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A Estética no Universo Científico

1.ª PARTE: CATEGORIAS DE ANÁLISE E QUADRO TEÓRICO

3.6 A Estética no Universo Científico

A colorização das imagens de satélite como pretendemos demonstrar em nosso estudo, se configura hoje como uma interpolação da estética no universo científico. São produtos resultantes da tecnologia espacial que representam a superfície de um planeta de forma mais próxima ou menos próxima do real. A imagem da NASA do ciclone extratropical Catarina realizada pelo satélite MODIS, Figura 21, que atingiu a Região Sul do Brasil em março de 2004, é um bom exemplo da representação do fenômeno atmosférico, apresentando uma visualização e colorização próxima do real.

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Figura 21: Imagem de satélite do ciclone extratropical Catarina, que atingiu a Região Sul do Brasil, furacão categoria 1, na escala Saffir-Simpson. http://www.apolo11.com/furacao_catarina.php

O mosaico de imagens do polo norte do planeta Vênus em falsa cor, obtida pela sonda Magalhães entre 1990-1994, Figura 22, foi tratada e processada para melhorar o contraste e enfatizar pequenas feições da superfície, foi colorizada de modo a representar as elevações da superfície objetivando futuros estudos geológicos e geofísicos.

Essa visão hemisférica de Vênus foi criada usando mais de uma década de investigações e imageamento da superfície do planeta.

Figura 22: Imagem do planeta Vênus pela da sonda Magalhães (1990-1994).

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Assim constatamos que a interferência de padrões estéticos, subjetivos, na produção do resultado da imagem para uso da ciência ou para o público em geral será dosada de acordo com o tipo de produto que se pretende obter. Uma maior interferência, opção de banda pelo técnico, resulta em uma imagem iconicamente mais afastada do real, exigência de um leitor mais capacitado para leitura específica daquele tipo de imagem. Uma menor interferência resulta exatamente o contrário, uma imagem mais próxima do real.

Ao projetar e sobrepor uma imagem de satélite através de filtros coloridos, há a geração de imagens colorizadas, demonstrada na Figura 23. Trata-se de um dos artifícios de maior utilidade na interpretação das informações e dados, fundamental para uma boa identificação e discriminação dos alvos terrestres. A composição colorida é produzida na tela do computador, atribuindo-se as cores primárias (vermelha, verde e azul) à três bandas espectrais. A formação das cores na imagem pode ser considerada similar ao trabalho de um pintor que tenha a sua disposição três latas de tinta. Com estas latas de tinta pintamos a imagem. A imagem é pintada pixel a pixel. Os pixels são pintados individualmente usando um pouco de tinta de cada lata.

Figura 23: Exemplo de composição colorida de uma imagem.

A opção de banda é decisão humana e subjetiva, portanto, deixa sua marca na fidedignidade da imagem científica. Podemos comparar a maneira que um jornalista adéqua sua linguagem ao produzir uma notícia ou um artigo, o colorizador da imagem rastreia, por meio da estética, o objetivo a atingir e o leitor que lhe aguarda. Assim como um jornalista, o técnico em sensoriamento remoto realiza o que denominamos de

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colorização jornalística, ressaltando objetivamente o real, como na Figura 24, imagem da Grande São Paulo utilizada no site oficial da Prefeitura.

Figura 24: Imagem colorizada do satélite Landsat da Grande São Paulo.

http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/pagina.php?B=30&id=21

Entretanto na imagem o técnico por opção subjetiva ou intencional imprime sua visão subjetivamente estética do real deixando os elementos ali colorizados, sem serem revelados, ocultados pela camada de tinta. A opção por uma colorização artística como no mosaico da Lua em falsa cor 12, Figura 25, trabalha a imagem como e para um romancista.

Em ambos os casos, tem-se a interveniência da condição e de uma proposta estética. O que diferencia um ou outra é o nível de comprometimento estético, em função do objetivo final da imagem.

12 O processamento em cor falsa utilizado para criar esta imagem lunar auxilia na interpretação da

composição do solo. As áreas que aparecem em vermelho geralmente correspondem a terras altas, enquanto as áreas sombreadas de azul para laranja indicam uma antiga corrente vulcânica de um mar ou oceano lunar. As áreas dos mares mais azuis contêm mais titânio do que as áreas laranja. O mar Tranquillitatis, visto como uma mancha azul escuro à direita, é mais rico em titânio do que o mar Serenitatis, uma área circular um pouco mais pequena imediatamente acima e à esquerda do mar Tranquillitatis. Áreas azuis e laranja que cobrem uma grande parte no lado esquerdo da Lua nesta vista representam muitas correntes de lava no oceano Procellarum. As pequenas áreas púrpuras perto do centro são depósitos piroclásticos formados por erupções vulcânicas explosivas. A cratera recente Tycho, com um diâmetro de 85 quilómetros (53 milhas), está destacada na base da fotografia.

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Figura 25: Imagem da Lua em cor falsa foi obtida pela sonda Galileu em 8 de dezembro de 1992.

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4 Imagens de Satélite como Recurso Pedagógico

As transformações tecnológicas nas áreas de informação e comunicação que vêm se impondo sobre a sociedade apresentam nítidos reflexos na educação. Esse fato tem tornado as práticas de ensino bastante ultrapassadas em relação ao nível de atualização e inovação a que está submetido o aluno neste século. Embora enfaticamente sinalizado a tão necessária incorporação das referidas tecnologias pelas escolas, modificando as práticas didáticas, ainda há um atraso bastante perceptível, apesar desses produtos já serem consumidos pelos alunos, porém de forma bastante desigual.

Antunes (2002) ressalta que a escola de qualidade terá que integrar as novas tecnologias de modo eficiente e crítico, não perdendo de vista os ideais humanistas da modernidade, mas mostrando-se capaz de colocar a tecnologia a serviço do sujeito da educação - o cidadão livre, e não o contrário como se corre o risco, de se colocar a educação a serviço das exigências técnicas do mercado de trabalho, como já foi evidente no passado recente, entretanto a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), pelos professores, não está sendo suficiente para dar conta da complexidade do processo de aprender e ensinar. Esta situação reflete a influência de base paradigmática cartesiana nos processos de (in) formação do professor, e, por conseguinte, quando atua como professor e utiliza as ferramentas das TICs no processo de ensino/aprendizagem.

No Brasil o Ministério de Educação e Cultura (MEC) recomenda a inclusão das novas tecnologias no Ensino Fundamental e Médio, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apoia esta recomendação cedendo gratuitamente imagens orbitais para fins didáticos, recurso que utilizado pedagogicamente é gerador de conhecimento escolar e responsável pela democratização das informações dos dados produzidos em laboratórios por técnicos e cientistas. A utilização de novas tecnologias principalmente no ensino das ciências torna-se necessário que sejam feitas pesquisas para a avaliação do seu real potencial na educação. A tecnologia espacial integrada à informática possibilita o surgimento e a rápida divulgação de um novo suporte de comunicação educativa na produção de conhecimento, nos quais dispositivos comunicacionais além de possibilitar a construção de imagens do passado simulam o futuro do planeta e do homem.

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Assim, entendemos que o uso escolar de imagens de satélite de alta resolução poderá propiciar a construção de ambientes de aprendizagem lúdicos e com sintonia com o desenvolvimento das geotecnologias viabilizando interpretações e leituras críticas das informações espaciais objetivando facilitar os processos de construção e constituição de sujeitos e grupos em busca de orientações para suas ações e desta forma ampliando o processo democrático de inclusão e inserção do aluno-cidadão em uma sociedade informatizada e globalizada.