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Teorias e argumentos para compreender os contextos

A RTESANATO P ERNAMBUCANO E S USTENTABILIDADE

2.1 O A RTESANATO P ERNAMBUCANO | DA Z ONA DA M ATA AO SERTÃO

A valorização da cultura popular no Brasil, afirma Coimbra et al (2009), é uma consequência do interesse de intelectuais e artistas pelos produtos da imaginação e do trabalho do povo, que,

estimulado pelo movimento modernista, buscavam o rompimento com o tradicionalismo cultural e uma independência cultural que se configurou num novo ponto de vista estético. A considerada “nova estética”, que revelava o interesse por temas nacionais com forte conotação social e era influenciada pelos movimentos de vanguarda europeus, foi traduzida na produção dos artistas envolvidos na

Semana de Arte Moderna de 22 em São Paulo. Em consonância com 34

alguns valores, surge no Recife, em 1926, o Movimento Regionalista, que se posicionou em favor da “defesa da região enquanto unidade de organização nacional e a conservação de valores regionais e tradicionais do Brasil, em geral, e do Nordeste em particular” (REIS; ZILLBERMAN, REIS apud OLIVIEN, 2004, pág. 112). É nesse contexto que os artefatos populares começam a ganhar novos significados e iniciativas, como a Exposição da Cerâmica Popular Pernambucana (EXPOSIÇÃO, 2014), realizada no Rio de Janeiro em 1947, organizada

A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, no Teatro Municipal, de 11 a 18

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de fevereiro, teve como principal propósito renovar, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música. Mudar, subverter uma produção artística, criar uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências europeias, essa era basicamente a intenção dos modernistas. Artigo de Ana Lucia Santana em http://www.infoescola.com/artes/semana-de- arte-moderna/, acesso em 29 de outubro de 2014.

por Augusto Rodrigues e Joaquim Cardozo , que apresentam os 35 36

novos artistas ao mercado.

A busca por uma arte brasileira erudita mobilizou pesquisadores e artistas pernambucanos, que, liderados por Ariano Suassuna nos anos 70, criaram o Movimento Armorial (GASPAR, 2014). O

movimento nasceu no âmbito acadêmico, entretanto seus

integrantes tinham como objetivo valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro, pretendendo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da cultura do País. O Movimento

Armorial integrou diferentes linguagens, dentre elas: pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro e gravura e teve grande repercussão na promoção de artistas populares e artesãos em Pernambuco. A sintonia entre os movimentos voltados para a valorização da cultura popular e a produção de artistas e artesãos pernambucanos repercutiu na consolidação da arte popular e do artesanato em todas as regiões do Estado. O mapa apresenta um panorama atualizado do artesanato mais representativo do Estado.

Augusto Rodrigues foi artista plástico, arte-educador, jornalista, fotógrafo, entre outras

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atividades, e é reconhecido como um dos fundadores da Escolinha de Arte do Brasil (1948). Nasceu no Recife em 1913 e morreu em 1993. Em depoimento de Zezinho de Tracunhaém, é possível compreender o relacionamento de Aberlado Rodrigues com o artesanato e arte popular pernambucana: “Quando falo daquele homem, fico até emocionado. Ele chegava ao meu atelier, comprava uma peça e levava para dar de presente pra família ou pra ele mesmo. Fazia a coleção dele. Ele me deixava feliz, me ajudou bastante”. (Martins; Luz, 2012, pág. 166) Joaquim Cardozo (1897-1978), engenheiro e poeta pernambucano, ao lado de Gilberto Freyre,

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Ascenso Ferreira e Vicente do Rego Monteiro, valorizou as tradições populares do Nordeste, sem desconhecer o que acontecia no Sudeste do País e na Europa. Em 1940, trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. http://www.e-biografias.net/ joaquim_cardoso/, acesso em 12 de novembro de 2014.

Chama a atenção a diversidade de tipologias encontradas no Agreste. A familiaridade com a matéria-prima encontrada na região pode ser um dos motivos, e a cerâmica em Caruaru pode ser um exemplo. Incentivados pelas antigas olarias, onde se produzia jarras, filtros ou pela prática das famílias de fazer louças para uso cotidiano, adultos e crianças foram estimulados a manusear o barro, dando origem a brinquedos que ganharam outras dimensões e rumos. A influência do mestre Vitalino, uma referência para o Alto do Moura, em Caruaru, conhecido pela representatividade da cerâmica figurativa no Estado.

Um outro argumento que explica a diversidade é o conhecimento oriundo de outros continentes, como é o caso da renda renascença em Jataúba. A instalação de organização religiosa na região permitiu o ensinamento da técnica, originária da ilha de Burano, na Itália, e hoje a produção de renda renascença é a ocupação da maioria das artesãs do município.

De uma maneira ou de outra, o artesanato e a arte popular no Agreste são vigorosos e reconhecidos nacional e internacionalmente pelos artesãos e artistas do Alto do Moura ou das xilogravuras de J. Borges e seus

seguidores em Bezerros.

A cerâmica e a trançado em fibra são muito significativos para o artesanato da Zona da Mata e da Região Metropolitana do Recife. A intimidade com o barro, nas olarias dos antigos engenhos de açúcar, estimulou a produção da louças, moringas, telhas e tijolos e, ao mesmo tempo, instigou as crianças

Figura 06 As principais modalidades de artesanato em Pernambuco
 Fonte: Laboratório O Imaginário

a brincar com o barro, fazendo crescer o gosto pela modelagem e pela arte figurativa. Ao longo da Zona da Mata Sul, é prevalente a cerâmica utilitária com o uso do torno, enquanto na Mata Norte o maior destaque é a

cerâmica figurativa.

As plantações de banana e a memória da cestaria indígena foram

responsáveis pelo desenvolvimento do artesanato em fibra e fios na região. Utilitários ou decorativos, os artefatos produzidos na Zona da Mata

representam grande parte da cestaria e da tecelagem em Pernambuco. O artesanato feito em couro, madeira e aqueles que representam etnias indígenas são encontrados principalmente no Sertão, mas não somente. É possível encontrar artefatos em fibra, metal e pedra pela disponibilidade desses recursos nas localidades ou em função da preservação de tradições sertanejas.

Em todas as regiões, é possível observar o entrelaçamento do artesanato com os festejos e folguedos populares. O Maracatu da Zona da Mata, com suas golas de ricos bordados, as máscaras utilizadas pelos Papangus no Carnaval de Bezerros ou aquelas dos Caretas em Triunfo. Os bonecos- personagens dos Manulengos da Região Metropolitana são outros bons exemplos. ! Imagem 06 As manifestações culturais: Golas de maracatu e máscaras dos papangus
 Fonte: https:// alfaiaria.wordress .com (11/04/2011)

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Embora o artesanato e a cultura pernambucana tenham sido apresentados de forma panorâmica, é possível reconhecer o valor e a importância

daquele para esta. Vale ressaltar que não é apenas pelo seu valor simbólico e cultural, mas também pelo seu valor econômico, uma vez que fortalece o turismo e amplia a possibilidade de geração de renda para populações menos favorecidas localizadas em todo o território do Estado.