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Capítulo 2 Revisão da Literatura Factores de Sucesso no EDI

3.5 Metodologia da investigação

3.5.3 Estudo de caso

O estudo de caso é uma investigação empírica que investiga fenómenos contemporâneos, os quais se encontram num contexto de vida real, e que se caracteriza também por ser um estudo sobre uma entidade ou entidades bem definidas.

É de realçar o facto do estudo de caso poder ser conduzido no âmbito de qualquer um dos paradigmas, como o positivista, o interpretativo ou o crítico. Benbasat et al. (1987) e Yin (2002) perfilham a investigação do estudo caso positivista, enquanto Walsham (1993) perfilha a investigação estudo de caso interpretativo. A utilização do método do estudo de

caso é aconselhado quando não se tem controlo sobre os acontecimentos, assim sendo, não é possível, nem desejável, manipular as potenciais causas do comportamento dos participantes (Yin, 1994; Meriam, 1988). Yin (1994) refere ser o estudo de caso uma investigação que se baseia fortemente no trabalho de campo, em que a entidade ou entidades são estudadas no seu contexto real, e utilizando fontes múltiplas de informação, tais como entrevistas, observações, documentos e artefactos, caracterizando-se por ser uma investigação de natureza empírica.

Num estudo de caso as conclusões não se formulam em forma de preposições gerais, mas de hipóteses de trabalho que podem ser testadas em novas investigações. Assim a generalização estatística, quando se faz inferência sobre uma população, dada uma amostra, ou sobre um Universo, não se aplica. Yin (2001) apelida de generalização analítica, referindo:

“Sob tais circunstâncias, o método de generalização é a “generalização analítica”, no qual se utiliza uma teoria previamente desenvolvida como modelo, com o qual se deve comparar os resultados empíricos do estudo de caso. Se dois ou mais casos são utilizados para sustentar a mesma teoria, pode-se solicitar uma replicação. Os resultados empíricos podem ser considerados ainda mais fortes se dois ou mais casos sustentam a mesma teoria, mas não sustentam uma teoria concorrente igualmente plausível.” p.31.

Os estudos de casos não se aplicam quando se quer conhecer propriedades gerais, mas compreender a especificidade de um determinado fenómeno ou situação. Esta orientação está expressa nos critérios definidos por Yin (1994): (1) é recomendado o estudo de caso para as perguntas básicas simples; (2) não é possível o controlo dos eventos comportamentais nas organizações para afeitos da pesquisa; (3) a ênfase da pesquisa é em eventos contemporâneos e em seu contexto, sendo possível o acesso às pessoas, documentos e observações do processo. Yin (1994) e Merriam (1988) indicam o estudo de caso como uma abordagem adequada quando: (a) não se pergunta “o quê?”, “quantas?”, mas sim “Como?”, “Porquê?”; (b) a situação é de tal modo complexa que não permite a identificação das variáveis eventualmente relevantes; (c) se pretende descobrir interacções entre os factores significativos especificamente característicos dessa entidade; (d) se pretende uma descrição ou uma análise profunda e global de um fenómeno a que se tem acesso directo; (e) se quer compreender melhor a dinâmica de um dado programa ou processo.

Yin (2001) destaca como especialmente importantes na estrutura de um estudo de caso os seguintes componentes:

• Questões de estudo - a natureza das questões de estudo, as questões do “como” e

“porquê” aplicadas para o estudo de caso;

• Proposição do estudo - as proposições devem estar relacionadas com as questões,

e levam à busca de evidências relacionadas. A ligação entre proposições e questões permite ao investigador direccionar a procura de informação que possam sustentá-las, ou negá-las;

• Unidade de análise - a unidade da análise está relacionada com a definição do que

é o caso. A unidade de análise pode ser um indivíduo, uma empresa ou um processo. A unidade de análise relaciona-se com as questões e a forma como estas foram colocadas;

• Ligação dos dados à proposição e aos critérios para a interpretação dos dados - esta

etapa representa a análise dos dados, e devem indicar o que deve ser feito após a recolha dos dados.

O estudo de caso pode ser um caso inovador ou múltiplos casos (Yin, 2002). Um caso diz respeito à investigação detalhada de uma só entidade, que pode ser uma empresa ou um processo. Os múltiplos casos de estudo, segundo Yin (2002), não obedecem a um valor preciso, ficando ao critério do investigador. De Vaus (2002) refere não existir um número correcto de casos que devem ser incluídos quando de utiliza a abordagem dos múltiplos casos. Segundo o autor, o número de casos pode depender do conhecimento que o investigador tem dos factores externos que podem influenciar a investigação. Yin (2002) refere que o tempo e os custos têm que ser equacionados uma vez que a acréscimo de recursos pode não corresponder na mesma medida a significativos acréscimo de resultados do mesmo. O estudo de caso utilizando um caso pode ser usado para confirmar ou questionar a teoria, ou representar um caso com características únicas. Esta opção requer por parte do investigador um grande cuidado de forma a evitar errar. A utilização de um só caso com estudo detalhado tem sido usado em investigações longitudinais, são exemplo disso a investigação de Narasimhan e Jayaram (1998) que examinaram a reengenharia de processos

de serviços, Kalsson e Ahlstrom (1995) que estudaram o processo de implementação do Just-in-Time (JIT) numa empresa durante um determinado período de tempo.

A utilização de um só caso tem limitações, tais como, apresentar limitações na generalização das conclusões, modelos ou teorias, ou de se julgar mal. Este risco é minimizado com a utilização de múltiplos casos. Contudo a utilização de múltiplos casos reduz o detalhe da investigação quando os recursos são condicionados, mas apresenta o benefício do investigador analisar casos similares e contrários, tendo assim a oportunidade de melhor entender as descobertas que efectuou de forma mais inequívoca do que num só caso (Miles e Huberman, 1994).

O estudo de caso, segundo Yin (2001) apresentam quatro critério de qualidade que devem ser aplicadas desde não só no inicio do projecto, mas também ao longo da sua realização, nomeadamente: (a) validade da construção - deve-se desenvolver um conjunto operacional de medidas, os principais termos e variáveis devem estar claramente definidas para que se saiba exactamente o que se quer medir ou descrever. Yin (1994) propõe três medidas que procuram minimizar este problema: (1) a utilização de fontes múltiplas de evidência; (2) estabelecer um encadeamento de evidências, e (3) a utilização de um rascunho do relatório estudo de caso que é revisto pelos entrevistados principais; (b) validade interna - nos estudos de caso explicativo, causal ou explanatory case studies o investigador deve testar a coerência interna entre as proposições iniciais, o desenvolvimento e os resultados encontrados. É usualmente um problema de realizar inferências sobre prováveis relações causais, mesmo perante evidências deve ser sempre considerado, ou seja eliminar as possíveis ambiguidades e contradições contidas em termos de relações causa-efeito; (c) validade externa - trabalha dentro do domínio da generalização dos resultados para além do caso imediato, tendo em conta o que já se conhece de outros estudos. É particularmente pertinente nos casos de estudo de um só caso, deve-se utilizar a lógica de replicação em investigações de casos múltiplos; (d) fidedignidade - visa demonstrar que a investigação pode ser repetida, obtendo-se os mesmos resultados e conclusões. Assume grande importância o protocolo da investigação, assim como a realização de um banco de dados para o estudo de caso.

Na presente tese foi observada a preocupação com a qualidade da investigação, no critério da validade da construção a utilização do protocolo da entrevista permite, quanto possível, assegurar que todos os entrevistados estão sujeitos à mesma estrutura de entrevista. Todas

as empresas foram analisadas de acordo com o mesmo conjunto de itens. Todos os entrevis- tados seguiram o mesmo protocolo de entrevista. Todas as entrevistas foram gravas em suporte digital.

Na observância da validade interna Stake (1995) sugere o recurso a técnicas de triangulação como forma do estudo de caso ganhar credibilidade. Na presente investigação a preocupa- ção não é fazer afirmações causais, contudo procura-se acautelar os problemas ao nível da inferência através da descrição dos dados de forma “densa”, e solicitando a revisão/confir- mação das entrevistas pelos entrevistados. Procurou-se registar o mais fielmente possível os eventos ocorridos, nomeadamente as conversas tidas com os entrevistados. Efectuou-se a gravação de todas as entrevistas, que posteriormente foram transcritas ipsis verbis. Anali- sou-se em profundidade as empresas objecto de análise, assim como os cargos e responsabi- lidades dos entrevistados. Nas entrevistas testou-se informações contraditórias, procurou-se estabelecer uma relação de confiança com os entrevistados (Lincoln e Guba, 1985).

No âmbito do critério da validade externa procedeu-se à descrição completa e exaustiva das várias perspectivas dos intervenientes, e a utilização em simultâneo de várias fontes de informação ou evidência (relatórios de gestão, questionários, entrevista e dados históri- cos), ou seja o conceito de triangulação entendido como a combinação de materiais diversi- ficados e métodos de recolha de dados. A triângulação também constribuiu para uma melhor persepção das diversas formas como o fenómeno é percebido. Foi descrito com atenção as empresas que constituem o estudo de caso, descritos os critérios tidos em atenção na selecção das empresas e dos entrevistados. O método de recolha e análise dos dados foi descrito com rigor e de forma “densa”.

O cumprimento do critério de fiabilidade visa minimizar a ocorrência de erros e interpreta- ções enviesadas na investigação. Na presente investigação procurou-se assegurar a fiabili- dade através da descrição de todos os procedimentos (Yin, 1994), indicando os passos realizados e a forma como foram operacionalizados, ao qual se juntou em anexo os instru- mentos utilizados (nomeadamente o protocolo de estudo de caso e o protocolo de entre- vista).