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Capítulo 2 Revisão da Literatura Factores de Sucesso no EDI

2.3 O Conceito de EDI

2.3.1 História do EDI

O primeiro exemplo registado de EDI é atribuído a um oficial dos serviços militares americanos. Durante os anos 40, o Coronel Edward A. Guilbert utilizou o EDI como um dos meios para apressar o fluxo de material para a capital Alemã, Berlim, em 1948 (Payne, 1991). A literatura relativa ao EDI iniciou-se no período entre 1960 e 1970, quando o EDI começa a ser implementado e utilizado pelas empresas. As primeiras utilizações foram para o exército, e para fins governamentais (Bass, Miller e Nylin, 2001), e desde cedo os investigadores centraram mais as sua atenções nos aspectos técnicos da implementação do EDI do que nos aspectos de uso ou o impacto desta ferramenta nas empresas. A Rand Corporation (Yin, 1979) começou a explorar o impacto social das redes de comunicações nos anos 80, onde a transferência electrónica de informação empresarial se apresentava como uma das variáveis dependentes do estudo. Tais esforços cedo contribuíram para projectar adopções futuras, e avançar com prognósticos sobre o potencial impacto do EDI em instituições onde esta ferramenta já tinha sido adoptada (Ramstrom, 1974).

Quando as primeiras aplicações do EDI com fins comerciais foram realizadas entre os programas apoiados pelo governo e as instituições de investigação como os Laboratórios da Bell e os Centros de Investigação da IBM, as grandes empresas cedo se envolveram no desenvolvimento desta tecnologia e na sua utilização procurando afirmar-se como empresas estrategicamente bem posicionadas face a esta tecnologia (Nelson, 1967).

A partir da segunda metade dos anos 70 começam a aparecer trabalhos que salientam o carácter evolutivo do EDI (Short at al, 1976; Schoderbek, 1977), assim como os Sistemas de Informação. Sendo o EDI reconhecido como uma sub-áreas dos Sistemas de Informação (Abernathy e Utterback, 1975).

Segundo Salton e McGill (1979) a transformação do EDI numa tecnologia de business-to-business ocorreu juntamente com a penetração rápida do software da IBM. A ferramenta EDI e os serviços a ela associados, sendo estes últimos vistos como uma extensão útil do produto EDI, configuravam-se como aplicações úteis para as mainframes da IBM, entre outras coisas, como repositórios para todas as mensagens electrónicas. A este contexto acresce o facto da IBM também comercializar outro software empresarial como a folha de pagamentos (livro-razão), que teria uma utilidade mais eficaz pelo uso do EDI. Ainda segundo os autores, os novos parceiros de negócio acabariam por optar por equipamentos, pelo EDI e serviços da IBM, como forma de manter boas relações com os seus parceiros de negócio mais importantes.

Cada indústria desenvolveu o seu próprio padrão para as transacções, e mesmo dentro de um sector nem todas as empresas aderiram ao padrão dominante nesse sector. Um negócio que envolve parceiros de várias indústrias exigia a adopção de mais do que um protocolo de transferência de dados, tornando o EDI tecnicamente complexo e de custo relevante. A acrescentar a estas dificuldade, Parfit (1992), aponta ainda as dificuldades com as telecomunicações, nomeadamente o facto de serem caras e nem sempre seguras.

A primeira tentativa para desenvolver um formato standard ocorreu nos finais dos anos 60 nos Estados Unidos na indústria dos transportes. A Transportation Data Coordinating Committee (TDCC) foi formada em 1968 para coordenar o desenvolvimento de regras de tradução entre os quatro grupos de indústrias com padrões específicos (McNurlin, 1987). O propósito deste comité era o de desenvolver uma linguagem ou formato padronizado na troca de documentos de transporte. A TDCC publicou o seu primeiro standard em 1975, apelidado de “living standard”. Após este, desenvolveu e publicou vários standards usados nas indústrias: aeronáutica, automóvel, ferroviária e marinha mercante (Krcmar, Bjørn-Anderson e O’Collaghan, 1995).

Um dos mais significativos e mais bem sucedidos esforços para estabelecer um padrão para o EDI foi levado a acabo pela American Nactional Standards Institute (ANSI) em 1978, estabelecendo a norma ANSI X.12 (Swatman e Swatman, 1992), desenvolvida pelo comité que lhe deu o nome, o comité ANSI X.12, que com base na estrutura básica e sintaxe desenvolvido pela TDCC desenvolveu o standard EDI (Krcmar, Bjørn-Anderson e O’Collaghan, 1995).

Também na Europa se desenvolveram standards de EDI. No Reino Unido o Department of Custums and Excise, com o apoio da British Simplification of Trade Procedures Board (SITPRO) desenvolveu um padrão para a documentação usada no comércio internacional, o TRADACOMS13 (Swatman e Swatman, 1992).

O esforço de promover o uso e padronização do EDI foi levado a cabo também em outros países, como no Canadá através do EDI Council of Canada (EDICC) (Bergeron e Raymond, 1992).

Devido aos problemas causados pelas diferentes estruturas dos standards dos documentos as Nações Unidas e a American National Standards Institute (ANSI) promovem o desenvolvimento de um novo standard de formatação de documentos e transmissão, o Electronic Data Interchange for Administration Commerce and Transport (EDIFACT) (Carter, 1989; Swatman, 1996), que assentava no padrão americano ANSI X.12 e no padrão europeu TDI (este usado primeiramente no Reino Unido no sector do abastecimento e distribuição). Em termos europeus o EDIFACT foi da responsabilidade de duas organizações internacionais, a International Standards Organization (ISO), que tinha a responsabilidade de desenvolver as regras de sintaxe e os dicionários de dados, e a United Nations Economic Commission for Europe que tinha a responsabilidade de desenvolver o standard do documento (Krcmar, Bjørn-Anderson e O’Collaghan, 1995). Nos finais de 1989, apenas dois tipos de documentos, as ordens de compra e a factura, tinham um standard finalizado (Carter, 1989), totalizando 168 mensagens definidas nos primeiros cinco anos da sua actividade (Martins, 2001). O facto do preço das telecomunicações e do preço dos computadores ter também diminuído, estes últimos em virtude do fabrico de hardware ser mais barato, também contribuíram para uma maior penetração do EDI (Riggins et al., 1995).

O quadro seguinte apresenta vários exemplos de protocolos que suportam o tráfego de modo seguro e eficaz, inerente à troca de documentos entre os parceiros comerciais ao longo da cadeia vertical da indústria. Identificam-se quatro principais standards: UN/EDIFACT, ANSI X12, TRADACOMS e, ODETTE. Como cada um destes standards apresentam um grande número de segmentos nas mensagens, muitas indústrias trabalharam no sentido de adaptar a estrutura do standard que seguiam às suas necessidades, criando subset do standard, retirando os segmentos não necessários à sua indústria, diminuindo desta forma a complexidade das mensagens.

Referindo o caso da trajectória da construtora Chrysler, nos EUA, que começou por utilizar um padrão proprietário de EDI em 1967 com os seus fornecedores, e mais tarde, juntamente com a empresas Ford Motor Company, e General Motors encetaram iniciativas de promover soluções que contribuíssem para o desenvolvimento e prosperidade da indústria automóvel nos EUA. A Automotive Industry Action Group (AIAG), fundada em 1982, é um dos resultados desse esforço conjunto, assim como a adopção do standard X12. Em 1989 a Chrysler exigia que os seus fornecedores adoptassem o standard X12.

Quadro 7 - Exemplo de standards e subsets de documentos EDI por indústria ou organização. Standard / Subset Indústria / Organização Standard / Subset Indústria / Organização

AIAC Automóvel (EUA) EDITEX Têxtil

CIDX Químico (EUA) EDIVIN Viti-vinicola

PIDX Petróleo (EUA) EDIWHITE Electrodomésticos

VDA Automóvel (Alemanha) ODETTE Automóvel

TRADACOMS Alimentar (Reino Unido) EAN Retalho

RAPID Agricultura CEFIC/EDI Química

DON Dep. da Marinha (EUA) EDIBUILD Construção

IRS Tributação/ Impostos EDIPAP Papel

OSCRE/ PISCES Património Imóveis SWIFT Banca

A Figura 9 faz alusão às fases mais significativas do desenvolvimento dos standards de EDI. Pode-se identificar alguns factores característicos em cada uma das fases:

Standard proprietários

- Regras rígidas e proprietárias;

- Utilização apenas com os parceiros de negócio mais próximos;

- Obriga os agentes económicos a instalar uma múltipla variedade de sistemas de EDI, ou os sistemas de EDI que não eram instalados tinham que ser processados manualmente;

- Poucos conhecimentos sobre as necessidades e práticas dos outros agentes económicos.

Standard nacionais intra-indústrias

- Standard que envolve todos os parceiros de negócio dentro do processo produtivo; - Possibilidade de automatizar processos de comunicação;

- Dificuldade de interligação com outras indústrias e prestadores de serviços (bancos, indústria de transportes);

- Custos de conversão e tradução entre standard.

Standard inter-indústrias

- Desenvolvimento de standard de EDI nacionais (EDIFRANCE, ANSI 12);

Fonte: Compilado pelo autor.

Figura 9 - Fases de desenvolvimento dos standards de EDI.

Standard Nacional Intra-indústrias

Standard

- Desenvolvimento de standard internacionais (TEDIS, UN/EDIFACT); - Desenvolvimento de soluções técnicas neutrais;

- Grande conhecimento das necessidades de informação dos outros agentes económicos;

- Continuação da existência de incompatibilidades entre standard de EDI.