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Teorias e argumentos para compreender os contextos

NÍVEL DE DECISÃO ATUAÇÃO

3.4 D ESIGN E GESTÃO DE DESIGN : VIAS DE COMPETITIVIDADE PARA OS

MICRO E PEQUENOS EMPRESÁRIOS

Na sociedade atual, o impacto dos avanços tecnológicos e das

comunicações tem repercutido na facilidade da troca de informação, na ampliação dos mercados e na participação no comércio internacional. Esse cenário impõe desafios para as empresas, que, independente do seu tamanho ou categoria, buscam argumentos que aumentem a

competitividade de seus negócios no âmbito mundial.

O relatório Global Competitiviness Report (Bonsiepe, 2011), pesquisa

realizada em 2002 por um grupo de economistas da Nova Zelândia, aponta que, entre os 75 países integrantes da pesquisa, aqueles líderes em

competitividade também eram líderes no campo do design. Como indicadores de competitividade, a pesquisa considerou: a difusão e

aplicação da práxis do branding; a capacidade de inovação; a originalidade do design de produto (em comparação a cópias ou novos

desenvolvimentos); a qualidade e maturidade dos processos produtivos e o desenvolvimento de uma consciência de marketing.

A necessidade de inovação, competitividade e design é uma realidade tanto para a grande quanto para as micro e pequenas empresas, entretanto o

olhar mais atento para estas pode revelar similaridades entre a realidade da produção artesanal e o artesanato, interesse deste estudo.

Estudos sobre as micro e pequenas empresas apontam que elas competem buscando antes de tudo assegurar a sobrevivência (Mytelka:1999, apud Cezarino; CAMPOMAR, 2005). Essa é uma meta que as micro e pequenas empresas brasileiras têm dificuldades de alcançar, em parte pelo baixo nível gerencial, adoção de uma gestão informal e pela escassez de recursos, afirmam Cezarino e Campomar (2005).

Para melhor compreender a realidade brasileira, é preciso entender como são caracterizadas as pequenas e médias empresas. O Estatuto da

Microempresa e Empresa de Pequeno Porte (lei 9.841/99) e o SIMPLES (lei 9.317/96) utilizam como forma de classificação a receita anual bruta. Entretanto, outras instituições, como o Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas e o Ministério do Trabalho e Emprego do Governo Federal, realizam a classificação baseado no número de empregados das suas estruturas.

As micro e pequenas empresas têm grande impacto na economia. Alguns números recentes, publicados no Jornal do Brasil, caderno Economia

(15.10.2013), apontam que o segmento é responsável por 52% dos empregos formais e 40% da massa salarial. Seu crescimento na última década

repercutiu na geração de recursos e hoje representa 25% do PIB nacional. Os números também consideram os Micro Empreendedores Individuais . 53

Esse crescimento pode ser resultado da flexibilização da legislação, com a criação em 2007 de um regime tributário diferenciado e mais adequado ao setor, o Simples Nacional, além do próprio cenário econômico, que

favoreceu o aumento do poder aquisitivo das classes C e D.

Microempreendedor Individual (MEI) é o registro no cadastro da pessoa que trabalha por

53

conta própria e que se legaliza como pequeno empresário. Além das vantagens de menor burocracia e de impostos mais reduzidos (Simples), garante benefícios previdenciários. http:// www.portaldoempreendedor.gov.br/mei-microempreendedor-individual.

Segundo o Censo do Sebrae , com base em dados da Receita Federal, após 54

dois anos de funcionamento, 76% dos micro e pequenos empreendimentos mantêm suas atividades. Esse é um dado alentador que sinaliza uma

mudança do perfil do empreendedor, hoje com escolaridade superior aos de 10 anos atrás, como afirma Luiz Barreto, presidente do Sebrae, em

entrevista publicada no Jornal do Brasil em 15 de outubro de 2013.

Muito embora a tendência do contexto seja positiva, é preciso reconhecer que as micro e pequenas empresas ainda requerem atenção. No artigo Micro e Pequenas empresas: características estruturais e gerenciais, os autores Cezarino e Campomar (2005) relacionam os aspectos gerenciais e organizacionais com o uso de recursos e tecnologia de forma que facilita a compreensão dos aspectos que se aproximam da gestão e do design. O quadro a seguir sintetiza dados pesquisados pelos autores.

Aspectos gerenciais e organizacionais Uso de recursos e tecnologia Gestão centralizadora; Fraca maturidade organizacional; Onipotência do proprietário; Presença significativa entre os sócios ou funcionários com laços familiares;

Pouca distinção entre identidade da pessoa física e jurídica;

Ausência de planejamento; Horizonte temporal de curto prazo;

Inexistência de dados quantitativos;

Dificuldades de definição de custos fixos;

Estruturas leves e simples; Altas taxas de natalidade e mortalidade;

Baixo volume de capital empregado;

Pobreza de recursos; Baixo emprego de tecnologias sofisticadas; Recursos contábeis pouco adequados;

Utilização de mão-de-obra com pouca ou sem qualificação;

Baixo investimento em inovação tecnológica; Pouco conhecimento sobre o mercado.

Pouca capacidade para estabelecer estratégias competitivas.

Dados apresentados na entrevista Jornal do Brasil, caderno Economia, em 15.10.2013.

54 Tabela 06 Aspectos gerenciais e organizacionais. Uso de recursos e tecnologia Fonte: adaptado de Leone (1999) e Cezarino, Campomar (2005)

Ao observar o quadro, é possível de imediato identificar que a associação da baixa qualidade da formação gerencial e a escassez de recursos

comprometem consideravelmente a capacidade de construção de uma visão de futuro. Tal fato, associado à falta de instrumentos e conhecimentos, indica desvantagens competitivas que podem comprometer o segmento das micro e pequenas empresas.

Embora o quadro pareça desolador, existe um aparente conflito com as informações sobre o crescimento das pequeno e micro empresas. Sicsú (2005, p.273, apud Silva, 2006) complementa que: “Alguns autores já proclamam que o próximo século será o tempo dos pequenos negócios, em função de o ambiente competitivo exigir organizações velozes, flexíveis, criativas, inteligentes, informais e com alta capacidade de resposta”. É importante notar que a observação se refere a um universo de pequenas empresas com características diferentes daquelas analisadas

anteriormente, possivelmente se aproximam do universo das empresas relacionadas à economia criativa , com maior apelo tecnológico e 55

valorização da propriedade intelectual, ainda distante da realidade dos universos específicos estudados.

A pesquisa realizada por SILVA (2006), Design, Inovação e Arranjos

Produtivos Moveleiros das Micro e Pequenas Empresas: O caso dos polos pernambucanos, analisou detalhadamente as micro e pequenas empresas do setor, cujas características se aproximam do universo de interesse da pesquisa. O pesquisador elencou as principais características do setor:

- funcionam em sua maioria na informalidade;

Segundo a United Nations Conference on Trade and Development (2008) – economia criativa é um 55

conceito em evolução, baseado em ativos criativos com o potencial de criar crescimento econômico e desenvolvimento, sendo capaz de estimular a geração de renda e empregos, enquanto promove a inclusão social, a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. Ela abarca aspectos econômicos, sociais e culturais, interagindo com tecnologia, propriedade intelectual e objetivos turísticos. Ela também é um conjunto de atividades econômicas baseadas em conhecimento com uma dimensão de desenvolvimento e conexões intercruzadas nas esferas micro e macro com a economia como um todo, sendo uma opção realizável de desenvolvimento, demandando respostas multidisciplinares de políticas e ações interministeriais. (HANSON, 2012)

- desconhecem os diversos programas governamentais de fomento, fato que, associado à informalidade, impede o acesso a financiamentos; - são marcantemente formadas por empresas familiares tradicionais e

na grande maioria de capital inteiramente nacional;

- realizam pouco investimento em design e inovação, a cópia é uma prática recorrente;

- o design está associado ao custo alto e não como investimento; - o design e a inovação não seriam incorporados por estas empresas se

não houvesse em paralelo um plano de cooperação;

- necessidade do associativismo como forma de fortalecimento coletivo para o aumento da competitividade;

- falta articulação e estabelecimento de parcerias com órgãos de desenvolvimento;

- a questão cultural interfere na falta de cooperação e do associativismo, a principal dificuldade a ser superada, para a formação de arranjos produtivos, necessária para a superação de dificuldades e

sustentabilidade dos pequenos negócios.

Os resultados da pesquisa de SILVA (2006), comparados àqueles apresentados pelos pesquisadores Cezarino e Campomar (2005), são convergentes e ao mesmo tempo inspiradores, na medida em que se assemelham à realidade do artesanato, fato que motiva a questionar: é possível estabelecer uma relação entre as questões de gestão de design da micro e pequena empresa com o artesanato? Há possibilidade da gestão de design auxiliar designers nas intervenções no artesanato? É possível o artesanato ser impulsionado pelo crescimento da economia criativa?

O caminho para obter as respostas será traçado com o suporte de uma abordagem metodológica e dos métodos de pesquisa, como apresentado a seguir. 


Parte 2

Caminhos para uma aproximação