos e que afirmavam isso inclusive como direito e como um

posicionamento a ser respeitado pelos demais. Eles colocavam sua homofobia como uma liberdade, assim como seria a liberdade sexual das meninas que ficavam com outras meninas. Diversos argumentos de cunho religioso foram utilizados por esse grupo, como Deus criou Adão e Eva, e não Adão e Adão ou Eva e Eva. Também argumentos patologizantes estavam presentes e termos como problema, e doença mental foram mencionados.

A discussão foi muito acalorada, impedindo, inclusive, que pudéssemos exibir, nessa turma, o segundo filme. Foi difícil fazer com que os alunos conseguissem ouvir a opinião dos colegas. Além disso, não estávamos preparados para o clima de ódio que estava instaurado nessa turma e tivemos dificuldade em lidar com a situação, sobretudo pelo preconceito dos que se intitulavam homofóbicos em inclusive conversar sobre o assunto.

A segunda oficina que aconteceu nessa escola, realizada no dia 22, também foi complicada, mas por outro motivo. A turma estava muito desinteressada. Eles não queriam participar da atividade. Poucos alunos compartilharam suas opiniões e não ocorreram discussões das temáticas. Para que conseguíssemos ouvir os alunos, era necessário instigá-los o tempo todo, fazendo perguntas que os incentivasse a debater o tema. Nessa turma sobressaiu-se principalmente o debate acerca das diferenças entre a fama adquirida por mulheres e homens devido às suas práticas afetivas, que seria negativa para as mulheres, tachadas de galinhas, mas não para os homens. No entanto, foi interessante a alternativa apontada por algumas meninas quando querem ficar com vários meninos. Elas afirmaram que o importante era fazer isso num lugar com muita gente, como um grande show, por exemplo, com milhares de pessoas, e no qual não se conhecesse ninguém além do grupo de amigas que as acompanhava.