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Escola… educação…educação. Socialização. Aprendizagem… aprendizagem, não só cultural, aprendizagem de conhecimentos, aprendizagem social (E4)

ela é reconhecida como agente de socialização – socialização secundária – que não substitui a família:

há uma parte educacional que as aulas exigem que deve ser dada, de formação enquanto agente de socialização. Enquanto segundo, não é? Porque a família deve ser o primeiro (E7).

É, então, um lugar onde e que contribui para que cada um conheça melhor quem é, as suas capacidades e se vá construindo.

A escola (pausa) a escola era, sempre foi…eu acho que houve muitas fases, eu vi a escola de maneiras diferentes à medida que… vejo a escola de uma maneira completamente diferente hoje e vi a escola… quando eu era puto era… uma maneira de…. ser o melhor. Não era ser o melhor por ser melhor que os outros. Era por ser bom. Eu nunca me preocupei de ser o melhor, quer dizer, havia aquela pontinha de mim que queria ser o melhor, mas nunca me preocupei porque, normalmente, o segundo melhor, quando eu era o segundo e o terceiro melhor eu conhecia o primeiro e o segundo e eram meus amigos e eu ficava feliz por elas, ”Olha…”, mas era uma maneira de ser bom, de as pessoas reconhecerem valor em mim. Era a única, era o único valor que eu tinha, eu não sabia, eu não tinha mais nenhum valor, era o único valor que eu tinha. Eu nunca soube, eu nunca fui bom em mai nada. Eu nunca fui bom à bola, eu nunca fui bom e… pronto. Em desportos era perfeitamente medíocre. Tinha cincos, mas nunca era, nunca era aquele tipo “uou!”…artisticamente também nunca, nunca me excedi. Pronto! Medíocre, mais uma vez! Mas na escola...pronto a maior parte do meu percurso escolar era ali em cima, sempre a puxar a fasquia e, e pronto! Era uma maneira d’eu ter pessoas com quem discutir coisas. Era assim que eu via a escola quando era mais novo. (silêncio) E É SEMPRE ISTO. ATÉ HÁ BEM POUCO TEMPO FOI SEMPRE ISSO! Era sempre uma maneira de eu falar… eh pá! Pronto! Uma maneira de eu me sentir bem com o meu ego. E isso sempre me deu muita confiança porque eu… por mais que eu não tivesse a roupa que, que, que toda a gente tinha, e houve muita altura em que eu só queria a roupa que toda a gente tinha, mas eu já sabia que não podia ter por isso não valia a pena…pensar nisso (baixou o tom de voz). Ahm (pausa) era… era o meu refúgio. Depois passou a ser o meu refúgio quando eu comecei com problemas com os meus pais era o meu refúgio. Eu vinha pa escola na camioneta das sete e eu ia pa casa com a minha mãe às sete. Passava doze horas na escola. Todos os dias, cinco dias por semana, 50 semanas… pronto. Nos três períodos era sempre aquilo, era tudo pr’ali (E10).

Para estes jovens, é um lugar onde as regras são aceites, a priori,

pr’além de uma obrigação é um dever ir pá escola (E9).

Candidatei-me na segunda fase, porque eu não passei o meu exame de Alemão. No segundo exame é que passei. Candidatei-me, na segunda fase, para Serviço Social, em Leiria; Educação Social e

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Animação cultural, na ESAD. Na minha ideia, eu entrava em Animação Cultural, porque a última pessoa que tinha entrado tinha dez, eu tinha média de treze! E eu: “Eu vou entrar! Eu entro”. (…) Não entrei. Lembro-me que passei um dia todo a chorar. “E agora? O que é que eu vou fazer?” (…) eu não sabia o quê que havia de fazer. Senti-me me inútil. Foi o que eu me senti, mas não me revoltei com a escola. Não pus em causa a escola. 10 (E2)

mas onde também se efectuam escolhas e deve ocorrer a negociação:

Essa negociação que eu falo é de… uma maneira de estar e uma maneira de passar as coisas que não deve não deve cingir-se única e exclusivamente a escola enquanto formação profissional, mas escola enquanto formação pessoal, também porque… (E7)

o facto de, por exemplo, eu defender uma coisa e a professora… um tema qualquer, defender outra, isto é escola, porque eu mostro as minhas ideias e a professora mostra as suas. Para além de ser uma argumentação ( ) a professora está a mostrar a sua escola, aquilo que sabe porque sabedoria está ligado à escola (E9).

É, portanto, utilizada como um espaço onde cada um se constrói à luz do seu projecto, numa “luta” diária:

Eu tive que fazer da escola um lugar bom Eu ficava assim: “Será?... Será?”. Tinha muito… tinha muito…a, ali, a escola, pra mim, os anos que passei na escola foi cada dia, pra mim, era uma luta. Cada dia que eu deitava eu dizia: “Eu venci um dia!”. Um dia, um dia, um dia (E3).

Mas a escola é vista como detentora de uma responsabilidade que parece não assumir convenientemente, ou seja, ela devia ensinar competências para a vida, para o mundo que existe fora da escola, auxiliando na descoberta de um rumo pessoal a seguir, como instrumento para a construção do projecto do self.

A responsabilidade da escola é preparar e ensinar conhecimentos, mas… tem que, cada vez mais, preparar pra fora da escola, pra a pessoa viver fora da escola, também. A escola acho que tem a responsabilidade de… de preparar uma…uma criança para sair da escola e não se sentir perdida (E4).

Mas a escola surge nos discursos dos selves, sobretudo, como o produto de uma construção relacional:

o facto de, por exemplo, eu defender uma coisa e a professora… um tema qualquer, defender outra, isto é escola, porque eu mostro as minhas ideias e a professora mostra as suas. Para além de ser uma argumentação ( ) a professora está a mostrar a sua escola, aquilo que sabe porque sabedoria está ligado à escola. (…) eu gostei tanto daquela obrigação de nono ano que quis a obrigação do décimo segundo ano e quis a obrigação da faculdade. Porquê? Porque, se calhar, há coisas … eu aprendo mais facilmente ouvindo os outros que sabem do que, se calhar, aprender sozinho (E9).

 A escola e as comunidades imaginadas

Cruzando o tema escola com o indicador comunidades imaginadas a instituição surge como desactualizada:

Nós temos teorias de ensino que são teorias de ensino que foram usadas pra educar os nossos pais. Nós, não somos os nossos pais (E10).

É um lugar de construção de uma identidade colectiva onde nem sempre se cumpre com tudo o que é exigido, porque se fazem escolhas de acordo com a reflexividade accionada, embora se reconheça a necessidade de regras para que se possa viver em sociedade.

Para quê que serve? Serve… tem muita influência na forma como nos construímos. Mas isso também parte das pessoas com quem estamos, com quem lidamos. Ajuda-nos a construir a nossa própria consciência. A consciência que temos de nós mesmos, do que fazemos, ou seja, a construir o que somos.

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É mesmo assim. É a partir daí, porque a escola faz parte da nossa infância, da nossa adolescência, pelo menos nessa fase obrigatória que são as fases mais importantes da nossa vida, que é onde nos construímos, onde nos estamos a pôr as bases para construir algo, para erguer. Depois também depende de cada um. Cada indivíduo é como cada qual! (E1).

Nós aprendemos, nós só retemos se tivermos interesse nisso e nós só fazemos uso dessas coisas se acharmos que devemos fazer (E7).

A escola treina-nos pra vida.(…) E larga-nos na vida.

Treina-nos prá vida no… a escola dá-nos hipóteses. Eu quando cheguei ao nono ano vi-me com quatro agrupamentos à minha frente que não sabia o qu’é que eram aqueles quatro agrupamentos. (…) Justificando de uma forma muito simples assim, é um treino pra vida porquê? Porque nós temos que tomar opções na nossa vida… e a escola faz parte da sociedade. Nós temos que seguir as regras de uma sociedade porque vivemos nes… tem que… temos que seguir as regras de uma sociedade entre aspas. Estamos sujeitos, porque vivemos numa sociedade, portanto, estamos sujeitos às regras daquela sociedade. Portanto, naquela idade, naquele… ano de calendário… naquela situação, houve aquelas hipóteses… de escolher. Portanto, nós vamos escolher aquilo que nós achamos que… (E8).

A Importância da aprendizagem experiencial é valorizada nos discursos como construção relacional. Como refere Dubar, “a identidade reflexiva não se constrói isolada, mas necessita de experiências relacionais que constituem ao mesmo tempo oportunidades e provações” (2006: 159).

Nós criamos relações em todas as coisas que nós tivermos. Se andarmos no desporto… etc., etc. na escola nós temos… se calhar é um primeiro passo. É quando… se nós tivermos numa turma, e não nos dermos bem com ninguém, não nos sentimos bem (E6).

Todos os erros, os erros que nós temos, as qualidades que nós temos, os defeitos, os, os pontos de interrogação que nós metemos na vida, os pontos finais que nós metemos na vida, os pontos de exclamação, tudo isto é escola. Porquê? Porque é um meio de aprendizagem (E9).

E nos discursos destes rapazes e raparigas a concepção de escola, numa voz colectiva, não parece fixar-se num período da vida, mas na ideia de aprender com a vida, ao longo da vida.

Tudo aquilo que nós vivemos na escola fica pó resto da nossa vida toda. São os primeiros anos que nós vivemos em convivência com as outras pessoas e nós aprendemos, retemos e fazemos uso disso. Muitas das coisas que eu sei hoje, eu aprendi quando tava no liceu e se não as tivesse aprendido eu hoje não sabia e não podia fazer uso delas e tinha que as ir estudar porque elas me faziam falta.

Mas quando digo, quando falo destas coisas não são coisas do conteúdo do programa (E7).

porque a escola é aquilo que nos ensina, é aquilo, só acabando aquele raciocínio de ainda há bocado da escola nunca acaba, por outro lado, nós terminamos, mudamos de instituição, mas a nossa vida continua e aquela sabedoria que vamos adquirindo é, é a escola de outros (E9).

A escola também é construída discursivamente oscilando entre pronomes.

Entre um “eu”, um “nós” e um “eles” a escola é vista como uma instituição da qual se espera que ensine, proteja e que consiga demonstrar-se útil na vida dos jovens, estando consciente da diversidade que acolhe para que possa negociar com o seu público,

Acho que é uma instituição que se pretende que ensine, que… proteja e que faça perceber aos alunos que têm que tirar partido de algumas coisas, numa base de negociação muito grande, porque se tamos a falar de uma escola, de uma primeira a uma quarta classe, não podemos estar a fazer nos mesmos moldes que tamos a fazer num décimo ou décimo segundo, não é? Uma coisa é tarmos a falar de crianças, no primeiro caso, outra coisa é tarmos a falar de adolescentes, alguns deles adultos, não é? Porque, depois, a idade também não corresponde à maturidade das pessoas, mas isso é outro assunto. Mas eu acho que serve, sobretudo, como agente de negociação entre entre as pessoas de, de de perceber que uma coisa é aprender, outra coisa é reter e outra coisa é fazer uso disso. São três coisas

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completamente diferentes. Nós aprendemos, nós só retemos se tivermos interesse nisso e nós só fazemos uso dessas coisas se acharmos que devemos fazer. E, e acho que a escola serve para ensinar, mas, por outro lado, tem que ter mecanismos para poder aaa… para poder incentivar as pessoas a reter e a fazer uso dessas coisas (E7).

E lamenta-se que o mundo da escola esteja arredado do “mundo real”.

Foi, foi importante, porque foram… foram etapas que se foram… foram, foram professores que … o D., DP. O DP … ai! Foi quando eu… eu quando fui à palestra do D.P. é que eu tive assim a certeza “Oh, Pai! Eu peço imensa desculpa, mas não vou ser médico! Deves tar é doido da cabeça!” (muitos risos). E não só a nós! Ali foi o ponto. Não foi só ao núcleo. Eu sei de pessoas… no outro dia tava a conversar com a E. … a E. disse-me assim: “Olha, aquela conversa, aquela vez que o P. foi lá, o D. foi lá à escola, olha foi, foi muito importante porque”…ninguém sabe de nada. Ninguém na escola sabe o que é o mundo! A escola não tem contacto nenhum com o mundo real. Não tem! Eu continuo a não ter! Por isso é que eu quero fazer outro estágio este ano (E10).

A escola tá no mundo! Nós quando acabarmos a escola vai memo haver coisas lá fora e nós protegemos os alunos coitadinhos. Não sabem o que andam a fazer (E10).

 A escola e os dilemas de fundo

Quando perguntei a uma das jovens: “achas que a escola valoriza, ou valorizou, a tua experiência de vida? O teu conhecimento da vida? Aquele que tu tinhas? A escola alguma vez quis ouvir? Alguma vez deu importância a isso?” a resposta revelou dificuldade quanto ao posicionamento discursivo a assumir: “Oh, oh professora! Temos experiências que nem sequer as valorizamos”, procurando uma justificação que de alguma forma parecia remeter para a idade que se tem como competência para interpretar a própria experiência: “Só mais tarde é que as podemos valorizar e aprender alguma coisa com elas e assimilar de alguma forma”. Mas a incerteza surge no pensamento e o discurso revela insegurança. A jovem resolve, pois, justificar-se assumindo um discurso institucional: “Não sei, porque… há um… há regras, há ali, como os professores dizem constantemente… Temos um programa pa dar e temos, temos que dar isto, ou seja, nós estamos ali p’ aprender, p’aprender e as experiências vivemos em conjunto”, tentando ancorar, desta maneira, o argumento que ensaia construir. Reconhecendo que na escola se vivem experiências em conjunto, volta a instalar-se a dúvida e a dificuldade em construir o raciocínio: “Estamos na escola, estamos com outras pessoas, estamos a interagir, estamos a trocar experiências, estamos a vivê-las. Mas… a nível… nem sei se a escola deve valorizar isto…porque nós, por nós mesmos já o fazemos”. Acaba por assumir um discurso que, de alguma forma, parece desculpabilizar a escola por não querer saber da sua experiência de vida: “É inconscientemente é …tamos…no meio de um conjunto… tamos num conjunto de pessoas, já tamos a viver isso na escola” (E1).

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