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Capítulo 2 Revisão da Literatura Factores de Sucesso no EDI

3.6 Estratégia da investigação

A filosofia positivista foi a mais utilizada durante cerca de metade dos anos 90. Os critérios de rigor, de validação e de replicação da pesquisa com base na filosofia positivista foi aplicada aos SI desde a sua origem. Mais recentemente a filosofia interpretativa ganha aceitação na área dos SI. De acordo com a classificação das publicações de investigação em SI de Orlikowski e Baroudi (1991), os investigadores encontraram dois factos: uma forte prevalência do positivismo, e o surgimento da epistemologia crítica.

O positivismo focaliza-se no teste empírico da teoria (Goodman e Ahn, 1999). De um modo geral é através do desenvolvimento de hipóteses e de proposições formais que a abordagem positivista testa a teoria. As hipóteses são desenvolvidas com base em variáveis independentes e dependentes na tentativa de medir estas variáveis de forma quantificável (Yin, 1994; Klein e Myers, 1999).

Por outro lado, a perspectiva interpretativa do estudo de caso, procura um mais profundo entendimento do processo investigado, em que a preocupação de replicação não assume papel de destaque (Darke et al., 1998). Neste sentido a preocupação central da investigação interpretativa é o de oferecer uma interpretação do comportamento humano, e esta só pode ser interpretada e não descoberta (Doolin, 1996). Assim, o objectivo principal não é a identificação de variáveis independentes e dependentes como forma de estabelecer um significado fora do contexto.

A aceitação de uma orientação dominante, ou seja, qual a filosofia a seguir para os SI não se afirmou. Kurnia e Johnston (2000) propõem que o positivismo deva conduzir primeiramente os estudos, no sentido de compreender o relacionamento entre as múltiplas variáveis independentes no âmbito da adopção do IOS, e as variáveis dependentes. Segundo os autores, numa segunda fase dos trabalhos devem ser conduzidos estudos interpretativos, no sentido de conduzirem a uma melhor compreensão das relações bidireccionais complexas que se estabelecem entre as variáveis dependentes e independentes aquando do estabelecimento das sua relações na estrutura positivista, permitindo também o afinar da estrutura de investigação. Para os autores, a utilização inicial do positivismo seguido do interpretativismo apresenta-se como o mais adequado para representar a realidade.

Lee (1991) sugere que a investigação deve primeiro ser conduzida por estudos interpretativos, como forma de alcançar um mais rico entendimento da realidade a investigar. Este processo operacionaliza-se em várias etapas, em que primeiro desenvolvesse um entendimento subjectivo, passando depois para um entendimento interpretativo e finalmente para um entendimento positivista.

Numa análise elaborada por Mingers (2001, 2003) aos trabalhos publicados em revistas de referência Americanas17 e Europeias18 concluiu que cerca de 80% dos trabalhos analisados apresentavam alguma forma de investigação empírica, nomeadamente questionários, entrevistas, experimentação, e estudo de caso, os quais constituem a forma mais dominantes de abordagem.

Kurnia e Johnston (2000) sugerem que a integração do positivismo e do interpretativismo na investigação parece ser uma opção relevante na área da adopção do IOS.

Orlikowski e Baroudi (1991), Avali e Carlson (1992) referem ser o método do estudo de casos a forma mais comum no âmbito das abordagens qualitativas a mais utilizada nos SI. Também Yin (1994) e Walsham (1995) suportam a opinião da utilização do método do estudo de caso, como sendo o método mais adequado para o estudo de situações mais complexas, e onde a fronteira entre o fenómeno e o seu contexto não é clara.

Como se referiu anteriormente, para Yin (1994) a escolha da técnica mais apropriada para sustentar a investigação que se pretende realizar, depende basicamente de três condições: a) do tipo de questão de pesquisa; b) do nível de controlo que o investigador possui sobre os eventos comportamentais reais; c) do grau de foco em eventos contemporâneos ao invés de eventos históricos.

Avison e Fitzgerald (1991) apresentam como apropriados no estudo os SI os seguintes métodos de investigação: (a) estudos conceptuais; (b) modulação matemática; (c) experiências de laboratório; (d) experiências de campo; (e) inquéritos; (f) estudo de caso; (g) investigação fenomenológica / hermenêutica, e (h) observação participante. A utilização de experiências de laboratório, questionários e estudo de casos são segundo Orlikowski e Baroudi (1991) e Farhoomand (1992) as mais utilizadas no estudo dos SI.

17. MIS Quarterly e Information Systems Research.

18. European Journal of IS; Information Systems Journal; Accounting, Management and Information Technologies, Journal of Information Techology.

Myers (1997) propõe quatro grupos onde a investigação sobre os SI particularmente se agrupa: (a) estudo de casos; (b) etnografia; (c) observação participante; (d) teoria fundamentada.

A abordagem qualitativa por via do estudo de casos é considerada o método mais apropriado quando se conhece pouco sobre o fenómeno em estudo (Cavaye, 1996).

A combinação dos métodos, triangulação de métodos, como o uso de inquéritos com entrevistas, é a mais profunda forma de triangulação (Olsen, 2004). Também Rocco et al. (2003) exemplificam a triangulação com o recurso ao exemplo do uso da entrevista qualitativa e do questionário quantitativo. Silverman (1998) critica as limitações ao se atribuir prevalência ao método da entrevista na investigação qualitativa em SI. Na opinião do autor, as entrevistas são usadas no pressuposto de poderem fornecer informação mais pormenorizada sobre o que os actores pensam sobre o seu trabalho; mas de facto, refere o autor, as entrevistas revelam muito pouco acerca de como o trabalho é desenvolvido nas situações do dia-a-dia, a menos que combinado com observações.

Na opinião de Das (1985) as metodologias qualitativa e quantitativa não são divergentes ou antagónicas, ou seja, cada uma destas metodologias se focaliza em dimensões diferentes do mesmo fenómeno. O facto da metodologia qualitativa e quantitativa não serem divergentes ou antagónicas levanta a questão de estas se poderem combinar numa mesma investigação. Miles e Huberman (1984) defendem a tese de que existe um continuum metodológico entre qualitativo e quantitativo. Refira-se a existência de opiniões divergentes a propósito deste continuum. Norris (1983) e Smith (1983) advogavam serem insustentáveis as pretensões de complementaridade metodológica destes dois tipos de metodologias, questionando os resultados das pesquisas que conjugavam os dois tipos de metodologias.

A investigação por métodos combinados é caracterizada por conter elementos caracterizadores das abordagens qualitativas e das abordagens quantitativas (Patton, 1990). Também Nau (1995) refere que a mistura dos dois tipos de abordagem na mesma investigação pode produzir um resultado final que inclui os maiores contributos de ambas as abordagens.

O estudo de caso é apresentado como estando maioritariamente relacionado com o método qualitativo, no entanto pode não ser essencialmente qualitativo (Stake, 2000).

A Figura 14 apresenta uma possível metodologia a ser seguida num trabalho de investigação, em que se utiliza por exemplo o método do questionário, e sobre este se elabora uma análise estatística, e utiliza-se também o método do estudo de caso, onde toma lugar uma análise mais analítica.

Fonte: Pelo autor.

Figura 14 - Exemplo de uma metodologia de investigação combinando métodos quantitativos e qualitativos

Choudrie e Dwivedi (2005) analisaram 633 artigos científicos, compreendidos entre os anos de 1992-2003, e no respeitante à investigação da adopção da tecnologia dois métodos assumem grande importância, o método do inquérito e o método do estudo de caso, dos quais 74% dos artigos aplicavam os inquéritos e 26% aplicava o estudo de caso. Os autores referem não ser aplicado nenhum outro método de investigação no que diz respeito ao uso ou adopção da tecnologia.

No contexto da adopção da tecnologia, a preferência do método parece estar ligada à escolha da unidade de análise, quando esta é a organização, e não os utilizadores individuais ou consumidores; o estudo de caso é favorecido, contrariamente aos inquéritos, sendo estes mais utilizados nas outras duas situações (Choudrie e Dwivedi, 2005).

A estratégia de investigação seguida para esta dissertação é o estudo de caso, mais concretamente estudo de caso múltiplo.