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Influência dos estilos educativos parentais na qualidade da vinculação da criança

Capítulo III Estilos Educativos Parentais, Qualidade da

3. Influência dos estilos educativos parentais na qualidade da vinculação da criança

Ainda não existem muitos dados empíricos no que respeita à relação entre os estilos educativos parentais e a qualidade da vinculação no período escolar, sendo uma área que necessita de um maior desenvolvimento (de Minzi, 2006; Dwyer, 2005). Em seguida são apresentados os resultados de que a literatura dá conta, nomeadamente sobre a influência que os estilos educativos parentais têm na qualidade da vinculação da criança.

Bowlby (1973) fez, pela primeira vez, a ligação entre a vinculação segura e os estilos educativos parentais de Baumrind, elegendo o estilo autorizado como o mais

Estilos educativos parentais e qualidade da vinculação no período escolar

vantajoso na promoção de uma vinculação segura (Page & Bretherton, 2001). O autor propôs que um ambiente familiar caracterizado por controlo parental excessivo e sobreprotecção se associaria a diversos problemas, como a ansiedade, enquanto que um estilo parental caracterizado pelo suporte e pelo afecto na relação com a criança teria maior probabilidade de se relacionar com uma vinculação segura e a resultados desenvolvimentais mais positivos (Bowlby, 1973).

A vinculação segura associa-se a uma história familiar satisfatória, e a um estilo educativo caracterizado por suporte, afecto, aceitação, sensibilidade e responsividade às necessidades da criança e, em simultâneo, promotor da autonomia psicológica. Em oposição, a vinculação insegura associa-se a uma maior rejeição e sobreprotecção e a uma menor responsividade, suporte e afecto, ou seja, a níveis mais baixos de comportamento parental autorizado (Belsky, Rovine, & Taylor, 1984; de Minzi, 2006; Isabella & Belsky, 1991; Karavasilis et al., 2003; Muris et al., 2003b; Nair & Murray, 2005; Roelofs et al., 2006, 2008; Vondra et al., 1995; Younger et al., 2005).

Em resumo, têm sido referidas associações entre o estilo educativo autorizado - caracterizado por baixos níveis de rejeição, conjugados com níveis elevados de envolvimento afectivo e de controlo comportamental - e uma vinculação segura das crianças em idade escolar (Karavasilis et al., 2003; Roelofs et al., 2006). Mais especificamente, os estudos que recorrem ao EMBU para avaliar os estilos educativos parentais têm descrito uma associação positiva entre a vinculação insegura e níveis mais baixos de comportamento parental autorizado (e.g. Roelofs et al., 2008). Portanto, os resultados sugerem que uma parentalidade que promova a individualidade da criança, através do encorajamento à autonomia num contexto de suporte, afecto e responsividade pode também facilitar o desenvolvimento de uma representação interna positiva do self como sendo amado e das figuras de vinculação como estando disponíveis (Karavasilis et al., 2003).

A literatura tem identificado diferentes características do contexto familiar e do comportamento parental em função de cada um dos padrões de avaliação da vinculação insegura (evitante e ambivalente) e desorganizada. A vinculação insegura-evitante associa-se a relações familiares muito pouco satisfatórias, a um comportamento parental hostil e frio, caracterizado por rejeição parental e dificuldades em expressar afecto e intimidade, podendo oscilar entre o autoritarismo e a negligência, e que não promovem a autonomia psicológica das crianças (Karavasilis et al., 2003; Muris et al., 2000; Sánchez, 2008). Estes pais são muitas vezes controladores e sobre-estimuladores (Belsky et al., 1984). Tem, ainda, sido sugerido que as mães das crianças evitantes são menos afectuosas, sentem-se mais desligadas (Younger et al., 2005) e demonstram aversão ao

contacto físico quando são procuradas pelos filhos, bem como pouca emoção nas interacções estabelecidas (Ainsworth et al., 1978).

Por seu lado, a vinculação insegura-ambivalente parece relacionar-se, por vezes, com uma história familiar insatisfatória, com um comportamento parental incoerente ou intrusivo e sobreprotector, e com níveis mais baixos de suporte emocional (Brown & Whiteside, 2008; Karavasilis et al., 2003). Deste modo, os pais emocionalmente instáveis estão disponíveis para os seus filhos nalgumas situações e não noutras, utilizando por vezes a separação e a ameaça de abandono como um meio de controlo (Mayseless, 1996; Sánchez, 2008). Os estudos têm indicado que, comparando os dois padrões de vinculação insegura, as crianças com uma vinculação insegura-evitante são as que têm pais com comportamentos parentais mais inconsistentes, menos responsivos (Vondra et al., 1995), mais negligentes, e demonstrando menor envolvimento e suporte face aos seus filhos (Karavasilis et al., 2003).

Todavia, não há consistência nos resultados quando se analisam as diferenças nos estilos educativos parentais em função dos dois padrões de vinculação insegura da criança. Se há estudos que só identificam diferenças nos estilos educativos parentais entre crianças com padrões de vinculação segura e insegura-evitante (e.g. Karavasilis et al., 2003; Muris et al., 2000), noutras investigações as diferenças localizam-se entre os grupos de crianças seguras e inseguras-ambivalentes (e.g. Brown & Whiteside, 2008).

Por fim, a vinculação desorganizada parece resultar de comportamentos parentais que provocam medo na criança, como interacções abusivas ou ameaçadoras, sendo que a própria figura parental também parece assustada no seu papel parental (Lyons-Ruth & Jacobvitz, 1999; Ungerer & McMahon, 2005). Esta desorganização da vinculação relaciona-se frequentemente com a perda não resolvida ou com o trauma dos pais, que predispõe o indivíduo a comportar-se com medo ou a provocar medo (Lyons-Ruth & Jacobvitz, 1999). Este estilo associa-se a diferentes factores de risco familiar, como vivência de stress, psicopatologia severa dos pais, e diversas formas de maltrato físico e emocional da criança no contexto familiar (Sánchez, 2008; van IJzendoorn et al., 1999).

Têm sido descritas associações entre a qualidade da vinculação da criança e estilos educativos parentais com características distintas (e.g. Allen et al., 2003; Brown & Whiteside, 2008; Karavasilis et al., 2003; Mofrad et al., 2010; Muris et al., 2000, 2003b; Nair & Murray, 2005; Roelofs et al., 2008; Younger et al., 2005). A maioria dos estudos encontra diferenças no padrão de vinculação das crianças em função da presença ou não de rejeição parental, sendo mais consensual a associação entre a vinculação segura e a ausência de rejeição parental (e.g. Brown & Whiteside, 2008; Muris et al., 2000, 2003b). Em geral, a rejeição parental e um menor suporte parental associam-se a uma vinculação

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insegura-evitante (Brown & Whiteside, 2008; Cassidy, 1994; Muris et al., 2000; Younger et al., 2005). Por seu lado, a vinculação insegura-ambivalente correlaciona-se frequentemente com um menor suporte emocional (Cassidy, 1994; Brown & Whiteside, 2008; Mofrad et al., 2010), com maior sobreprotecção (Mofrad et al., 2010), e maior ansiedade parental (Brown & Whiteside, 2008; Mofrad et al., 2010; Muris et al., 2000). Não obstante, outras pesquisas não permitem a diferenciação dos padrões de vinculação em função do comportamento parental ansioso (Brown & Whiteside, 2008; Roelofs et al., 2006).

Neste sentido, são vários os estudos que não encontram associações entre a vinculação insegura-ambivalente e um comportamento parental caracterizado pela presença de rejeição (Brown & Whiteside, 2008; Mofrad et al., 2010; Muris et al., 2000; Younger et al., 2005), ainda que os resultados nem sempre sejam convergentes. Por exemplo, na investigação de Mofrad et al. (2010), apenas 1% das crianças evitantes e nenhuma das crianças ambivalente percepcionam as suas mães como tendo um comportamento parental rejeitante, significando isto que a rejeição parental só se associou com a vinculação evitante. Por seu lado, no estudo de Muris et al. (2000), a rejeição parental associou-se a uma vinculação evitante e o comportamento parental ansioso a uma vinculação ambivalente. Porém, outros autores apresentam resultados opostos aos anteriormente citados. Por exemplo, Muris et al. (2003b) referem que os adolescentes com uma vinculação insegura e, mais marcadamente, os jovens com uma vinculação insegura-ambivalente percepcionaram menor suporte/afecto parental, maior rejeição e sobreprotecção, comparativamente aos jovens seguros.

Assim, se parte da literatura identifica uma associação entre a rejeição parental e os padrões de vinculação (Cassidy, 1994; Muris et al., 2000), outra parte não relata uma associação significativa entre estas duas dimensões da interacção de pais e filhos (e.g. Mofrad et al., 2010). Em linha com os resultados encontrados, os autores chamam a atenção para a importância de estudar as variáveis moderadoras que podem afectar a relação entre a percepção do estilo educativo parental e a qualidade da vinculação da criança (Mofrad et al., 2010).

O suporte emocional e o envolvimento parental são dimensões do comportamento parental que promovem uma vinculação segura. O suporte parental é um preditor do ajustamento emocional da criança e do adolescente, especialmente importante durante as transições de vida da criança, como por exemplo, na sua entrada para a escola (Allen et al., 2003; de Minzi, 2006; Kerns et al., 2001). O envolvimento do pai, em particular, é importante no período escolar, na medida em que a percepção da criança de falta de

interesse ou negligência paterna associa-se a efeitos marcadamente negativos no seu desenvolvimento (de Minzi, 2006).

No sentido de corroborar a ideia de que a dimensão da parentalidade suporte/afecto pode ajudar a explicar a lacuna de transmissão intergeracional da vinculação (Howard, 2010), os estudos têm descrito que as mães e os pais com uma vinculação mais segura tendem a apresentar níveis mais elevados de afecto e suporte para com os seus filhos, em comparação com as mães e os pais inseguros (Cohn, Cowan, Cowan, & Pearson, 1992; De Wolf & van IJzendoorn, 1997). Portanto, as crianças em idade escolar que têm uma vinculação segura percebem as mães como mais afectuosas e menos sobreprotectoras, em comparação com as crianças inseguras (Mofrad et al., 2010). Por seu lado, as crianças mais inseguras reportam níveis mais elevados de sobreprotecção, e, em oposição, níveis mais baixos de suporte/afecto parental (Mofrad et al., 2010; Muris et al., 2000, 2003b). Em resumo, têm sido descritas associações positivas da segurança da vinculação da criança com o envolvimento, o afecto, o suporte emocional, a aceitação e o encorajamento à autonomia psicológica por parte das figuras parentais (Belsky & Fearon, 2008; Brown & Whiteside, 2008; De Wolff & van IJzendoorn, 1997; Karavasilis et al., 2003). Acrescente-se que o contexto afectivo em que ocorrem as práticas educativas parentais influencia o impacto destes no comportamento e no ajustamento da criança (Darling & Steinberg, 1993; McLoyd & Smith, 2002; Towe-Goodman & Teti, 2008).

Mas, mais uma vez, os resultados não são consistentes, quando se comparam os dois padrões de vinculação insegura. Nalguns estudos, o estilo parental negligente foi identificado como preditor de uma vinculação insegura-evitante, na medida em que, dos dois padrões de vinculação insegura, são as crianças com uma vinculação evitante que têm pais com comportamentos parentais mais negligentes, demonstrando menor envolvimento e suporte emocional face aos seus filhos (Karavasilis et al., 2003). Por outro lado, outras investigações têm identificado que as crianças ambivalentes percepcionam níveis mais baixos de suporte emocional (Brown & Whiteside, 2008; Cassidy, 1994). Por exemplo, Brown e Whiteside (2008) descrevem que as crianças inseguras-ambivalentes percepcionam menor suporte emocional e afecto parentais, bem como um comportamento parental mais ansioso, não sendo encontradas diferenças entre as crianças seguras e inseguras-evitantes.

A literatura refere resultados pouco consistentes sobre a relação entre a qualidade da vinculação da criança e o controlo e a monitorização parentais, que parecem ter um papel menos importante na segurança da vinculação da criança (Karavasilis et al., 2003). Por exemplo, no estudo de Karavasilis et al. (2003), o controlo comportamental e a

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monitorização não tiveram um papel muito importante na predição da vinculação segura, sendo hipotetizado que a crianças mais seguras podem necessitar menos de controlo comportamental e do estabelecimento de limites para exibirem um comportamento adequado. Neste sentido, são descritas associações entre a vinculação insegura- evitante, em particular nos adolescentes, e um comportamento parental mais pobre, ao nível da monitorização comportamental e do encorajamento para a autonomia psicológica (Karavasilis et al., 2003). Não obstante, muitos estudos associam a vinculação insegura a uma maior sobreprotecção ou controlo parental (Mofrad et al., 2010; Muris et al., 2000, 2003b). Relembre-se que os resultados dos estudos deverão ser analisados à luz da confusão terminológica associada ao controlo parental. Isto é, esta dimensão tem sido definida e operacionalizada de diversos modos, acrescentando-se que é importante ter presente a diferenciação entre controlo comportamental e controlo psicológico, visto que têm um impacto diferenciado no desenvolvimento infantil.

Por fim, ainda que seja particularmente enfatizado o impacto da relação da