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Estes jovens tiveram conhecimento do mestrado em que me empenhava logo em finais de 2005 e, também, desde cedo foram informados de que era meu objectivo proceder a um estudo que os envolvesse, caso estivessem dispostos a colaborar, por terem frequentado o Núcleo de Formação Pessoal e Cidadania. Depois de alguns encontros sentiram-se devidamente esclarecidos sobre o que era pretendido e, como já referi no início deste trabalho, mostraram toda a sua disponibilidade para a concretização desta investigação. As entrevistas individuais foram realizadas entre 23 de Março e 10 de Abril de 2007 por ser este o período em que os jovens se encontravam nas Caldas da Rainha, em férias da Páscoa, uma vez que, exceptuando um deles, são estudantes. Todas elas foram realizadas em minha casa, ambiente conhecido de todos estes jovens por ter sido, para além da escola, local de preparação de diversas actividades organizadas pelo NFPC, e gravadas com a autorização prévia de cada um deles, tendo cada entrevista, em média, duração de hora e meia.

Combinámos que depois de defendida esta dissertação se faria um encontro para divulgação e debate dos resultados obtidos.

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1. 6. Para a análise dos dados

O processo de transcrição das entrevistas foi realizado entre Março e Maio, a partir do momento em que as mesmas se começaram a realizar. Para o processo de transcrição, no âmbito da Psicologia Discursiva, adoptei as recomendações de Phillips e Jørgensen (2002: 124) para que as entrevistas pudessem ser analisadas como um processo de interacção social.

Após várias leituras das entrevistas, primeiro com o objectivo de apreender a globalidade das mesmas e de cada uma delas, depois com a intenção de identificar temas que emergissem das narrativas recolhidas, procedi à construção de uma grelha de leitura de todo o material. Assim, partindo do meu quadro teórico (um procedimento a priori) e da minha primeira leitura do material (um primeiro procedimento a posteriori) confrontei-me com a coerência e consistência da minha opção metodológica (e respectivas técnicas), com a intenção teórica do meu projecto e com a minha problemática relativamente ao material recolhido. Deste modo, foi construída uma grelha de leitura, correspondendo a primeira coluna à forma como organizei o roteiro da entrevista. Aí, os temas contemplados foram a Família, a Escola, o Núcleo, “Escola/Núcleo: a comparação”, “Família/Núcleo: a relação”, o “Estudar ‘fora’ ”, os “Projectos pessoais”, “A minha visão de mim e dos outros”, os “Relacionamentos e a intimidade” e o “Lugar de pertença” como se pode ver no quadro 6, página 88. Os temas desdobraram-se, por sua vez, em categorias e subcategorias como é possível observar no anexo 8 (volume II).

Na perspectiva aqui seguida, a identidade pessoal é concebida como um produto de determinados discursos e, simultaneamente, como um recurso para acompanhar as acções sociais na conversa em interacção. Assim, as identidades são formadas através dos caminhos que cada pessoa escolhe para se posicionar nos textos e conversas do dia-a-dia e elas vão mudando conforme o entendimento que cada um vai adquirindo da construção discursiva da identidade. Ou seja, o posicionamento discursivo é tido como uma parte integral do processo através do qual os indivíduos constroem visões delas próprias, em interacção com os outros. Assim, surgem na “modernidade tardia” como identidades múltiplas, híbridas, cada vez mais fragmentadas e instáveis já que são arquitectadas através da construção de diferentes discursos que podem ser articulados conjuntamente (Phillips e Jørgensen, ibidem: 110). Na sequência deste posicionamento teorico-metodológico nas colunas seguintes estão presentes os indicadores30 da análise do discurso que, em meu entender,

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Indicadores, na perspectiva de Wrasse (2004), “são uma espécie de ‘marca’ ou sinalizador que buscam expressar algum aspecto da realidade sob forma que se possa observar ou mensurar. São instrumentos de mediação, já que são utilizados para captar aspectos dos fenómenos e processos da realidade social

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permitiram uma leitura das narrativas. Foram, assim, considerados os selves; as comunidades imaginadas, o investimento psicológico, os dilemas de fundo, os pontos de crise, as mudanças de pronomes e a organização retórica do texto e da fala. Seguidamente, para cada entrevista, seleccionei os fragmentos de texto e coloquei-os nos espaços que me pareceram adequados, de acordo com os sentidos do que era dito, procurando construir um quadro de relação entre os vários indicadores.

1.6.1. Sobre cada um dos temas da entrevista

Na construção dos temas da entrevista foram estruturantes as influências das obras de Dubar (1997, 2006) e Giddens (1994, 2001, 2002) e Magalhães (1998, 2001, 2002, 2005, 2006, 2007).

Como já referi anteriormente, os temas do roteiro da entrevista foram seleccionados de acordo com os objectivos deste trabalho de investigação. Assim, a família, a escola e o núcleo foram tidos em conta como lugares estruturais onde acontece a construção identitária dos jovens em estudo e que emergem “simultaneamente como delimitação das possibilidades que aos indivíduos se oferecem na sua auto-identificação e como instrumentos e materiais dessa constituição” (Magalhães, 2001: 320).

Procurou-se, também, compreender qual a comparação que os jovens realizam entre a escola e o núcleo. Qual a relação que estabelecem entre o lugar da família e o do núcleo, ou seja, até que ponto o NFPC permite articular as relações entre os jovens e as famílias. Indagar sobre a forma como os jovens encaram a possibilidade de “Estudar ‘fora’ “, ou seja, de residir e estudar longe dos locais e das pessoas com quem têm convivido, confrontando-se com as diferenças, sobretudo as culturais, pretendia tentar descortinar se, e como, estes jovens experimentam “as pressões da globalização” (ibidem: 323) e de que forma se sentem, ou não, cidadãos de uma Europa e de um mundo mais vasto, vendo “na educação uma forma privilegiada de mecanismo emancipatório” (Magalhães, 2007: 30).

Conhecer os seus “Projectos pessoais” assumiu-se como outro aspecto fundamental para que se pudesse clarificar como se projectam no futuro, qual a opacidade e incerteza que a ele associam (Dubar, 2006: 176).

Sendo a identidade, “concebida como o que existe de mais íntimo, pessoal” (ibidem: 177) tal levou a que se procurasse recolher “materiais pertinentes” (ibidem), ou seja, que se procurasse “compreender em que é que uma ‘situação vivida’ ou uma