ANEXO 1 – PERFIL DO/A ENTREVISTADO/A E
ANEXO 1 – Perfil do/a entrevistado/a e roteiro da entrevista
Perfil do/a entrevistado/a
Entrevista nº
Data de realização 2007/ __/ __
• Nacionalidade • Idade
• Nível de escolaridade
• Curso que frequenta / O que faz neste momento • Onde vive /Com quem vive
• Posição perante a religião
• Pais casados/separados/divorciados / falecido(s) • Grau de instrução da mãe/do pai
Roteiro da entrevista
Temas Perguntas
Família De uma forma breve podes descrever o teu percurso de vida até hoje?
Escola
E qual foi o teu percurso na Raul Proença? Para que serve a escola?
O que significa a palavra “escola” para ti?
Como é que te sentiste durante os anos que andaste na “Raul”? Porquê? Qual a importância que atribuis/atribuíste à escola na tua vida? Como é que vês a escola e o mundo do trabalho?
Na escola alguma vez te sentiste não aceite? Marginalizado? Excluído? Quando? Porquê?
Participaste noutros núcleos/actividades voluntárias da escola? Porquê?
Núcleo
Como soubeste da existência do Núcleo de Formação Pessoal e Cidadania? Alguém te convidou, ou procuraste-o por tua iniciativa?
O que te fez procurá-lo?
Como é que defines o Núcleo de Formação Pessoal e Cidadania? Que significado teve o núcleo para ti?
Como é que vês/vias a questão da confiança dentro do núcleo? Como é que lidavas com as diferenças dentro do grupo? Como encaraste o voluntariado?
Sentias-te diferente dos colegas que não participavam no grupo? Porquê? Achas que este tipo de grupos tem aspectos negativos/positivos? Quais? Porquê? Achas que se pode estabelecer alguma relação entre as vivências proporcionadas
pelo núcleo e o mundo do trabalho?
Escola/núcleo: a comparação
Fazes/fazias distinção entre a escola e o núcleo? Porquê?
Família/núcleo: a relação Estabeleces/estabelecias alguma relação entre a tua família e o núcleo?
Estudar “fora” Gostavas de ir estudar/ viver, para fora de Portugal? Porquê?
Projectos Tens projectos para a tua vida? Queres falar disso?
Os relacionamentos e a
intimidade Como é que tu vês as relações amorosas, as relações afectivas, hoje em dia?
Entrevista nº 1 Data de realização 2007/ 03/ 23 • Nacionalidade Portuguesa • Idade 19 Anos • Nível de escolaridade 1º Ano da licenciatura em Turismo
• Curso que frequenta / O que faz neste momento
Frequenta o 1º ano do CET – Técnicas e Gestão Hoteleira na /repositora de iogurtes no Leclérc desde Janeiro de 2007
• Onde vive/ Com quem vive
Salgueirinha (aldeia próxima das C. R.) /Pais
• Posição perante a religião (católico, protestante, muçulmano, budista, hindu, ateu, outra posição perante a religião)
Católica, mas só por ser baptizada porque não tem crença • Pais casados/separados/divorciados / falecido(s) Pais casados há 25 anos (disse-o com orgulho)
• Grau de instrução da mãe/do pai (superior completo ou incompleto;secundário;1º, 2º ou 3º ciclo?) Mãe – 9º ano
Pai – 4ª classe
• Profissão mãe/pai Mãe – empregada de escritório Pai – empresário em nome individual
Eu queria que tu descresses assim de uma forma breve a tua vida até hoje, onde nasceste… Qual
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foi o teu percurso de vida
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Para já, sempre muito feliz (risos) sempre.
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Nasci e sou natural de Salir e vivi lá os primeiros 3 anos com os meus pais, a minha irmã. Depois viemos
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para as Caldas, vivi uma data de anos no Bairro dos Arneiros, assim sempre num meio muito … muito…
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bairro!!! Sempre com os amigos da escola, as vizinhas… a brincar. Uma infância muito normal, sem
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problema algum. Em casa, sempre excelente. Eu na escola sempre me dei muito bem. Depois… escola,
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escola, escola (risos) …os amigos também sempre fizeram parte…até ao 12º, também no liceu. Sempre
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no Bairro dos Arneiros. O namorado… também, que entrou no 10º ano. Depois a universidade, em Leiria,
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que depois aconteceu aquilo ao final do ano e não me apeteceu continuar que é mesmo assim e hoje cá
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estou e sou feliz em casa. Gosto de estar com os meus pais. Foi, foi, foi por isso que … foi uma das
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razões por que eu desisti da universidade. Apetecia-me estar perto, não estar longe. É incrível, mas
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apetecia-me estar em casa, estar ao pé dos meus pais. Sentir-me aconchegada. Não estar longe,
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porque… então, vim para casa.
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Logo após a morte do teu namorado?
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É assim, aquilo aconteceu no meio das frequências então, fui para lá, fui para Leiria, aquilo foi no fim-de-
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semana…pois… fui na segunda-feira. Tinha uma frequência na terça para as quais não estudei nem tinha
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cabeça para isso. Mas eu sempre tive uma… sempre tive grande facilidade em separar as coisas, tanto
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que eu cheguei naquele dia à escola e as minhas amigas mais próximas sabiam…Ya! A Amanda, a profª
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conheceu a Amanda? Uma rapariga do liceu, alta, de óculos, pronto, que andava lá, uma amiga minha
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também… soube e disse às raparigas da minha turma mais próximas. Eu cheguei lá, naquele dia, elas
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olharam para mim, tipo…elas…as pessoas… coitadas! Nem sabem como é que hão-de reagir. Eu sei, eu
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compreendo-as, pronto. Eu cheguei lá…olá, tudo bem, e não sei quê. Entrei na sala, não era nada
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comigo. Há pessoas que nunca souberam. Possivelmente. Não têm nada a ver com isso. Fiz as
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frequências com o que me lembrava das aulas. Consegui concentrar-me minimamente. Fiz. Deixei uma
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para trás que não consegui passar. Tive 6 na frequência, 8 no exame.
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Qual foi?
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Geografia do Turismo. E tenho o 1º ano feito. Mas foi mesmo…
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Tens o 1º ano de?
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De Turismo mas foi mesmo. Pus aquele objectivo… bem, eu vou acabar o ano. Fogo. Mas… por
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enquanto, não me apetece continuar. Apesar de virem aí as férias e tal, mas não me apetecia continuar
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ali. Não sei! Não estava satisfeita! Não me sentia… bem!
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Mas associavas aquilo a alguma coisa… do passado?
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Leiria? Não! Tanto que é uma coisa recente. Se calhar, demasiado recente. Era tudo muito… superficial
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para mim. Não era nada que pudesse dar o que eu precisava, se calhar, naquela altura. Ainda hoje, eu
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sinto-me bem é em casa, ao pé dos meus amigos e em estar em casa. Não sei. E… gosto muito.
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Actualmente, estou a trabalhar, estou a estudar à noite e sinto-me dinâmica…sinto-me activa. Estou a
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ficar independente, mas continuo a apostar na minha formação, que é o que eu quero. Ainda estou
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indecisa se hei-de ir para a universidade se não, mas quero sempre estudar, quero sempre estar sempre
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activa, sempre a aprender e a evoluir só que manter também uma parte profissional por mais coisa que
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seja. Neste momento não estou no ramo que eu quero. Mas pronto.
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Qual é o ramo que tu queres?
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É no Turismo. Eu não fujo muito a essa área, só que o curso em Leiria também não tinha nada de
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especial. Era muito, não sei…
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Mas não há Turismo em Peniche?
Não. Havia era Turismo e Mar, que eu lembro-me de ver. Mas há muitos cursos… Marketing Turístico, de
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gestão Hoteleira. Há muitos assim.
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Mas a tua família tem sido assim um ponto de apoio, aquela base.
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Lá está o que eu estava a dizer à professora, há bocado. Vinte e cinco anos de casamento e a minha
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irmã, pronto, saiu de casa aos 18 anos, tudo bem, mas desde que ela saiu de casa temos uma relação,
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pronto, sabemos que gostamos muito uma da outra e tal tá-se bem, que é memo assim.
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Os meus pais! Os meus pais, fogo. Tenho os melhores pais do mundo, que é mesmo assim. A minha
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mãe… Professora! A minha mãe todos os dias me prepara o pequeno-almoço. Tipo, eu levanto-me eles
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ainda estão deitados. Então, ela, todos os dias à noite, prepara-me um saquinho com fruta descascada e
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cortada para trazer, para comer! Isto não é normal (muitos risos).
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Porquê que não é?
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Eu falo com as pessoas e… o quê? É verdade, a minha mãezinha é mesmo… os meus pais.
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Tu valorizas muito isso, não é?
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Sempre valorizei. Porque ajudam-me no que eu preciso e estão sempre, dão-me o espaço que eu
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preciso. Conhecem-me de tal maneira, não é? Desde que eu nasci. Dão-me o espaço que eu preciso.
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Respeitam-me. Sinto-me respeitada. Não tenho necessidade nenhuma de mudar. Sinto-me satisfeita com
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a minha vida. É mesmo assim.
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E os teus projectos… são continuar lá em casa… é…
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Ai, eu já disse aos meus pais: “Olha… portanto… eu acabo este curso, vou aí nuns cruzeirozitos e tal dar
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umas voltitas ao mundo, mas não esperem que eu saia de casa tão cedo porque isto de nós aqui com a
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mãezinha a lavar a roupa, fazer o comerzinho e tal isto é confortável de mais”. A minha mãe assim:
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“Então, mas tu ainda há uns tempos disseste que querias sair de casa e tal…”. Isso já mudou, isso já
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mudou. Isso eram outros projectos que …que pronto! Era outra perspectiva. Agora, agora deixa-me estar
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em casa que aqui é que eu estou bem. Era outra perspectiva, lá está.
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Neste momento tens um projecto de vida um projecto pessoal?
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Ai, realizar-me… mesmo pessoal, pessoal… A nível emocional já é mais complicado eu sentir-me
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realizada.
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Porquê?
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Porque… professora, isto é muito complicado! (risos das duas partes).
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Isto é muito complicado, o emocional, quando mexe com os sentimentos. Há sentimentos que ainda não
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foram mexidos, que é mesmo assim. Vão ficar sempre e é uma parte de mim que está presa. Está presa!
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Eu sinto-me… eu sinto-me um bocado presa.
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Que parte é que tu sentes que está presa?
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Esse projecto de vida… por exemplo eu, no meu futuro, espero ter sucesso a nível profissional. Espero
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ser bem sucedida, que é mesmo assim, e sentir-me realizada, mas a nível pessoal eu tenho a sensação
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que vou estar sozinha, porque não me vou conseguir envolver e assumir uma relação com alguém. Eu sei
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que é muito cedo. Atenção! Tenho noção disso, mas não sei, não… olho para a frente e não vejo isso,
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não me sinto bem com essa ideia, porque lá está, esse projecto de vida já estava delineado, essa
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parte…Era a única… Atenção, agora é ao contrário. Virou completamente. A parte emocional … tinha um
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namorado, tinha um namoro de 4 anos que é mesmo assim, adorava e queria aquilo para o resto da vida
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e não é por ter 18 anos que é menos sério. Encarava de forma mais séria possível. Era para o resto da
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vida e a casinha tudo a que temos direito, que é mesmo assim. Essa parte já estava
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Vocês faziam planos?
Ele ia vender a mota. Ia estar uns meses para juntar dinheiro, ia viver sozinho e eu tinha mesmo a
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vontade de … yá…também quero ir viver contigo. Só aquela coisa de ficarmos mais... juntos. Ai
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professora! O homem da minha vida! (tristeza)
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Vocês tinham também algumas dificuldades entre vocês, não tinham?
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(Risos) Tínhamos! Oh, atrofios que eu não…ainda hoje não consegui explicá-los muito bem. Lá está, o
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Igor era uma pessoa muito específica. Única! Qualquer pessoa que o conhecia, e mesmo se não o
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conhecesse, via que … é qualquer coisa de diferente, não é a maneira de pensar de encarar a vida e as
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pessoas… era totalmente diferente do que normalmente vemos. A professora não acha isso?
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Repara numa coisa, é evidente que quando alguém nos morre nós depois fantasiamos um bocado
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a situação.
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Mas eu sempre achei isto, eu sempre o vi assim.
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Mas a tua relação com ele também podia não durar a vida toda, não é?
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Pois podia, tanto que houve um tempo que nós terminámos, mas, no entanto, voltámos, voltámos e a
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partir daí…. paah! Era aquela pessoa, mas não é por ter acontecido o que aconteceu que vejo de maneira
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diferente. Havia alturas sim, que nos sentíamos estranhos, pois, lá está, aquelas situações de estranheza,
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alguma coisa não está bem aqui e isso quando duas pessoas se conhecem bem, nota-se logo. A mínima
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reacção que não é normal, pronto, isto está aqui alguma coisa e tentávamos ao máximo falar sobre isso,
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conversar, o diálogo. Às vezes, não corria muito bem, porque eu, quatro anos mais nova, miúda (risos),
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não víamos as coisas, às vezes, da mesma maneira, mas tudo bem e agora cá estou.
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Mas disseste que houve aí uma inversão, não é?
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Sim. Agora, é o lado profissional. Agora desejo é… é ter… assim realizada com o que faço. Como a
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professora! Sente-se feliz com o que faz, sente-se bem! Realizada!
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Apesar do lado emocional ser muito importante, não é?