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deve-se, em grande parte, aos amigos,

C. Escola/Núcleo: a comparação

Para estabelecer a comparação entre a Escola e o Núcleo de Formação Pessoal e Cidadania os entrevistados assumiram quatro posicionamentos discursivos distintos onde a dominância foi para o indicador “mudanças de pronomes”, apesar desta não se

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distinguir significativamente dos posicionamentos nos “selves” e nas “comunidades imaginadas”, o que já não se pode afirmar em relação ao posicionamento a partir do “investimento psicológico”.

 Escola/Núcleo: a comparação e os selves

O cruzamento deste tema com o indicador selves permite concluir que tanto o núcleo como a escola são construídos como instrumentos a utilizar na construção do projecto reflexivo do self. Embora a vivência do núcleo resulte de uma escolha, o seu papel na aquisição de competências pessoais para lidar com a escola parece ser relevante:

Eu, se calhar, não tinha aguentado tão bem certas coisas que aturei a professores se não fosse aquilo que aprendi no núcleo que é “Eh pá! Pronto. Lá tá este… estrôncio a, a… impor-me a posição dele, mas qual é o ponto de eu fazer, não é de conformar-me é… assertividade (E10).

Vistos como universos distintos a escola e o núcleo comunicam valorizando aspectos diferentes da pessoa. São assumidos como complementares. Se a escola valoriza a pessoa sobretudo pelo seu sucesso académico, o núcleo, valorizando a experiência de vida de cada um, é fomentador de uma maior auto-estima e auto-confiança:

aquela experiência, pra mim, foi óptima. FOI SENTIR, olhe tá a ver? Foi sentir aquela escola. Não, mas sabe, foi aquela escola de que eu ainda há um bocado falava e eu agora estava a demonstrá-la aos outros. Foi no 12º (E9).

Ao contrário da escola, permite a exposição pessoal, a intimidade através do “contacto directo de si com o outro, o mundo e si próprio” (Dubar, 2006: 154),

E, e se for a pensar bem os meus amigos eram os do núcleo, as pessoas com quem, a quem eu fazia as minhas confidências, as pessoas que, com, com quem eu partilhava as minhas coisas e que na escola não partilhava. Portanto, eram duas coisas completamente diferentes (E7).

e leva ao reconhecimento dos outros, desejando que a transformação ocorra, como resultado da implementação da reflexividade:

QUANDO EU PAREI PRA PENSAR QUE AS PESSOAS QUE TAVAM ALI DENTRO ERAM AS MESMAS QUE TAVAM ALI FORA e com elas eu conseguia tratar, então, quer dizer, que eu, lá fora, também posso tratar. Lá fora também pode haver isso (E3).

 Escola/Núcleo: a comparação e as comunidades imaginadas

Uma das leituras permitidas por este cruzamento consiste no posicionamento colectivo onde se reconhece que o núcleo se distinguia da escola por gerar uma identificação com o grupo fomentando um sentimento de inclusão:

tar com o núcleo é tar cá fora com as pessoas que nós gostarmos, não é? Havia ali, havia ali uma ponte. (…) Nós sabíamos que fazíamos parte daquele grupo. Havia um sentido de, de, de grupo! (…) Não pode haver vontade d’ir pá escola porque não há uma identificação com alguma coisa. E aqui o núcleo servia de identificação pa alguma coisa (E10).

Nós vamos, nós confidenciamos coisas que vivemos, parte delas são na escola e, portanto, ter o núcleo fora da escola, quase que ia dissociar o real, aquilo que nós vivemos, nem que fosse há dez minutos atrás, com um espaço que era nosso e que era, sobretudo, aberto pa, pa essas questões, pós nossos medos, pás nossas preocupações. Não quer dizer que no núcleo nós não falássemos de família, de projectos, não falássemos de outras coisas, de qualquer forma aaa… acho que faz sentido, faz sentido

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principalmente na adolescência, sendo a escola o instrumento que é. Sendo o instrumento que é, sendo o agente que é. Nestas idades acho que sim, acho que faz todo o sentido (E7).

 Escola/Núcleo: a comparação e o investimento psicológico

A análise dos discursos que se desenvolvem a partir deste indicador sugerem que o sofrimento gerado pela solidão recalcada pode ser superado nas escolas se se sentir que há alguém com quem partilhar o que se pensa, o que se sente e que o núcleo pode assumir essa função:

Um sentido de grupo que falta muitas vezes na escola, que é uma coisa que existe muito nos EUA, que eu acho que ajuda muito à maneira como os EUA tão posicionados no mundo que é: a malta da equipa de… toda a gente tem que fazer parte de um grupo. Não é? Ou faz parte da equipa de futebol, ou faz parte da equipa de basquetebol, ou faz parte da equipa de soletrar palavras, mas faz-se parte de qualquer coisa. É um forte sentido de grupo. Ninguém está ali sozinho. E há pessoas sozinhas nas nossas escolas (E10)

 Escola/Núcleo: a comparação e as mudanças de pronomes

Os discursos sobre este tema mostram que a escola e o núcleo são espaços de apresentação do eu, mas também de reconhecimento do outro, se bem que, por vezes, o “eu” e o “nós” pareça o “eu”,

Só que ali dentro era diferente. Eu não tinha que fazer esse exercício todo. Eu já tinha: “o que é que eles vão pensar? O que eu posso dizer? O que não posso dizer?” EU DIZIA! EU FALAVA! E houve uma vez… eu achei tão engraçado que eu saí dali e “Oh, meu Deus! Será que eles perceberam aquela palavra que eu disse? Será…”, porque eu não fazia, eu não tinha… eu não tinha nenhum cuidado de transformar as palavras. Eu falava… se vocês entendessem... Será que eles entenderam? Ah! Eles devem entender. Eles aqui entendem tudo!” (risos) (E3).

Utilizava-se ali o espaço mas… em termos de actividades era mais criativo e mais… ia além, além daquelas grades digamos assim, além das grades da escola, dos portões. Ia explorar a realidade, o que se vive cá fora, as diferentes realidades, diferentes pessoas. Acho que nos, que nos punha o desafio de interagirmos com elas, para crescermos, para termos experiências diferentes. Eu acho que não tem…que é bem distinto da escola, muito mais enriquecedor. A sério! Em termos pessoais, em termos de experiência! (E1).