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4.1 EMPRESA FAMILIAR: CARACTERÍSTICAS E DESAFIOS

4.1.1 Eixo da Propriedade

4.1.1.1 Estágio de Proprietário Controlador

O estágio de Proprietário Controlador é consolidado por uma pessoa que capitalizou recursos para fundar e consolidar uma empresa. O negócio torna-se parte do patrimônio do fundador devido às responsabilidades de gestão do negócio e de responder pelas operações da empresa. Ele é sócio majoritário nas ações da empresa e tem o poder de decisão sobre toda a propriedade. O criador é classificado como primeira geração na empresa (GERSICK et al., 1997).

Na fundação da empresa, segundo Passos et al. (2006), o fundador é dono, patriarca e gestor. A capitalização da propriedade na mão de uma pessoa é muito significante, pois representa o poder e controle sobre todas as decisões estratégicas da empresa, os riscos a serem assumidos e remuneração dos gestores. Caso existam outros proprietários, a participação pode ser simbólica, como investidor ou sem autoridade significativa sobre o patrimônio ou negócio.

No início da empresa a estrutura tende a ser centralizadora, segundo Lansberg (1999), pode ser facilitadora da realização do empreendimento em curto prazo, uma vez que o empreendedor aprende a assumir todas as responsabilidades sobre os sucessos e fracassos da empresa familiar. Esse tende a correr mais riscos, tem menos necessidades financeiras pessoais e possui o foco na administração do negócio.

Contudo, como afirma Naldi et al. (2007), a forma de administrar do empreendedor muda com o passar do tempo, pois a relação de regras, valores e expectativas são alterados com o desenvolvimento da empresa familiar. Ao adquirir bens, formar família e maturar o negócio o gestor tende a ter uma postura mais conservadora em relação ao patrimônio. A necessidade de entradas financeiras surge com as despesas pessoais e com a necessidade de capital de giro da família.

Essa postura de conservação, segundo Tondo (2008), atinge seu auge antecedendo o afastamento do proprietário controlador das operações da empresa familiar. Esse momento gera uma série de questões a serem enfrentadas pelo fundador, que deve decidir sobre a continuidade do negócio, a vida após o afastamento do negócio, a partilha de bens após seu falecimento e, sobretudo, a passagem do poder de decisão sobre o patrimônio aos herdeiros.

A divisão do patrimônio entre os herdeiros ocorre normalmente em uma partilha de bens; contudo, quando optasse pela continuidade do negócio que gera entradas e

enriquecimento do patrimônio, sugere-se que os herdeiros desenvolvam uma forma de controle sobre a gestão (GERSICK et al., 1997).

A passagem patrimonial é amplamente debatida por Bernhoeft e Gallo (2003), Lubatkin et al. (2005) e Oliveira, Albuquerque e Pereira (2012). O processo de partilha do negócio significa dividir os resultados da empresa, o fundador se afasta do poder do negócio, mas ainda recebe a participação pela criação do patrimônio; porém, os herdeiros também recebem pela sua participação no negócio.

Os autores chamam o processo de criação de conselho e implementação da governança corporativa, que consiste em profissionalizar a gestão da empresa, montar um sistema que informe aos proprietários o andamento dos negócios, dividir adequadamente o lucro entre os proprietários e decidir as estratégias da empresa (BERNHOEFT; GALLO, 2003; LUBATKIN et al., 2005; OLIVEIRA; ALBUQUERQUE; PEREIRA, 2012).

O processo de implementação de um sistema de governança não significa necessariamente que a empresa está em processo sucessório. Mas faz parte um processo de profissionalização do negócio e formalização da empresa familiar, conforme afirma Bernhoeft e Gallo (2003). Porém, a questão a ser respondida no processo de governança, de acordo com Oliveira, Albuquerque e Pereira (2012), é entender se a empresa tem condições de formar um conselho de acionistas e comportar o pagamento de um executivo externo. Também é relevante saber se é possível sustentar grupos familiares diferentes, se os herdeiros irão participar do negócio e, consequentemente, partilharão o lucro, que antes pertencia apenas a um indivíduo para sustentar um grupo familiar, e como será feita a partilha da participação.

Todavia, como afirma Naldi et al. (2007), nem todas empresas são capazes de sustentar conselho e pagar executivos para manter o negócio. Muitas vezes é necessária a orientação do herdeiro para suceder os negócios, e também cabe a ele informar aos outros herdeiros como a empresa está andando. Leone (2005) chama essa sucessão de “mista”, pois um familiar assume profissionalmente a cadeira de executivo do negócio e os outros são sócios.

Independente da forma de partilha escolhida e de sucessão, os processos de formação de conselho, de implementação de governança corporativa e de passagem de controle patrimonial não ocorrem de forma abrupta. São necessários tempo, adaptação e conscientização dos profissionais e familiares (TONDO, 2008). O impacto é sentido principalmente pelo fundador da empresa, pois antes do processo sucessório concentrava o poder sobre toda a empresa familiar, e está abrindo mão do controle para o crescimento da empresa e passagem do patrimônio (PINTO; LEAL, 2013).

As pesquisas de Lansberg (1999), Bernhoeft e Gallo (2003), Leone (2005), Lubatkin et al. (2005), Naldi et al. (2007), Tondo (2008), Duarte e Oliveira (2010), Oliveira, Albuquerque e Pereira (2012), Martins et al. (2012), Pinto e Leal (2013) refletem os desafios- chave que caracterizam este estágio, e corroboramos já propostos por Gersick et al. (1997), conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1 - Desafios Chave no Estágio de Proprietário Controlador

Desafio Descrição

Capitalizar recursos Normalmente provém do bolso do próprio empresário, mas também pode vir de ativos herdados ou de empréstimos de terceiros. Equilibrar o controle

unitário com contribuições de

stakeholders

A fundação da empresa tende a voltar as decisões de suas operações ao gestor- proprietário, essa liderança repercute em todo o desenvolvimento da empresa familiar. Contudo o proprietário-fundador tende a recorrer ao apoio de atores externos, que podem ser parceiros de negócio, cônjuge, investidores, que mesmo não tendo poder significativo na empresa, esses devem entender as contribuições do sócio-gestor ao patrimônio.

Escolher uma estrutura de propriedade para a

próxima geração

Caso o Proprietário Controlador decida junto aos filhos dar continuidade ao negócio após sua aposentadoria deve ser realizado um plano patrimonial, sendo que um dos fatores que influenciam a continuidade e desenvolvimento do negócio são os dividendos.

Fonte: Adaptado de Gersick et al. (1997), e atualizado com base nas pesquisas de Lansberg (1999), Bernhoeft e Gallo (2003), Leone (2005), Lubatkinet al. (2005), Naldi et al. (2007), Tondo (2008), Oliveira, Albuquerque e

Pereira (2012), Martins et al. (2012) e Pinto e Leal (2013).

Esses três desafios fazem parte da caracterização do estágio proprietário controlador da empresa. Conforme exposto anteriormente, o empreendedor capitaliza e arrisca seu capital com objetivo de concretizar sua visão de negócio; em conjunto, ele busca atores que ajudam na estruturação do patrimônio; e por fim, o último desafio da entrada ao próximo estágio, no qual o proprietário passa seu controle acionário aos herdeiros.