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2 NOÇÕES TEÓRICAS SOBRE AMOR,

3.3 O ATO DE CHEGAR

3.3.2 Meninos e Meninas Chegam da mesma Forma?

Diante das falas mencionadas, é possível perceber que tanto meninas quanto meninos podem e costumam chegar, ainda que isso seja mais comumente associado ao comportamento masculino. No entanto, será que isso ocorre da mesma forma? Maia (2009) salienta que, mesmo quando a sedução parte de ambas as direções, o modo pelo qual ela ocorre difere segundo o gênero.

Schuch (2002, p. 291 e 292), ao analisar o comportamento de jovens universitários em uma danceteria de Porto Alegre, afirma que “há uma divisão de papéis de gênero no processo de sedução”, embora não haja uma passividade feminina:

Cabe à mulher ficar envolvendo o parceiro através de seus gestos, sua dança, seus olhares e sorrisos - é ela quem chama, convida o parceiro a participar do jogo, tendo o papel de sua aceitação ou recusa. Por sua vez, cabe ao jovem o ato de chegar até a parceira, de mostrar o seu interesse através de palavras.

Para Eduardo (16 anos), quando os meninos chegam, não há uma escolha prévia da pessoa em que eles vão chegar: os caras chegam em qualquer uma … muitas vezes não importa se é bonita, se é feia, se é zarolha, sei lá, tá […] tá ali esperando. O que importa é tá ali esperando.

Já as meninas chegam de forma diferente e, para elas, o olhar seria muito utilizado. Rebeca (17 anos) diz que as meninas chegam mostrando que estão a fim, mas não de forma explícita: “ai, eu quero ficar contigo”. Para Diego (17 anos), os meninos é que chegam já dizendo que querem ficar com a menina, enquanto que as meninas conversam mais: as gurias dizem que tu é bonito e tal. No entanto, isso não é uma regra, pois ele afirma que tem guria que chega beijando.

Eduardo (16 anos) fala na troca de olhares, que serviria para dizer: ah, ó, tô afim, é só tu chegar. Por isso, para ele, mulher chega olhando. Elas só ficam olhando o cara tipo “ó, me olha”, tá ligado? A escolha feminina seria feita a partir desse olhar, sendo que, ainda que essa possa ser considerada uma forma de chegar, a iniciativa de se aproximar, conversar e beijar partiria muito mais dos meninos. Ele diz que há meninas que tomam a iniciativa, mas que isso é muito difícil.

Perguntada se costuma chegar nos meninos, Ana Carolina (16 anos) diz que depende da situação, do pessoa… é que eu adoro conversar com as pessoas, então… às vezes eu posso ser interpretada mal assim. Eu adoro conversar, eu chego e converso assim, tranqüilo.46 No entanto, ela se diz um pouco insegura para chegar e beijar os meninos, afirmando que isso só ocorreu quando ela já conhecia a pessoa previamente e ela já tinha dado uma abertura maior, o que a teria encorajado.

Laura (17 anos), ao tratar da maneira com que os jovens chegam, afirma que em geral são os meninos que chegam de fato, ou seja, que chegam para beijar. No entanto, ela diz que cada vez mais as meninas estão tomando a iniciativa e que, no que se refere a chegar para conversar, esse ato pode inclusive ser mais associado às meninas do que aos meninos. Pedro (17 anos) afirma que, para chegar é preciso conversar com a menina primeiro. Se a conversar fluir, aí então ele partiria para o beijo. Logo, a conversa também seria importante para os meninos no ato de chegar.

Sofia (17 anos) também refere que, para ter coragem de chegar, há meninas que fazem uso de bebidas alcoólicas: tem umas que se embebedam pra ficar com o cara e depois não se sentir culpada, entendeu? A bebida ajudaria a aliviar a culpa e tirar dessa menina o rótulo de putinha ou de galinha, por exemplo, já que ela teria chegado no menino apenas porque estava bêbada e, portanto, fora de controle.47

Diego (17 anos) disse que sua reação às meninas que chegam depende de quem é a menina: se é uma guria que tu nem conhece e chega beijando, tu fica meio “quem é tu, o que que tu tá fazendo aqui?”

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O que Natália descreve é referendado pela comunidade do Orkut “Sou legal, ñ to te dando mole!” (disponível em <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1062784>. Acesso em 15 jul. 2009), que fala dessa confusão entre um simples bate papo e a tentativa de chegar: “não é um saco quando você é legal com alguém, a pessoa já pensa que você tem segundas intenções, começa a te tratar diferente e fica até „se achando‟? Quando seu jeito atencioso e carinhoso sem querer conquista alguém carente, e o resultado pouco tempo depois é uma declaração de amor que você nem esperava ou tinha intenção de ouvir? Ô mania desse povo de confundir suas atitudes e os sentimentos!”

47 Essa necessidade de utilização do álcool para ter coragem de chegar e também para aliviar a

culpa pelo que se fez na noite anterior pode ser exemplificada pela descrição da comunidade do

Orkut “O álcool dissolve o SUPEREGO!!” (disponível em

<http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=2626334>. Acesso em: 15 jul. 2009): “uma breve explicação sobre o superego... Pra quem ainda não sabe, o superego é uma estrutura psíquica correspondente á consciência moral, a voz da sociedade interiorizada. Representa normas e leis que criamos de acordo com as outras pessoas...é aquela coisa de „o que os outros vão pensar de mim‟. Essa estrutura é dissolvida quando o indivíduo enche a cara e faz aquele monte de loucuras, e sabem porque? Porque o superego, a consciência, a moral não existe naquele momento!!! Quem já teve seu superego dissolvido, participe...”

A sua reação, contudo, é muito diferente nos casos em que a menina é conhecida. Eduardo (16 anos) diz que há meninos que ficam receosos quando a menina toma a iniciativa: é que alguns tem medo… tipo se a mina chegou, os caras até ficam meio… né?, mas eu gosto mais das meninas que chegam. Esse receio seria devido a um preconceito:

o cara que chega pega quantas na noite? Pega várias… daí… sei lá, se tu chegou numa mina não é todo mundo que vai chegar nela, né? Mas daí se for o contrário, se a mina chegou em ti tu já sabe que ela teve ter chego já mais em alguns. Aí… volta pro machismo, né? Se é eu, posso pegar várias, mas ela tem que só pegar eu.

Natália discorda, dizendo que não existe preconceito dos meninos em relação às meninas que tomam a iniciativa. No entanto, ela afirma só ter chegado em meninos muito especiais, que já conhecia há muito tempo, o que fazia, portanto, que ela estivesse cansada de esperar. Ela fala que, se não tivesse tomado a iniciativa nesses casos, ia ficar esperando até hoje. Natália fala ainda que, após ter chegado nesses meninos, ficou morrendo de vergonha e inclusive menciona ter se certificado com alguns amigos para ter a certeza de que eles consideram normal o fato de as meninas chegarem nos meninos.

Percebe-se aqui que, embora as meninas também cheguem nos meninos, isso em geral se dá de uma maneira diferenciada. Se meninos chegam em qualquer uma, meninas chegam em meninos especiais, naqueles que já conhecem e por quem já estão esperando há algum tempo. No caso das festas, torna-se comum o uso do olhar pelas meninas e até da conversa, como forma de demonstrar que está a fim e que o menino pode tomar a iniciativa do beijo. É o que Pedro (17 anos) afirma: as gurias dão a entender. Quando o ato de chegar das meninas é semelhante ao dos meninos, ou seja, chegar para pegar ou ficar, a culpa se faz presente e pode ser atenuada, inclusive, com o uso de bebidas alcoólicas, como forma de justificar uma atitude que, para esses jovens, talvez não seja a mais adequada para as meninas.