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Movimento Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente – CTSA

1.ª PARTE: CATEGORIAS DE ANÁLISE E QUADRO TEÓRICO

7 As Imagens de Satélite na perspectiva Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente

7.1 Movimento Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente – CTSA

Partindo-se do princípio que a Ciência é fruto da produção cultural humana pautada sob as influências do ambiente social, político e econômico do momento, o mito de que esta é a salvadora da humanidade é questionável. Entretanto, uma visão positivista de Ciência, pura, neutra, sem aspirações políticas e sociais, ainda se faz presente em nossa sociedade.

Na abordagem Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente - CTSA, a sociedade é o ponto central do processo educativo, e o aluno é, antes de tudo, um cidadão que precisa desenvolver habilidades, competências e criticismo. Nesse aspecto, a experimentação

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investigativa é fundamental para se discutir como a Ciência é construída e perceber as suas limitações. A partir daí o aluno poderá compreender que o conhecimento científico não é uma verdade absoluta e sim uma permanente construção que, muitas vezes, necessita de rupturas conceituais e históricas para evoluir (Kuhn, 2007).

Para Santos & Mortiner (2002) Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente - CTSA, não se trata de metodologia de ensino ou teoria de aprendizagem, mas sim de uma conjunção de pensamentos quanto a uma forma de ver e interagir com o mundo na promoção de uma nova visão na construção dos conceitos das ciências e de cidadania aplicável ao ambiente escolar.

A conciliação entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente é uma possibilidade real, capaz inclusive, de incrementar a produção científica e tecnológica com a redução do consumo de recursos naturais e dos impactos ambientais. Considera- se que essa perspectiva tem trazido contribuições importantes para a educação ao questionar o estatuto da ciência e da tecnologia diante dos atuais desafios relacionados ao desenvolvimento e à sustentabilidade (Borges et al., 2010).

Segundo Auler e Bazzo (2001) após a euforia inicial com os resultados do avanço proporcionados pelo progresso, à degradação ambiental e sua vinculação a armas nucleares, fizeram com que o olhar sobre a Ciência e a Tecnologia se tornasse mais crítico. Com isso, começou a se destacar no mundo movimento ambientalistas, questionando e denunciando que a industrialização intensificou a exploração da natureza, trazendo consequências negativas ao meio ambiente. Fora isso o desenvolvimento científico e tecnológico passou a revelar o poder destrutivo do homem:

Está cada vez mais evidente que a exploração desenfreada da natureza e os avanços científicos e tecnológicos obtidos não beneficiaram a todos. Enquanto poucos ampliaram potencialmente seus domínios, camuflados no discurso sobre a neutralidade da C&T e sobre a necessidade do progresso para beneficiar as maiorias, muitos acabaram com os seus domínios reduzidos e outros continuam marginalizados, na miséria material e cognitiva. (Angotti e Auth, 2001:16).

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Como a questão ambiental é uma preocupação cada vez mais presente em toda a sociedade e é uma realidade com a qual o ser humano precisa aprender a conviver. Isso implica na necessidade de um ensino voltado para essa temática, que venha contribuir para a formação de sujeitos críticos que busquem a preservação da vida do planeta e melhores condições sociais para a existência humana. Como os problemas ambientais são causados pelo esgotamento que as atividades humanas vêm causando a natureza incorporou-se ao enfoque Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) às questões ambientais passando a utilizar a sigla CTSA (Santos & Mortimer 2002).

Assim a perspectiva CTSA proporciona uma orientação para a educação, a partir de abordagens múltiplas das questões relativas ao meio social, ambiental e cultural, oportunizando a construção de conhecimentos por meio de argumentação, diálogo e debate com os outros. Além do mais, promove uma formação de atitude crítica, reflexiva e responsável para a resolução de questões sociais relacionadas à ciência e tecnologia (Restrepo, 2010).

Desta forma CTSA é uma alternativa para romper com o ensino científico fragmentado, se preocupando com o estabelecimento de relações entre o conhecimento científico, a tecnologia, a sociedade e o meio ambiente centrando-se no desenvolvimento da capacidade de tomada de decisão por meio de uma abordagem inter-relacional, concebendo a ciência como um processo social, histórico e não dogmático.

Diante do cenário CTSA, acreditamos que os objetivos para o Ensino de Ciências na atualidade possam ser expressos na noção de alfabetização científica (denominada por alguns autores de letramento científico), já que, espera-se que o estudante compreenda os diferentes conceitos científicos, permitindo uma leitura ampla do mundo e atuação cidadã.

Nesse sentido, existe uma aproximação estreita com as questões ambientais e logo, da sustentabilidade, conceito que transita entre a utopia e a viabilidade. Dentre as diferentes definições que existem para a mesma nos interessa a visão de Gutiérrez (2004), para quem, para ser considerada sustentável é necessário que uma ação seja economicamente factível; ecologicamente apropriada; socialmente justa e culturalmente equitativa, respeitosa e sem discriminação de gênero.

144 7.2 A Educação CTSA no Brasil

Enquanto na década de 1950 o Brasil priorizou a formação de elites científicas como uma alternativa para contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico, nas décadas de 1970 a 1980 valorizou-se a ciência como um elemento de formação do cidadão-trabalhador, resultante de um breve período de governo democrático seguido pelo regime autoritário no qual os objetivos das reformas educacionais resumiram-se a formar pessoal capacitado para a produção na fase do ‘milagre econômico’ (Krasilchik, 2009:208).

Infelizmente ainda hoje o ensino oferecido é calcado na memorização e na teoria, não incluindo uma contextualização com o cotidiano dos alunos, transformando-se em uma educação sem significado, “[...] as disciplinas de Ciências não se integram, de forma articulada, ao conjunto curricular escolar repercutindo nos baixos índices do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e o PISA (Programme for International Student Assessment). ” (Krasilchik, 2009:209).

Quando refletimos sobre o atual cenário educacional em que o Brasil se encontra, torna-se prioritária a busca pelo aperfeiçoamento de um Ensino de Ciências de qualidade que vise à formação de um cidadão crítico perante a sociedade em que está inserido, entretanto a educação CTSA é nova no Brasil e, em grande medida, parece ser, por enquanto, uma “experiência” restrita a um pequeno grupo de educadores. No entanto, timidamente, alguns documentos do Ministério de Educação que orientam o ensino de ciências começaram a incorporar esse enfoque. Isso ocorre praticamente ao mesmo tempo em que se desenvolve, a partir dos mesmos documentos norteadores, o Enfoque das Competências, com suas propostas de contextualização e interdisciplinaridade.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional permiti a percepção da interação da ciência e da tecnologia com todas as dimensões da sociedade, considerando as suas relações recíprocas, oferecendo ao educando oportunidade para que ele adquira uma concepção ampla e humanista da tecnologia. (Brasil, 1996)

Entretanto, colocar em prática tal processo pedagógico requer transformações no espaço escolar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, em consonância com os debates contemporâneos, reforçam a urgência do abandono de práticas pedagógicas tradicionais,

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alicerçadas na memorização e fragmentação dos conhecimentos, e defendem uma proposta de ensino de ciências contextualizada e interdisciplinar, que favoreça a aquisição de conhecimentos e capacidades necessárias ao exercício da cidadania. (Brasil, 1998).

As Orientações Curriculares para o Ensino Básico no Brasil preconizam o desenvolvimento de capacidades que tornem os alunos cidadãos capazes de lidar com o meio em que estão inseridos, tornando-os aptos a aliar os conteúdos científicos às questões problemáticas atuais, em suma, cidadãos cientificamente literados capazes de aplicar o conhecimento científico em situações do quotidiano. (Brasil, 1998).

Pesquisadores como Ricardo (2007) alerta aos professores para a necessidade de considerar as tecnologias referências dos saberes escolares e não apenas o estudo das máquinas ou equipamentos, mas para compreender o mundo artificial e sua relação com o mundo natural. Isso possibilitaria desenvolver nos alunos uma atitude crítica diante da tecnologia moderna e reconhecer sua estreita articulação com os aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais, além do seu potencial modificador da realidade e de dar respostas a problemas concretos.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais aprender Ciências na Escola Básica permite ampliar o entendimento sobre o mundo vivo e, especialmente, contribui para que seja percebida a singularidade da vida humana relativamente aos demais seres vivos, em função de sua incomparável capacidade de intervenção no meio. Compreender essa especificidade é essencial para entender a forma pela qual o ser humano se relaciona com a natureza e as transformações que nela promove. Ao mesmo tempo, essa ciência pode favorecer o desenvolvimento de modos de pensar e agir que permitem aos indivíduos se situar no mundo e dele participar de modo consciente e consequente. (Brasil, 1998).

Destacamos que a escola não pode continuar indiferente em relação ao que se passa à sua volta e atualmente é uma instituição cujo objetivo maior deve ser a inclusão social do cidadão, eliminando diferenças que excluam os menos privilegiados. Assim uma solução para diminuir o fosso entre a realidade dos cidadãos contemporâneos e a realidade escolar é a perspectiva de educação CTSA. (Chaves, 2009).

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Esta perspectiva surge da necessidade de criar condições para aumentar a literacia científica da população e, consequentemente, melhorar as condições econômicas, social, política e ambiental dos cidadãos. Tudo isto porque, cidadãos esclarecidos são, à partida, cidadãos mais responsáveis, mais participativos e mais exigentes com os órgãos de poder que os servem. (Acevedo, 2004)

Se a ciência e a tecnologia fazem parte da vida dos cidadãos, então também os seus efeitos deverão ser estudados, através de uma rede de interdependências que influenciam e são influenciados pelo ambiente natural onde ocorrem, para que os alunos percebam que as decisões tomadas envolvem respostas a problemas emergentes da perspectiva CTSA do Ensino das Ciências. (Auler, 2003).