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Capítulo V Apresentação dos Resultados

2. Estilo educativo parental e tipo de família

Para avaliar os estilos educativos parentais, procedeu-se à análise do EMBU-P e do EMBU-C, instrumentos utilizados para recolher, respectivamente, a perspectiva da mãe e da criança. Apresentam-se seguidamente os principais resultados obtidos sobre os estilos educativos parentais, na perspectiva da mãe e da criança, iniciando-se este ponto com o estudo da concordância das perspectivas da mãe e do filho dos estilos educativos parentais. Os resultados são expostos para cada uma das três tipologias familiares estudadas (família nuclear, monoparental e reconstituída) e são, igualmente, referidas as diferenças existentes entre estes grupos na percepção dos estilos educativos parentais.

2.1 Convergência entre mãe e criança na percepção dos estilos educativos parentais

Foi estudada a convergência entre as percepções materna e da criança sobre os estilos educativos parentais, avaliadas através do EMBU-P e do EMBU-C respectivamente, com a divisão da amostra em três grupos em função do tipo de família.

A análise da Tabela 37 permite constatar que as dimensões do EMBU-P e do EMBU-C se associam de modo diferente, dependendo do tipo de família em estudo. Apenas nas famílias nucleares há uma associação positiva entre as percepções da mãe e da criança de suporte emocional materno (r=.215, p<.05), não se verificando a mesma

Estilos educativos parentais e qualidade da vinculação no período escolar

associação nas famílias monoparentais e reconstituídas. Por outro lado, existe uma associação positiva entre as percepções da mãe e da criança de rejeição materna apenas nas famílias reconstituídas (r=.444, p<.01).

É possível verificar a ocorrência de mais algumas associações, apenas presentes no grupo de famílias monoparentais, entre as percepções da criança e da mãe sobre o estilo educativo materno. Assim, neste grupo de famílias, existem correlações negativas entre a percepção materna de rejeição e a percepção da criança de suporte emocional materno (r=-.200, p<.05), tal como entre a percepção materna de suporte emocional e a percepção da criança de rejeição materna (r=-.282, p<.01). Deste modo, quanto mais a mães consideram rejeitar os seus filhos, menos eles percepcionam beneficiar do seu suporte emocional, bem como quanto menos as mães pensam apoiar emocionalmente os seus filhos, mais estes se sentem rejeitados por elas. É interessante verificar esta coerência na avaliação realizada por mães e filhos provenientes de famílias monoparentais face à associação negativa das dimensões suporte emocional e rejeição.

Destaca-se igualmente, no seio das famílias monoparentais, uma associação positiva entre a percepção materna de rejeição e a percepção da criança de controlo materno (r=.199, p<.05). Isto é, as mães que identificam mais comportamentos de rejeição em relação aos seus filhos são percebidas por eles como sendo mais controladoras.

Tabela 37 – Correlação entre as dimensões do estilo educativo parental, avaliado pela criança e pela mãe, em função do tipo de família

EMBU-C

EMBU-P SE Pai SE Mãe Rej. Pai Rej. Mãe TC Pai TC Mãe Famílias Nucleares Suporte emocional ,178 ,215* -,114 -,062 ,169 ,167 Rejeição -,223* -,108 -,052 ,000 ,041 ,056 Tentativa de controlo -,070 ,012 ,037 -,006 ,152 ,125 Famílias Monoparentais Suporte emocional ,205* ,162 -,182 -,282** ,035 -,083 Rejeição -,037 -,200* ,010 ,177 ,181 ,199* Tentativa de controlo -,048 -,159 ,087 ,121 ,166 ,179 Famílias Reconstituídas Suporte emocional ,158 ,196 -,104 -,110 ,011 ,068 Rejeição -,375* -,152 ,200 ,444** ,179 ,177 Tentativa de controlo ,025 ,131 ,262 ,129 ,377* ,245 Coeficiente de Pearson (*p<.05; **p<.01; ***p<.001)

2.2 Percepção materna do estilo educativo parental

A aplicação do teste da Anova para averiguar a existência de diferenças na percepção materna do seu estilo educativo parental, dependendo do tipo de família de origem, permite verificar que os grupos se distinguem na dimensão rejeição do EMBU-P (p=.031, <.05). Os testes Post Hoc de Tukey (HSD) indicam que as diferenças na rejeição materna se localizam entre os grupos de famílias nucleares (M=25.83) e monoparentais (M=27.34), no sentido destas últimas percepcionarem utilizar mais comportamentos de rejeição em relação aos seus filhos. Por outro lado, pode dizer-se que as mães pertencentes aos três tipos de família estudados não diferem entre si na percepção que têm sobre a utilização do suporte emocional e do controlo na relação com os seus filhos (cf. Tabela 38).

Tabela 38 – Análise da variância da percepção materna do seu estilo educativo em função do tipo de família

F. Nucleares F. Monoparentais F. Reconstituídas EMBU-P M DP M DP M DP F p % VE Sup. emoc. 48,95 4,38 47,96 5,147 47,88 5,27 1,045 ,353 ,728 Rejeição 25,83 3,90 27,34 4,94 26,86 4,29 3,502 ,031* 2,399 T. de controlo 29,34 4,15 30,00 4,43 29,71 5,05 ,631 ,533 ,441 (*p<.05; **p<.01; ***p<.001)

2.3 Percepção da criança dos estilos educativos parentais

No que respeita à percepção da criança dos estilos educativos do seu pai e da sua mãe, o teste da Anova permitiu verificar que existem diferenças entre os grupos familiares no controlo do pai (p=.011, <.05), como se pode constatar na Tabela 39. Os testes Post Hoc situam as diferenças entre os grupos de famílias nucleares e monoparentais, no sentido em que as crianças oriundas de famílias nucleares percepcionam que o seu pai recorre mais ao controlo (M=23.33), em comparação com as crianças de famílias monoparentais (M=21.17) que, por sua vez, vêem o seu pai como sendo menos controlador. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em mais nenhuma dimensão dos estilos educativos do pai e da mãe.

Estilos educativos parentais e qualidade da vinculação no período escolar

Tabela 39 – Análise da variância da percepção da criança do estilo educativo do pai e da mãe em função do tipo de família

F. Nucleares F. Monoparentais F. Reconstituídas EMBU-C

M DP M DP M DP F p % VE

Suporte emoc. Pai 46,72 6,09 44,85 8,73 46,90 9,42 1,873 ,156 1,442 Suporte emoc. Mãe 47,55 5,38 47,56 5,41 49,05 7,59 1,462 ,233 1,016 Rejeição Pai 10,95 2,69 10,75 3,02 11,05 3,30 ,205 ,815 1,599 Rejeição Mãe 11,00 2,69 11,22 3,01 10,91 2,87 ,291 ,748 ,204 T. de controlo Pai 23,33 4,94 21,17 5,47 22,23 5,69 4,588 ,011* 3,460 T. de controlo Mãe 25,39 4,98 24,65 5,09 24,73 5,75 ,662 ,517 ,462

(*p<.05; **p<.01; ***p<.001)

A avaliação das correlações entre as dimensões do EMBU-C permite perceber que as associações têm padrões diferentes dependendo do tipo de família considerado (cf. Tabela 40). Deste modo, as percepções da criança sobre o suporte emocional do pai e da mãe apresentam uma correlação bastante forte nas famílias nucleares (r=.893, p<.01), sendo a mesma correlação moderada para o grupo de famílias monoparentais (r=.372, p<.01). No mesmo sentido, há uma associação positiva entre a rejeição materna e paterna e entre o controlo materno e paterno nos três tipos de família, ainda que a correlação seja mais forte no grupo de famílias nucleares.

No que concerne à associação negativa entre o suporte emocional do pai e a rejeição do pai, a correlação é mais forte no caso das famílias reconstituídas (r=-.622, p<.01), em comparação com as famílias nucleares (r=-.315, p<.01).

Em geral, existem associações estatisticamente significativas nas famílias nucleares entre o suporte emocional do pai e da mãe e as restantes dimensões do estilo educativo parental. Já nas famílias monoparentais o suporte emocional do pai e da mãe não se correlaciona com a rejeição do pai e da mãe, e o suporte emocional do pai não se associa ao controlo materno.

A associação entre o controlo e a rejeição também apresentam algumas particularidades em função do tipo de família considerado. Nas famílias monoparentais, o controlo do pai associa-se positivamente com a rejeição do pai (r=.423, p<.01) e da mãe (r=.226, p<.01), tal como o controlo da mãe se associa positivamente com a rejeição do pai (r=.351, p<.01) e da mãe (r=.368, p<.01). Por fim, nas famílias reconstituídas só se encontra uma associação positiva entre o controlo da mãe e a rejeição do pai (r=.481, p<.01) e da mãe (r=.344, p<.01).

Tabela 40 – Correlação entre as dimensões do estilo educativo parental avaliado pela criança em relação ao pai e à mãe, em função do tipo de família

EMBU-C SE Mãe Rej. Pai Rej. Mãe TC Pai TC Mãe Famílias Nucleares

Suporte emocional Pai ,893** -,315** -,256** ,326** ,307** Suporte emocional Mãe -- -,317** -,300** ,294** ,326**

Rejeição Pai -- -- ,893** ,180 ,133

Rejeição Mãe -- -- -- ,160 ,114

Tentativa de controlo Pai -- -- -- -- ,879** Famílias Monoparentais

Suporte emocional Pai ,372** -,148 -,305** ,448** ,039 Suporte emocional Mãe -- -,025 -,218* ,221* ,211*

Rejeição Pai -- -- ,648** ,423** ,351**

Rejeição Mãe -- -- -- ,226* ,368**

Tentativa de controlo Pai -- -- -- -- ,657** Famílias Reconstituídas SE Mãe Rej. Pai Rej. Mãe TC Pai TC Mãe

Suporte emocional Pai ,270 -,622** -,232 ,273 -,200 Suporte emocional Mãe -- -,153 -,159 -,040 ,183

Rejeição Pai -- -- ,618** ,105 ,481**

Rejeição Mãe -- -- -- ,304 ,344**

Tentativa de controlo Pai -- -- -- -- ,587**

Coeficiente de Pearson (*p<.05; **p<.01; ***p<.001)

Foi realizado o teste t de Student para comparar a perspectiva que a criança tem sobre os estilos educativos paterno e materno, dentro de cada um dos grupos de famílias. Pelos resultados apresentados na Tabela 41 constata-se que existem diferenças estatísticas significativas nos três tipos de família, no modo como as crianças percebem o suporte emocional e o controlo da mãe e do pai. Assim, as crianças percepcionam receber mais suporte emocional da sua mãe do que do seu pai, nas famílias nucleares (diferença de médias=-0.8362; t=-3.282; p=.001), monoparentais (diferença de médias=- 2.981; t=-3.613; p=.000) e reconstituídas (diferença de médias=-3.750; t=-2.276; p=.028).

Do mesmo modo, existem diferenças estatísticas altamente significativas na dimensão tentativa de controlo, visto as crianças percepcionarem ser mais controladas pelas suas mães do que pelos seus pais, nas famílias nucleares (diferença de médias=- 2.060; t=-9.095; p=.000), monoparentais (diferença de médias=-3.311; t=-7.773; p=.000) e reconstituídas (diferença de médias=-3.375; t=-4.024; p=.000).

Porém não existem diferenças no modo como a criança percepciona a rejeição do pai e da mãe dentro de cada um dos grupos familiares.

Estilos educativos parentais e qualidade da vinculação no período escolar

Tabela 41 – Análise da variância entre a percepção da criança dos estilos educativos do pai e da mãe

EMBU-C Diferença médias DP t p

Famílias Nucleares

Suporte emocional Pai vs. Mãe -,8362 2,744 -3,282 ,001*

Rejeição Pai vs. Mãe -,0517 1,243 -,448 ,655 Tentativa de controlo Pai vs. Mãe -2,060 2,440 -9,095 ,000***

Famílias Monoparentais

Suporte emocional Pai vs. Mãe -2,981 8,372 -3,613 ,000***

Rejeição Pai vs. Mãe -,417 2,546 -1,664 ,099 Tentativa de controlo Pai vs. Mãe -3,311 4,323 -7,773 ,000***

Famílias Reconstituídas

Suporte emocional Pai vs. Mãe -3,750 10,419 -2,276 ,028*

Rejeição Pai vs. Mãe ,250 2,658 ,595 ,555

Tentativa de controlo Pai vs. Mãe -3,375 5,305 -4,024 ,000***

(*p<.05; **p<.01; ***p<.001)

Em resumo, pode concluir-se que foram encontradas diferenças em função da pertença a uma família nuclear, monoparental ou reconstituída, no que respeita às percepções da criança e da mãe dos estilos educativos parentais. Não foram encontradas significâncias estatísticas entre os três grupos de família considerados na percepção materna do seu estilo educativo parental. Por outro lado, a percepção da criança de controlo paterno é a única dimensão do EMBU-C que diferencia os tipos de família, na medida em que as crianças de famílias nucleares sentem ser mais controladas pelo seu pai, comparativamente com as crianças de famílias monoparentais, que são as que percepcionam um menor controlo paterno.